Dislexia e TDAH na escola: intervenções e atualização para educadores

estudante com a cabeça deitada nos braços sobre a mesa amassando papel.

A dislexia é um transtorno específico de aprendizagem que afeta cerca de 3% a 5% dos estudantes. Ela se caracteriza por dificuldades na leitura e na escrita, que não são explicadas por outros fatores, como baixa inteligência, falta de instrução ou problemas sensoriais. 

Tem origem neurobiológica e está relacionada a um déficit no processamento fonológico, ou seja, na capacidade de manipular os sons da linguagem oral.

Já o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) é outro transtorno que pode afetar o desempenho escolar dos alunos. Ele se manifesta por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que prejudicam o funcionamento em diversas áreas da vida. 

O transtorno também tem base genética e neurobiológica e pode estar associado a outras condições, como ansiedade, depressão e transtornos de aprendizagem.

Muitas vezes, as duas condições podem coexistir na mesma criança, causando dificuldades adicionais para o processo de ensino-aprendizagem. Por isso, é importante que os educadores estejam preparados para identificar e intervir adequadamente com esses alunos, buscando promover a inclusão e o desenvolvimento de suas potencialidades.

Neste artigo, vamos abordar algumas estratégias e dicas para ajudar os educadores a lidarem com tais quadros na escola, bem como a se atualizarem sobre esses temas. Acompanhe!

Papel do educador na abordagem e diagnóstico

O educador tem um papel fundamental na abordagem e no diagnóstico dos transtornos, pois é ele que convive diariamente com os alunos e pode observar seus comportamentos, dificuldades e habilidades. 

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Além disso, o educador pode aplicar testes e provas que avaliam o nível de leitura, escrita, matemática e outras áreas do conhecimento dos estudantes.

Para identificar possíveis casos de dislexia e TDAH, o educador deve estar atento aos seguintes sinais:

  • Dificuldade para aprender as letras do alfabeto, associar os sons às letras, formar sílabas e palavras;
  • Dificuldade para compreender o que lê, extrair ideias principais e secundárias, fazer inferências e resumos;
  • Dificuldade para escrever corretamente, respeitar as regras ortográficas e gramaticais, organizar as ideias em um texto coerente e coeso;
  • Dificuldade para memorizar informações verbais, como nomes, datas, fórmulas, listas;
  • Dificuldade para se concentrar nas atividades escolares, manter o foco, seguir instruções, terminar tarefas no tempo adequado;
  • Dificuldade para se organizar, planejar, priorizar, revisar e monitorar seu próprio trabalho;
  • Dificuldade para controlar seus impulsos, esperar sua vez, respeitar regras e limites, lidar com frustrações;
  • Dificuldade para se relacionar com os colegas, professores e familiares, expressar suas emoções, sentimentos e opiniões.

Ao perceber esses sinais em algum aluno, o educador deve comunicar sua suspeita aos responsáveis e encaminhar a criança para uma avaliação especializada com profissionais da saúde (psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neurologista etc.).

Intervenções e dinâmicas em sala de aula

aluno com expressão de frustração enquanto olha para seu livro escolar sobre a mesa.

Após o diagnóstico de dislexia ou TDAH (ou ambos), o educador deve adaptar sua metodologia de ensino às necessidades específicas do aluno. Algumas intervenções e dinâmicas que podem ser úteis em sala de aula são:

  • Utilizar recursos visuais, auditivos e táteis para facilitar a aprendizagem, como imagens, vídeos, músicas, jogos, objetos concretos etc.;
  • Estimular a consciência fonológica, ou seja, a habilidade de perceber, segmentar e manipular os sons da fala. Por exemplo, trabalhar com rimas, aliterações, sílabas, inversões, trocas etc.;
  • Ensinar estratégias de leitura, como fazer predições, perguntas, anotações, sublinhar as palavras-chave, usar dicionários etc.;
  • Ensinar estratégias de escrita, como fazer um esboço, um rascunho, uma revisão, usar um roteiro, um mapa mental etc.;
  • Ensinar estratégias de matemática, como usar material dourado, ábaco, calculadora, tabelas, gráficos etc.;
  • Ensinar estratégias de estudo, como fazer resumos, esquemas, flashcards, mapas conceituais etc.;
  • Dar instruções claras, simples e objetivas para as atividades escolares, verificando se o aluno entendeu e anotou;
  • Dividir as tarefas em partes menores e mais fáceis de executar, dando feedback e reforço positivo a cada etapa concluída;
  • Oferecer tempo extra para o aluno terminar as provas e trabalhos, bem como para revisar suas respostas;
  • Permitir que o aluno use recursos auxiliares nas provas e trabalhos, como calculadora, dicionário, tabela periódica etc.;
  • Evitar cobrar o aluno por erros ortográficos ou gramaticais que não interfiram na compreensão do texto;
  • Evitar expor o aluno a situações constrangedoras devido suas dificuldades;
  • Favorecer um ambiente tranquilo e organizado na sala de aula, evitando distrações e interrupções desnecessárias;
  • Estabelecer regras e rotinas claras e consistentes na sala de aula, combinando as consequências para o cumprimento ou não das mesmas;
  • Elogiar o aluno por seus esforços, progressos e acertos, valorizando suas qualidades e potencialidades.

Atualização dos educadores no tema

Para lidar com ambos na escola de forma efetiva e atualizada, os educadores devem buscar constantemente se informar e se capacitar sobre esses transtornos. Algumas formas de se atualizar são:

  • Participar de cursos, palestras, seminários e congressos sobre dislexia e TDAH;
  • Ler livros, artigos científicos e revistas especializadas sobre o tema;
  • Acompanhar sites, blogs e redes sociais de instituições e profissionais que tratam sobre os transtornos;
  • Trocar experiências e informações com outros educadores que trabalham com alunos com as mesmas condições;
  • Consultar profissionais da saúde que atendem alunos com disléxicos e com déficit de atenção para tirar dúvidas e receber orientações.

Condutas no ambiente escolar

criança com expressão confusa manuseando um notebook.

Além das intervenções pedagógicas em sala de aula, os educadores devem adotar algumas condutas no ambiente escolar que favoreçam a inclusão e o bem-estar dos alunos diagnosticados. Algumas dessas condutas são:

  • Respeitar as individualidades e as diferenças de cada aluno, sem rotulá-lo ou discriminá-lo por suas dificuldades;
  • Promover a autoestima e a autoconfiança do aluno, reconhecendo seus talentos e interesses;
  • Estimular a participação do aluno nas atividades escolares e extracurriculares que envolvam sua criatividade, inteligência e habilidades;
  • Incentivar a socialização do aluno com seus colegas e professores, favorecendo sua integração e cooperação;
  • Orientar os colegas do aluno disléxico ou com déficit de atenção sobre suas características e necessidades especiais, evitando preconceitos ou bullying;
  • Estabelecer uma comunicação aberta e frequente com os responsáveis do aluno diagnosticado, informando-os sobre seu desempenho escolar e comportamental;
  • Apoiar os responsáveis do aluno com dislexia ou TDAH na busca por tratamento adequado e acompanhamento multidisciplinar.

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Inclusão dos alunos na rotina escolar

menino lendo cuidadosamente um livro sobre a mesa.

A inclusão dos alunos diagnosticados na rotina escolar é um direito garantido por lei e uma prática que beneficia tanto os próprios alunos quanto a comunidade escolar. 

Isso implica em oferecer condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem aos estudantes, respeitando suas especificidades e potencializando seus recursos. Para isso, é preciso que a escola:

  • Adote uma proposta pedagógica que contemple a diversidade dos alunos, valorizando suas múltiplas formas de aprender, expressar e interagir;
  • Elabore um plano de atendimento educacional especializado (AEE) para cada aluno nessas condições, definindo as adaptações curriculares, metodológicas e avaliativas necessárias;
  • Disponibilize recursos materiais, tecnológicos e humanos que facilitem o processo de ensino-aprendizagem dos estudantes diagnosticados;
  • Promova a formação continuada dos professores e demais profissionais da educação sobre o assunto, bem como sobre as estratégias de inclusão;
  • Estimule o trabalho colaborativo entre os profissionais da educação, da saúde, da assistência social e de outras áreas que atendem esses alunos;
  • Desenvolva projetos pedagógicos que envolvam temas relacionados à dislexia e ao TDAH, sensibilizando toda a comunidade escolar sobre esses transtornos.

Conclusão

A dislexia e o TDAH são transtornos que afetam milhões de crianças em todo o mundo, trazendo desafios para o seu desenvolvimento acadêmico, social e emocional. 

Por isso, é fundamental que os educadores estejam preparados para identificar, intervir e incluir esses alunos na escola, contribuindo para o seu sucesso escolar e pessoal. 

Para tanto, é preciso que os educadores se informem, se capacitem e se atualizem sobre esses temas, buscando sempre as melhores práticas pedagógicas para atender às necessidades específicas dos alunos com dislexia ou TDAH.

Gostou deste conteúdo? Então, descubra qual o papel do professor quando assume o espaço de curador em nome de experiências que levem à aprendizagem!

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