A educação na perspectiva da Modernidade Líquida

Three children with diverse ages using laptop computer, smartphone and digital tablet at home and having fun

Muito se fala sobre a velocidade com que as coisas acontecem no mundo atual, não é mesmo?! Isso porque vivemos em uma era marcada pela instantaneidade, pela constante transformação e pela efemeridade das relações, das informações e até mesmo das certezas. A verdade é que nós, seres humanos inseridos nessa sociedade em constante movimento, estamos expostos a mudanças rápidas e frequentes em praticamente todas as esferas de nossas vidas. 

Embora essa dinâmica seja frequentemente associada ao progresso e à inovação, ela também carrega desafios complexos – e foi justamente para refletir sobre essa nova realidade que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman cunhou o conceito de “Modernidade Líquida”. Explicando de forma bastante resumida, segundo Bauman, vivemos em uma era em que nada é feito para durar – sejam vínculos, valores, identidades ou estruturas -, tudo se torna frágil e instável.  

A partir desse cenário, hoje, convidamos você a refletir sobre como os desafios do mundo contemporâneo impactam – e transformam o contexto educacional. Vamos juntos nessa reflexão? 

 

O que é Modernidade Líquida? 

O conceito de Modernidade Líquida descreve uma era marcada pela fluidez, pela instabilidade e pela mutação constante. Em outras palavras, vivemos em um tempo em que tudo muda rapidamente: laços afetivos, carreiras, identidades, formas de conhecimento, valores e até certezas que antes pareciam inabaláveis. Nada mais parece fixo ou duradouro, tudo se adapta, se desfaz, se reconstrói – e em uma velocidade absurda! 

Um exemplo simples? O que ontem era considerado verdade ou tendência pode, hoje, já estar ultrapassado ou não fazer mais sentido. Na modernidade líquida, a permanência e a solidez de antes dão lugar à transitoriedade e à flexibilidade. 

E essa liquidez, essa mutação tão constante, afeta diretamente nossa forma de viver, conviver e compreender o mundo. Ela altera a maneira como nos relacionamos com o tempo, com as pessoas e com o saber. Nesse cenário, não é surpresa que a educação também seja profundamente impactada, não é mesmo?! – afinal, ensinar e aprender em um mundo líquido exige novas abordagens, alinhadas à complexidade do presente. 

Impactos da Modernidade Líquida na educação 

Durante muito tempo, a educação seguiu um modelo bastante tradicional: sala de aula e materiais convencionais, o professor como figura central no processo de ensino e a memorização de conteúdos como principal estratégia de aprendizado. Nesse contexto, o saber era transmitido de forma unidirecional – do professor para o aluno. 

No entanto, na modernidade líquida, esse ambiente educacional, outrora tão sólido, se vê diante de um mundo onde tudo muda o tempo todo. Uma sociedade onde as transformações sociais, culturais e tecnológicas desafiam os modelos convencionais e exigem novas formas de ensinar e aprender. 

Atualmente, os alunos estão em contato com múltiplos estímulos e hiperconectados a maior parte do tempo.  Mas vale ressaltar que, apesar de terem informações à disposição a poucos cliques de distância, isso não garante a construção do conhecimento. Nesse novo paradigma, muito mais que decorar fórmulas ou datas históricas, é fundamental desenvolver nos estudantes competências como o pensamento crítico, a criatividade, a empatia, a colaboração, a adaptabilidade e a autonomia – habilidades essenciais para lidar com a complexidade e a fluidez do mundo contemporâneo. 

Para os professores, ensinar na era da modernidade líquida é ressignificar o próprio papel, reinventar e simplificar as práticas pedagógicas, incorporar as tecnologias como aliadas e, acima de tudo, dialogar com a linguagem, os interesses e as vivências dos alunos, garantindo que o aprendizado seja significativo e com aprofundamento. 

 

Educar em tempos líquidos: o papel da escola hoje 

Muito mais que apenas acompanhar a liquidez do mundo, a educação precisa oferecer pontos sólidos. E isso não significa resgatar a rigidez de modelos passados, mas sim equilibrar a fluidez com estruturas consistentes e afetivas.  

Trata-se de fazer da escola um espaço vivo de acolhimento, conexões, vínculos, estimulando o pensamento crítico e a construção coletiva. Um lugar onde se formam pessoas capazes de lidar com as próprias emoções, respeitar as diferenças, tomar decisões conscientes e trilhar caminhos com responsabilidade e autonomia.  

E nesse cenário, é importante ressaltar que a flexibilidade e a adaptabilidade deixam de ser apenas respostas às mudanças externas e passam a ser competências essenciais para o aprendizado em si. Isso porque, ao lidar com uma quantidade imensa de informações disponíveis, os estudantes precisam aprender a filtrar o que é relevante, compreender a qualidade dos conteúdos e transformá-los em novos significados. É nesse movimento de análise, interpretação e ressignificação que o conhecimento se consolida, favorecendo não só o desempenho acadêmico, mas também a formação de sujeitos críticos, criativos e preparados para construir soluções diante dos desafios do mundo. 

Para isso, é fundamental ir além do ensino de conteúdos: é preciso desenvolver competências socioemocionais, estimular a curiosidade, incentivar a criatividade e promover o protagonismo dos estudantes. Afinal, educar em tempos líquidos é, sobretudo, preparar para a vida – com suas incertezas, desafios e possibilidades – e não apenas para testes e avaliações. É construir, dia após dia, uma escola mais conectada com o mundo real. 

 

Para onde vamos? 

Se, por um lado, a modernidade líquida nos convida a desapegar de velhas certezas, por outro, ela também nos desafia a construir novos pontos de apoio – muito mais flexíveis, humanos e significativos. 

E é justamente aí que entra em cena a educação: como uma ponte entre o presente instável e o futuro que desejamos; entre a fluidez do mundo e a solidez necessária para navegar por ele com consciência, empatia e propósito. Afinal, em tempos líquidos, educar é muito mais que ensinar: é formar sujeitos capazes de existir com coragem em meio à mudança constante. 

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