Neuroaprendizagem: compreendendo o cérebro e transformando a educação

compartilha-neuroaprendizagem-iStock-1221651901-no-texto

Não é de hoje que uma das grandes questões para a qual os educadores estão sempre buscando respostas é a compreensão de como os alunos aprendem. “Por que determinado assunto foi facilmente assimilado pela maioria da classe, mas deixou alguns estudantes sem entender?” “Qual o melhor método para ensinar matemática?” “Deveríamos contar com métodos diferentes para ensinar história, por exemplo?” “Por que a sequência didática funcionou muito bem para uma turma, mas não para outra?” “O que devo fazer para meu aluno aprender?” Sim, há muitas perguntas em jogo.

Para buscar respostas, cientistas, psicólogos e professores se juntaram e, após muitos estudos, podem afirmar que o cérebro é o ponto-chave para compreender como os seres humanos aprendem.

Vale lembrar que estamos falando do mais complexo órgão do corpo humano, que tem o poder de controlar nossas habilidades de pensar, falar, sentir, ver, ouvir, lembrar, andar. O cérebro controla até mesmo a nossa capacidade de respirar independentemente de nossa vontade! São muitas as complexidades que esta poderosa peça fundamental do nosso organismo desempenha e ainda há mistérios longe de serem desvendados. Hoje, contudo, vamos explorar uma parte de um processo que os neurocientistas e os profissionais da educação estão dedicados a estudar como o cérebro se relaciona com os processos de ensino e de aprendizagem.

A expressão “vamos colocar o cérebro para funcionar” é um ponto de partida para que possamos pensar sobre como acontece o processo de aprendizagem: dependendo das situações que uma pessoa vivencia, novas sinapses podem acontecer; isto é, pode haver trocas de informações entre vários neurônios. Em outras palavras, os estímulos que uma pessoa recebe impactam diretamente seu cérebro que, por sua vez, é flexível para reagir àquilo que está acontecendo no ambiente. Conhecemos essa capacidade do cérebro de se modelar (criar, fortalecer ou modificar sinapses) por plasticidade cerebral, ou neuroplasticidade, essencial para adquirirmos uma nova habilidade ou comportamento.

Quando acontece a aprendizagem, há alterações químicas, fisiológicas e anatômicas nas redes neuronais: isso mesmo, temos uma modificação no cérebro. Em outras palavras, toda vez que aprendemos algo, o nosso cérebro se transforma. Sendo assim, quando falamos que uma pessoa “está estudando tanto, que até está saindo fumacinha da cabeça”, estamos dizendo que está ocorrendo aprendizado: sinapses estão sendo movimentadas, o cérebro está sendo transformado!

Entretanto, não pense que este processo acontece da mesma forma para todos os estudantes. Cada cérebro é resultado do acúmulo de estímulos que recebeu desde o início da vida, além do somatório de fatores da ordem biológica. Sendo assim, professores devem trabalhar com diversas estratégias para ampliar as oportunidades de aprendizado e, assim, impactar todos os estudantes.

Mas então, o que é essa tal de neuroaprendizagem?

Como já demos um pequeno spoiler, a neuroaprendizagem é combinar a neurociência (campo científico que estuda o cérebro humano, tendo como base aspectos estruturais e funcionais das redes neuronais) com a aprendizagem (processo de mudança de comportamento obtido por meio de fatores emocionais, relacionais, ambientais e neurológicos).

A neurociência existe como campo de estudos desde a década de 1970, reunindo saberes múltiplos: biologia, medicina, química, matemática, linguística, psicologia, engenharia, física e ciências da computação. Estas disciplinas ajudam a compreender como mais de 86 bilhões de células nervosas nascem, desenvolvem-se e se conectam. Dessa forma, cientistas conseguem decifrar as funções do cérebro, além do seu processo de desenvolvimento durante a vida de um ser humano.

Quando voltamos nosso olhar para a neuroaprendizagem, podemos defini-la como uma linha de estudos que coloca o cérebro como o principal pilar no processo de ensino-aprendizagem. Profissionais da Educação estão focados em compreender a atividade cerebral e seu impacto em diversas esferas que interferem na relação da aquisição de conhecimento e sua apreensão, como por exemplo, linguagem, habilidades visuoespaciais*, habilidades motoras, memória e concentração.

Outro ponto que não pode deixar de ser citado, é a associação da neurociência com o campo da psicologia: quando pensamos no impacto que as emoções causam na retenção de informação, a relação entre neurociência e aprendizagem se torna ainda mais potente. A psicologia se aprofunda nos significados que o cérebro cria, ou seja, concentra-se em compreender como as crianças e adolescentes percebem, interpretam e utilizam o conhecimento adquirido.

A neurociência na educação já é uma realidade e sua aplicação vem sendo aperfeiçoada dia após dia. Passou o tempo em que este âmbito da ciência era restrito aos laboratórios e consultórios; a neurociência está presente na formação dos professores, nas reuniões pedagógicas, nos planejamentos das sequências didáticas e, claro, nas salas de aula.

Como a neuroaprendizagem está sendo aplicada no cotidiano escolar?

Uma das contribuições mais importantes que a neurociência trouxe para a educação é que a aprendizagem humana não é resultado de um simples armazenamento de dados e informações, mas do processamento e elaboração de dados e informações que ocorreram provenientes das percepções no cérebro. Em outras palavras, para que um estudante aprenda, suas conexões neurais devem estar em constante reorganização, com os conectivos dos neurônios alterados a todo momento.

Sendo assim, o papel do professor é o de estimular não só o trabalho dos neurônios, mas o desenvolvimento das potencialidades dos alunos de forma global, pois todas as experiências que os alunos vivenciarem, poderão incitar, de maior ou menor forma, a atividade mental.

Pode-se notar que o cérebro é um sistema dinâmico, que tem grande complexidade funcional e não para de trabalhar em nenhum instante. Especialmente quando estamos dormindo, este órgão está ativo, executando funções essenciais, inclusive às relacionadas ao aprendizado e à memória. Alguns componentes são de extrema importância para que o sistema funcione, tais como os exercícios físicos, as emoções, o tempo, a motivação e a individualização. Estes e outros aspectos, cada vez mais intensamente, estão sendo estudados por cientistas e professores, pois é necessário compreender a fundo a influência que provocam no processo de aprendizagem.

Saber mais sobre as particularidades de cada um desses ingredientes que interferem no funcionamento do cérebro e no aprendizado dos estudantes é de extrema relevância quando falamos em Educação. Exploraremos mais sobre esses assuntos em outras oportunidades, mas, hoje, queremos reforçar que quanto maior for a complexidade cognitiva na geração de um comportamento, maior será a atividade mental. Para isso, é essencial contar com um ambiente de aprendizagem motivador e rico em experiências: tudo o que acontecer no ambiente de aprendizado fará parte dos elementos desencadeadores de pensamentos e raciocínios, influenciando o estudante.

Nesse sentido, nada pode passar despercebido pelo professor, todas as suas decisões e atitudes estão conectadas com o que o estudante irá vivenciar e, portanto, compor o processo ensino-aprendizagem: o conteúdo e a forma sobre o tema da aula; os estímulos visuais trazidos e dispostos em sala de aula; o vínculo que conseguir criar individualmente com cada aluno; a motivação e interesse que conseguir despertar, a partir de um estímulo; a atenção dispensada sobre determinado assunto pelo estudante. Desta forma, quando pensamos em neuroaprendizagem, a experiência vivida pelo estudante é fator-chave para o sucesso.

Para transformar a educação, devemos ter em mente que as informações, sejam elas de natureza visual, auditiva ou sensorial, assim como o comportamento do professor e de todas as pessoas que fazem parte da instituição escolar, criam circunstâncias capazes de gerar aprendizado, ativando as trocas de informações entre neurônios. O processo de aprendizagem é dinâmico e ocorre constantemente.

Depois de ler esse texto, como está o seu cérebro? Esperamos que sinapses tenham acontecido, tenha “saído fumacinha da sua cabeça” e que tenha sido possível saber um pouco mais sobre a relação entre neurociência e educação.

*Visuoespaciais: capacidades que temos para representar, analisar e manipular mentalmente os objetos

Veja outros conteúdos