Aprender a aprender: o desenvolvimento da autonomia do estudante

O aprendizado focado em memorização de conteúdos vem sendo substituído por metodologias que estimulam o aprender a pensar e a resolver problemas reais.

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O aprendizado focado em memorização de conteúdos vem sendo substituído por metodologias que estimulam o aprender a pensar criticamente e o aprender a aprender.

As escolas inovam e se reinventam para transformar suas práticas pedagógicas em experiências relevantes para todos os estudantes.

Novos tempos, novas exigências

Podemos dizer, com segurança, que a exigência sobre o estudante de hoje é bem mais complexa do que na primeira metade do século passado. Basta perceber o quanto decorar os afluentes de um rio – habilidade muito valorizada no tempo de nossos avós – é mais simples do que, por exemplo, compreender, analisar e criticar os fatores socioambientais que incidem sobre o ecossistema de um rio. Esse é o tipo de demanda que se coloca aos estudantes hoje.

É natural que se dê menos valor à memorização de fatos e datas em uma sociedade em que dados e informações objetivas podem ser obtidos rapidamente na internet. A exigência passa a ser, então, a capacidade de transformar informações em conhecimento significativo e socialmente relevante.

Além disso, vivemos em uma sociedade que revisa e produz conhecimento em ritmo galopante, com o surgimento de novas profissões e a extinção de outras. Nesse contexto, outra exigência que nos é colocada é a de aprender por toda a vida, após as etapas formais de estudo, inclusive do Ensino Superior.

É hora de redescobrir a escola, mas uma nova escola

Em 1996, um importante relatório sobre a educação para o século 21 produzido para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por especialistas de todo o mundo motivou grandes debates, pesquisas e propostas de renovação pedagógica. Desde então, essas discussões têm influenciado significativamente o reposicionamento das prioridades educacionais em muitos países, inclusive no Brasil.

O relatório “Educação: um tesouro a descobrir” coloca a educação como fator central para o desenvolvimento e aponta quatro pilares nesse novo contexto: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver.

O primeiro pilar foi o que mais teve aderência mais rápida no mundo escolar, seja porque muitas escolas de vanguarda já vinham trabalhando nesse sentido, seja porque é o que apresenta mais consenso na comunidade educacional.  

A partir de então, o aprendizado mecânico, focado em memorização e conhecimento acrítico de conteúdos, foi sendo substituído por metodologias que estimulam o aprender a pensar criticamente e o aprender a aprender. Daí a necessidade de as escolas inovarem, se reinventarem, sabendo distinguir o que devem manter e o que devem transformar em suas práticas pedagógicas.

Aprender a aprender: do que estamos falando

O relatório citado aponta aprendizados que devem ser estimulados desde a primeira infância:

  • • O aprendizado da atenção, de processos lentos e aprofundados de apreensão, em oposição à velocidade usual de um clique na internet.
  • • A capacidade de memorização associativa, ou seja, de selecionar o que deve ser memorizado a fim de possibilitar a realização de combinações de informações, e não mais a memorização como um automatismo.
  • • A associação de uma cultura geral ampla com conhecimentos específicos aprofundados.
  • • O pensamento indutivo e lógico, assim como o dedutivo e analítico.

Nas escolas, isso foi concretizado em diferentes estratégias de ensino que, respeitando o desenvolvimento de cada idade, mas desde os pequeninos, têm como objetivo promover a autonomia do estudante para aprender por toda a vida.

Novas metodologias, novas habilidades

Por tudo isso, as escolas adotam novas metodologias que exigem protagonismo do aluno e lhe dão a oportunidade de, ao aprender conhecimentos das diversas disciplinas, desenvolver também habilidades específicas.

As habilidades envolvidas no aprender a aprender, ou aprender por toda a vida, são várias – algumas novas, outras nem tanto, mas que passam a ser mais valorizadas:

  • • Desenvolver a curiosidade e o prazer da descoberta.
  • • Identificar necessidades de aprendizagens para resolver problemas, dúvidas, curiosidades.
  • • Localizar informações, sabendo distinguir tipos de fontes adequadas.
  • • Avaliar a qualidade das informações ponderando critérios distintos.
  • • Analisar e aplicar conhecimentos nas mais diversas situações.
  • • Compreender e relacionar os fenômenos estudados a contextos sociais.
  • • Relacionar conhecimentos entre diversos campos de estudo, de forma intedisciplinar.
  • • Criar conhecimento novo.

Como saber se uma pessoa aprendeu a aprender? Quando ela tem autonomia para transformar informações em conhecimento, dando-lhes significado, sentido e utilidade. Em outras palavras, quando é capaz de utilizar de maneira própria todas essas habilidades para satisfazer suas necessidades de aprendizagem – pessoais,exigidas pelo mercado de trabalho ou para sua ação cidadã e transformadora. 

María Cristina Pérez Pietri
Pedagoga/ España
Pedagoga com pós-graduação em Educação Multimídia pela Universidade de Barcelona, Espanha.

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