Como estimular a criatividade nas crianças

A criatividade resulta de processamentos ativos no cérebro e pode ser trabalhada de forma consciente

 

A criatividade resulta de processamentos ativos no cérebro e pode ser trabalhada de forma consciente

A criatividade não é como uma lâmpada que se acende de forma involuntária na mente. Ela é o resultado de processamentos que já estão ativos no cérebro – e podemos trabalhá-los de forma consciente.

A criatividade pode ser desenvolvida em qualquer área de atividade.

odas as descrições de criatividade envolvem habilidades denominadas pelos estudos cognitivos e cerebrais como “funções executivas”. A criatividade envolve diretamente imaginação (capacidade de abstração), resolução de problemas, planejamento e organização dos processamentos cognitivos e emocionais realizados pelo cérebro.

Para uma pessoa ser inovadora ela tem que ser capaz de realizar conexões cerebrais entre áreas específicas que envolvem os conceitos cognitivos e emocionais associados à informação a ser processada. Essas conexões precisam formar redes estáveis e de uso frequente envolvendo inter-relações entre os conceitos envolvidos, sejam eles relacionados a habilidades artísticas como música, dança, jogos e brincadeiras imaginativas, ou a atividades mais estruturadas – por exemplo, habilidades de linguagem ou matemática.

Criatividade não é um processo que surge de repente no cérebro. Embora as pessoas achem que a criatividade funciona como uma lâmpada que se acende, ela é, na verdade, o resultado de processamentos que já estão ativos no cérebro em termos de funcionamento subliminar (pouco consciente). É como se as conexões cerebrais, ao se manterem ativas, acabassem por encontrar “soluções” para determinados problemas ou questionamentos que já estão sendo processados pelo cérebro.

Diversos autores consideram que a criatividade pode ser desenvolvida em qualquer área de atividade desde que fornecidos os conhecimentos e as habilidades suficientes para que sejam estimulados e respeitados as condições e o estágio de desenvolvimento em que a criança ou o adolescente se encontra.

Os estudiosos citam que a maior parte das crianças apresenta, nos primeiros anos da vida, uma capacidade criativa bastante evidente, envolvendo principalmente atividades lúdicas e recreativas. A falta de estimulação e intervenção direta do ambiente social e o próprio desenvolvimento cognitivo acabam por reduzir esse potencial.

Como podemos estimular e manter o potencial criativo de uma criança? 

O primeiro ponto importante a ser destacado é a ênfase que o adulto dá à criança nos momentos em que a criatividade é destaque. Em geral, consideramos engraçado ou ficamos passivos nesses momentos. É importante que haja uma intervenção direta com ênfase nos processos cognitivos e emocionais que a levaram a elaborar e construir os momentos criativos. Devemos propiciar a possibilidade de controle de seu potencial por meio da consciência dos pensamentos que a levaram a ser criativa.

Não podemos esquecer que a estimulação deve considerar a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra. Assim, se a criatividade envolver pensamento mágico e isso estiver de acordo com a etapa de desenvolvimento não se deve enfatizar questões cognitivas ou de raciocínio lógico, mas sim contar com a verbalização do pensamento e os questionamentos também mágicos que podem envolver a estimulação.

Abrir a inter-relação entre habilidades criativas lúdicas e simbólicas por meio de recursos verbais já permite inter-relacionar habilidades e realizar sua manutenção com aquelas de desenvolvimento posterior, mais relacionadas às esferas cognitivas e verbais.

Devemos encorajar a criança a resolver seus problemas de forma criativa e, compreender que não existe uma resposta certa e uma errada para as perguntas e dúvidas que ela apresenta. Devemos formular dúvidas com ela e ensiná-la a verbalizar o pensamento e o raciocínio para a solução de problemas. Um cuidado muito importante é o não responder às perguntas de modo automático e com a resposta pronta.

Para que a criança possa desenvolver melhor a capacidade de verbalizar seus pensamentos, devemos ser o modelo e mostrar a ela os pensamentos que nos levam a determinadas respostas. Esse é o lado interessante da criatividade: ao estimular essa habilidade nas crianças acabamos por estimulá-la em nós mesmos, melhorando nossas conexões cerebrais e favorecendo o próprio potencial.

Robinson report. Grã-Bretanha. Department for Education and Employment. Department for Culture, Media and Sport. National Advisory Commitee on Creative and Cultural Education. All Our Futures: Creativity, Culture and Education. Londres: DfEE. 1999.Runco, M. A. “Education for creative potential”. Scandinavian Journal of Educational Research, 47, 3, 317-24. 2003.Craft, A. “Creative thinking in the early years of education”. Early years, 23, 2, 143-54. 2003.Murdock, M. C. “The effects of teaching programmes intended to stimulate creativity: a disciplinary view”. Scandinavian Journal of Educational Research, 47, 3, 339-57. 2013.

Telma Pantano
Psicopedagoga/ Brasil
Fonoaudióloga e Psicopedagoga do Serviço de Psiquiatria Infantil do Hospital das Clínicas.

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