Como levar a cultura maker para dentro da sala de aula

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Ultimamente, muitos de nós ouvimos falar sobre o termo “maker”. Mas o que é exatamente isso?

 

Robótica é maker? Programação é maker? Pintura é maker? Eletrônica é maker? Impressora 3D é maker? Marcenaria é maker? Costura é maker?  O que você acha?

 

O movimento maker propôs nos últimos anos o resgate da aprendizagem mão na massa trazendo o conceito “aprendendo a fazer” que, aplicado ao ambiente escolar, tem como objetivo promover e estimular a criação, a investigação e a resolução de problemas pelos alunos, proporcionando um pensamento “fora da caixa”, conectando ideias desconectadas, usando ao máximo, qualquer tipo de recurso. Uma verdadeira oportunidade de reinventar e inovar a educação!

Se procurarmos no dicionário o termo maker, veremos que está relacionado ao “fazer” e por aí podemos ter uma dica: o maker é aquele que faz, que põe a mão na massa. Porém, ser um maker é mais que simplesmente quem faz alguma coisa, está ligado a uma forma de fazer, a uma atitude. E qual atitude seria esta?

 

Ser maker é olhar um problema e elaborar um projeto criativo para resolvê-lo, explorando possibilidades, sendo curioso, resiliente, experimentador. É errar e aprender com os erros. Essas características estão muito presentes em todos nós na infância, porém, apenas alguns conseguem mantê-las na idade adulta.

 
Uma pessoa maker é aquela que, por meio da curiosidade, busca ajuda e tem uma atitude de abertura para troca com outras pessoas. E fundamentalmente, é apaixonado pelo que faz! Se refletir, essas são características que estão muito relacionadas com competências e habilidades que desejamos desenvolver na escola.
 

FILOSOFIA MAKER

 

A cultura maker favorece a aprendizagem por experimentação, ou seja, ao vivenciá-la pelas metodologias ativas, procura tirar o aluno da passividade e trazê-lo para o centro do processo de aprendizagem.

 

E POR ONDE COMEÇAR?

 

Temos visto uma grande preocupação das escolas com a construção de salas dedicadas às atividades “mão na massa”, principalmente com o investimento em máquinas, equipamentos e na adaptação do espaço.

O ambiente tem importância no aprendizado. Ele deve ser inspirador e facilitador, porém, não é suficiente para proporcionar a aprendizagem. Normalmente, ao se criar um espaço maker na escola sem o cuidado de se trabalhar antes com as pessoas envolvidas, paradoxalmente, acontece um afastamento delas ao invés de uma aproximação e integração. Como seres humanos, temos medo do desconhecido e do incomum!

Uma chave para o sucesso na implementação de um projeto inovador é criar um ambiente que permita a participação dos atores envolvidos, para que conheçam e que contribuam, dando-lhes a sensação de pertencimento e autoria. Somos todos criadores e quando o fazemos, geralmente, nos sentimos felizes e realizados. Desta forma, a motivação intrínseca desperta o interesse para a realização de projetos, muitas vezes, tidos como impossíveis!

ESPAÇO MAKER

 

Ao pensar em implementar um espaço maker devemos, antes de começar, nos perguntar o quê queremos com ele e, principalmente, como iremos trabalhar neste espaço.

O lugar deve ser organizado de forma que mesas coletivas fiquem em seu centro e que os recursos como ferramentas, máquinas e materiais sejam dispostos na periferia, acompanhando as paredes.

Se você não possui um espaço maker, não tem problema, saiba que é possível tornar a sua sala de aula mais acolhedora, reorganizando o mobiliário, como por exemplo: agrupar mesas e cadeiras em formato de bancada; reaproveitar madeira de porta e de carteiras velhas; e acrescentar um tripé para formar uma bancada. Assim, você estará criando um ambiente de trabalho participativo e colaborativo para que os estudantes possam exercitar a criatividade.

Lembre-se: as pessoas são o centro do espaço maker. A principal dificuldade que encontramos para implementar um projeto de educação mão na massa na escola é a mudança de cultura necessária em nós, professores. Ser maker é, antes de mais nada, uma atitude!

 

 

O espaço mão na massa é o lugar para aceitar o desconhecido e o erro e para trabalhar colaborativamente, características que não são habituais no nosso dia a dia. Precisamos nos permitir a mudar um hábito arraigado em nós: o papel do professor que se apresenta à frente dos alunos e que instrui muito ao invés de deixar que os alunos aprendam pela experiência. No espaço maker, prezamos a relação humana e a horizontalidade. A hierarquia se dá por reconhecimento e não por autoridade.

Esse espaço é regulado por dois valores: segurança e respeito. Os participantes das atividades devem entender que para uma convivência harmoniosa e produtiva, deve-se sempre cuidar dos outros, do espaço e de si mesmo. Assim, todos sabem qual a atitude necessária para o trabalho no ambiente e, as intervenções fazem sentido para o aluno.

Busca-se sempre a autonomia a partir da empatia, criando vínculo com os alunos, reconhecendo o contexto de cada um, descobrindo o que tem sentido e significado para eles e ajudando a criar um ambiente propício para aprender. Ao ampliar seu horizonte de conhecimento, o aluno ganha autoconfiança e segurança para ousar, conquistando cada vez mais autonomia.

MATERIAIS

 

Para começar, você precisará de ferramentas simples (chaves de fendas, madeira, cola quente, ferro de solda, solda, tesouras, estiletes, fita isolante, furadeira, serrote), materiais eletrônicos (fios, suporte de baterias e ou de pilhas, motores de 6v e 3v – que é possível encontrar em brinquedos quebrados e em computadores sem uso, leds, resistores, jacarés, controladores) e materiais de sucata (papelão, potes, isopor, madeira) e muita imaginação.

No especial Mão na Massa do Porvir traz um simulador maker para você se inspirar e ir estruturando esse espaço. Vale a pena envolver a comunidade e pedir doações.

CRIE SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM

 

Utilize as metodologias ativas, como resolução de problemas e aprendizagem por projetos, com questões norteadoras:

 

COMECE SIMPLES

 

Desenvolva projetos simples com os estudantes e vá aumentando o nível de dificuldade aos poucos, exercitando o espírito lúdico, a criatividade e a vivência da aprendizagem em torno de um problema.

 

 

Leve materiais de sucata para a sala de aula como potes, papelão, tampinhas, entre outros e eletrônicos como motores, resistores, fios, suportes de baterias. Com esse material, você será capaz de incentivar os alunos a desenvolver projetos mão na massa.

Estabeleça um roteiro de trabalho e faça perguntas para instigar e aguçar a criatividade dos estudantes. Nessas aulas, a sua turma poderá codificar, desvendar o Scratch (software livre e gratuito) ou montar circuitos elétricos simples, assim, dessa maneira, o pensamento maker vai sendo incorporado gradativamente.

Como professor, você pode montar fichas de observação e investigação para que os alunos registrem o aprendizado. A sua intervenção só é feita quando necessária, no processo de mediação.

A aprendizagem mão na massa é simples, mas demanda empenho e esforço para mudança de concepção.

DÊ LUGAR AO ERRO

 

Errar faz parte do processo!

Os estudantes precisam estar envolvidos nas etapas, participando da construção da sua aprendizagem. Eles precisam de espaço para tentar, errar, tentar de novo até acertar.

Falhar faz parte desse processo e o torna significativo, tornando os alunos mais criativos e capazes de resolver problemas com autonomia.

Essas habilidades são importantes para resgatar o encantamento das aulas e desenvolver espírito inovador.

PARA SE INSPIRAR

Que tal colocar a mão na massa em um hackerspace?

Estamos falando de laboratórios comunitários que seguem a filosofia do conhecimento livre, acesso amplo às tecnologias, respeito à privacidade, liberdade, valor social, criatividade e inventividade.

Nos hackerspaces, o destaque vai para o espírito inovador, que atrai pessoas interessadas em colaborar em vários projetos makers e refletir sobre diversos assuntos.

O espaço é um ponto de encontro para quem quer trocar conhecimento e experiências. Clique aqui para localizar o endereço mais próximo a você.

E então?  Robótica, programação, pintura, eletrônica, impressão 3D, marcenaria, costura são atividades maker? Vai depender de como você mediará as atividades…a ferramenta principal de um espaço maker sempre será você!

Um grande abraço,

Débora e Fabio

Débora Garofalo é formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas.

Fabio Zsigmond é empreendedor, inovador e cofundador do MundoMaker (www.mundomaker.cc), um espaço de aprendizagem mão na massa em que crianças, jovens e adultos aprendem programação, mecânica, robótica, meditação e trabalho em equipe – baseado na educação integral e no aprendizado por projetos (PBL). É bacharel em ADM pela FGV e atua como diretor voluntário no Projeto Âncora (www.projetoancora.org.br), uma organização sem fins lucrativos, onde os alunos aprendem o currículo sem aulas e através de projetos. Em 2016, viajou 77 dias pelo Brasil a bordo de um Maker Truck levando o acesso a cultura maker para mais de 500 professores e 2000 alunos vindos de 250 escolas públicas de 8 estados.

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