Inteligência emocional digital

Tecnologias muito avançadas promoverão novas formas de produzir, consumir e se relacionar com as pessoas e as coisas.

A combinação entre as tecnologias avançadas e a mente humana pode nos ajudar a tomar decisões mais acertadas e a fazer escolhas mais adequadas. Para isso, precisamos ser emocionalmente inteligentes com relação às tecnologias e ao ambiente virtual.

Entender as próprias emoções, trabalhar em grupo, resolver problemas, ser criativo e tomar decisões são exemplos de competências urgentes hoje.

A 4ª Revolução Industrial – a revolução tecnológica – nos impõe reflexões e atitudes que permeiam todo o cenário digital, pois já começamos a observar transformações profundas em vários níveis da sociedade.

Tecnologias muito avançadas promoverão novas formas de produzir, consumir e se relacionar com as pessoas e as coisas. Com isso, a sociedade passará a ser mediada pela mobilidade, pela alta conectividade e por tecnologias digitais muito complexas que dissolverão as diferenças entres seres humanos e máquinas. Robôs companheiros, brinquedos inteligentes e tecnologias assistivas já são uma realidade e tendem a invadir o mercado nos próximos anos com a promessa de nos entenderem e ajudarem em inúmeros aspectos do nosso cotidiano.

Como devo me comportar nas redes sociais? De que forma posso ajudar meu filho a navegar na internet de forma segura e responsável? Quais ferramentas tecnológicas darão suporte ao meu trabalho? Como posso usar a tecnologia para meu bem-estar? De que forma as tecnologias avançadas afetarão a humanidade?

Esses questionamentos fazem cada vez mais parte do nosso modelo mental e são absolutamente necessários para a evolução das sociedades.

Com o avanço das pesquisas e do desenvolvimento de máquinas inteligentes, a combinação entre as tecnologias avançadas e a mente humana pode resultar em um cérebro capaz de pensar melhor, tomar decisões mais acertadas e fazer escolhas mais adequadas.

Devemos nos perguntar, no entanto, se essa fusão mente-máquina nos distanciará de nossa essência humana e de nossa capacidade de amar, cuidar, sentir a dor do outro e ajudar os demais sem pedir nada em troca. Para conquistarmos uma sabedoria digital e mantermos o lado bom do ser humano precisamos ser emocionalmente inteligentes em relação às tecnologias e ao ambiente virtual. 

Inteligência emocional digital

Muito se fala da necessidade de desenvolver inteligência emocional para lidar com as complexidades do mundo contemporâneo. Entender as próprias emoções, trabalhar em grupo, saber resolver problemas, ser criativo e tomar decisões são alguns exemplos de competências mais do que urgentes na atualidade.

No entanto, é necessário ampliar os horizontes e transpor essas habilidades também para o âmbito digital. Em 2016, o Fórum Econômico Mundial propôs o termo “Inteligência Emocional Digital” como um dos pilares de uma habilidade mais ampla e essencial para o século 21: a inteligência digital. Porém, a definição do termo “Inteligência Emocional Digital” ficou restrita à noção de ser empático e capaz de construir bons relacionamentos online.

Por isso, proponho um aprofundamento e uma ampliação do conceito “Inteligência Emocional Digital” como um conjunto de habilidades que abrange:

 

1 – Conhecimento da linguagem das tecnologias que usamos. 

2 – Abertura para aprender e incluir novas tecnologias no cotidiano.

3 – Entendimento sobre os próprios hábitos tecnológicos e comportamentos nas redes sociais.

4 – Gestão das emoções quando se está online.

5 – Reflexão sobre o impacto das tecnologias no desenvolvimento pessoal.

6 – Comunicação eficaz e respeitosa nos diferentes canais digitais.

7 – Empatia com o comportamento e as emoções online do outro.

8 – Habilidade de se relacionar com as tecnologias e com o ambiente online de forma sensata, cuidadosa e ética.

9 – Visão crítica sobre os conteúdos produzidos e compartilhados na internet.

10 – Criação de uma estratégia sobre o próprio posicionamento nas redes sociais, considerando os objetivos de vida e profissional.

11 – Criatividade para gerar tecnologias que atendam as necessidades humanas.

12 – Compreensão do impacto social e global das novas tecnologias na evolução da humanidade.

 

A partir desse conjunto de habilidades devemos criar uma atitude constante de reflexão e ação para aperfeiçoar e ampliar a nossa inteligência emocional digital. Podemos fazer isso de várias formas. Por exemplo, avaliando nossas emoções no ambiente digital e a maneira como usamos a tecnologia a fim de construir uma saúde mental digital.

Outra maneira é entender a cultura digital e os hábitos tecnológicos de nossa família como um todo. Além disso, a escola também tem papel fundamental para o desenvolvimento da inteligência emocional digital. Ela pode promover discussões mais amplas sobre as tecnologias e as necessidades do mundo, incentivando projetos que envolvam não somente a criação de conteúdo mas também o desenvolvimento de iniciativas práticas que resolvam problemas reais por meio da tecnologia. Essas atividades escolares têm o potencial de formar alunos capazes de ser agentes de transformação social, de pensar de forma global e crítica e de manter uma atitude de aprendizado constante.

Os jovens precisam antecipar e entender os dilemas éticos e filosóficos ligados às tecnologias avançadas e a seus impactos na vida das pessoas. Precisamos urgentemente levar essas discussões para as escolas e para as famílias a fim de ajudar as novas gerações a mapear diferentes cenários futuros, antecipar problemas complexos, evitar perigos irreversíveis e vislumbrar novas oportunidades de vida alinhadas com suas aspirações individuais, com as necessidades dos seres humanos e com as carências do mundo.

Fernanda Furia
Psicóloga/ Brasil
Mestre em Psicologia de Crianças e Adolescentes.

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