As brincadeiras da infância influenciam tomadas de decisão ao longo da adolescência e da vida adulta
Há uma ligação e uma continuidade diretas entre brincar, produzir e viver de um jeito criativo. As experiências lúdicas da infância influenciam muitas decisões tomadas ao longo da adolescência e da vida adulta.
Brincar é uma jornada que vai se transformando ao longo de nossa existência e que nos ajuda a encontrar propósito no trabalho e sentido para a vida.
Brincar durante a infância é um direito das crianças e também um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento saudável dos seres humanos.
A importância do brincar não se limita aos primeiros anos de vida. Existe uma ligação e uma continuidade entre brincar, produzir e viver de um jeito criativo. As experiências lúdicas da infância influenciam muitas decisões tomadas ao longo da adolescência e da vida adulta. Por isso, brincar é uma jornada que vai se transformando ao longo de nossa existência e nos ajuda a encontrar propósito no trabalho e sentido para a vida.
O termo “brincar” vem do latim vinculum, que significa união e vínculo – elementos muito importantes na vida de uma pessoa. Para o psicólogo americano Stuart Brown, “brincar é o motor de sobrevivência necessário para a adaptação, a flexibilidade e o aprendizado social. Brincar nos ajuda a pertencer a uma comunidade, a desenvolver a habilidade de controlar os impulsos e de regular as nossas emoções”.
Como estimular e acompanhar o brincar entre as crianças?
O tipo de brincar que mais favorece a infância é o brincar livre, ou seja, aquele brincar sem intervenção direta do adulto, apenas com a supervisão caso haja necessidade de ajudar alguma criança em um dado momento. Durante o brincar livre as crianças são proativas, pois escolhem a brincadeira, decidem as regras, negociam com os amigos, lidam com os sentimentos, estabelecem limites e superam frustrações por conta própria ou com o apoio dos colegas.
O brincar desempenha funções sociais, emocionais e biológicas essenciais para o desenvolvimento de um ser humano. São elas:
- Adaptar-se a novas situações do cotidiano.
- Descobrir novas soluções para problemas.
- Desarmar o medo e lidar com diversos sentimentos.
- Criar conexão emocional.
- Estimular criatividade.
- Desenvolver várias habilidades para a vida.
- Exercitar diferentes papéis.
- Desenvolver o corpo.
- Estimular funções cognitivas.
- Criar um efeito terapêutico em momentos difíceis.
- Favorecer o encantamento.
- Exercitar o risco.
- Integrar os aspectos social, cognitivo e emocional do desenvolvimento humano.
Brincar é, portanto, um laboratório de experimentações que capacita as crianças para a vida de hoje e se torna um importante ensaio para as vivências e desafios futuros.
Brincar e as competências para o século 21
Atualmente, muito se fala sobre a importância das competências para o século 21 e sobre maneiras de ajudar as novas gerações a desenvolvê-las. Mas, o que são e quais são essas competências?
As competências para o século 21 são um conjunto de habilidades sociais e emocionais que uma pessoa possui e usa para lidar com as diversas situações do cotidiano. São habilidades possíveis de aprender e praticar.
Diferentes nomenclaturas são usadas para definir as competências para a vida. Algumas delas são: habilidades socioemocionais, soft skills, competências para o século 21, hábitos da mente, habilidades não-cognitivas, aprendizado social e emocional (SEL), Big Five e inteligência emocional.
Embora não exista uma lista completa de habilidades que seja comum aos diversos termos utilizados, podemos enumerar algumas que são comuns a todos eles: auto-gestão das emoções, comunicação, empatia, resiliência, criatividade, tomada de decisão, resolução de problemas, determinação, planejamento, colaboração e criatividade são exemplos de habilidades cada vez mais necessárias para viver na era digital.
Profissionais de diversas áreas procuram entender como ajudar as pessoas a desenvolver essas competências. Em especial, profissionais da área da Educação têm se perguntado como criar maneiras intencionais de ensinar as habilidades socioemocionais dentro do ambiente escolar.
Brincar é uma dessas maneiras. A brincadeira é um poderoso instrumento através do qual crianças e adolescentes exercitam a todo momento várias habilidades sociais e emocionais. Enquanto brincam, as crianças exercitam todas as competências mencionadas antes. Mais tempo de recreio, mais brincar livre, mais prática de esportes e mais ensino divertido são maneiras eficazes de preparar as novas gerações para o cotidiano e para os desafios futuros que podem e devem ser aplicadas com urgência.
Outra relação importante entre o brincar e as competências para a vida é a atmosfera positiva que um ambiente lúdico promove. No livro Como ensinar as crianças a aprenderem, o jornalista especializado em educação Paul Tough cita estudos recentes que mostram a importância de uma atmosfera afetiva para o desenvolvimento das competências socioemocionais dentro das escolas. Portanto, brincar tem um impacto positivo duradouro tanto no desenvolvimento pessoal de cada criança e adolescente, como no ambiente escolar e nas relações entre alunos, professores e gestores.
“Brincar será para o século 21 o que o ‘trabalho’ foi para a era industrial: nossa maneira dominante de saber, fazer e criar valor.”
(Pat Kane, autor de The Play Ethic)