IA na educação: como garantir que os alunos continuem sendo protagonistas do aprendizado

IA na educação: como garantir que os alunos continuem sendo protagonistas do aprendizado

School-aged boy and girl using a computer with AI-powered educational tools. Artificial Intelligence technology.

Não dá para negar: queira você ou não, a inteligência artificial já faz parte do nosso cotidiano. Ela está presente nas recomendações de filmes e músicas em plataformas de streaming, nos assistentes virtuais que ajudam na organização da rotina e até mesmo em aplicativos que tornam tarefas simples, como montar listas de compras, por exemplo, muito mais práticas.

No entanto, a atuação da inteligência artificial vai muito além do uso individual no dia a dia. Em âmbitos maiores, ela já impacta setores inteiros. Na saúde, por exemplo, contribui para diagnósticos mais rápidos e precisos, apoia nos tratamentos e até pesquisas avançadas; na mobilidade, ajuda a desenvolver carros inteligentes e sistemas de trânsito; e, na economia global, transforma processos de produção, consumo e inovação tecnológica.

No ambiente escolar, essa influência também está cada vez mais presente! A inteligência artificial vem transformando a educação nos últimos anos, trazendo consigo oportunidades e desafios. Se, por um lado, ela pode auxiliar professores na personalização do ensino e no acesso a recursos inovadores de aprendizagem, por outro, traz um alerta importante: como garantir que os estudantes não deixem de exercitar o pensamento crítico, a criatividade e a autonomia, em vez de transferirem para a tecnologia aquilo que deveriam desenvolver com dedicação e esforço próprio?

Diante desse contexto, que tal explorarmos mais a fundo como a IA está impactando a educação?

O impacto da inteligência artificial na vida dos estudantes

Não é novidade que, nos últimos anos, a inteligência artificial passou a fazer parte da realidade de alunos, professores e instituições de ensino. Sua presença no ambiente escolar – e familiar – tem transformado práticas pedagógicas, rotinas escolares e até mesmo a forma como os estudantes aprendem e se relacionam com o conhecimento. Para se ter uma ideia:

  • ● Segundo pesquisa da Forbes, três em cada cinco professores afirmam já ter integrado a IA em suas práticas diárias de ensino.
  • ● Um levantamento da Internet Matters mostrou que um quarto das crianças utiliza ferramentas de IA para finalizar ou receber algum tipo de apoio em seus trabalhos escolares.

A verdade é que ferramentas capazes de gerar resumos, corrigir redações ou até resolver cálculos complexos estão cada vez mais presentes – e acessíveis – no cotidiano escolar. É claro que esse avanço traz uma série de benefícios – como otimizar o tempo, facilitar pesquisas e personalizar o ensino. No entanto, também impõe riscos importantes. Se utilizada de forma inadequada, a IA pode diminuir o esforço cognitivo, enfraquecer o desenvolvimento do pensamento crítico e afastar o estudante do exercício fundamental de analisar, refletir e criar de forma autônoma. Por isso, mais do que adotar a tecnologia, é primordial aprender a usá-la com equilíbrio e responsabilidade pedagógica.

A IA e o futuro da educação

A escola do futuro já está sendo construída no momento presente. Um estudo da Research and Markets prevê que o uso da IA na educação crescerá, em média, 40,3% ao ano até 2027. Esse dado mostra que a integração da inteligência artificial na educação vai muito além de uma tendência passageira. Isso significa que, para se manterem relevantes e competitivas, as instituições de ensino precisam compreender esse movimento e se preparar para adotar a tecnologia de maneira estratégica, consciente e responsável.

Com o apoio da inteligência artificial, por exemplo, é possível identificar os pontos fortes e as dificuldades individuais de cada aluno e assim sugerir trilhas de aprendizagem personalizadas. Isso não só fortalece a autonomia do estudante, como também amplia as possibilidades de atuação do professor, que passa a ter mais tempo para exercer seu papel essencial de orientador do processo de aprendizagem.

No entanto, há uma linha tênue entre usar a IA como apoio e permitir que ela substitua habilidades essenciais. O grande desafio é equilibrar inovação tecnológica e desenvolvimento humano.

A importância do desenvolvimento das habilidades socioemocionais no uso das IAs

Muito mais que dominar as ferramentas digitais, os estudantes precisam aprender a usá-las de forma responsável e consciente. Para isso, é necessário desenvolver competências socioemocionais como autonomia, responsabilidade, ética e empatia. Essas habilidades ajudam a tomar decisões mais equilibradas diante da tecnologia, respeitar direitos autorais, reconhecer limites e compreender o impacto das próprias escolhas, por exemplo.

Ao investir no desenvolvimento socioemocional, a escola prepara os estudantes não apenas para utilizar a inteligência artificial com maturidade, mas também para viverem em uma sociedade cada vez mais tecnológica e interconectada.

An Asian teenage student interacts with an AI chatbot on a smartphone while studying at a desk with a computer, notes and stationery. The scene highlights modern learning and technology integration.

 

Estratégias para o uso responsável da IA na educação

Para que a inteligência artificial se torne, de fato, uma aliada no processo educacional – e não um obstáculo no desenvolvimento dos estudantes -, é essencial adotar algumas práticas responsáveis de uso, tais como:

 

1. Desenvolver a consciência e o letramento digital

É fundamental ensinar aos estudantes que a inteligência artificial deve ser vista como uma ferramenta de apoio e nunca como algo que substitui o raciocínio humano. Além disso, promover o letramento digital é ajudar os alunos a compreender como a IA funciona, seus benefícios, limitações e possíveis vieses. Dessa forma, eles aprendem a utilizá-la de maneira mais crítica, ética e responsável.

2. Valorizar o processo e não apenas o resultado

É claro que chegar à resposta correta é uma vitória e tanto. Contudo, estimular os estudantes a percorrer o caminho da pesquisa, da reflexão e da construção de ideias é tão essencial e importante quanto. Isso significa que a tecnologia pode ser usada como um apoio nesse processo, mas não deve substituir etapas fundamentais do aprendizado, como o levantamento de hipóteses, a experimentação e a análise crítica.

3. Integrar a IA ao aprendizado de forma pedagógica

A inteligência artificial pode enriquecer a experiência escolar ao possibilitar novos formatos de aprendizagem – como simulações, jogos educativos, trilhas personalizadas e recursos que promovem a acessibilidade. No entanto, para que essa integração seja realmente significativa, é fundamental acontecer sob a óptica pedagógica e a mediação do professor.

 

Construindo um aprendizado humano em tempos digitais

A inteligência artificial já é parte do nosso presente e, sem dúvida, não é inimiga da educação, muito pelo contrário. No entanto, é preciso lembrar que nenhuma tecnologia pode substituir a capacidade humana de pensar, refletir, criar e, principalmente, sentir. O grande desafio das escolas, professores e famílias é ensinar os alunos a utilizarem a IA como uma parceira de aprendizado, sem abrir mão do esforço intelectual e do desenvolvimento socioemocional.

Quando equilibramos inovação tecnológica com o protagonismo estudantil, a IA deixa de ser um risco e se transforma em oportunidade. Afinal, mais do que preparar crianças e jovens para lidar com máquinas inteligentes, a educação deve prepará-los para serem seres humanos plenos, críticos e criativos em um mundo onde tudo muda o tempo todo.

Veja outros conteúdos

A educação na perspectiva da Modernidade Líquida

A educação na perspectiva da Modernidade Líquida

Three children with diverse ages using laptop computer, smartphone and digital tablet at home and having fun

Muito se fala sobre a velocidade com que as coisas acontecem no mundo atual, não é mesmo?! Isso porque vivemos em uma era marcada pela instantaneidade, pela constante transformação e pela efemeridade das relações, das informações e até mesmo das certezas. A verdade é que nós, seres humanos inseridos nessa sociedade em constante movimento, estamos expostos a mudanças rápidas e frequentes em praticamente todas as esferas de nossas vidas. 

Embora essa dinâmica seja frequentemente associada ao progresso e à inovação, ela também carrega desafios complexos – e foi justamente para refletir sobre essa nova realidade que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman cunhou o conceito de “Modernidade Líquida”. Explicando de forma bastante resumida, segundo Bauman, vivemos em uma era em que nada é feito para durar – sejam vínculos, valores, identidades ou estruturas -, tudo se torna frágil e instável.  

A partir desse cenário, hoje, convidamos você a refletir sobre como os desafios do mundo contemporâneo impactam – e transformam o contexto educacional. Vamos juntos nessa reflexão? 

 

O que é Modernidade Líquida? 

O conceito de Modernidade Líquida descreve uma era marcada pela fluidez, pela instabilidade e pela mutação constante. Em outras palavras, vivemos em um tempo em que tudo muda rapidamente: laços afetivos, carreiras, identidades, formas de conhecimento, valores e até certezas que antes pareciam inabaláveis. Nada mais parece fixo ou duradouro, tudo se adapta, se desfaz, se reconstrói – e em uma velocidade absurda! 

Um exemplo simples? O que ontem era considerado verdade ou tendência pode, hoje, já estar ultrapassado ou não fazer mais sentido. Na modernidade líquida, a permanência e a solidez de antes dão lugar à transitoriedade e à flexibilidade. 

E essa liquidez, essa mutação tão constante, afeta diretamente nossa forma de viver, conviver e compreender o mundo. Ela altera a maneira como nos relacionamos com o tempo, com as pessoas e com o saber. Nesse cenário, não é surpresa que a educação também seja profundamente impactada, não é mesmo?! – afinal, ensinar e aprender em um mundo líquido exige novas abordagens, alinhadas à complexidade do presente. 

Impactos da Modernidade Líquida na educação 

Durante muito tempo, a educação seguiu um modelo bastante tradicional: sala de aula e materiais convencionais, o professor como figura central no processo de ensino e a memorização de conteúdos como principal estratégia de aprendizado. Nesse contexto, o saber era transmitido de forma unidirecional – do professor para o aluno. 

No entanto, na modernidade líquida, esse ambiente educacional, outrora tão sólido, se vê diante de um mundo onde tudo muda o tempo todo. Uma sociedade onde as transformações sociais, culturais e tecnológicas desafiam os modelos convencionais e exigem novas formas de ensinar e aprender. 

Atualmente, os alunos estão em contato com múltiplos estímulos e hiperconectados a maior parte do tempo.  Mas vale ressaltar que, apesar de terem informações à disposição a poucos cliques de distância, isso não garante a construção do conhecimento. Nesse novo paradigma, muito mais que decorar fórmulas ou datas históricas, é fundamental desenvolver nos estudantes competências como o pensamento crítico, a criatividade, a empatia, a colaboração, a adaptabilidade e a autonomia – habilidades essenciais para lidar com a complexidade e a fluidez do mundo contemporâneo. 

Para os professores, ensinar na era da modernidade líquida é ressignificar o próprio papel, reinventar e simplificar as práticas pedagógicas, incorporar as tecnologias como aliadas e, acima de tudo, dialogar com a linguagem, os interesses e as vivências dos alunos, garantindo que o aprendizado seja significativo e com aprofundamento. 

 

Educar em tempos líquidos: o papel da escola hoje 

Muito mais que apenas acompanhar a liquidez do mundo, a educação precisa oferecer pontos sólidos. E isso não significa resgatar a rigidez de modelos passados, mas sim equilibrar a fluidez com estruturas consistentes e afetivas.  

Trata-se de fazer da escola um espaço vivo de acolhimento, conexões, vínculos, estimulando o pensamento crítico e a construção coletiva. Um lugar onde se formam pessoas capazes de lidar com as próprias emoções, respeitar as diferenças, tomar decisões conscientes e trilhar caminhos com responsabilidade e autonomia.  

E nesse cenário, é importante ressaltar que a flexibilidade e a adaptabilidade deixam de ser apenas respostas às mudanças externas e passam a ser competências essenciais para o aprendizado em si. Isso porque, ao lidar com uma quantidade imensa de informações disponíveis, os estudantes precisam aprender a filtrar o que é relevante, compreender a qualidade dos conteúdos e transformá-los em novos significados. É nesse movimento de análise, interpretação e ressignificação que o conhecimento se consolida, favorecendo não só o desempenho acadêmico, mas também a formação de sujeitos críticos, criativos e preparados para construir soluções diante dos desafios do mundo. 

Para isso, é fundamental ir além do ensino de conteúdos: é preciso desenvolver competências socioemocionais, estimular a curiosidade, incentivar a criatividade e promover o protagonismo dos estudantes. Afinal, educar em tempos líquidos é, sobretudo, preparar para a vida – com suas incertezas, desafios e possibilidades – e não apenas para testes e avaliações. É construir, dia após dia, uma escola mais conectada com o mundo real. 

 

Para onde vamos? 

Se, por um lado, a modernidade líquida nos convida a desapegar de velhas certezas, por outro, ela também nos desafia a construir novos pontos de apoio – muito mais flexíveis, humanos e significativos. 

E é justamente aí que entra em cena a educação: como uma ponte entre o presente instável e o futuro que desejamos; entre a fluidez do mundo e a solidez necessária para navegar por ele com consciência, empatia e propósito. Afinal, em tempos líquidos, educar é muito mais que ensinar: é formar sujeitos capazes de existir com coragem em meio à mudança constante. 

Veja outros conteúdos

Educação Financeira e Emocional: um encontro necessário

É essencial ensinar uma criança a planejar seus gastos, a ter metas financeiras, a economizar e a ficar longe de dívidas.

Associar o mundo emocional às atitudes práticas ao lidar com dinheiro previne inúmeros problemas financeiros no decorrer da vida.

Sentimentos como empolgação excessiva, ansiedade, preocupação e culpa acompanham e influenciam de maneira direta cada decisão ligada ao dinheiro.

Muitas escolas brasileiras já incluem a educação financeira em sua grade curricular e, felizmente, bons programas foram desenvolvidos para garantir que esse tema seja implementado de forma transversal e integrada às disciplinas tradicionais.

No entanto, é muito difícil encontrar uma visão sobre educação financeira que englobe os fatores psicológicos pessoais e familiares relacionados ao uso do dinheiro. Algumas iniciativas até unem o aprendizado das finanças a aspectos ligados a comportamento, impacto social e valores humanos – isso é fundamental, mas ainda é limitada a consciência de que sentimentos como empolgação excessiva, ansiedade, preocupação e culpa acompanham e influenciam cada decisão ligada ao dinheiro.

Mais restrita ainda é a noção de que padrões familiares financeiros são transmitidos de geração em geração e, muitas vezes, impedem as pessoas de ter uma vida financeira saudável, independentemente do quanto aprendam sobre juros, aplicações, descontos e orçamentos.

Em geral, a visão sobre o dinheiro é muito racional, e o impacto das emoções e dos fatores psicológicos na gestão financeira pessoal sempre foi negligenciado.

Uma educação financeira desconectada da compreensão emocional é, na maioria das vezes, pouco eficaz a longo prazo. Quantos adultos preparados tecnicamente para lidar com suas finanças se atrapalham e acabam gastando demais por excesso de empolgação? Ou ficam tão ansiosos com sua vida financeira que preferem nem pensar sobre o assunto e acabam se endividando? Ou, ainda, economizam em excesso por medo ou culpa e deixam de aproveitar a vida? Isso acontece porque as pessoas não entendem as emoções que emergem ao lidar com o próprio dinheiro. Como consequência, tomam decisões equivocadas baseadas em fatores psicológicos que desconhecem.

Ensinar uma criança a planejar seus gastos, a ter metas financeiras, a economizar e a ficar longe de dívidas é essencial. Também é importante conscientizá-la sobre o impacto de seu comportamento financeiro na sociedade e sobre a importância de assuntos como economia circular, consumo consciente e ética nas finanças. Entretanto, uma vida financeira saudável na fase adulta é, em grande parte, resultado de muitas experiências vividas na infância. Você sabe como isso se dá? Por meio da cultura familiar em relação ao dinheiro e, sobretudo, dos padrões de comportamentos da família. Perguntas do tipo “Como seus pais lidam com dinheiro?”, “Qual o significado do dinheiro em sua família?” e “Como foi a história financeira das gerações passadas?” também devem acompanhar os conteúdos técnicos de educação financeira.

O comportamento dos pais é aprendido pela criança sem que ela perceba. Pais que gastam demais, que controlam demais o dinheiro, que ficam deprimidos quando gastam ou que não se preocupam com dívidas passam para a criança mensagens éticas e psicológicas silenciosas que afetam seu desenvolvimento.

O encontro da educação financeira com a emocional permite desenvolver a capacidade de tomar decisões baseadas no autoconhecimento e na história de vida familiar de cada um. Isso facilitará a construção de uma estratégia financeira de longo prazo que inclua momentos vulneráveis, como envelhecimento e adoecimento dos pais, perda de emprego, morte de um provedor e aposentadoria.

Associar o mundo emocional às atitudes práticas ao lidar com dinheiro previne inúmeros problemas financeiros no decorrer da vida. Além disso, reconhecer os padrões de comportamento da família em relação ao assunto protege o indivíduo contra uma série de comportamentos de risco.

Os programas de educação financeira devem incluir reflexões, pesquisas pessoais e ações práticas que ajudem professores, alunos e pais a entender a importância dos aspectos emocionais na construção de uma vida financeira consistentemente saudável. Educação financeira e educação emocional devem andar de mãos dadas desde a infância. Aliar o ensino da gestão do dinheiro ao conhecimento e à gestão das emoções é urgente para desenvolver cidadãos mais generosos, com menos necessidade de ostentar e mais capazes de tomar decisões adequadas, sustentáveis e com impacto positivo para a sociedade.

Socorro! Meu filho sofre de adolescência

É importante saber como administrar a adolescência para evitar disputas constantes

É importante entender essa fase da vida para administrar as novas emoções dos jovens e evitar disputas constantes.

Chegada a adolescência, as crianças enfrentam mudanças físicas, emocionais e sociais desconhecidas e inesperadas para elas.

Se de um mês para outro um adulto percebesse o corpo mudar, a voz se transformar e o ânimo passar de feliz a absolutamente irritado em instantes, certamente correria para pedir ajuda a um psicólogo. 

No entanto, todas essas características, aplicáveis a qualquer adolescente, se juntam com outro traço típico neles: falam pouco ou nada com seus pais ou outros adultos. Simplesmente “não tem nada a ver”. Nessa idade, seus confidentes são os amigos, que estão tão perdidos quanto eles, de modo que não podem ajudá-los muito. Muito menos recomendar, a não ser estejam muito mal, que consultem um psicólogo.

Assim, em uma fase de mudanças muito bruscas e decisivas, durante a qual é preciso demonstrar seu valor e sua recém adquirida independência e autonomia, o que os adolescentes fazem? O que for possível para conseguir mudanças rápidas que lhes permitam demonstrar, por um lado, que podem fazer tudo sozinhos, e, por outro, resolver os problemas rapidamente, sem muita análise:

  • Engordei? Paro de comer.
  • Não estou muito forte? Passo o dia fazendo musculação, andando de bicicleta e correndo.
  • Tenho espinhas? Acabo com elas no banho.

Essa maneira de agir não é considerada um problema até que, passado algum tempo, a crua realidade se revela: se paro de comer, perco as forças e passo o dia inteiro com fome; se me dedico à atividade física a ponto de não ter tempo para estudar, repito de ano; se cutuco as espinhas, fico com marcas e é pior etc.

É então que o adolescente pede ajuda, mas ela vem em forma de queixa e de irritação consigo mesmo – por não ter conseguido resolver o problema sozinho –, e com os pais – porque eles dizem justamente o que não querem ouvir.

Para completar, os pais aproveitam esse momento de poder para lembrar os filhos de que tinham razão e para criticar seu comportamento. Já é possível imaginar o capítulo seguinte da história: conflitos e brigas.

Como lidar com os filhos adolescentes?

É importante saber como administrar esses problemas para evitar disputas constantes. Vejamos como fazer isso com um exemplo concreto muito comum nessa fase:

Conflito: Minha filha não gosta muito da aparência da barriga e das pernas e reclama a respeito desde os 7 ou 8 anos. Não quer colocar biquíni e termina os dias triste, confessando que em um ou outro conflito o corpo dela era a questão. O mesmo acontece quando vai comprar roupa.

Situação habitual: Quase todas as meninas até os 11 ou 12 anos começam a mudar e precisam de tempo sozinhas. Distanciam-se das mães, lhes dão menos atenção e o critério e a opinião delas passam para segundo plano – ou até para o plano contrário.

O que quero como mãe ou pai? Quero que minha filha entenda e sinta que esse é o corpo que tem, que provavelmente será assim a vida toda, e que ficar irritada com ele não só é contraproducente para sua felicidade, mas também inútil. Como conseguir isso?

O foco deve mudar. É preciso tentar administrar essas emoções de insatisfação com a imagem pessoal (a principal, durante a adolescência) utilizando outra perspectiva:

  1. 1. Prever que, na adolescência, esse tipo de situação vai acontecer. Uma vez que a adolescente não ouvirá a mãe, esta precisa começar a agir antes.
  2. 2. Ouvir as preocupações da filha e tentar sentir empatia por ela. Não minimizar os sentimentos dela nem julgá-los – além de não ajudar, essa atitude a afastará.
  3. 3. Transmitir-lhe que se uma questão é importante para ela, também é para os pais. Juntos encontrarão as soluções.
  4. 4. Entender que é normal que a filha se irrite e se frustre. Não recriminá-la por se preocupar tanto com a autoimagem.
  5. 5. Experimentar quais opções ou soluções tranquilizam a filha ou a deixam menos insatisfeita.
  6. 6. Transmitir, aos poucos, que a ausência de insatisfação não é possível na vida. Dar exemplos de pessoas próximas de quem ela gosta e com quem tem boa relação a respeito de aceitação dos próprios “defeitos”. Por exemplo, a tia não gosta muito do próprio cabelo, mas encontrou um corte que a favorece etc.
  7. 7. Lembrar de reforçar e reconhecer com orgulho tudo que a filha fizer bem, pois essa é a melhor fonte de autoestima para os adolescentes.

Projeto de Vida para Adolescentes

Reflexões e ações rumo à vida adulta

Desenhar um projeto de vida na adolescência é importante, pois o jovem precisa vislumbrar sua vida adulta de forma independente quando está mais vulnerável a se envolver em situações de risco que podem comprometer todo seu futuro.

Projeto de Vida é um conjunto de reflexões e estratégias baseadas nos desejos, objetivos e expectativas de uma pessoa.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência é a fase entre 12 e 18 anos. Esse período marca um momento de amadurecimento cerebral, de intensidade nas relações humanas, de importantes descobertas e de novas oportunidades para a vida. Além disso, a adolescência é influenciada por valores e expectativas sociais e culturais que podem tanto pressionar negativamente o jovem quanto apoiá-lo rumo à vida adulta. Tendência à exploração, vontade de se arriscar e procura por novas relações e aventuras são características marcantes da transição entre a infância e a vida adulta.

Uma das funções mais importantes da adolescência é estabelecer a independência em relação à família para construir a própria identidade e as bases da vida futura. Por isso, oferecer ao adolescente um ambiente acolhedor de reflexão em casa e na escola é fundamental para seu desenvolvimento. Nesse contexto, construir com o jovem um projeto de vida o ajudará a definir caminhos saudáveis e alinhados com sua personalidade na jornada rumo à maturidade.

O que é um projeto de vida?

É um conjunto de reflexões e estratégias baseadas nos desejos, objetivos e expectativas de uma pessoa. O projeto de vida deve considerar não somente os aspectos individuais, mas também a cultura local onde a pessoa está inserida e o contexto mundial.

A adolescência é um período particularmente importante para a construção de um projeto de vida, pois o jovem precisa vislumbrar sua vida adulta de forma independente quando está mais vulnerável a envolver em situações de risco que podem comprometer todo seu futuro.

Objetivos de um projeto de vida

Os objetivos do projeto de vida estão ligados à reflexão sobre si mesmo, os outros e a sociedade para, a partir daí, desenhar estratégias de vida e de trabalho. O projeto de vida deve incentivar o autoconhecimento, a clareza sobre os próprios talentos, limitações e aspirações, e a melhora das relações humanas. Além disso, é fundamental, na adolescência, que o projeto de vida seja orientado tanto pelos pais quanto pela escola com o intuito de conectar o cotidiano escolar à vida e às transformações mundiais. Dessa forma, será mais fácil para o jovem fazer escolhas profissionais e pessoais adequadas e lidar com as perdas que fazer opções necessariamente impõe.

Quais habilidades devem ser desenvolvidas através do projeto de vida?

A construção de um projeto de vida é uma excelente oportunidade para o adolescente desenvolver técnicas de autoconhecimento e reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo. É uma ferramenta muito útil para a construção da identidade em um momento de separação dos modelos parentais.

Além disso, enquanto o adolescente passa pelo processo de reflexão e ação ligados ao projeto de vida, exige-se que desenvolva a capacidade de gerenciar seu tempo, planejar, pensar de forma crítica, gerir suas emoções, tomar decisões adequadas e resolver problemas e desafios.

Outro ponto importante é o estabelecimento de maior autonomia e senso de responsabilidade em relação às próprias atitudes e decisões, o que, consequentemente, promove um empoderamento importante que consolida uma autoestima saudável do jovem. O foco central de um projeto de vida deve ser tanto a vida presente quanto o futuro.

Como fazer?

O projeto de vida pode ser construído de várias formas, dependendo da cultura escolar e familiar e da personalidade do jovem. Alguns pontos devem ser considerados na elaboração de um formato de projeto de vida:

  • Criar um ambiente acolhedor e sem julgamentos. O adolescente deve se sentir à vontade para se abrir e pensar com o adulto. Por exemplo, na escola ele pode escolher um professor-mentor com o qual se identifique para ajudá-lo no processo.
  • Participar de projetos interdisciplinares com temas geradores ligados a autoconhecimento, estratégias de vida, possibilidades profissionais, impacto social e propósito de vida. De forma personalizada, o jovem pode “aprender e refletir fazendo” e se lançando em desafios que testarão suas competências.
  • Explorar ferramentas de autoconhecimento que façam sentido para ele. Meditação, psicoterapia e aplicativos focados em bem-estar podem constituir um bom tripé de desenvolvimento emocional.
  • Visitar e entrevistar pessoas que inspirem o adolescente pessoal e profissionalmente.
  • Utilizar tecnologias que favoreçam a gestão do tempo, a organização e a gestão de projetos pessoais e escolares.
  • Criar maneiras de ajudar o adolescente a mapear e identificar situações de perigo em potencial: brigas, dependências variadas, promiscuidade sexual e comportamentos de risco em geral. A capacidade de reconhecer e antecipar situações arriscadas pode proteger o jovem por toda a vida.
  • Identificar maneiras de continuar brincando. O brincar tem uma continuidade que começa na infância, passa pela adolescência e permanece na vida adulta. Estabelecer a relação do que era prazeroso na infância e o que proporciona prazer hoje é uma ferramenta de autoconhecimento e identificação de propósito de vida.

Desafios

Construir um bom projeto de vida na adolescência apresenta alguns desafios. É característica do jovem criar muitas expectativas que, em algum momento, serão confrontadas. Auxiliar nesse processo de frustração e choque de realidade é papel essencial de pais e educadores. Como a adolescência é um período delicado, é fundamental que os adultos consigam enxergar essa fase de maneira positiva e não com preconceitos já estabelecidos.

Considerar o adolescente como “aborrecente” nos impede de ver o indivíduo de forma ampla e repleta de oportunidades de desenvolvimento. Outro desafio essencial é conseguir manter a esperança na vida e no futuro. A esperança é um fator de proteção para o adolescente porque favorece a determinação e a resiliência para enfrentar os desafios da jornada rumo à maturidade.

O que fazer se o meu filho não quer estudar?

Família e escola devem formar uma equipe para encontrar as causas do problema

Quando um filho não quer estudar, o primeiro passo é encontrar a causa do problema. Para isso, devemos contar com o apoio dos professores para dar importância à vida escolar e desenvolver bons hábitos. 

As crianças possuem uma tendência à atividade e à aprendizagem, dedicando muita energia a esse objetivo
 

A natureza do jovem e sua capacidade nata de aprender

A busca por conhecimento é natural no ser humano. As crianças possuem uma tendência à atividade e à aprendizagem, dedicando muita energia a esse objetivo. Às vezes, porém, não se interessam pelo que os pais e professores querem que façam. O problema pode não ser a falta de motivação, mas tornar o estudo mais atraente e interessante. Se não nos conectamos com o mundo do jovem, suas experiências de vida e seus interesses, corremos o risco de apagar os desejos natos de aprendizagem e desenvolvimento pessoal.

Em geral, a ausência de motivação, o baixo rendimento ou o fracasso escolar não estão diretamente relacionados com problemas nas funções cognitivas ou com dificuldades específicas de aprendizagem, embora não se deva descartar essas causas. Na maioria das vezes, porém, as dificuldades se dão principalmente por:

  • Falta de hábitos de estudo e trabalho.
  • Baixa autoestima, falta de segurança e pouca confiança nas próprias capacidades.
  • Ausência de referências familiares claras em relação a autoridade, autonomia e responsabilidade pessoal.
  • Conflitos familiares que impedem o equilíbrio e o bem-estar emocional imprescindíveis para aprender, crescer e aproveitar os estudos e a vida em geral.
  • Um sistema educativo que tende à massificar os alunos e que, por falta de recursos ou outras razões, não os atende em sua individualidade e necessidades mais pessoais.

O que podemos fazer?

  • Dar importância à vida escolar, não apenas às notas, mas a tudo o que acontece na escola: relações com colegas e professores, passeios, acampamentos, festas etc. É importante que as crianças e os jovens gostem do que fazem e que se sintam felizes, acolhidas e seguras na escola. Se não estiverem bem, ficarão tensas e preocupadas, e não conseguirão estudar e aprender adequadamente.
  • Ajudar a desenvolver bons hábitos: responsabilizar-se pelos próprios atos, tratar as pessoas com respeito, cumprir limites e normas para ter uma atitude favorável em relação à disciplina e à ordem, aprender que é necessário esforço para executar bem as tarefas. Auxilie seus filhos a planejar e organizar o tempo e a dedicar um período para a atividade escolar todos os dias. Eles também devem cuidar e manter organizados os livros e demais materiais de estudo. 

O cérebro humano e as múltiplas habilidades

Desenvolver habilidades é importante para a escola e para a vida

Oferecer experiências de aprendizagem que beneficiam habilidades e interesses da criança e produzem prazer pode contribuir para o bom desempenho acadêmico e social.

O funcionamento cerebral tem particularidades que estão sendo descobertas a cada dia, e esse conhecimento é constantemente atualizado

Vamos conversar sobre o cérebro. Precisamos entender um pouco mais sobre esse órgão que processa todas as informações do meio ao redor e as (re)organiza constantemente, atribuindo significados diversos às nossas experiências. É assim que interagimos com o ambiente e modificamos as informações que estão sendo processadas.

O funcionamento cerebral tem particularidades que estão sendo descobertas a cada dia, e esse conhecimento é constantemente atualizado. Em geral, a sociedade não consegue acompanhar essas transformações, o que resulta na divulgação de conceitos simplificados, errôneos ou, muitas vezes, restritos. 

Habilidade é o mesmo que inteligência?

Primeiro, precisamos distinguir os conceitos de habilidade e inteligência. Ser mais ou menos capaz de realizar uma atividade não me faz mais ou menos inteligente. Cada um de nós percebe as próprias capacidades ao realizar atividades que envolvem habilidades diversas.

O conceito de inteligência não envolve uma habilidade específica, mas a funcionalidade na integração da ação cerebral. Ele tem a ver com a velocidade e a capacidade de resolver problemas.

Para resolver um problema que envolva qualquer habilidade precisamos considerar aspectos emocionais, raciocínio, planejamento, pensamento abstrato, linguagem e experiências anteriores. Assim, se sou capaz de resolver problemas em um curto intervalo de tempo de forma a atuar de maneira eficaz no ambiente em que vivo, posso me considerar uma pessoa inteligente, independente das habilidades que possuo.

Pesquisas importantes que envolvem a revisão de estudos e o acompanhamento de pessoas ao longo da vida têm demonstrado que, embora os testes de QI (coeficiente de inteligência) se relacionem diretamente com competências escolares e ocupacionais, com o desempenho no trabalho e com o envolvimento social, eles também são importantes para prever a capacidade de tomar decisões para a vida prática que caracterizam o indivíduo como autônomo e competente.

O que é habilidade?

O conceito de habilidade envolve uma capacidade ou um talento natural ou adquirido que possibilita a um indivíduo ter um desempenho específico em um trabalho ou tarefa. Ou seja, posso ter poucas ou várias habilidades, e isso não implica ser mais ou menos inteligente.

Cada habilidade envolve características emocionais e cognitivas que precisam ser planificadas e organizadas para ter uma utilidade prática e ser funcional para um indivíduo.

Não podemos considerar habilidades independentes: nossas habilidades e nosso desempenho cerebral não são resultado de uma única área desse órgão, mas sim resultado da integração entre múltiplas regiões que dependem de estimulações intensas e amplas.

Isso quer dizer que muitas das habilidades envolvidas em uma atividade manual também estão relacionadas a habilidades escolares, do mesmo modo que quando interagimos com bichos ou trabalhamos no jardim também envolvemos habilidades cognitivas que incluem o aprendizado escolar e habilidades interpessoais, como o controle de impulsos, a resolução de problemas, a atenção e a memória operacional, desde que pensemos sobre essa atividade e a planejemos antes de realizá-la.

E meu filho?

Preparar uma criança para a escola e para a vida não envolve treiná-la com relação a questões cognitivas e escolares. Aprendizagens estruturadas que beneficiem habilidades e interesses que já se observam na criança e produzem prazer também podem contribuir para a melhora do desempenho acadêmico e social não só por questões emocionais, mas também cognitivas.

É importante que essas atividades sejam oferecidas à criança e ao adolescente dentro de um contexto estruturado e com objetivos e metas claras tanto para elas quanto para os pais, para que os pequenos possam ir monitorando seu desempenho à medida que alcançam os resultados desejados.

Aliás, esse automonitoramento é fundamental para a estimulação cognitiva e emocional (e, consequentemente, cerebral). A criança precisa perceber que o resultado de seu desempenho é melhor quando ela se esforça no planejamento e no controle emocional e cognitivo. Para o cérebro e para o desenvolvimento, é necessário ter um retorno imediato ao desempenho cognitivo e emocional, e, nesse aspecto, o desenvolvimento de habilidades tende a mostrar resultado mais rapidamente do que os aprendizados acadêmicos.

Sem dúvida, nossas habilidades estão relacionadas com o que preferimos fazer. Não gostamos de realizar atividades para as quais não temos habilidades, e muito menos expor a colegas e pais o que não fazemos bem. Porém, a estimulação dessas habilidades com objetivos e metas claras podem e devem ser apresentadas às crianças de forma lúdica e prazerosa, seja em um contexto específico ou no ambiente educacional. 

  1. Strenze, T. “Intelligence and socioeconomic success: a meta-analysis review of longitudinal research”. Intelligence 35, p. 401-426. 2007.
  2. Gottfredson, L. “Why g matter: the complexity of everyday life”. Intelligence 24, p. 79-132. 1997.
  3. Batty, G. D., Deary, I. J., Gottfredson, L.S. “Premordy (early life) IQ and later mortality risk: systematic review”. Ann Epidemiol. 17, p. 278-288. 2007.
  4. Batty, G. D. et al. “IQ in late adolescence/early adulthood and mortality by middle age: cohort study of one million Swedish men”. Epidemiology 20. p. 100-109. 2009.
  5. Narr, K. et al. “Relationship between IQ and regional cortical Gray matter thickness in healthy adults”. Cereb. Cortex 17, p. 2163-2171. 2007.
  6. Jung, R. & Haier, R. J. “The parieto-frontal integration theory of intelligence: converging neuroimaging evidence”. Behav. Brain Sci. 30, p. 135-154. 2017.
  7. Colom, R., Jung, R., Haier, R. J. “General intelligence and memory span: evidence for a common neuroanatomic framework”. Cogn. Neuropsychol. 24, p. 867-878. 2017.
  8. Karama S. et al. “Positive association between cognitive abilitiy and cortical thickness in a representative US sample oh healthy 6 to 18 years-olds”. Intelligence 37, p. 145-155. 2009.

As novas tecnologias e o desenvolvimento do cérebro

Tudo o que memorizamos e aprendemos altera a estrutura de nosso cérebro

As novas tecnologias têm modificado a forma como crianças e adolescentes compreendem e processam o mundo. O que os pais devem saber para facilitar o processo de aprendizagem dos filhos e diminuir os fatores de risco? 

Não temos como impedir ou mesmo proibir a utilização de recursos tecnológicos, mas temos como selecionar conteúdos e monitorar usos

Como processamos as informações do ambiente?

Tudo o que conhecemos e nomeamos é resultado das reconstruções que nosso cérebro faz dos estímulos recebidos por meio dos canais sensoriais (visão, audição, tato, olfato e paladar). Cada estímulo é transformado em impulso elétrico, permitindo que o órgão entre em contato com tudo o que acontece ao redor.

A partir daí temos a reconstrução do estímulo pelo cérebro, que ficará na memória (com a ajuda da atenção) até que seja identificado, nomeado, armazenado e/ou seja formulada uma resposta específica para esse estímulo.

De que forma isso se relaciona com as novas tecnologias?

Tudo o que memorizamos e aprendemos vai alterando a estrutura de nosso cérebro, ao modificar rotas e conexões neurais. As novas tecnologias têm modificado a forma como crianças e adolescentes compreendem e processam o mundo, já que possuem características de estímulos e exigem respostas bastante específicas. 

 

Os estímulos das novas tecnologias digitais 

Recursos que envolvem estímulos visuais com cores fortes, movimento, elementos que surgem e desaparecem exigem respostas automatizadas e com pouca elaboração cognitiva, ou seja, pouca criação do cérebro. Muitas vezes, as respostas são dadas de forma automática.

Quando perguntamos a uma criança ou adolescente como respondeu ao estímulo de um jogo, ou por que deu determinada resposta numa situação envolvendo mídia digital, normalmente recebemos como respostas um “porque sim” ou “porque era para dar essa resposta”.

Nesses momentos, fica claro o processamento envolvido em jogos digitais e em novas tecnologias: a estimulação de processos automáticos como a atenção e a ausência de raciocínio que exige planejamento e organização por meio de recursos verbais. A interatividade que exige respostas imediatas para múltiplos estímulos também provoca pouca elaboração cognitiva. Sim, são estimulados processos que envolvem a visão e que estão diretamente relacionados à organização viso-espacial, mas fica a pergunta: essas habilidades são as únicas que queremos desenvolver?

Como as tecnologias digitais podem estimular aprendizados

Existem recursos tecnológicos que não se baseiam nessa avalanche de estímulos sensoriais. Há atividades que envolvem reflexões e elaborações cognitivas altas, mas elas não são atrativas porque exigem atenção voluntária e controle do raciocínio. Esses estímulos normalmente não são vendidos e não são largamente usados por crianças e adolescentes; São utilizados em contextos educacionais ou clínicos, já que devem ter mediação para que promovam progressos cognitivos e aquisição de conhecimento. 

Até mesmo a televisão pode ter esses dois usos se os programas forem acompanhados por um adulto que desenvolva crítica e elaborações sobre o que está sendo visto e apresentado. O problema, então, não é a tecnologia, mas o uso que fazemos dela. Não temos como impedir a utilização de recursos tecnológicos, mas podemos selecionar os conteúdos e monitorar os usos. 

O ambiente e a cultura em que estamos inseridos afetam e determinam os processos cognitivos que serão predominantes no funcionamento cerebral. Podemos repensar o uso, o tempo e os motivos que nos levam a utilizar a tecnologia como forma de entretenimento passivo perguntando: “Quais são as necessidades reais hoje para cada faixa etária?”

O cérebro não se reorganiza de forma fácil, casual ou arbitrária. São necessários processos de atenção e entradas sensoriais significativas utilizados de forma repetitiva e intensa para que as modificações ocorram. Assim, o uso eventual e lúdico não é condenado, e a pergunta que devemos formular é: “Como é o uso por parte das crianças no mundo atual?”

Não podemos prever as capacidades e habilidades exigidas para as crianças daqui a 30 ou 40 anos, porém o equilíbrio e o bom senso devem prevalecer. O problema, mais uma vez, não é a tecnologia, mas o uso que se faz dela. Cada vez mais devemos proporcionar às crianças e aos adolescentes oportunidades de construção de realizar reflexões e elaborar pensamentos críticos a partir das experiências vividas. As novas tecnologias devem fazer parte da temática desses questionamentos.

Abram, Stephen. The New Scholar: “How are they different and how are libraries changing?”. National Association of Independent Schools, The Collection Chamber – A Playground for the Mind. Jan. 8, 2008.  

Hudson, Roxanne F., Leslie High e Stephanie Al Otaiba. “Dyslexia and the brain: What does current research tell us?”. The Reading Teacher 60.6 (Mar. 2007): 506 (10). Expanded Academic ASAP. Gale. Blue Earth. Area Public Schools. 2 Out. 2008.

Meyler, A., Keller, T. A., Cherkassky, V. L., Gabrieli, J. D., Just, M. A. “Modifying the brain activation of poor readers during sentence comprehension with extended remedial instruction: a longitudinal study of neuroplasticity”. Center for Cognitive Brain Imaging, Department of Psychology, Carnegie Mellon University, Neuropsychologia. 2008 Ago; 46 (10):2580-92. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18495180.

Prensky, Marc. “Engage me or enrage me: What today’s learners demand.” Educause Review. Setembro/Outubro. 2005.

Prensky, Marc. “Digital natives, digital immigrants”.

https://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf

Prensky, Marc. “Digital natives, do they really think differently?” http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part2.pdf

McElhinny, K. “Remedial Instruction Rewires Dyslexic Brains, Provides Lasting Results, Carnegie Mellon Study Shows; Researchers Say Findings Could Usher in New Era of Neuro-Education.(Report).” Ascribe Higher Education News Service (5 Ago, 2008): NA. Expanded Academic ASAP. Gale. Blue Earth Area Public Schools. 2 Out. 2008.

Slavin, Robert E., Chamberlain, Anne, Daniels, Celia. “Preventing reading failure.” Educational Leadership, Out. 2007, 22-27.

Por que é importante dormir bem para melhorar o rendimento escolar?

O sono beneficia a energia e o aprendizado.

O ritmo escolar e de aprendizagem às vezes pode ser forte e exigente. Dormir a quantidade de horas necessárias garante que as crianças tenham os níveis necessários de energia e extraiam o máximo de proveito de seu aprendizado. 

Devemos garantir o momento de desconexão cognitiva antes de ir para a cama

Nossa rotina diária exige muita energia e atenção. Com as crianças em fase escolar não é diferente. Sabemos que o dia a dia delas pode ser tão intenso quanto o dos adultos. Garantir que seu filho tenha um sono de qualidade é essencial para ele recuperar a energia e se desenvolver adequadamente. 

É importante desconectar antes de ir dormir

A carga de atividades a que algumas crianças são expostas pode ser a causa do sono insuficiente para as necessidades delas. Por isso, devemos vigiar se essa demanda é excessiva a ponto de se tornar um problema para a saúde e a vida escolar.

É recomendável revisar periodicamente os horários e o número de atividades que as crianças realizam todos os dias, para garantir que durmam as horas que precisam. Veja algumas sugestões para isso:

  • Reservar um tempo de desconexão do cérebro. Antes de ir dormir, algumas das atividades indicadas são: ler, conversar relaxadamente em família, ouvir música suave, praticar algum hobby que distraia e tranquilize, como pintar ou montar quebra-cabeças.
  • Alcançar um estado de relaxamento corporal. Diminuir o ritmo da atividade à medida que se aproxima a hora de dormir, tomar um banho ou fazer um relaxamento depois da atividade física ajudam a preparar o corpo para o descanso.
  • Estabelecer uma rotina. Respeitar os horários do jantar e os preparativos para o momento de dormir é uma forma de oferecer ao corpo e à mente uma regularidade que pode ajudar a conciliar o sono com facilidade.
  • Prestar atenção ao número de horas de sono. O tempo necessário varia para cada pessoa, mas respeitar o mínimo recomendado de 10 horas para crianças em fase escolar garante que tenham o descanso de que necessitam.
  • Zelar pelo ambiente em casa. Para que os pequenos tenham as horas necessárias de sono com qualidade, prestar atenção ao nível de ruído que existe na casa perto da hora de ir dormir. Diminuir a intensidade da iluminação no quarto também ajuda.

Se, apesar dessas medidas, a criança continuar não descansando adequadamente, procure avaliar se existe algo específico que a preocupa e busque resolver a questão, pois um bom descanso é fundamental para o rendimento acadêmico adequado. 

Como estimular a criatividade nas crianças

A criatividade resulta de processamentos ativos no cérebro e pode ser trabalhada de forma consciente

 

A criatividade resulta de processamentos ativos no cérebro e pode ser trabalhada de forma consciente

A criatividade não é como uma lâmpada que se acende de forma involuntária na mente. Ela é o resultado de processamentos que já estão ativos no cérebro – e podemos trabalhá-los de forma consciente.

A criatividade pode ser desenvolvida em qualquer área de atividade.

odas as descrições de criatividade envolvem habilidades denominadas pelos estudos cognitivos e cerebrais como “funções executivas”. A criatividade envolve diretamente imaginação (capacidade de abstração), resolução de problemas, planejamento e organização dos processamentos cognitivos e emocionais realizados pelo cérebro.

Para uma pessoa ser inovadora ela tem que ser capaz de realizar conexões cerebrais entre áreas específicas que envolvem os conceitos cognitivos e emocionais associados à informação a ser processada. Essas conexões precisam formar redes estáveis e de uso frequente envolvendo inter-relações entre os conceitos envolvidos, sejam eles relacionados a habilidades artísticas como música, dança, jogos e brincadeiras imaginativas, ou a atividades mais estruturadas – por exemplo, habilidades de linguagem ou matemática.

Criatividade não é um processo que surge de repente no cérebro. Embora as pessoas achem que a criatividade funciona como uma lâmpada que se acende, ela é, na verdade, o resultado de processamentos que já estão ativos no cérebro em termos de funcionamento subliminar (pouco consciente). É como se as conexões cerebrais, ao se manterem ativas, acabassem por encontrar “soluções” para determinados problemas ou questionamentos que já estão sendo processados pelo cérebro.

Diversos autores consideram que a criatividade pode ser desenvolvida em qualquer área de atividade desde que fornecidos os conhecimentos e as habilidades suficientes para que sejam estimulados e respeitados as condições e o estágio de desenvolvimento em que a criança ou o adolescente se encontra.

Os estudiosos citam que a maior parte das crianças apresenta, nos primeiros anos da vida, uma capacidade criativa bastante evidente, envolvendo principalmente atividades lúdicas e recreativas. A falta de estimulação e intervenção direta do ambiente social e o próprio desenvolvimento cognitivo acabam por reduzir esse potencial.

Como podemos estimular e manter o potencial criativo de uma criança? 

O primeiro ponto importante a ser destacado é a ênfase que o adulto dá à criança nos momentos em que a criatividade é destaque. Em geral, consideramos engraçado ou ficamos passivos nesses momentos. É importante que haja uma intervenção direta com ênfase nos processos cognitivos e emocionais que a levaram a elaborar e construir os momentos criativos. Devemos propiciar a possibilidade de controle de seu potencial por meio da consciência dos pensamentos que a levaram a ser criativa.

Não podemos esquecer que a estimulação deve considerar a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra. Assim, se a criatividade envolver pensamento mágico e isso estiver de acordo com a etapa de desenvolvimento não se deve enfatizar questões cognitivas ou de raciocínio lógico, mas sim contar com a verbalização do pensamento e os questionamentos também mágicos que podem envolver a estimulação.

Abrir a inter-relação entre habilidades criativas lúdicas e simbólicas por meio de recursos verbais já permite inter-relacionar habilidades e realizar sua manutenção com aquelas de desenvolvimento posterior, mais relacionadas às esferas cognitivas e verbais.

Devemos encorajar a criança a resolver seus problemas de forma criativa e, compreender que não existe uma resposta certa e uma errada para as perguntas e dúvidas que ela apresenta. Devemos formular dúvidas com ela e ensiná-la a verbalizar o pensamento e o raciocínio para a solução de problemas. Um cuidado muito importante é o não responder às perguntas de modo automático e com a resposta pronta.

Para que a criança possa desenvolver melhor a capacidade de verbalizar seus pensamentos, devemos ser o modelo e mostrar a ela os pensamentos que nos levam a determinadas respostas. Esse é o lado interessante da criatividade: ao estimular essa habilidade nas crianças acabamos por estimulá-la em nós mesmos, melhorando nossas conexões cerebrais e favorecendo o próprio potencial.

Robinson report. Grã-Bretanha. Department for Education and Employment. Department for Culture, Media and Sport. National Advisory Commitee on Creative and Cultural Education. All Our Futures: Creativity, Culture and Education. Londres: DfEE. 1999.Runco, M. A. “Education for creative potential”. Scandinavian Journal of Educational Research, 47, 3, 317-24. 2003.Craft, A. “Creative thinking in the early years of education”. Early years, 23, 2, 143-54. 2003.Murdock, M. C. “The effects of teaching programmes intended to stimulate creativity: a disciplinary view”. Scandinavian Journal of Educational Research, 47, 3, 339-57. 2013.