ESPECIAL Trilhas da BNCC | Matemática, outras áreas e os desafios do século XXI

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Resolver problemas, analisar dados e tomar  atitudes criativas no dia a dia.

Texto Fábio Martins de Leonardo

É comum encontrar pessoas que dizem não saber ou não gostar de matemática. Esse fato provavelmente é uma consequência do modo equivocado como essa ciência é ensinada nas escolas brasileiras: um estudo quase sempre segmentado e conteudista, carente de formação de professores e vulnerável à inconsistência do sistema educacional.  A matemática é uma das mais significativas conquistas do conhecimento humano, produzida e organizada ao longo da história por diversos povos e civilizações. É uma ciência que contribui para a compreensão, tradução e modelagem de situações em diversas áreas do conhecimento (astronomia, medicina, engenharia, arquitetura, arte e tecnologia da informação são alguns dos exemplos, só para se ter uma ideia). Além disso, vale ressaltar sua importância nas práticas cotidianas, como para a compreensão e tomada de decisões em situações financeiras, para a leitura e interpretação de gráficos e tabelas encontrados nos noticiários, para a elaboração de estimativas e inferências com base em análise de dados e para o desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas, argumentação e exposição de ideias.  Ao estudar matemática, desenvolvemos competências, habilidades e atitudes tão imprescindíveis ao mundo do trabalho quanto à vida cotidiana. Por exemplo: planejar ações e projetar soluções para novos problemas de mercado, que exijam iniciativa e criatividade; compreender e transmitir ideias matemáticas, por escrito ou oralmente, desenvolvendo a capacidade de argumentação na sustentação de projetos; interpretar matematicamente situações do dia a dia ou do mundo tecnológico e científico e saber utilizar a matemática para resolver situações-problema nesses contextos; avaliar os resultados obtidos na solução de situações-problema para definições, por exemplo, de estratégias de marketing; fazer estimativas de resultados ou cálculos aproximados; utilizar os conceitos e procedimentos estatísticos e probabilísticos. No artigo “O pensamento computacional e a reinvenção do computador na educação”, Paulo Blikstein, professor na Escola de Educação e no departamento de Ciência da Computação da Universidade de Stanford nos EUA, discorre sobre as exigências do nosso mundo. “(…) o mundo atual exige muito mais do que ler, escrever, adição e subtração. A lista de habilidades e conhecimentos necessários para o pleno exercício da cidadania no século XXI é tão extensa quanto controversa. Não sabemos muito bem quais são essas habilidades, muito menos como ensiná-las.” Na sequência, ele fala da importância do “pensamento computacional” e sobre o ensino de ciências. “Felizmente, nossas pesquisas têm mostrado que os alunos aprendem ‘ciência computacional’ mais facilmente do que ciência tradicional, por uma série de fatores cognitivos, epistemológicos e motivacionais. Boa parte da ciência e da matemática que ensinamos na escola foi inventada porque não tínhamos computadores, e seu aprendizado é desnecessariamente difícil, afastando qualquer aluno mais criativo. Portanto, a habilidade de transformar teorias e hipóteses em modelos e programas de computador, executá-los, depurá-los, e utilizá-los para redesenhar processos produtivos, realizar pesquisas científicas ou mesmo otimizar rotinas pessoais, é uma das mais importantes habilidades para os cidadãos do século XXI. E, curiosamente, é uma habilidade que nos faz mais humano. Afinal, o que há de mais humano do que livrarmo-nos de tarefas repetitivas e focar no mundo das ideias?” Não são poucas as competências, habilidades e atitudes necessárias para o exercício da cidadania no século XXI, para o enfrentamento do mundo do trabalho e para a imersão no mundo da tecnologia. Atualmente, desenvolver o raciocínio lógico, a autonomia e a criatividade é mais importante do que aprender conteúdos. Nesse contexto, o professor é imprescindível para ajudar os alunos em seus percursos com foco onde querem chegar, ajudá-los a selecionar as informações que de fato precisam, prepará-los para o mundo como um todo, inclusive o do trabalho, tornando-os cidadãos críticos, criativos e autônomos.

Fábio Martins de Leonardo

é licenciado em Matemática pela Universidade de São Paulo. Elaborador e editor responsável da obra Conexões com a Matemática (PNLD 2018).

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O combate às fake news passa por uma educação que forme leitores críticos, capazes de diferenciar textos jornalísticos de ficcionais e de ler texto, subtexto e contexto.

Texto Paulo de Camargo

As notícias falsas não respeitam os fatos, a ciência, tampouco os sentimentos ou a segurança das pessoas. Até mesmo durante a pandemia da covid-19, mentiras desumanas como fotos de caixões carregados apenas com pedras, falsos remédios e teorias conspiratórias que alimentavam discursos de ódio circulavam pelas redes sociais. O advento das fake news colocou um imenso ponto de interrogação entre os seres humanos e a busca pela informação confiável. Notícias falsas sempre existiram, é certo, mas nunca conseguiram ganhar tal aparência de verdade, nem circular de maneira tão veloz, varrendo o mundo no espaço de poucos minutos como agora. E, se está no mundo, também pertence ao universo da educação e das escolas, envolvendo as crianças, os adolescentes e suas famílias. Como lidar com esse fenômeno, que só tende a se agravar? Responder a essa pergunta é o desafio da pesquisadora e jornalista Januária Alves, coautora do livro Como não ser enganado pelas fake news (Moderna), parte da coleção Informação e Diálogo. Quando fez seu mestrado na USP, há 15 anos, sobre grupos de crianças que produziam jornais, Januária se aproximou do mundo da educomunicação – área que estuda as intersecções entre educação e a produção de informação. Desde então, vem se aprofundando neste tema que se tornou um desafio global e agora integra a Base Nacional Curricular Comum (BNCC). “O que há de novo nas fake news é a forma pela qual são produzidas e se proliferam”, afirma Januária, que vê os professores preocupados e se sentindo sem apoio para trabalhar uma área que desconhecem. As estratégias históricas, como discutir notícias em sala de aula, representam apenas um pequeno passo porque hoje, com as redes sociais, os alunos são produtores de informação. “É um trabalho de cidadania”, explica Januária, que participou da construção de um currículo de educação midiática para a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. É isso o que as escolas vêm sentindo na pele. Muitas vezes, circulam informações não apenas mentirosas, como prejudiciais para alunos, professores e outros profissionais da Educação. Há dois anos, o diretor de uma tradicional escola da Zona Sul carioca estava a caminho de seu sítio, quando começou a receber mensagens torrenciais sobre um caso de racismo na escola, o que nunca de fato acontecera. “Ficamos indefesos, tendo que explicar algo que simplesmente não tinha origem ou base em verdade”, lembra o diretor, que nunca esqueceu o episódio e prefere não se identificar. Apenas no segundo semestre do ano passado, duas tradicionais escolas, uma em São Paulo e outra em Belo Horizonte, sofreram com a divulgação de notícias falsas sobre supostos casos de assédio sexual. Ao final, nada foi comprovado, em nenhum dos casos, mas os traumas permaneceram.

 

Por que acreditamos?

 

Muitas vezes, as notícias são absurdas, mas mesmo assim ganham tração e circulam. Segundo Januária, as pesquisas mostram que as fake news possuem um forte componente emocional. “Uma notícia falsa tem 70% mais chance de circular do que uma verdadeira. Existe um fator sedutor que é o desejo humano de contar histórias de impacto”, diz a pesquisadora. Para causar esse efeito, o texto frequentemente usa termos exagerados, muitos adjetivos, tons de denúncia, traz apelos e chamados à ação, como “você tem que repassar isso”, “mande para o máximo de pessoas que puder”. Em uma reação de impulso, basta apertar o botão Enviar, e lá se vai a mentira para amigos, família e grupos de afinidades: mais veloz do que um vírus e, algumas vezes, mais prejudicial. Por isso, como explica Januária, o primeiro desafio da escola é ensinar a seus alunos as diferenças marcantes entre o texto jornalístico e o texto ficcional – que é a classificação das notícias falsas. Mais recentemente, um novo fenômeno veio somar à divulgação de notícias falsas: a sua transformação em um produto. Robôs – programas que simulam perfis reais de pessoas nas redes sociais – invadiram as redes sociais replicando notícias enganosas com determinados objetivos. “Há um movimento mais amplo hoje que é o da desinformação intencional, que está ligado ao descrédito das ciências”, diz Januária. Turbinadas por teorias conspiratórias, enxurradas de fake news atacam as instituições que produzem informação de credibilidade, como o jornalismo, a universidade, os cientistas e os sistemas eleitorais. É o caso das notícias que tentam dar asas à inconcebível teoria de uma Terra plana ou a que atribuiu a covid-19 a uma ação maquiavélica do governo chinês. Até mesmo o avanço tecnológico cria condições para uma nova geração de mentiras: a chamada deep fake news. Utilizando aplicativos de fácil acesso, pessoas com algum domínio de ferramentas digitais podem inserir em um vídeo qualquer fala de outra pessoa, com a mesma voz e simulando os movimentos da sua boca. Da mesma forma, pode-se distorcer fotos antigas, como se fossem recentes, e inserir informações falsas que gerem credibilidade, como dados e números, conferindo-lhe aspecto de verdade. “Pela maneira como são desenvolvidas essas fake news, fica mesmo difícil não embarcar”, explica Januária. A crescente complexidade do tema obriga a escola a dedicar mais tempo para utilizar melhores estratégias para trabalhar com os alunos. O Colégio Rio Branco, em São Paulo, dá atenção especial ao assunto. No dia 1 º de abril, tradicional Dia da Mentira e já durante o período de isolamento social, os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e de todo o Ensino Médio participaram da oficina virtual Mídia Digital, pra quê?, que debateu as fake news no contexto da pandemia. O encontro abordou a responsabilidade do uso das mídias digitais, a checagem de informação, o cuidado no compartilhamento e o combate à desinformação, e os alunos participaram de um desafio de checagem de notícias falsas e verdadeiras.

Para a pesquisadora Januária Alves, o trabalho pode começar na Educação Infantil, pois até as crianças já têm clara noção do que são notícias falsas. Em uma formação recente para a Secretaria Municipal de Educação, uma professora narrou sua experiência com o trabalho, durante uma roda de conversa. Perguntada se sabiam o que eram fake news, uma criança imediatamente levantou a mão e disse: “é notícia mentirosa e o celular da minha mãe está cheio delas!”. O exemplo mostra a importância de envolver a família nas discussões. A experiência pessoal já nos mostra, por exemplo, que grupos familiares são terreno fértil para a difusão de fake news. Além disso, as implicações da propagação de fake news já são enquadradas criminalmente, em um cerco que deve se apertar, com o avanço da legislação. Ao mesmo tempo, é preciso trabalhar com os professores de todas as áreas e a própria direção escolar. “Não se trata de escolher uma ou outra área para este trabalho, todos são responsáveis por formar para a cidadania”, diz Januária. Assim, cada vez mais, dotar esses futuros cidadãos de ferramentas contra as notícias falsas é essencial. “As fake news representam um ataque à democracia”, finaliza.

 

Ação internacional

 

Sim, um ataque à democracia. É por isso que a Organização Nações Unidas (ONU) vem se mobilizando internacionalmente, com iniciativas como a plataforma Verified, cujo objetivo é conter a propagação de notícias falsas sobre a covid-19 (http://shareverified.com). “Não podemos ceder nossos espaços virtuais a quem trafega mentiras, medo e ódio”, afirmou em seu lançamento o secretário-geral da ONU, António Guterres. “A desinformação se espalha on-line, em aplicativos de mensagens e de pessoa para pessoa. Seus criadores usam métodos de produção e distribuição mais experientes. Para combater isso, cientistas e instituições como as Nações Unidas precisam alcançar pessoas com informações precisas nas quais possam confiar”, disse. Assim como este, diversos sites de checagem rápida de informação, disponíveis em vários idiomas, estão sendo produzidos em parceria entre a mídia jornalística, organismos sociais e grandes empresas de telecomunicação. É o caso brasileiro da Agência Lupa, cujo foco é a caça às fake news, e mesmo de diversos grupos independentes que vêm se formando nas redes sociais. Nos últimos anos, a Unesco, agência da ONU voltada à educação, à ciência e à cultura, produz pesquisas e livros sobre o tema, em uma área denominada Alfabetização Midiática e Informacional (ou Media Literacy, em inglês). Em maio, a Rede Internacional de Escolas Associadas da Unesco, em Paris, promoveu um webinar com especialistas de diversas partes do mundo, envolvendo jovens ativistas e educadores, para discutir caminhos para fazer frente à propagação das notícias falsas. Para os especialistas participantes, o papel da educação é central, mas não deve se restringir ao campo da linguagem. Para o pesquisador Joseph Kahne, da Universidade da Califórnia, é preciso formar pessoas mais solidárias e empáticas. “Nós temos de dar às crianças oportunidades de prática, ajudando os outros, trabalhando com o mundo real. Todos temos responsabilidade sobre a desinformação”, defende. Nos últimos anos, a Unesco, agência da ONU voltada à educação, à ciência e à cultura, produz pesquisas e livros sobre o tema, em uma área denominada Alfabetização Midiática e Informacional (ou Media Literacy, em inglês). Em maio, a Rede Internacional de Escolas Associadas da Unesco, em Paris, promoveu um webinar com especialistas de diversas partes do mundo, envolvendo jovens ativistas e educadores, para discutir caminhos para fazer frente à propagação das notícias falsas. Para os especialistas participantes, o papel da educação é central, mas não deve se restringir ao campo da linguagem. Para o pesquisador Joseph Kahne, da Universidade da Califórnia, é preciso formar pessoas mais solidárias e empáticas. “Nós temos de dar às crianças oportunidades de prática, ajudando os outros, trabalhando com o mundo real. Todos temos responsabilidade sobre a desinformação”, defende. Da mesma forma, os sistemas educativos devem priorizar a educação científica, já que a própria ciência está sob ataque. Para a pesquisadora italiana, Stefania Gianini, deve se mostrar que a ciência é dinâmica e não produz verdades absolutas, mas baseia-se em métodos verificáveis. “É preciso falar sobre a origem da informação, a metodologia, sobre o que pode ser verificado, mostrando que ciência não é um edifício de verdades, mas tem métodos que todos devem conhecer”, lembrou. Quanto mais se torna complexo o tema, mais importante é investir na formação para diversificar estratégias e tornar o trabalho interdisciplinar. “É preciso formar um leitor crítico e analítico, com repertório, que consiga desconfiar e perguntar: quem se beneficiaria com isso?”, defende Januária Alves. Até porque as notícias falsas conversam entre si, espelham ações globais, como é o caso dos discursos de ódio. Para isso, é tão importante o professor de História, Geografia quanto o de Português, o de Ciências e o de Inglês. “Temos de avançar, e realmente fazer com que o aluno tenha repertório para ler o texto, entender o subtexto e analisar o contexto”, explica a pesquisadora. No final do dia, a melhor vacina contra as notícias falsas continua sendo a educação de qualidade.

 

PARA SABER MAIS:

Agência Lupa. Disponível em: mod.lk/alupa. Acesso em: 10 ago. 2020. AIDAR, F.; ALVES, J.C. Como não ser enganado pelas fake news. São Paulo: Moderna, 2019

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8 passos para contar histórias e engajar a turma

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Como o ato de contar histórias pode transformar a sua sala de aula em um espaço colaborativo e criativo com grandes resultados de aprendizagem. 

Ilustração Ricardo Davino 

Era uma vez, uma história. Quem não se encanta por elas? Histórias são parte de nossas vidas e se manifestam em diferentes formatos: nos registros produzidos em paredes de cavernas – a chamada arte rupestre –, nas histórias de ninar, nos contos de fadas, na literatura, nas fábulas, nas novelas, nos filmes e nos seriados. As histórias estão também na conversa, no diálogo entre amigos que contam um ocorrido, num álbum de família, numa propaganda, nos arquivos pessoais de um grande gênio da humanidade ou de um indivíduo comum. Já deu para entender que storytelling tem tudo a ver com histórias, né? Mas quando falamos sobre utilizar essa técnica na educação, não estamos tratando apenas de fazer a leitura de um livro e mostrar suas ilustrações aos estudantes. Storytelling vai muito além. Vamos descobrir?

Descobrindo um novo mundo 

Storytelling trata de contar histórias, aliás, mais que isso: trata-se de contar boas histórias. Essa técnica – já utilizada pelas mídias e pelo entretenimento por meio do cinema e da publicidade, por exemplo – pode ser aproveitada também no âmbito educacional pelos professores. Vamos pensar juntos: Qual é o objetivo de uma propaganda de televisão? Entre tantas outras propagandas, além de vender o produto, quer chamar a atenção de quem assiste. Para isso, recursos como cores, sons, imagens, histórias envolventes e a própria linguagem são explorados para gerar emoções e conexões, mantendo o telespectador engajado na mensagem transmitida. A Coca-Cola, por exemplo, é uma das marcas que mais aplicam com sucesso a técnica do storytelling em suas propagandas, especialmente aquelas de Natal que visam emocionar e passar uma mensagem de esperança e bem-estar a quem assiste (mod.lk/ex_coca). O mesmo ocorre com filmes, seriados e novelas: entre cenas de ação, humor e drama, muitas histórias são contadas e construídas, gerando emoções diversas em quem acompanha, ganhando a atenção plena de quem está do outro lado da tela. Não se engane ao pensar que a técnica pode ser utilizada apenas em comerciais. O storytelling pode ser usado em apresentações de trabalho, de projetos, de propostas, em planejamentos, com o objetivo de explicar um conceito, ilustrar uma emoção, apresentar resultados, convencer, conquistar, inspirar e, principalmente, engajar.

Grandes storytellers e seus segredos  

Há alguns indivíduos que se destacaram e mudaram suas vidas por serem grandes storytellers e por utilizarem isso ao seu favor, seja para transmitir sua mensagem, para compartilhar uma causa, para expandir seus negócios ou para se tornar reconhecido em alguma área do conhecimento. É o caso de Steve Jobs, Martin Luther King Jr., Bill Gates e Malala Yousafzai, que nos deixam algumas lições exploradas no livro Storytelling: Aprenda a contar histórias com Steve Jobs, Papa Francisco, Churchill e outras lendas da liderança, de Carmine Gallo:

STEVE JOBS Storytellers inspiradores são eles mesmos inspirados e compartilham o seu entusiasmo com o seu público.

MARTIN LUTHER KING JR. Grandes storytellers se tornam, não nascem assim. Aproveitam as oportunidades para aperfeiçoar suas habilidades de falar em público e de inspirar espectadores.

BILL GATES Quebre expectativas. Quando as pessoas acham que sabem o que vem adiante, surpreenda. Crie histórias inesperadas, chocantes ou surpreendentes. 

MALALA YOUSAFZAI Conte histórias com o coração. Uma boa história pode levar alguém às lágrimas; uma história magnífica pode dar início a um movimento.

A jornada do herói  

O modelo a seguir, também disponibilizado no livro de Carmine Gallo, foi compartilhado por Austin Madison, um animador e criador de storyboards de vários filmes da Pixar, como Ratatouille e Toy Story 3. Em uma apresentação, Austin compartilhou os 7 passos que os filmes da Pixar seguem e que têm como objetivo dar à plateia alguém por quem torcer:

Era uma vez um _________________. (O protagonista/herói)

Todo dia ele _________________. (O mundo desse herói é um mundo comum, cotidiano)

Até que um dia _________________. (Toda história atraente tem um conflito, um desafio para o herói) 

Por causa disso _________________. (Uma série de esforços vão acontecer e se conectar em sequência com a cena seguinte – como se tudo fosse se encadeando)

Por causa disso, _________________. (Outras cenas que são conectadas com as anteriores e as seguintes.) 

Até que finalmente _________________. (O clímax – o triunfo do bem sobre o mal)

Desde então _________________. (A moral da história) 

Agora, veja o exemplo aplicado ao filme Star Wars a partir da história do personagem Luke Skywalker: 

Era uma vez um menino de fazenda que queria ser piloto.

Todo dia ele ajudava na fazenda. Até que um dia sua família é assassinada. 

Por causa disso, ele se junta ao lendário Jedi Obi-Wan Kenobi. 

Por causa disso, contrata o contrabandista Han Solo para levá-lo a Alderaan. 

Até que finalmente Luke alcança seu objetivo e torna-se piloto de guerra e salvador da pátria. 

Desde então, Luke está a caminho de se tornar um cavaleiro Jedi. 

Um exemplo prático  

No meu caso, como professora de História, usei alguns elementos da Jornada do Herói (existem vários modelos para se contar uma história, a Jornada do Herói é uma das possibilidades) para chamar a atenção dos meus estudantes sobre uma temática pouco atraente para a maioria deles: as Cruzadas. Para esse tema, uni duas ferramentas: o storytelling para abordar o assunto e conquistar sua atenção e o Google Maps para aprofundamento e uma experiência de aprendizagem mais significativa. De forma resumida, iniciei a aula em círculo com um bate-papo sobre grupos de pessoas que percorriam, em expedições, longas distâncias, correndo todo o tipo de perigo, desde a fome até doenças para libertar locais sagrados pelos cristãos do domínio islâmico. Algumas pessoas do grupo acreditavam que, ao completarem a jornada, uma mistura de peregrinação com guerra, teriam seus pecados perdoados. 

Conforme a história se aprofundava, íamos abordando outros objetivos das Cruzadas e suas características, e muitas perguntas surgiam: “eles eram loucos?”, “Quantos dias eles andavam?”, “Eles iam morrendo pelo caminho?”, “Que distância eles percorreram?” Era o que bastava para convidar a turma à pesquisa. Em equipes, os alunos jogavam os dados que tínhamos disponíveis no Google Maps e descobriam a distância percorrida em cada Cruzada – com um paralelo ao mapa do mundo atual. De repente, eu ouvia: “professora, você não vai acreditar! Na primeira Cruzada, se a gente fizesse no Brasil saindo lá da pontinha do Rio Grande do Sul, a gente teria que andar até a Bahia! Por que eles faziam isso?! Como eles aguentavam?”. Bem, a partir daí, o casamento entre o storytelling e o uso de ferramentas digitais foi o suficiente para que a aprendizagem das Cruzadas fosse um tema mais relevante, significativo e proveitoso para a turma e eu poderia dar sequência a outras coisas interessantes que veríamos juntos sobre aquele período.

Outro exemplo na minha trajetória como professora foi uma série de arquivos fictícios e pessoais dos tempos da Segunda Guerra Mundial que criei a partir do conteúdo que trabalharia. Era uma turma de Ensino Médio e, num primeiro momento, imaginei que, devido à idade e à fase de vida, os alunos não se interessariam e minha ideia iria por água abaixo. Ledo engano: pessoas amam histórias e desafios. 

Cortei algumas folhas de papel sulfite, derramei café nelas e deixei que secassem de um dia para o outro. Resultado: folhas marrons, parecendo papel antigo. Juntei restos de papel kraft, papel cartão preto e alguns envelopes de carta. O próximo passo foi a definição dos meus personagens: os “donos” dos arquivos. Assim fiz: duas amigas judias se escondendo com suas famílias; pai e filho alemães, sendo o filho soldado do exército; esposa e marido japoneses, sendo ela enfermeira em guerra, e outros. Escrevi à mão algumas cartas curtas, todas com datas do período entreguerras. Na internet, consultei cartões-postais antigos com imagens da França e da Europa em geral, para simular cartões enviados por correspondência. Também imprimi selos de carta da época e colei nos envelopes. Para as cartas mais longas, escrevi no Word, utilizando a fonte Courier New (semelhante à fonte de máquinas de escrever, para manter a sensação de ser algo antigo) e juntei alguns objetos que pareciam antigos. 

Cada equipe ganhou um arquivo e teve de ler, analisar as datas, as informações e descobrir a relação entre o remetente e o destinatário, descobrir o período em que viviam, o que contavam, no que trabalhavam, enfim, uma simulação ao trabalho de pesquisa de um historiador, que tem de lidar com documentos não lineares e que não trazem todas as informações. Ao final, cada equipe apresentou seus personagens e contou suas histórias baseando-se na documentação disponibilizada. Hoje, já adultos, quando os alunos daquela turma me encontram, afirmam: “professora, nunca mais esqueci o que estudamos sobre a Segunda Guerra Mundial e o que aconteceu naquele período”. Tudo porque estudamos um período tão importante, com histórias “reais” em pano de fundo. 

Como começar o storytelling? 

Agora você deve estar se perguntando: quais lições um educador storyteller pode dar a outro educador que quer explorar essa técnica? Como professora de História e, consequentemente, mas não acidentalmente, uma contadora de histórias, compartilho algumas sugestões:

① Pense de forma interdisciplinar. Todas as áreas do conhecimento estão conectadas; a matemática, a geografia, a história, as linguagens, a arte, a educação física, a química – no universo, não há gavetas separando os temas. Conectar a sua temática com outra área ajuda a dar sentido e demonstrar a relação entre o cotidiano e o que está sendo explorado. Numa receita de bolo, a matemática (quantidades) e a química (fermentação) podem se juntar e se transformar em uma história que envolve a vida cotidiana, algo palpável, concreto.

Vejamos um exemplo.

“Pessoal, vocês não imaginam o que aconteceu comigo ontem! Estava muito feliz pelo aniversário do meu sobrinho que fez 18 anos, então me inspirei, tomei coragem e fiz algo que nunca faço: um bolo! Peguei uma receita qualquer na internet, às pressas e sem perceber que as quantidades não estavam fazendo muito sentido. Ao final percebi que havia colocado pouca farinha, muitos ovos e muito fermento. Imaginem o resultado! O bolo ficou com um aspecto estranho e como usei muito fermento, que tem sua reação causada pela temperatura e que só para quando todo o fermento reage, o bolo crescia sem parar! Eu me lembrei da importância das frações na cozinha, seja para não comer comida salgada demais, para não desperdiçar ou mesmo para não causar essa catástrofe que foi o meu bolo de aniversário. Depois de tudo isso, vamos aprender a fracionar e perceber o quanto utilizamos isso no nosso dia a dia?” 

② Domine o conteúdo. Para contar histórias, saiba bem do que está falando. Depois, pense em situações que podem ser reais (a biografia de um ícone daquela área), pessoais (quando você mesmo vivenciou e tirou uma lição) ou criadas (quando você conta situações envolvendo uma história). 

③ Use e abuse de elementos atraentes. Pense em todos os elementos e ferramentas necessários à sua história para torná-la mais relevante. Você pode incluir seus alunos como personagens, sua cidade, a escola; pode inserir algum cantor, uma celebridade, alguém muito conhecido na cidade; pode eleger uma música-tema e usar ferramentas simples do cotidiano da turma como gifs, memes, vídeos, imagens, enfim, o que puder ilustrar esse momento ou partes da história. 

④ Use sua voz. O tom de voz mais baixo indica a sensação de suspense, de contar um segredo. Isso atrai a atenção dos estudantes para o que vem a seguir. Além disso, um tom de voz mais alto indica ânimo, energia, e se utilizado para enfatizar momentos, destacar falas e indicar sensações como a de susto torna a história mais envolvente.

⑤ Ilustre com objetos reais: Antes de falar sobre frações, você pode levar alguns objetos e pedir à turma que divida, some ou multiplique, por exemplo. Em vez de chegar em sala de aula afirmando: “Turma, hoje vamos estudar o Egito Antigo”, apresente imagens de tumbas, das pirâmides, da esfinge, do Egito hoje, ilustrações de Cleópatra e outros ícones egípcios. Faça hipóteses antes de você entrar de vez na temática.

⑥ Avalie com storytelling. Que tal pensar na avaliação utilizando o storytelling? Crie um personagem que precise de ajuda e, a cada questão respondida, o estudante chega mais perto de salvá-lo do mal. 

⑦ Crie zines. Zines são a abreviação de fanzines, muito utilizados por produtores culturais de pequena circulação. São pequenos livros feitos com papel sulfite e que podem ser utilizados como cartões, biografia, livros com histórias curtas, cartões com resumos de conteúdos, etc.

⑧ Desperte a criatividade com ferramentas digitais. Uma boa forma de trabalhar storytelling como aliado no desenvolvimento da competência 4 da BNCC – a comunicação –, são as histórias em quadrinhos, exercitando a expressão a partir de uma variedade de linguagens e plataformas, utilizando a criatividade. Você pode lançar o desafio para os seus alunos através de ferramentas como o Storyboard That (www.storyboardthat.com/pt), o Strip Generator (www.stripgenerator.com) e o Make Beliefs Comix (www.makebeliefscomix.com). Com essas ferramentas digitais, os alunos podem contar sua própria história, a história de um grande cientista, de um escritor ou resumir uma história literária. Além disso, a turma pode sintetizar o conteúdo visto ou trazer curiosidades adicionais sobre a temática estudada.

Nossa história está chegando ao fim, mas para ajudar você, professor, a perceber a importância de conquistar a atenção dos seus estudantes e propiciar uma aprendizagem cada vez mais significativa, finalizo este breve roteiro com uma fala do especialista em Neuroeducação, Francisco Mora, em seu livro Neuroeducación: solo se puede aprender aquello que se ama, publicado em 2013: “A curiosidade, o que é diferente e se destaca no entorno, desperta a emoção. E, com a emoção, se abrem as janelas da atenção, foco necessário para a construção do conhecimento” (p. 66).

 

Emilly Fidelix

é professora há 12 anos, tendo trabalhado com turmas de Educação Infantil ao Ensino Superior. É historiadora, doutoranda em História Global (UFSC) e Especialista em Tecnologias, Comunicação e Técnicas de Ensino (UTFPR). Também é criadora da página no Instagram @seligaprof na qual explora temas como tecnologias e metodologias ativas.

 

PARA SABER MAIS 

  • GALLO, C. Storytelling: Aprenda a contar histórias com Steve Jobs, Papa Francisco, Churchill e outras lendas da liderança. São Paulo: Alta Books, 2018.
  • MORA, F. M. Neuroeducación: Solo se puede aprender aquello que se ama. Madrid: Alianza Editorial, 2017. 

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Formação de professores frente a um currículo em movimento

Formação de professores frente a um currículo em movimento

Como garantir que os professores estejam inseridos nas constantes transformações dos currículos escolares em um contexto tão complexo quanto o brasileiro?

Por Miguel Thompson

A educação brasileira está prestes a enfrentar um de seus maiores desafios. Estimativas apontam que, até 2023, quase metade dos professores estarão em idade de se aposentar. Isso corresponde a cerca de 1,2 milhões de profissionais com potencial de sair da carreira docente. Isto somado à grave crise de qualidade da educação brasileira, traz a pergunta: quem assumirá as salas de aula? A despeito da complexa situação, seria importante pensarmos a aposentadoria dos professores como uma oportunidade para aproveitar as vivências desses profissionais sêniores para o estímulo, preparação e formação de novos docentes. Dessa forma, a principal crise, a da qualidade em educação, poderia ser estrategicamente equacionada, formando profissionais melhor preparados para os novos tempos, sem perder de vista o imenso capital intelectual e experiencial que os professores em processo de aposentadoria podem compartilhar. Este modelo de transição já tem sido adotado em países com ótimo desempenho educacional e tem garantido a qualidade a longo prazo.

Um dos grandes problemas no processo de formação de professores está na incapacidade de atrair os melhores alunos para a profissão. Lembremos que antes dos anos 60, as famílias de elite tinham orgulho de ter entre seus filhos, médicos, advogados, padres e professores. No entanto, nos últimos 50 anos, houve uma progressiva desvalorização da profissão docente. O processo de universalização da educação pública passou a demandar mais profissionais do que o sistema educativo poderia formar com a qualidade desejada e aconteceu uma rápida depreciação salarial dos professores.

Uma profunda preocupação com a formação docente tem sido pauta entre os especialistas. O Plano Nacional de Educação (PNE), em vigor desde 2014, apresenta propostas de melhoria da formação docente, que envolvem temas importantes como a organização curricular, o planejamento letivo, a necessidade de renovação continuada (pesquisa e programas de pós-graduação), a remuneração e os modelos de planos de carreira. A legislação vigente conta com uma clara orientação de melhoria salarial para os próximos anos, mas, fato é que ainda recebemos menos que profissionais de outros setores com a mesma qualificação. Ao analisar os números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada pelo IBGE, percebemos que os salários de professores estão crescendo, em média, acima da inflação, e num ritmo superior ao verificado entre os demais trabalhadores com diploma universitário. Isso significa que a distância entre os profissionais que dão aulas em escolas está diminuindo em relação a outras carreiras com formação universitária. Mas, infelizmente, o ritmo de melhoria dos salários ainda é insuficiente para cumprir a meta do PNE.

Formação inicial

Além de tentar atrair os melhores estudantes para a carreira docente, o Conselho Nacional de Educação, em 2015, baixou uma resolução (Resolução 2/2015 – CNE) com orientações vistas como essenciais para a formação de um professor preparado para as transformações do mundo. Assim, o CNE e as faculdades firmaram um compromisso com a qualidade docente desde os primeiros passos acadêmicos. Vamos debater alguns desses pontos e discutir como pode ser pensada a formação dos professores para o século XXI:

1Sólida formação teórica e interdisciplinar 

Uma sólida formação teórica é fundamental para se exercer uma docência de qualidade que atenda as demandas atuais. Sem a capacidade de observar o mundo pelo prisma dos modelos conceituais construídos ao longo da história da humanidade, é quase impossível ser um bom docente. Um professor alfabetizador deve conhecer as principais teorias de alfabetização e letramento para fazer suas escolhas teóricas e metodológicas de acordo com as necessidades dos estudantes e os contextos de sala de aula. O mesmo se aplica para as outras especializações e disciplinas. O profissional contemporâneo deve ter domínio sobre o conhecimento específico que irá ministrar, mas é importante ressaltar que isso não é suficiente para dar boas aulas e construir o aprendizado junto aos alunos. Não se pretende um biólogo ou um físico em sala de aula, mas professores de Biologia e Física que saibam fazer a transposição do conhecimento específico para que ele se torne significativo para todos os estudantes. Aqui, o conhecimento didático e o desenvolvimento dos alunos agrega-se à formação em disciplinas específicas, produzindo uma prática diferente daquela existente em laboratórios de pesquisa ou indústrias, construindo assim a especificidade da ação docente.

Outro ponto a destacar é a necessidade de o professor saber dialogar com distintos campos do saber para poder correlacionar conceitos específicos a outras áreas do conhecimento. Isso é necessário porque o entendimento e a resolução dos problemas reais é muito mais complexa do que a forma como são organizadas as disciplinas escolares. Eventos econômicos (crise econômica de 2008), questões ambientais (mudanças climáticas) ou crises sociais (como os fenômenos migratórios na Europa ou as manifestações sociais brasileiras de junho de 2013) só podem ser interpretadas à luz de diversos conhecimentos disciplinares. Pensando nisso, formaremos jovens mais criativos e inovadores, capazes de usar um repertório de diferentes áreas na resolução de problemas. Em geral, formar um professor com excelente conhecimento específico e amplo espectro de movimentação em diferentes áreas é vital para a formação de jovens inovadores e preparados para um mundo em constante mudança.

Unidade teoria-prática

Transpor um conteúdo específico para a sala de aula é traduzir conceitos em uma linguagem acessível e adequada para a faixa etária e sociocultural daquele contexto escolar. A capacidade de usar analogias, metáforas e exemplos do universo do estudante é fundamental para trazer significado ao que se ensina. Sem essa interação não se constrói conhecimento significativo. Como é possível uma criança lembrar mais de 100 nomes diferentes de Pokémons e não lembrar a capital de um país ou o nome do rio que corre na sua cidade? A educação se dá, na verdade, em um processo de interação entre os conhecimentos formais da escola e o cotidiano do aluno, repleto de ideias espontâneas baseadas em suas experiências. Quanto mais próximo um do outro, mais fácil transformarmos o enorme potencial da mente dos estudantes em uma realidade geradora de novos conhecimentos. É nessa constante interação entre a teoria e a prática, ou seja, entre o que deve ser ensinado de acordo com os currículos oficiais e a realidade vivida pelo estudante, que se constrói o processo educativo. O professor deve ser um investigador, imaginando o currículo a ser ensinado como uma hipótese a ser testada. Os objetivos instrucionais devem aparecer como um planejamento de um experimento, que ocorrerá em sala de aula ou em toda interação educativa. A partir das respostas dos alunos, novos planos de aula são elaborados, em um contínuo investigativo da relação teoria-prática, visando o desenvolvimento máximo daqueles alunos, naquela situação e naquele contexto. Em um mundo de transformações, a teoria deve servir como um apoio importante, mas não pode ser tratada como um catecismo imutável. É na interação com a sala de aula, no registro do professor e na reflexão sobre essa prática que se constrói um projeto educativo que leva em consideração as mudanças no espaço e no tempo, sempre com foco nas necessidades reais dos estudantes. De acordo com a resolução 2/2015 do CNE, isso se dá pensando “a docência como ação educativa e como processo pedagógico intencional e metódico, envolvendo conhecimentos específicos, interdisciplinares e pedagógicos, conceitos, princípios e objetivos da formação que se desenvolvem entre conhecimentos científicos e culturais, nos valores éticos, políticos e estéticos inerentes ao ensinar e aprender, na socialização e construção de conhecimentos, no diálogo constante entre diferentes visões de mundo.” Para que a interação entre teoria e prática funcione, não se pode mais evitar as novas tecnologias. O uso das mídias sociais é fundamental para o professor conectar os estudantes em rede, incentivar o trabalho colaborativo e de cocriação, estimular a comunicação a distância e realizar pesquisas individuais na internet, induzindo também um processo customizado de formação. É por meio das ações sugeridas, associadas ao pensamento crítico, que aproximaremos o docente das novas tecnologias, não oferecendo dispositivos eletrônicos de maneira descontextualizada e sem projetos educacionais robustos. Neste sentido, a gravação de aulas com celulares, por exemplo, permite que o professor utilize as novas tecnologias (TICs), analise individualmente e receba feedbacks que seguramente o ajudarão no aperfeiçoamento do processo educativo e no aprimoramento da prática docente. Por fim, a aproximação dos centros formadores de professores com as escolas deve ampliar a presença do futuro professor na sala de aula, transformando o estágio em uma ferramenta real de formação, reflexão e aquisição de elementos da prática docente.

Trabalho coletivo e interdisciplinar

Se antigamente planejar era um trabalho individual, hoje é irreal imaginar um projeto educativo cujos planos didáticos sejam elaborados por um professor solitário, fechado em sala de aula, em uma interação exclusiva com sua classe. Preparar o planejamento do curso coletivamente, atuar em grupo e refletir com seus pares as melhores estratégias devem ser práticas da escola contemporânea. Comunicar essa prática e incluir os estudantes nesse processo é fundamental para formar os jovens do século XXI. É por homologia de processos, isto é, reproduzindo o que viveu na escola, que se desenvolve o conhecimento e se estimula as práticas dos futuros cidadãos. Não há mais espaço para os profissionais que não sabem trabalhar em grupo. Do plano à ação, da avaliação à gestão da sala de aula, é essencial que se crie o hábito de trabalhar aos pares ou em grupos. Assistir a aula do colega para posterior feedback é uma ferramentas eficiente de melhoria da ação docente. O trabalho coletivo deve, portanto, ser tratado como um valor a ser compartilhado com os estudantes. Uma das características dos novos tempos é a colaboração em massa e os jovens produzem bem desta maneira. Os cientistas trabalham assim há séculos, publicando suas pesquisas e recebendo sugestões de seus colegas. Projetos recentes como o Genoma Humano, que sequenciou todo DNA de nossa espécie, recebeu contribuições coletivas de cientistas de todo o mundo. As empresas vêm usando esse potencial de inteligência coletiva para produzir novos produtos e serviços, como os aficionados por LEGO, que geram novos produtos para a empresa, ou mesmo grupos de consumidores de carros da BMW, que participam coletivamente da discussão e elaboração de novos projetos. Os agrupamentos de jovens, por sua vez, já produzem fenômenos coletivos, como festivais de cultura POP (Comic Con, evento de quadrinhos e séries de TV, por exemplo) ou disputas em estádio de finais de campeonatos de games (League of Legends). No processo de construção coletiva do projeto educativo, os próprios estudantes são fonte de grande valia. Pela primeira vez na história, os jovens acumulam um determinado tipo de conhecimento superior ao acumulado do mundo adulto. É o caso dos usos das novas tecnologias ou conhecimentos gerados pela cultura digital, como os canais de youtubers. O educador contemporâneo deve usar esses valores para seu aprendizado e para desafiar e se aproximar de seus alunos. Interagir com diferentes pontos de vista pode evitar erros e preconceitos inerentes a nossa formação. É no diálogo com o grupo que surgem as melhores aulas. Reconhecer que sabemos pouco sobre algo ao dialogarmos com outros especialistas, além de nos trazer novos conhecimentos, nos faz mais humilde frente aos alunos, que terão contato com toda a gama de conhecimento curricular daquela série. Se nem nós sabemos a maioria dos conteúdos, por que obrigamos os jovens saberem tudo nas avaliações? O diálogo interdisciplinar ressignifica nossos conteúdos, aproxima diferentes conceitos para a resolução de problemas e demonstra aos alunos que, para interpretar o mundo, são necessários diversos tipos de conhecimentos.

Compromisso social e valorização do educador

Já falamos aqui sobre contextualização e complexidade. Nada nos parece mais importante que estabelecer conexão entre o conhecimento escolar e a sociedade, visando a mudança da realidade. Em uma nação com tantos problemas sociais como o Brasil, é muito importante o compromisso do professor com a transformação. Seja em relação às melhorias das condições de vida, seja com uma maior atuação na comunidade e/ou no ambiente. Em um mundo globalizado e com 7 bilhões de pessoas não é mais possível imaginar apenas o desenvolvimento individual dos estudantes. É preciso planejar cursos que os preparem para a série de problemas urbanos, sociais e ambientais que eles herdarão. Assim, engajar o professor nos problemas de seu tempo é engajar os estudantes no seu próprio projeto de vida. Usar exemplos do entorno, da cultura local ou fenômenos mundiais emergentes para estimular a reflexão crítica com modelos de conhecimento escolar e de experiências dos estudantes aproxima o que se aprende na escola com a realidade, permitindo o uso dos conteúdos escolares como ferramenta de entendimento e intervenção no mundo. É também a partir dessa conexão com os contextos reais que as famílias se aproximarão da escola. É no debate sobre temas atuais e relevantes da vida familiar, que os pais entenderão que a escola não existe apenas para formar um jovem para um futuro abstrato, mas está também a serviço da contemporaneidade. É nessa entrada do conhecimento escolar no cotidiano das casas que ocorrerá a valorização do professor e a adequação do conhecimento às emergências do mundo atual.

Fomação continuada e pesquisa

Reiteramos que a única certeza que temos é a mudança. Nos novos cenários muitas funções sociais desaparecerão, como ocorreu com o datilógrafo, por exemplo. Mas, em contrapartida, novas profissões surgirão sem que nem imaginemos. Quem diria há 10 anos que ser blogueiro, youtuber ou gamer seriam profissões nos dias de hoje? Dessa forma, conhecimentos e práticas de hoje podem ser obsoletos em pouco tempo. Não se trata de ampliar nossa ansiedade em busca de cursos de uma forma que prejudique nossa qualidade de vida, mas devemos levar em consideração que precisaremos estudar ao longo de toda nossa vida. Seja para atualizar metodologias, seja para prepararmos nossos alunos de maneira adequada e significativa. Acompanhar as mudanças coletivas, sociais, acadêmicas e tecnológicas será cada vez mais um diferencial na profissão e também uma obrigação. De agora em diante, cada vez mais grupos de interesse criarão conteúdo nas mídias sociais. Questões socioambientais, éticas, estéticas e relativas à diversidade étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional e sociocultural circularão em grupos organizados e deverão ser objeto de apreciação da escola, do professor e do plano de aula. Aproximar temas emergentes dos conceitos formais escolares será fundamental para contextualizar e trazer significado ao ambiente escolar, exigindo constante estudo, investigação e pesquisa do professor.

Autoconhecimento e formação integral

Para terminar, é imprescindível lembrar que o profissional contemporâneo deve desenvolver um compromisso com seu autoconhecimento e sua formação integral. Não somos apenas organismos cognitivos, e os novos tempos exigem uma integração maior entre mente, corpo, sociedade e ambiente. Vivemos como se vivêssemos em um mundo fragmentado, onde as pessoas, os organismos e os sistemas operassem de forma independente. Mas, na realidade, nossas relações são interdependentes e sistêmicas, portanto complexas. Saber o que não sabemos, buscar nos outros conhecimentos complementares, entender o que nos afeta coletivamente, o que são e como as habilidades socioemocionais (tão exigidas nos dias de hoje) devem ser levadas em consideração e o que devemos desenvolver e estimular nos estudantes, serão questões ainda mais relevantes para o desenvolvimento do professor como indivíduo e como profissional.

Miguel Thompson

É Doutor em Oceanografia pela USP e atua como Diretor da Fundação Santillana*. É autor de livros didáticos pela Editora Moderna e foi professor do ensino básico por 25 anos. 

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Ao participar de uma ação gamificada que faz uso do QR Codes, os estudantes têm a oportunidade de decifrar pistas e missões que estão contidos nesses códigos, podendo ser apresentando em qualquer currículo e conteúdo.

QR Codes

É um código de barras bidimensional que pode ser facilmente escaneado, a partir de programas gratuitos adquiridos nas lojas de aplicativos para celulares e/ou tablets. Esse código é convertido em texto (interativo). Você pode esconder pistas e propor aos alunos que usem seus celulares para descobrir o significado oculto em cada QRCode. Imagine, por exemplo, que você esteja trabalhando algum ponto da história do Brasil. Mostre aos alunos uma imagem desse período e aponte em qual ponto da imagem estará o QRCode para desvendar uma pista que compreenda o entendimento do tema.

 

Gamificação na prática

 

Existem várias maneiras de criar uma gamificação, o importante é apresentar uma atividade em que os alunos possam explorar os espaços e recursos da escola, em busca de pistas a serem decifradas, essas pistas podem ser colocadas em cartas, caixas de papelão ou até mesmo objetos. O formato pode ser de um caça ao tesouro ou de pequenas missões, que exigem primeiro uma pesquisa na internet ou livros da escola, onde o tempo todo, são instigados a trocar ideias com os colegas, rever o objetivo a ser alcançado.

 

O professor Jayse Antonio trouxe o MINECRAFT, Harry Potter e LOL que ainda não fazem parte do debate literário na escola, na mesma escala de importância com que ocupam o imaginário dos jovens fora dela. Sabendo que eles adoravam esse mundo GEEK (fãs de tecnologia, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, HQs, livros, filmes, animes e séries), criou um projeto Vamos enCURTAr essa história? que estimula os alunos a escreverem e produzirem histórias que virariam curtas-metragens baseados em assuntos de seu interesse. A proposta vinculava-se ao conteúdo que estava sendo ministrado naquele bimestre, “Cinema”.  Os vídeos produzidos foram postados nas redes sociais para serem apreciados e curtidos por toda a comunidade escolar. Para o professor, “não se tratava apenas de fazer “filminhos” produzidos pelos alunos nas aulas de Artes, a proposta foi bem ampla, envolvendo artes gráficas, cinema, vídeo, fotografia, edição e novas tecnologias, resultando num ensino mais colaborativo, interativo e prazeroso e que estivesse antenado com os anseios desses jovens aprendizes”.

 

Para Jayse Antonio trazer os jogos para a sala de aula foi uma oportunidade para os alunos reinventá-los e elaborar novas regras e/ou novos roteiros para esses jogos é algo desafiante e estimula a criatividade dos alunos. O vídeo foi um sucesso de curtidas. As pessoas gostaram tanto que eles receberão diversas mensagens perguntando como havia sido feito. Elas se encantavam com a quantidade de efeitos especiais e algumas duvidavam que tivesse sido realizado na escola pública.

 

Conheça os vídeos produzidos pelos alunos do Professor Jayse Antonio:

Harry Potter:

Minecraft Apocalipse:

Making Off:

[1]  Jayse Antonio é formado em Educação Artística, possui pós-graduação em Psicopedagogia. Atua há mais de 10 anos como professor e tem experiência em Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA. Dedica-se a aplicação mais dinâmica das diversas linguagens artísticas, em especial a Fotografia e o Cinema e desenvolveu um projeto chamado EU SOU UMA OBRA DE ARTE que visa resgatar a autoestima e a valorização étnico-racial dos educandos. Em 2014 foi vencedor do 8º Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC e seus parceiros, na categoria Ensino Médio e em 2017 na categoria Inovação Pedagógica. Atualmente, dá aulas na cidade Itambé em Pernambuco na rede Estadual e em Pedras de Fogo na Paraíba pela rede Municipal. – Reconhecimentos que recebeu em 2017: Prêmio Professores do Brasil, prêmio de Arte da Revista Select, Prêmio do Detran PE, reportagem para site da nova escola, reportagem para site da Porvir, TV Escola e entrevista para a Contando Saberes.

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[1]  Jayse Antonio é formado em Educação Artística, possui pós-graduação em Psicopedagogia. Atua há mais de 10 anos como professor e tem experiência em Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA. Dedica-se a aplicação mais dinâmica das diversas linguagens artísticas, em especial a Fotografia e o Cinema e desenvolveu um projeto chamado EU SOU UMA OBRA DE ARTE que visa resgatar a autoestima e a valorização étnico-racial dos educandos. Em 2014 foi vencedor do 8º Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC e seus parceiros, na categoria Ensino Médio e em 2017 na categoria Inovação Pedagógica. Atualmente, dá aulas na cidade Itambé em Pernambuco na rede Estadual e em Pedras de Fogo na Paraíba pela rede Municipal. – Reconhecimentos que recebeu em 2017: Prêmio Professores do Brasil, prêmio de Arte da Revista Select, Prêmio do Detran PE, reportagem para site da nova escola, reportagem para site da Porvir, TV Escola e entrevista para a Contando Saberes.

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