Gestão participativa que transforma o mundo e as pessoas

Gestão participativa que transforma o mundo e as pessoas

Gestão participativa que transforma o mundo e as pessoas

Nova diretora do Dante Alighieri aposta no diálogo e na participação para formar equipes autônomas, que se sintam autoras das suas jornadas.

A SALA ocupada por Valdenice Minatel, no centenário Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, dá pistas sobre quem é a profissional que, no curso de uma carreira voltada para a inovação pedagógica, agora está à frente de uma das mais conhecidas instituições de ensino brasileiras. A porta está sempre aberta, desde as 7h da manhã. Na mesa, livros e pilhas de papéis à espera de sua apreciação. Nas paredes, diplomas de instituições renomadas. Valdenice é uma educadora inquieta, que não para de estudar – tanto que recebeu a Educatrix no calor do final do semestre letivo e às vésperas de uma nova imersão, desta vez com o renomado autor Daniel Goleman, na Universidade de Harvard.

“O desenvolvimento profissional mais pleno acontece no ambiente mais democrático, senão só gera rotatividade. Por isso, sempre quero criar equipes que se sintam mais do que partes, que se sintam autoras.”

Valdenice Minatel Diretora do colégio Dante Alighieri

Mestre e doutora em Currículo e Novas Tecnologias pela PUC-SP, Valdenice contribuiu muito para tornar uma escola centenária em um polo de inovação pedagógica. No Dante Alighieri há 25 anos, a gestora passou pelo Colégio Hugo Sarmento e pela Prefeitura de São José dos Campos, antes de chegar à IBM, no projeto Horizonte – uma das primeiras iniciativas em larga escala para difundir computadores pessoais para uso educativo. Mas foi principalmente no Dante que ela iniciou o percurso que marcou toda a sua vida profissional e onde aprendeu a liderar de forma compartilhada, em um diálogo permanente com suas equipes. Conheça sua visão sobre inovação e gestão, na entrevista a seguir.

Mestre e doutora em Currículo e Novas Tecnologias pela PUC-SP, Valdenice contribuiu muito para tornar uma escola centenária em um polo de inovação pedagógica. No Dante Alighieri há 25 anos, a gestora passou pelo Colégio Hugo Sarmento e pela Prefeitura de São José dos Campos, antes de chegar à IBM, no projeto Horizonte – uma das primeiras iniciativas em larga escala para difundir computadores pessoais para uso educativo. Mas foi principalmente no Dante que ela iniciou o percurso que marcou toda a sua vida profissional e onde aprendeu a liderar de forma compartilhada, em um diálogo permanente com suas equipes. Conheça sua visão sobre inovação e gestão, na entrevista a seguir. 

EDUCATRIX Como foram seus primeiros contatos com a tecnologia educacional?

VALDENICE MINATEL Eu fiz Pedagogia na Unicamp, e tinha aulas com a pesquisadora Afira Rippert, que então estava voltando de um doutorado com o Seymour Pappert. Ela teve o privilégio de ser contemporânea da produção dele, e trouxe esse arcabouço para a Unicamp, introduzindo o olhar da tecnologia pelo viés educacional. Recebeu críticas por isso, mas também apoio, e eu fui uma das primeiras turmas que cursou a sua disciplina. Fiquei encantada com a linguagem Logo e me fascinava a ideia de janela da mente, ou seja, de entender como a cabeça funciona enquanto programa, promovendo a aprendizagem com boas perguntas. Fiquei muito impactada.

EDUCATRIX Como foi sua aproximação com a IBM e a chegada no Dante? 

VALDENICE MINATEL Nesse período, saindo da Unicamp, fui trabalhar em São José dos Campos (SP) e continuei a fazer leituras sobre o tema. Em 1992, passei pelo Colégio Hugo Sarmento, e, quando soube de uma vaga na IBM, não tive dúvidas e me candidatei. Já queria algo mais parrudo, algo que possibilitasse uma abordagem da tecnologia a partir da escola. Essa era a grande empresa com capilaridade que trouxe um viés educacional muito forte. Lá, fazíamos formação de professores, no Projeto Horizonte. Foi uma experiência muito importante na qual aprendi, por exemplo, a trabalhar de portas abertas, o que faço até hoje. Fiquei sabendo que o Dante estava montando um Departamento de Tecnologia, preparei meu currículo e me chamaram.

EDUCATRIX Quando você chegou ao Dante, o que lecionava?

VALDENICE MINATEL Cheguei para dar aulas de Informática, ensinando linguagens de programação e noções sobre a operação das máquinas. Esse era o basicão de 30 anos atrás. Mas nessa época escolas e empresas começavam a se movimentar, construindo os protocolos de ação, construindo caminhos. Ainda havia a reserva de mercado dos computadores, que tinham custos abusivos, mas as grandes escolas já olhavam para isso, vendo sentido nesse caminho que se abria. Começavam a se integrar ao mundo digital, cada uma de um jeito. O Dante optou, em um primeiro momento, em dar aulas de Informática, em uma perspectiva mais técnica.

EDUCATRIX Mas desde então você já atua diretamente com a inovação…

VALDENICE MINATEL Sim, desde então minha vida tem sido pensar a inovação. Entrei para trabalhar em um time que estava começando, começamos o departamento juntos. No final de 1999, a antiga coordenadora se desligou e a gestão da época considerou que o coordenador de informática tinha de ser eleito pelos pares, como acontece na universidade, e não mais por indicação da diretoria. Então o grupo se reuniu e me elegeu. Já fui promovida por um ato muito democrático, que me marcou. Em 2000, eu começo a coordenação, com um voto de confiança de cada um deles, que eram 12. Mesmo quem não votou tinha clareza de porque eu estava lá. 

EDUCATRIX Imagino que essa experiência tenha também influenciado sua forma de trabalhar… 

VALDENICE MINATEL A partir daí, não havia outro caminho a não ser construir uma gestão baseada nas competências que cada um poderia entregar naquele momento. Foi um processo de reconstrução do departamento fundamentada em uma visão mais participativa. Eram muitas reuniões, e eu sempre trazia decisões para serem tomadas de forma colegiada. Foi muito bacana. Mesmo as tensões eram resolvidas de forma cocriada. É um termo novo, mas já fazíamos isso que se chama hoje de cocriação. Começamos a trabalhar e era um pessoal muito bom. Foi muito fácil inovar. Era um time que queria isso e tinha portas e janelas abertas para ir em frente. Tinham todas as condições de temperatura e pressão que favoreciam a gestão democrática e a inovação. Fiquei de 2000 a 2012 nesse lugar de coordenadora de informática, mas com uma mudança de organograma, passei a ser coordenadora geral de tecnologia.

EDUCATRIX Até hoje, é um desafio para as escolas integrar equipes de tecnologia e de educação. Como você lidou com isso no Dante? 

VALDENICE MINATEL As questões eram tratadas de forma integrada; por exemplo, o processo de matrícula. Sempre fui pedagógica, mas dava meus pitacos na área administrativa. No final de 2014, eles me dão o presente de assumir a TI também, e passo a ser coordenadora de tecnologia. Desde 2000, quando definimos o escopo de nossa ação, sempre partimos do princípio de que a tecnologia tinha que dialogar com todas as áreas. Era um trabalho de catequização mesmo. Em agosto de 2018, fui promovida a diretora de tecnologia e recebi o convite para ser diretora pedagógica logo em dezembro. A condição era de que a tecnologia não deixasse de trabalhar integrada à área pedagógica.

EDUCATRIX Essa integração muitas vezes depende de mudanças culturais importantes. Como aconteceu no Dante, para que fosse possível tomar um rumo diferente? 

VALDENICE MINATEL Você tem razão. Nas escolas em geral, a tecnologia sempre é uma área que luta para fazer parte. Aqui não, eles são garotos privilegiados. Treinávamos para ir para as reuniões, fazíamos uma projeção de futuro, um storytelling de projeto. Era mais do que resolver problemas técnicos. Nós partíamos do princípio de que era preciso entender a escola. Não se tratava de um banco, mas de uma instituição educativa. Nosso papel era focar no que importava para o Dante, e o coração de tudo o que acontece aqui é o momento em que professores e alunos se reúnem. Esse momento é único. É um momento idílico. Se um aluno fica aqui oito horas de seu dia, esse tempo precisa ser muito bom, tanto para os alunos como para os professores. Medíamos o tempo de atendimento para tentar diminuir. Chegamos a ter três minutos para a escola toda, e ainda assim sabíamos que estávamos fazendo nada menos do que se esperava. Temos que pensar sempre de forma prioritária em sala de aula. Investimos muito em coerência interna.

EDUCATRIX Como a construção dessa cultura aconteceu, na prática? 

VALDENICE MINATEL Quando me tornei coordenadora, os garotos da TI estavam no porão, quase esquecidos. A primeira condição foi colocá-los juntos. Aprendi em minha jornada a trabalhar de portas abertas. Pensei no ambiente de trabalho dessa equipe, o que significa pensar nos móveis, nos aromas, nas cores, para trazer um conforto, uma boa lembrança. É preciso ter um interesse genuíno pelas pessoas. Tem as telas, o mouse ergonômico, pequenos detalhes que mostram como nos importamos com eles. Assim se criou um ambiente muito favorável. Hoje, aqueles garotos já estão aqui há dez anos. Entraram como estagiários, desenvolveram- se e percebem o trabalho e a inovação como se estivessem construindo suas próprias startups. O aluno tem de produzir tecnologia, não é consumidor. Levei essa lógica também para o time. Temos pouquíssimas soluções terceirizadas. Desenvolvemos muito aqui. Sentimos que tudo o que está rodando eles é que criaram. Assim, começam a ser conhecidos por toda a comunidade escolar. 

EDUCATRIX O resultado é uma escola de 108 anos dando um salto à frente no campo da inovação. Mas como isso se traduz na forma de liderar?

VALDENICE MINATEL A escuta foi um treino que fizemos muito. Nunca chegamos falando em uma reunião. Sempre ouvimos, vamos entendendo o que as pessoas querem, conectando com o que já existe. Há uma inter-relação muito grande. Vamos mostrando como é a tecitura, não ditando regras. Podemos ajudar muito, mas a partir do insumo que os professores dão. A escola bancou isso. Hoje temos um time de desenvolvimento com quatro pessoas, tão grande como a de suporte. São 16 profissionais de TI, contando estagiários e trainee, mais 18 da área de tecnologia educacional. Isso é raro em escolas.

EDUCATRIX E na direção geral, é possível reproduzir essa forma de gestão?

VALDENICE MINATEL Sim, exatamente. Escuto muito, faço muitas reuniões, nenhuma decisão sai apenas de minha caneta. Estou revisitando todos os processos, quero ouvir a todos. É um tempo que estou investindo para sentar junto com cada um. Vou fazendo as perguntas e vou aprendendo. Faço isso também para que as pessoas reflitam sobre o que fazem. Sei que ainda existem aqueles que esperam que a decisão venha de mim, isso é cultural em muitos lugares. Mas eu pergunto sempre: o que você acha? Ainda tenho imagem de brava, mas, nas reuniões, quem trabalha comigo vê que eu dialogo. Estimulo ainda que as equipes se sentem e discutam sem que eu necessariamente esteja presente. Estou tentando dar essa autonomia.

EDUCATRIX Como se equilibra autoridade e autonomia em uma escola?

VALDENICE MINATEL Autoridade o organograma decide, mas autonomia se pode desenvolver. Jogo sempre com a ideia de que todos precisam pensar juntos. A descentralização não se dá da noite para o dia. A cultura organizacional tem poder grande. Temos de respeitar, e ir vendo para onde ela está se movendo e ver como se pode melhorar. O Dante Alighieri tem uma equipe muito boa, e isso ajuda. É uma equipe que gosta da escola, com ex-alunos trabalhando; assim, tudo fica mais fácil. Em todas as mudanças, sempre mantive esse modelo de decisão mais formativa: fazer parte dos meus valores pessoais. Isso é muito mais difícil quando não é mais uma maquiagem democrática. É mais fácil ser autoritário. O desenvolvimento profissional mais pleno acontece no ambiente mais democrático, senão só gera rotatividade, especialmente na área da tecnologia. Por isso, sempre quero criar equipes que se sintam mais do que partes, sintam-se autoras.

EDUCATRIX Nos dias de hoje, ter à frente da gestão profissionais de inovação é um privilégio raro, não é? Afinal, um dos maiores desafios colocados para as instituições é saber mudar…

VALDENICE MINATEL Sem dúvida, trazer alguém de tecnologia para gerir uma instituição centenária é arrojado. O desenho da gestão executiva no Dante é muito bom e trabalhar em uma instituição sem fins de lucrativos é o melhor dos mundos. Sinto- me em um lugar realmente privilegiado. É o propósito no seu estado mais bruto. Arranjei um propósito e de quebra tenho um trabalho. 

EDUCATRIX Há também o aspecto da preparação contínua. Um líder não pode parar de aprender, em um mundo que muda continuamente. 

VALDENICE MINATEL Eu acredito em liderança que estuda. Simplesmente adoro aprender. Vim de família muito simples, que via na educação a forma de fazer a virada. A escola me resgatou de um lugar que nem posso descrever. Vim de um mundo em que a educação era a única forma de ter acesso à informação. O estudo não é importante só porque prepara para a vida exterior. Ele permite que nós sigamos conquistando mundos internos cada vez mais interessantes. A jornada de conhecimento que transforma o mundo e as pessoas é sensacional.

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Gestão escolar na era da BNCC

Gestão escolar na era da BNCC

Da teoria à prática: como a proposta de currículo nacional está transformando a gestão das escolas

Texto Ricardo Prado Ilustração Ricardo Davino

“A BNCC não sai mais das nossas mãos. A cada 15 dias, a equipe gestora senta junto para estudar um pouco”. É dessa forma que Virene Alves de Souza, diretora há sete anos do Núcleo de Educação Infantil Benedito Faustino Malachias, escola municipal de Canaã dos Carajás, no Pará, refere-se à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento homologado no final de 2017 pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), concretizou, apesar das críticas ao longo do conturbado processo de discussão coletiva e aprovação do texto final, uma antiga reivindicação de educadores brasileiros: a proposta de um currículo mínimo, válido para todo o país, com expectativas de aprendizagem divididas por séries, capaz de nortear o trabalho pedagógico nas diferentes redes de maneira mais uniforme, sem perder de vista as especificidades regionais, como prevê a LDB (Lei de Diretrizes e Bases).

A BNCC não é um documento simples, por isso, faz sentido que a aguerrida equipe dirigida por Virene se debruce a cada quinzena sobre ela e discuta ideias e estratégias que colaborem com a formação dos cerca de 700 alunos que a escola atende. A BNCC estabelece dez competências gerais, que vão da aquisição de conhecimentos à participação cidadã na sociedade, do uso ético e responsável das tecnologias de informação e comunicação aos cuidados com o corpo e o meio ambiente, sob as quais se desdobram 117 objetivos de aprendizagem, distribuídos em 35 competências e habilidades específicas de áreas e 49 competências relativas aos componentes curriculares. Para deixar tudo ainda mais complexo, muitas vezes as competências se interpenetram entre as disciplinas. No total, a BNCC traz 1.514 enunciados sobre aprendizagem e desenvolvimento da criança e do jovem. Ou seja, muito trabalho para as escolas se prepararem e colocarem todas essas competências e habilidades em prática até 2020. 

Um documento dessa dimensão, e com pretensões igualmente grandes de influir diretamente no cotidiano escolar, bem poderia se tornar um desses calhamaços produzidos em Brasília que terminam seus dias esquecidos nas prateleiras, com pouca ou nenhuma aderência nas redes, sempre às voltas com problemas urgentes de infraestrutura e condições de trabalho. Mas o caminho da BNCC não parece ser esse. Há muita gente disposta a implementar o que está ali, que, no fim das contas, resultou no consenso possível em termos de expectativas de aprendizagem. Houve uma grande mobilização no mercado editorial, com interpretações e guias de orientação que buscam oferecer chaves de interpretação para as dez competências a serem desenvolvidas ao longo da educação básica, e possíveis caminhos didáticos para implementá-las.

A educadora Tereza Perez, da Comunidade Educativa CEDAC, organização não governamental de São Paulo que há 22 anos se dedica à formação de professores e divulgação de práticas educacionais inovadoras, é organizadora de um livro que surgiu dessa necessidade de auxílio para a reconstrução dos currículos de cada escola com base no currículo nacional. A Base Nacional Comum Curricular na prática da gestão escolar e pedagógica (Cedac/Moderna/Fundação Santillana), sugere, em cada uma das competências, diversas possibilidades de ação no âmbito da gestão escolar, no sentido de tornar mais efetivas as propostas de educação integral contidas no documento oficial.

 

Contexto Sociocultural 

Dentre as ações que uma boa gestão escolar precisa realizar, a pesquisadora enfatiza a necessidade de se observar atentamente o histórico da comunidade na qual a escola está inserida. “Incluir o histórico da comunidade no planejamento escolar não é só dizer: ‘essa comunidade era assim, passou por isso e aquilo, agora ela é dessa forma’. Esse histórico envolve a caracterização cultural, social e étnica dessa comunidade. ‘Qual é a condição de vida que essas crianças têm?’; ‘Qual é a qualidade de vida que elas têm?’; ‘Costumam ter acesso a que tipo de equipamento cultural?’. Se esse contexto sociocultural e econômico é essencial, não basta ter esse conhecimento, é preciso engajar o projeto pedagógico da escola a partir dele”, explica Tereza. “Se na escola metade dos pais e mães são analfabetos, é preciso trabalhar de uma determinada maneira, pois será preciso ter menos expectativas em relação ao acompanhamento que essas famílias possam fazer da aprendizagem de seus filhos, se não sabem ler ou não têm acesso à internet. Por outro lado, pais menos alfabetizados podem se sentir encorajados a se envolver no que os seus filhos estão aprendendo na escola. Em todos os lugares, encontramos potenciais: de pessoas, de histórias de vida, de competências diversas, que podem ser desenvolvidas dentro das ações da escola”, avalia a educadora. 

As famílias hoje se encontram muito solitárias no processo de educação de seus filhos. “A escola pode ter com esses pais um convívio tal que possa provê-los de posturas, de conhecimentos, de formas de relacionamento etc. Se eu tenho na escola não só o propósito de ensinar crianças e jovens, mas também de acolher essas famílias – e por acolhimento eu digo aceitação, conhecimento, compreensão do que vivem essas famílias – só há ganhos nesse sentido, como gestor”, analisa Tereza Perez. 

 

Pai e escola: uma relação baseada em confiança

“Sem os pais, eu não consigo fazer nada”, resume a diretora Sonia de Abreu Barga, gestora da EMEF Professora Hilda Weiss Drenche, de Itapetininga, no interior de São Paulo. Há 15 anos na direção da escola, e há 35 anos na rede municipal, ela atende 497 alunos no estabelecimento, localizado na periferia da cidade, quase na zona rural. Sem contar com vice-diretor nem com coordenador pedagógico, os dois cargos que compõem com a direção o núcleo-duro da gestão escolar, Sonia comanda uma equipe de 21 professores, cinco auxiliares de educação, quatro serventes, quatro merendeiras e uma secretária, atendendo a um público carente, em termos socioeconômicos.

Caso bastante raro na rede, Sonia está na direção da mesma escola há 15 anos, e viu muitas professoras se aposentarem, mantendo assim uma equipe estável. “Já temos clareza, e as análises indicam isso, que um diretor com mais estabilidade na escola, com mais de seis anos na instituição, com uma equipe também mais estável, funciona muito melhor, porque as relações e vínculos vão sendo criados”, observa Tereza Perez. 

Sobre a questão da instabilidade na rede pública, é “extremamente prejudicial à aprendizagem dos alunos. Há impactos na gestão escolar porque, por exemplo, se tenho um professor que tem maior competência na alfabetização, ele deve ficar nas séries iniciais, e quando há instabilidade não se consegue formar uma equipe de acordo com as competências individuais”, exemplifica a pesquisadora da CEDAC. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Beneficiada pela longa gestão de uma única gestora à frente da escola, a unidade que Sonia dirige se tornou um polo de ações culturais e artísticas na Vila Belo Horizonte, com reflexos na cidade de Itapetininga. A fanfarra escolar, que existe há 11 anos, já formou mais de 300 instrumentistas de percussão, e as classes de flauta contam atualmente com cerca de 100 alunos matriculados. A diretora se orgulha e conta que se esmera desde o primeiro dia de aula em conquistar a parceria das famílias. “Preciso vender o peixe da escola para as cerca de 100 famílias que chegam a cada ano. É preciso saber seduzir esses pais, porque estou à mercê da comunidade, atendo a ela. Se os pais sentem confiança na equipe da escola, então se forma uma parceria muito produtiva”, frisa. Sonia explica como funciona esse encantamento. “Chamo todos os pais à escola, dou as boas-vindas e agradeço a confiança deles em colocarem os filhos conosco. Depois, apresento quem são os funcionários, as merendeiras, as serventes, todo mundo… fazemos questão que todos sejam tratados aqui pelos seus nomes. Nesse dia, também acertamos com os pais os combinados de entrada e saída das crianças, e depois os pais entram nas salas de aula com seus filhos para uma apresentação do professor da turma. A escola enche de gente nesse dia, é muito legal”.

O dia da Feira de Ciências é outro momento em que a escola se torna o lugar mais agitado do bairro, e talvez da cidade. Trata-se de um projeto didático desenvolvido pela escola há dez anos, e que tem sua culminância no fim do ano, quando as famílias descobrem, espantadas e incrédulas, o que seus filhos aprenderam/inventaram: são experiências de física e robótica, ou representações de questões ambientais, expostas pelos próprios alunos, que se postam diante de seus estantes e apresentam seus experimentos. Tornou-se um evento aguardado o ano inteiro e que, atualmente, conta com apoio científico do Instituto Federal de São Paulo, instituição de ensino superior que direciona alguns alunos para orientar os trabalhos e pesquisas dos estudantes da escola. Para gerir o projeto didático, Sonia escolhe anualmente um professor que assume a coordenação da feira, e um professor-gerente para cada série. Essa equipe faz reuniões periódicas para conferir se o que foi planejado está sendo cumprido.

 

O círculo virtuoso do planejamento

A atenção ao planejamento faz parte do cotidiano da gestora Virene em sua escola em Canaã dos Carajás. Tudo começa com uma avaliação diagnóstica das turmas no início do ano, tabulada sala por sala, período por período, até se chegar ao diagnóstico geral. “O quadro geral nos permite ver como as crianças da escola estão em termos de aprendizagem; o recorte por turnos permite um olhar mais minucioso; quando se chega à sala, aí se individualiza. Nosso planejamento anual sempre é feito a partir do diagnóstico inicial”.

O passo seguinte é montar um Plano de Metas e Ações, contemplando os campos de experiências nas quais se inserem as aprendizagens da Educação Infantil. “Ao longo de todo ano estamos indo e vindo do planejamento ao plano de ação; depois do plano de ação para o planejamento, sucessivamente. Ao fim de cada bimestre, avaliamos o que deu certo e o que precisa melhorar”, explica Virene sobre esse movimento circular que qualifica constantemente o que foi planejado, acrescentando que a cada quinzena há um tempo de formação com os professores.

 

“Óculos humanizadores” 

“Estamos vivendo um momento em que se torna especialmente necessário usarmos ‘óculos humanizadores’, com uma lente mais humana para olharmos a pessoa ao lado”.

Delegar funções, como o caso de definir as responsabilidades de cada um no andamento de um projeto didático, propiciar um ambiente de trocas e aprendizagens entre o corpo docente e articular parcerias produtivas com diversos atores sociais ao alcance da escola estão entre as funções mais importantes de um gestor escolar. No caso da escola de Itapetininga, além do apoio dos universitários, Sonia usa e abusa dos psicólogos e assistentes sociais que a Prefeitura disponibiliza. Isso porque sua escola tornou-se uma das mais acolhedoras da cidade, e é para lá que o Conselho Tutelar gosta de mandar crianças que necessitam de alguma atenção especial. É para lá que são encaminhados alguns casos de crianças que sofreram abusos, que não se adaptaram em outras escolas da rede ou que saíram por conta de bullying. Em relação a esse problema, os alunos chegam ao lugar certo. “O bullying é uma brincadeira que machuca, esse é o nosso slogan aqui. Fazemos campanhas, de janeiro a janeiro, com a participação dos alunos do 5º ano, que criam cartazes para se comunicar com os menores. Quando há uma situação concreta, nós chamamos as crianças para conversar, em alguns casos a família também. Se um pai vem reclamar comigo, procuro resolver de imediato”, assegura a diretora.

Para Tereza Perez, se a escola estiver bem atenta ao que está acontecendo com suas crianças, em termos de relacionamentos, a tendência do bullying é diminuir muito. “O maior problema é a idealização do aluno: deseja-se um aluno que seja atento, que faça tudo o que se pede, que seja crítico, colaborativo, todos os lindos adjetivos que temos para uma pessoa ideal. Mas só dois ou três na classe se encaixarão nesse modelo. O restante passa, então, a ser criticado, e culpabilizado, junto com suas famílias, por não ser daquele jeito idealizado. E, normalmente, os mais bagunceiros, que são os líderes da classe, costumam ser brilhantes. Eles têm inovações, conseguem conduzir um grupo, e têm competências de liderança que não estão sendo valorizadas. É preciso sempre olhar para o potencial mais positivo de cada aluno. A padronização e a expectativa única nos desqualificam enquanto educadores”, observa Tereza Perez.

No caso do gestor escolar, não é diferente. Existe uma projeção, uma espécie de espelho para os próprios educadores. “Nós também idealizamos o professor ideal, o gestor ideal. É preciso lidar com as pessoas reais, com aquele diretor que pode ter várias falhas, mas que tem aspectos legais, com um coordenador que tem suas falhas, mas também tem competências. Nós estamos vivendo um momento em que se torna especialmente necessário usarmos ‘óculos humanizadores’, com uma lente mais humana para olharmos a pessoa que está ao lado. Como diz um amigo, ‘errar é humano, e pôr a culpa nos outros nem se fala!’”, finaliza a educadora.

 

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Especial Trilhas da BNCC | Pensamento investigativo em todas as áreas do conhecimento

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Despertar a curiosidade e desenvolver o olhar crítico e questionador sobre os diversos fenômenos da vida.

“Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: — Me ajuda a olhar!”

Eduardo Galeano,

O livro dos abraços, 1989. 

Em uma época de muitas mudanças e incertezas, em que temos de lidar com os resultados e os produtos da evolução tecnológica, torna-se essencial a educação para aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser, como propõe o relatório Quatro pilares da educação para o século XXI da Unesco, de 1999 (Delors, 2000). Com base nesses quatros pilares, acredito ser possível “ajudar a olhar”. 

Nossos alunos têm acesso a uma quantidade enorme de informações, mas nem sempre sabem o que fazer com elas, pois não aprenderam a “olhar”! Essas informações precisam ser dotadas de significados, de modo que os alunos possam associá-las e gerar o conhecimento a ser utilizado no cotidiano e na compreensão do mundo. Mas o que é pensamento investigativo? Como é possível ensinar a pensar?

Por muitos anos, o ensino de Ciências trabalhou mais com a transmissão do que com a produção do conhecimento, e em muitas escolas essa prática ainda persiste. Pesquisas em diversas áreas da educação e da neurociência, contudo, têm demonstrado que o estudante aprende mais ao se envolver com uma situação-problema e buscar soluções e significados para ela. 

Para tanto, o aluno precisa pensar investigativamente, desenvolvendo competências e habilidades como observar, problematizar, formular questões e hipóteses, verificar, mensurar, constatar, concluir, errar e tentar novamente. 

A prática do pensamento investigativo pode e deve ser utilizada em todas as áreas do conhecimento, não apenas nas ciências da natureza. 

Segundo o filósofo norte-americano Matthew Lipman, na obra A Filosofia vai à escola, o ensino tradicional, em que os conhecimentos são transmitidos do professor para o estudante, constitui o “paradigma-padrão”, ao passo que o ensino que trabalha com o pensamento investigativo configura o “paradigma reflexivo”. Lipman propõe que as disciplinas sejam organizadas de maneira que se complementem, fazendo com que a educação não se limite a promover a memorização das informações transmitidas e objetive “a percepção das relações contidas nos temas investigados”. A adoção do paradigma reflexivo permite investigar e problematizar os conteúdos de cada disciplina, construindo uma reflexão conjunta.  

Ao trabalhar com a proposição da solução de um problema, promove-se um enfrentamento entre os estudantes por meio do diálogo. Nesse paradigma, o importante não é o resultado final, a conclusão, e sim as descobertas feitas ao longo do processo de investigação.  O diálogo promove a reflexão e o pensamento criativo.  

Embora apresente muitas variantes, na técnica mais usual, o professor propõe um problema, que os alunos identificam e trabalham em grupos, sempre partindo de seus conhecimentos prévios. Os itens do problema são levantados, debatidos e registrados. Com base nesse registro, os alunos se organizam para investigar os itens principais em grupo ou individualmente. Em todas as etapas, o professor orienta, ajuda a organizar, faz a intermediação das discussões e propõe fontes de consulta. Todo o resultado das investigações é debatido pelos integrantes do grupo, que, juntos, aprendem a relacionar fatos e informações. 

Nesse processo, o estudante deixa de memorizar e passa a pensar, a questionar, a testar. Com o trabalho em grupo, ele aprende a respeitar as diferenças de opinião, o ritmo de trabalho e as descobertas de cada um, aprende a conviver, a colaborar com o outro. Aprende onde procurar informações e como conectá-las para encontrar respostas. A autonomia intelectual dos estudantes é valorizada.  

O professor deixa o papel de mero transmissor de informações para exercer o papel de organizador, de mediador e sistematizador dos dados que os estudantes encontraram. Com a metodologia de resolução de problemas, o professor trabalha os “quatro pilares da educação para o século XXI”, em vários momentos e de formas variadas. 

Pautada nesses pilares, a educação passa a constituir o principal instrumento para “olhar” o mundo! 

Rita Helena Bröckelmann

é bióloga e editora executiva do Editorial de Biologia e Química da Editora Moderna. 

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É preciso conhecer o professor para além do conteúdo

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Observatório do Professor reúne mais de 3 mil horas de entrevistas para retratar as alegrias e dores de educadores dentro e fora das salas de aula. 

Imagem ilustrativa

Quais fatores podem ser decisivos para transformar a prática docente? A partir de mais de três mil horas de entrevistas, a pesquisa Observatório do Professor, feita pelo Instituto Península em parceria com a PS2P – Observatório de comportamento e cultura, identificou os elementos que interferem na prática do professor que vão além da didática e do domínio do conteúdo.

De acordo com o levantamento, que buscou identificar quem é o professor fora dos muros da escola e quais são as suas angústias e paixões, os professores que conseguiram criar uma ponte de relacionamento com os seus alunos geralmente levam elementos da sua história de vida para as práticas pedagógicas. “Nos melhores exemplos que descobrimos, o professor teve que buscar referências na sua vida pessoal para encontrar caminhos para solucionar problemas que antecedem muito a questão do conteúdo e interferem no processo de aprendizagem”, explica Heloisa Morel, diretora do Instituto Península.

Para entender os professores além dos números e dados, pesquisadores foram a campo para fazer 30 entrevistas em profundidade e fizeram dez vivências presenciais com 60 horas de filmagem, além de reunir informações de 20 diários on-line, com 3 mil horas de acompanhamento remoto do dia a dia de professoras e professores de diferentes regiões do Brasil. A pesquisa também envolveu a observação de seis grupos on-line de profissionais de educação que contam com mais de 1 milhão de membros. 

Com base nessa exploração, a pesquisa identificou seis elementos que interferem na prática do docente:

  • 1 – Identidade: a força das histórias de vida e as experiências pessoais dos professores são determinantes para sua prática. 
  • 2 – Reciprocidade: as experiências educacionais positivas ou negativas podem mudar a relação deles com a educação e a figura de professores-referência podem exercer influência sobre seu desejo de se tornar educador. 
  • 3 – Afeto: o aspecto relacional tem um impacto importante na relação professor-aluno.
  • 4 – Ambiente: é considerado um elemento chave na experiência educacional 
  • 5 – Coletividade: a maior parte dos professores não se sente parte de um projeto maior de escola.
  • 6 – Reputação: os professores e especialistas entrevistados ressaltam que a escola pública é envolta por um conjunto de simbolismos e preconceitos.

“Talvez a profissão do professor seja uma das mais complexas que o país tem. Ele tem que olhar muitas dimensões, não apenas o técnico”, ressalta a diretora do Instituto Península. Ao ampliar o horizonte para considerar elementos que vão além da didática na aprendizagem, ela menciona que essas soluções reforçam a necessidade de políticas públicas olharem para o desenvolvimento integral dos professores. “Nós não vamos conseguir formar alunos para os desafios do século 21 se os professores ainda não se sentem preparados para isso. De uma forma sistêmica, o desenvolvimento integral do professor não é discutido.”

Apesar da rede brasileira de educação básica contar com mais de dois milhões de educadores, entre outros destaques, a pesquisa também identificou um sentimento comum entre boa parte deles: a solidão. Para muitos professores, há pouco espaço de diálogo e troca de experiência com os colegas. “Seu olhar sobre a educação navega entre o prazer de ensinar e a frustração de não conseguir fazer os alunos aprenderem. Muitos sentem o peso de serem vistos como os únicos responsáveis por transformar a realidade das comunidades em que atuam, sentindo-se expostos e até vulneráveis com o desafio”, destaca o Observatório. 

Além de apresentar os principais destaques da pesquisa, o Observatório do Professor reúne textos e vídeos que contam histórias de educadores de diferentes regiões do país que atuam em diferentes contextos. “Com o desenvolvimento integral do docente, o domínio dos conteúdos e uma comunidade escolar fortalecida, é possível lidar com desafios dos alunos, conectar-se a eles e garantir ambientes de aprendizagem, construindo a ponte que liga ao conhecimento e influenciando positivamente todo o sistema educacional”, conclui o Observatório a partir de descobertas e reflexões da pesquisa.

 

Texto: Portal Porvir

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Minha escola, minhas escolhas

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Na voz dos alunos, conheça os desafios da escola para reduzir o hiato entre o que se ensina e o que eles consideram fundamental para a vida adulta.

O que se aprende na escola, de fato, prepara os alunos para o que vem depois dela? Embora a questão seja velha conhecida da comunidade escolar, ela recobra fôlego na reta final rumo ao Novo Ensino Médio. Em teoria, a partir de sua implementação, o hiato entre as expectativas dos jovens e o que lhes é oferecido tende a diminuir. “Os currículos do Ensino Médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira que adote um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais”, assegura a MP 746/2016, que inseriu o artigo 36 no parágrafo 5o da LDB (Lei de Diretrizes e Bases). Na prática, fica a dúvida: o que os estudantes consideram essencial para o seu desenvolvimento e construção do projeto de vida? A Educatrix fez a pergunta para duas alunas do Ensino Médio.

De Jacundá (Pará), a 60 km de Marabá, Eilany da Silva, 15 anos, revela que sonha em cruzar as estradas da região — empoeiradas e danificadas pelo vaivém dos caminhões de minério — para morar no exterior. Antes, quer fazer faculdade no Brasil. A carreira ainda não está definida. De acordo com a aluna da 2a série do Ensino Médio na E.E.E.M. Maria da Glória Rodrigues Paixão, da rede pública paraense, o ideal seria ter psicólogos dentro da escola para apoiar os estudantes tanto na resolução de conflitos quanto na hora de fazer boas escolhas.

A mais de 4.200 quilômetros de distância, Luiza Murta Barbosa, 17 anos, faz o último ano do Ensino Médio no Colégio Stockler, na rede privada da capital paulista. É a filha caçula de uma família de engenheiros civis. Até o ano passado, ela achava que as Exatas também eram o seu destino. Tudo mudou quando, em 2019, se deparou com um professor que a incentivou a abrir o leque de possibilidades. O ponto de partida foi o desenvolvimento de novas competências e habilidades em Comunicação. 

Ainda que as duas jovens não se conheçam e vivam realidades bem diferentes, suas histórias ganham contornos semelhantes quando se trata da construção dos projetos de vida. Dúvidas, pressões por todos os lados e expectativas de sucesso são compartilhadas por ambas. No processo de descoberta de si e busca de oportunidades que transcendam os muros da escola, as duas atribuem aos professores um papel decisivo. Cabe a eles, por exemplo, fomentar o intercâmbio de saberes, a formação de repertório e até mesmo os sonhos e a realização deles. 

Ainda que as duas jovens não se conheçam e vivam realidades bem diferentes, suas histórias ganham contornos semelhantes quando se trata da construção dos projetos de vida. Dúvidas, pressões por todos os lados e expectativas de sucesso são compartilhadas por ambas. No processo de descoberta de si e busca de oportunidades que transcendam os muros da escola, as duas atribuem aos professores um papel decisivo. Cabe a eles, por exemplo, fomentar o intercâmbio de saberes, a formação de repertório e até mesmo os sonhos e a realização deles.

A seguir, confira os relatos de Eilany e Luiza, cujas vozes direcionam nossas atenções para os protagonistas desta história: os estudantes. 

 

A escola sob perspectiva do aluno 

A terceira edição da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, promovida pelo Porvir e Rede Conhecimento Social, ouviu 258.680 estudantes de 11 a 21 anos por meio de uma plataforma de escuta on-line e gratuita. De acordo com os participantes, a escola ideal deve visar à preparação para a vida adulta. Se o foco fosse prepará-los para o mercado de trabalho, 36% dizem que seriam mais felizes. Outros 30% afirmam que aprenderiam mais. Já se o alvo fosse o Enem, 39% garantem que aprenderiam mais, e 32%, que seriam mais felizes. 

Os estudantes esperam encontrar na instituição de ensino um espaço propício para descobrir suas vocações e sonhos, bem como receber orientações para fazer boas escolhas. Não é à toa que 4 em cada 10 jovens afirmam que gostariam de contar com o apoio de um orientador vocacional na escola, seja para ajudá-los a definir a profissão que irão seguir ou a graduação que cursarão. Para 27%, as orientações poderiam ocorrer durante as aulas regulares. Outros 19% preferem aulas especialmente dedicadas ao tema na grade semanal, e 12%, atendimentos individuais de mentoria.  

Em relação aos professores, a maioria dos estudantes demonstra admiração e confiança. Por outro lado, 6 em cada 10 dizem que os colegas não respeitam ou não valorizam os docentes. O relacionamento que se estabelece é considerado regular ou ruim por 50% dos jovens.

Outra demanda que apresentam é por profissionais aptos a apoiá-los em seu desenvolvimento socioemocional e pessoal. Além da figura do professor, 60% dos alunos gostariam de ter psicólogos na escola. Isso não quer dizer que os jovens não zelem por sua independência e protagonismo na vida estudantil. Poder escolher parte das disciplinas que irão cursar é uma medida bem-vinda para 4 a cada 10 alunos. Ter a liberdade de escolher a totalidade delas, no entanto, só faria 20% dos estudantes mais felizes.

 

Luiza Murta Barbosa, 17 

“À primeira vista, pode parecer estranho estudar em um colégio pequeno como o Stockler, com poucos espaços para circular. Mas, na prática, é confortável. Lembra uma cidade do interior, onde todos se cumprimentam, se conhecem e se ajudam.”  

“As turmas têm de 25 a 30 alunos, o que contribui para criar um clima mais intimista nas aulas. Muitos professores fazem projetos interdisciplinares e adotam recursos como vídeos e experiências em laboratório para deixar a teoria menos maçante.”

“Até o ano passado, não tinha a mínima ideia da faculdade que queria fazer ou da profissão que iria trilhar. Se já é difícil escolher uma roupa, quem dirá tomar decisões que mudarão o meu futuro. “

“Mas se tinha uma coisa que eu sabia (ou achava que sabia) é que pertencia às Exatas. Minhas notas eram altas e, na família, tenho vários engenheiros. Por outro lado, sempre fui aberta às oportunidades. Não por acaso, participo da maioria das atividades extracurriculares que a escola oferece.”

“O divisor de águas que me fez descobrir a paixão pela Comunicação (especificamente pela Publicidade e Propaganda) foi uma oficina de teatro em que o professor Celso Solha propôs a montagem da peça O Capeta de Caruaru.”

“Na obra, eu interpretava os gêmeos Chico e Antônio Cipriano: dois personagens masculinos, nordestinos, com características totalmente diferentes entre si e contextos ainda mais diversos. Uma missão nada fácil e que me fez entender quão essencial é ter liberdade de expressão, habilidades de comunicação e ser competente para transmitir a mensagem ao público.”

“Dessa forma, entendi que a vida é um palco e que os sonhos podem ser alcançados mediante esforço, tempo e dedicação.”

“Confesso que fiquei assustada e com medo de apostar em algo que nunca tinha sido o meu forte. Mas contei com o apoio dos projetos de autoconhecimento proporcionados pela escola e o incentivo para transformar uma mera paixão em diferenciais competitivos.”

“Entre eles, destacam-se meu repertório e entendimento de questões sociais, políticas, econômicas e de cidadania – frutos das aulas de Atualidade e das ações intencionais do colégio para dar voz aos estudantes. Hoje entendo essas iniciativas como parte de uma estratégia para formar cidadãos mais conscientes, ativos e preparados para questionar e buscar melhorias no mundo.”

“Essa, porém, não é a realidade pelo Brasil afora. A maioria das escolas já cristalizou seu papel de preparar os jovens para uma prova final de cinco horas de duração e sem nenhuma condição de avaliar a capacidade de alguém. Isso ocorre porque, em geral, o ensino se baseia em conteúdos extremamente específicos e sem conexão com a faculdade que eles querem fazer.”

“Não restam dúvidas de que a maioria dos conteúdos é essencial para construir um conhecimento acadêmico de base. Mas, com o avançar das séries, a escola deveria incentivar o aluno a ir além das disciplinas básicas e perseguir a especialização na sua jornada de aprendizado. Isso nos aproximaria do campo do conhecimento em questão e ainda nos prepararia melhor para o mundo do trabalho.”

“Pensando em um futuro próximo, o mais adequado seriam escolas cujos objetivos transcendessem a futura vida universitária e focassem no presente, com mais preparo para enfrentar o mundo e a vida em sociedade. Os projetos socioemocionais deveriam ganhar mais espaço no currículo.”

“Outro aspecto imprescindível é o olhar atento para a figura do professor. Por mais fácil que seja ter acesso aos conteúdos on-line, o verdadeiro aprendizado se dá na interação com ele.” 

Aluna da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Stockler, em São Paulo (SP).

 

Eilany almeida da silva, 15

“Ainda não me sinto preparada para enfrentar o mundo lá fora, ser independente e ter mais responsabilidades. Mas meu sonho é morar em Toronto, no Canadá. Por isso, desde já, faço aulas de inglês na empresa onde trabalho.”

“Antes de partir, quero fazer faculdade no Brasil. Só não estou certa de qual área escolher. Pensei em Medicina, mas tenho medo de sangue. Pensei em Direito, mas já tem muita gente na área. Cheguei a pensar em História porque gosto de estudar religiões. Mas o que me encanta mesmo é a Veterinária, apesar do medo que sinto de alguns animais.”

“Ingressei na E.E.E.M. Maria da Glória Rodrigues Paixão no ano passado, quando fiz a transição para o Ensino Médio. O espaço é grande, com uma quadra esportiva, 12 salas de aula e turmas que variam de 35 a 40 alunos.”

“A grade curricular contempla sete horas/aula por dia. É bastante, mas sinto falta de mais debates e diálogos nas aulas. Os professores preferem não fazer porque esse tipo de dinâmica sempre acaba em confusão – não há respeito à opinião do outro.”

“Na prática, o Ensino Médio é bem diferente do que eu imaginava. Tem muita pressão psicológica, e vejo que isso afeta muito os alunos. Bom mesmo seria não ter provas e, no lugar delas, ter atividades e projetos avaliativos para compor a nota final.”

“Seria importante também contar com psicólogos aos quais pudéssemos recorrer quando necessário. A maioria dos alunos tem problemas psicológicos, e muitos são causados no próprio contexto escolar.”

“Mesmo não sendo perfeita, a escola exerce grande influência sobre mim. Graças a alguns professores e projetos, me tornei uma pessoa melhor e mais compreensiva. Estou aprendendo a respeitar as opiniões dos demais e a perder o medo e o nervosismo de falar em público.”

“Entre os professores que me inspiram, está a Elsamar Emerique, de Arte. Recentemente, ela ganhou um prêmio nacional de arte-educação pelo projeto “Cores do Açaí”, com o qual nos desafiou a pintar telas, usando o açaí como matéria-prima para a confecção de tintas. A experimentação, a investigação e o trabalho em equipe foram algumas das competências que desenvolvi com essa iniciativa.”

“Para o futuro, gostaria que a escola tivesse mais projetos desse tipo, com aulas práticas e espaço para os alunos se expressarem, sem medo de ser julgados. Cada professor poderia elaborar o projeto de acordo com a sua matéria e intercambiar conhecimento com as demais, com a possibilidade inclusive de levar os alunos para apresentar os resultados em outros colégios.”

“Adoraria também que algumas aulas pudessem ocorrer ao ar livre e que as de Matemática e Física incluíssem jogos didáticos que nos ajudassem a aprender e gostar do conteúdo. Muita gente ainda acha essas matérias chatas, um bicho de sete cabeças.”

“Mas, acima de tudo, desejaria que os professores interagissem mais com os estudantes, se colocando à disposição para nos ajudar com qualquer dúvida e sem tanta pressão psicológica.” 

Aluna da 2ª série do Ensino Médio na E.E.E.M. Maria da Glória Rodrigues Paixão, Jacundá (PA).

Texto: Lara Silbiger

 

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A sala de aula como contação de histórias

A sala de aula como contação de histórias

“Mar de Histórias” é a expressão usada em sânscrito (Kathâsaritsâgara) para se referir ao universo das narrativas. Ao transitar por rotas imaginárias, lembre-se da metáfora do mar: é preciso ter um caminho e manter um leme firme, mas é essencial saber que as águas podem ser muito tranquilas, mas também se transformar em verdadeiros maremotos. Esta é a aventura literária da qual fazem parte o mestre e seus alunos: é preciso coragem para trafegar por mundos imaginários, porém, as viagens serão sempre cheias de descobertas. 

Ilustração: Ricardo Davino

A capacidade de imaginar, de pensar simbolicamente e comunicar nossos pensamentos é uma característica exclusiva da nossa espécie. Os seres humanos contam histórias desde sempre; é uma forma ancestral de partilhar conhecimentos às novas gerações. Por isso, a força que uma boa história exerce sobre nós é inegável. 

Volta e meia temos lembranças saudosas das histórias que ouvimos na infância, seja em casa ou na escola, assim como guardamos carinhosamente na memória como foi a primeira leitura literária, ou nos vemos diante de uma enorme dificuldade para interromper um bom livro, cuja narrativa nos prende de uma forma muito envolvente. 

O contar histórias, ou storytelling em inglês, historicamente, sustentou-se de maneira fundamental como uma arte lúdica e um poderoso instrumento de formação da identidade cultural e socioafetiva dos sujeitos. Além de oferecer entretenimento, a contação de histórias nos permite conhecer, imaginar e refletir sobre a vida e as relações e, dessa forma, construir uma visão de mundo.

Um povo que escuta, conta e reconta as mesmas histórias possui valores e visões semelhantes, já que tais elementos são frutos da acumulação de fatos que determinada nação tem como verdade. Daí a importância que uma boa história possui para criar em nós uma sensação de pertencimento ao grupo e de identificação com o coletivo. Essa junção de histórias, valores e visões de mundo geram o “nós”, que não existe sem o “eu” e o “outro”. 

A contação de histórias é fonte de comunicação, apropriação e disseminação de conhecimentos, bem como um veículo de registro dos seres humanos no mundo. É na criação e na contação de histórias, derivadas de registros orais e escritos, que nós, humanidade, encontramos um dos mais eficientes modos de difundir nossos pensamentos e de imprimir nossas marcas. 

 

O termo storytelling 

Se a contação de histórias é originalmente uma antiga arte humana de troca de experiências, realizada por diferentes povos, em diferentes tempos e espaços, por que o termo em inglês storytelling soa relativamente novo?

Embora para muitas pessoas o conceito de storytelling pareça novo, o hábito milenar ganhou espaço como ferramenta estratégica no mundo dos negócios, sobretudo na década de 1990. Nesse período, a publicidade e a comunicação precisavam inovar para causar impacto: numa era altamente tecnológica, tornou-se essencial incorporar às estratégias de marketing elementos que gerassem empatia e maior conexão com as pessoas, além de dar mais destaque às marcas. É assim que o storytelling passa a preencher vazios de ferramentas desgastadas para reter a atenção do público e dá novos contornos à comunicação. 

Na década de 1990, o storytelling passa a ser amplamente estudado nos Estados Unidos como estratégia de comunicação. À época, os fundadores do Center for Digital Storytelling desenvolveram um processo único de treinamento e artes digitais, com forte colaboração da multimídia teatral, conhecido como o Digital Storytelling Workshop. (LAMBERT, 2020) 

Desde então, houve também a fundação do Storycenter, que estuda e dissemina as metodologias que ajudam na construção de uma boa história. Assim, o termo Digital Storytelling ganha mais espaço com a prática sendo apresentada a empresas e instituições, em âmbito mundial. 

O hábito de contar histórias por meio de pinturas, ao redor da fogueira ou numa roda de histórias na escola permanece, mas a intenção da sua criação, a capacidade de informá-las e distribuí-las mudou significativamente com a sua publicização nas mídias sociais como produto. 

O que nos interessa aqui é que o storytelling é uma estratégia rica em elementos da narrativa cuja estrutura é muito viva para a nossa sociedade e, portanto, diante do atual cenário educacional, sua apropriação na esfera pedagógica torna-se indispensável. 

 

De Aristóteles a Campbell: para além do “era uma vez” 

Contar uma história não é algo banal, assim como não é qualquer pessoa que cria uma história ou faz uma contação de forma eficaz. As narrativas pautadas no storytelling seguem uma estrutura específica de apresentação dos fatos. É possível criar histórias a partir de diferentes temas, reais ou fictícios, desde que arranjados na ordem correta e que, com eles, se saiba fazer uma boa costura. 

O storytelling como o conhecemos está pautado nas seis partes constitutivas da tragédia aristotélica: enredo (mythos), caracteres (ethe), elocução (lexis), pensamento (dianoia), espetáculo (opsis) e música (melopoiia), encontrados no livro Poética (aristóteles, [1965] 2008, p. 13), em que se apresentam as primeiras teorizações sobre narrativas. Veja a seguir:

Além dos elementos citados, a ambientação ou o ambiente físico em que as personagens atuarão merece destaque. A narrativa eficaz não ignora o cenário, já que, muitas vezes, ele fortalece as interações entre os personagens, nos conta sobre motivações e comportamentos, bem como caracteriza oportunidades ou obstáculos presentes na trama.

Assim como na estrutura narrativa aristotélica, os elementos de uma história são facilmente reconhecidos tanto na tradição oral, quanto no romance moderno ou no cinema. Como são intrínsecos a nossa cultura, é algo que cativa. Por isso, é praticamente impossível nos depararmos com estudos de storytelling que não tenham base em Aristóteles. 

No mundo contemporâneo, os roteiros de storytelling estão pautados no conceito da Jornada do Herói ou Monomito, de Joseph Campbell. O antropólogo, por meio de amplos estudos de mitos e lendas, encontrou um padrão repetido nas narrativas de diferentes povos. Esses estudos foram publicados no livro O herói de mil faces, amplamente popular por volta da década de 1980.

A seguir, temos uma síntese das doze etapas da jornada do herói de Campbell, que sustentam aquilo que o autor chamou de mito único ou monomito:

Segundo Campbell, o caminho comum da aventura mitológica é representado pela sequência: partida > iniciação > retorno. O herói começa sua aventura de mundo cotidiano em direção a uma região de maravilhas sobrenaturais, enfrenta forças fabulosas e consegue uma conquista decisiva. Ao final, ele retorna de sua emblemática aventura com uma força descomunal, com a capacidade de ofertar a seus irmãos diferentes mimos, sonhos, esperanças e materialidades. 

Em 1998, Christopher Vogler, então roteirista da Disney, redigiu um memorando intitulado Um guia prático para o herói de mil faces, como base para a construção de um método de estrutura narrativa. Nele, o autor descreve “[…] o conjunto de conceitos conhecido como “Jornada do Herói”, extraídos da psicologia profunda de Carl G. Jung e dos estudos míticos de Joseph Campbell”. 

O guia, conhecido como a Jornada do Escritor, tenta relacionar as ideias dos autores às narrativas modernas e expõe doze etapas em que facilmente observamos os elementos das estruturas vistas anteriormente: 

Apesar de ter escrito um guia, Vogler sempre fez questão de destacar que se trata de uma forma, não uma fórmula. Portanto, partimos do princípio de que as histórias têm forma, têm fórmula e intencionalidade; têm começo, meio e fim e, até mesmo essa clássica tríade, a depender do autor, pode variar.

 

Como reconhecer as etapas do storytelling numa obra

Até aqui, pudemos conhecer a constituição conceitual, histórica e metodológica do storytelling. Para facilitar a compreensão da estrutura narrativa, mostramos esquemas com uma facilitação visual que aborda o que vimos de forma prática. 

Um exercício muito proveitoso, que nos ajuda na apropriação dos conceitos, é analisar determinada obra e enquadrá-la numa lógica narrativa. A seguir, fizemos uma análise básica do filme Pantera Negra, dividindo-o nos três atos previstos por Vogler (2006). 

Que tal você escolher uma obra de sua preferência e fazer esse exercício? Você pode usar quaisquer dos esquemas apresentados ou ampliar suas pesquisas sobre as jornadas e visualizar a narrativa dentro das etapas. Depois disso, sua vida nunca mais será a mesma! 

 

O potencial educativo do storytelling: O professor como storyteller

Se você é professor, já é um contador de histórias! Ser professor envolve, mesmo que indiretamente, atuação e dramaticidade, assim como um planejamento pedagógico que tem um conteúdo a ser narrado, com começo, meio e fim. Portanto, o Storytelling está presente nas salas de aulas, mesmo fora dos momentos de contação de histórias.

Quando nós, professores, priorizamos aulas que engajam as pessoas, as convidamos a se envolverem de diferentes formas, seja na contação da fábula A cigarra e a formiga, seja numa aula sobre o impacto do CO2 na atmosfera ou a forma como se aplica a fórmula de Bhaskara na vida real. Numa “aula contada”, chamamos os envolvidos a contribuírem com perguntas e respostas, fazerem sugestões, acrescentarem ideias, tudo para que compreendam e se apropriem dos conceitos apresentados e construam novos conhecimentos. 

Desenvolvemos aulas com um conjunto de técnicas características da estrutura das narrativas. Para tanto, trazemos ilustrações, elaboramos um cenário — mesmo que apenas narrado —, alternamos o tom e intensidade da nossa fala, andamos pela sala, gesticulamos, fazemos caras e bocas, e interagimos com os alunos, esperando deles atenção e encantamento. Não raro, as aulas ministradas com esse foco viralizam, tornam-se inesquecíveis, tal como as mais conhecidas histórias! Envolver os estudantes por meio do storytelling acrescenta valor ao trabalho pedagógico, que se torna dialógico, criativo e humanizado. Com ele, é possível: 

► ampliar os espaços para rodas de conversas e interações;

► auxiliar o estudante a dar sentido e a buscar novas leituras;

► incentivar o aluno a fazer releituras e criar suas próprias histórias;

► estimular o exercício espontâneo da escrita;

► desenvolver a escuta ativa;

► despertar o desejo de interpretar textos e dramatizar ideias;

► incentivar a expressão e comunicação oral;

► desenvolver um trabalho de qualidade, com resultados positivos, independentemente do nível de escolaridade. 

Utilize o storytelling como uma prática educomunicativa para comunicar soluções, ideias e proposições. Ao colocar os estudantes diante de uma situação-problema, eles podem esboçar uma ideia, registrá-la, construir uma personagem para contar a história, mostrando, dentro de uma estrutura narrativa, a saga do herói na implementação da solução que encontraram. Para isso, precisam se perguntar: de que forma vamos comunicar a ideia? Com quais instrumentos? Quem é quem nessa produção? Que jornada é essa? 

Obviamente, dada a diversidade do universo narrativo, não há uma fórmula absoluta para o desenvolvimento da arte de contar histórias. No entanto, como vimos, há um padrão que pode ser seguido, cujas etapas devem ser adaptadas, tornando factível a possibilidade de criação de uma história única.

A contação de histórias, portanto, é uma estratégia pedagógica diferenciada e, uma vez em sintonia com a realidade da turma, suas necessidades e expectativas de aprendizagem, suas temáticas de interesse e, principalmente, suas potencialidades, otimiza o processo educativo de maneira lúdica e emancipatória. 

Já que ensino e aprendizagem caminham juntos, a contação de histórias exerce um papel fundamental no desenvolvimento intelectual e de humanização de educador e educando. Ao despertar o interesse pela leitura e escuta de textos, ao contar um conteúdo e ao provocar os estudantes a criarem suas narrativas, a imaginação é acionada, favorecendo o desenvolvimento da comunicação e de interação entre narrador e espectador. Como consequência, surge uma interação sociocultural que, por vezes, resulta no intenso e imediato interesse de ouvir e recontar histórias para o mundo a fim de preservá-lo e transformá-lo. 

 

PARA SABER MAIS 

  • ARISTÓTELES. Poética [1965]. Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. 
  • CAMPBELL, J. O herói de mil faces. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Pensamento/Cultrix, 1989. 
  • CAMPBELL, J. Os primeiros contadores de histórias. História e antropologia, 2005, v. 6 fev.-jul. 2015. Disponível em: mod.lk/0VtkK. Acesso em: 9 jul. 2020. 
  • LAMBERT, J.; HESSLER, B. Digital storytelling: story work for urgent times. 6. ed. Berkeley: Paperback, 2020.
  • PIETRO, H. Quer ouvir uma história? Lendas e mitos no mundo da criança. São Paulo: Angra, 1999.
  • VOGLER, C. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores [1998]. Tradução de Ana Maria Machado. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

Julci Rocha 

é fundadora e diretora da Redesenho Educacional. Mestre em Educação: Currículo pela PUC/SP, pós-graduada em gestão educacional, design educacional e educação inovadora. Licenciada em Letras pela USP. Integra o time de docentes da pós-graduação e extensão do Instituto Singularidades. Tem experiência em gestão de programas inovadores em redes públicas e privadas, com experiência em instituições importantes como Instituto Paulo Freire e Fundação Lemann. Atua na formação inicial e continuada há 10 anos, com destaque para as metodologias ativas e cultura digital.

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Expedição 2030: o desafio certo de educar para um futuro incerto.

Expedição 2030: o desafio certo de educar para um futuro incerto.

Para qual mundo estamos formando nossas crianças e adolescentes? Quais serão as habilidades e competências exigidas para uma vida bem-sucedida?

Adivinhos e futurólogos nunca tiveram tamanha dificuldade para prever ou compreender o que o destino nos reserva. Diante da velocidade e profundidade das transformações que marcam este início de século XXI, não há nada mais certo em relação ao futuro do que a sua própria incerteza.

As mudanças climáticas transformam o planeta. As novas tecnologias redefinem a vida humana. Os processos migratórios e as mudanças de comportamento provocam choques culturais. A busca de competitividade modifica as relações econômicas e gera novos contextos políticos e sociais. E todas essas movimentações juntas aprofundam os níveis de insegurança e ansiedade dos indivíduos, que têm dificuldade de caminhar por terreno tão movediço e ameaçador.

No mundo atual, poucas são as garantias e muitos os desafios que nos afetam individual, local e globalmente, demandando novas capacidades, soluções e regulações. Simultaneamente, crescem as dúvidas e expectativas em relação à educação e seu poder de não apenas preparar as novas gerações para enfrentar uma realidade futura bastante nebulosa, mas também de capacitá-las para reduzir os impactos negativos e ampliar os benefícios trazidos por todas essas mudanças.

Conhecimentos tradicionais continuam sendo importantes, mas não se mostram suficientes para assegurar que as pessoas se realizem no âmbito pessoal, social e profissional, muito menos para que interajam com as questões próprias da contemporaneidade e participem da construção de um mundo melhor para si e para os demais. Cientes desse desafio, especialistas e organizações ao redor do globo apontam para a necessidade de revermos o que se ensina e se aprende nas escolas.

Como consequência, diversos países promovem reformas curriculares com o intuito de aproximar a educação do seu projeto de nação, de maneira que crianças e jovens sejam preparados para se orientar e se realizar em um mundo em constante mudança, bem como contribuir para o alcance de objetivos nacionais e globais de médio e longo prazo.

No Brasil, essa oportunidade surge com a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com a Reforma do Ensino Médio, que reabrem a discussão sobre o que todos os estudantes brasileiros precisam aprender. O propósito, nesse caso, para além de resolver problemas recorrentes relacionados à equidade e qualidade da Educação Básica, também se constitui em oportunidade para oferecer aos alunos brasileiros as aprendizagens que eles precisam para enfrentar os desafios da vida contemporânea, muitos dos quais ainda nem conhecemos. 

 

Desafio profissional

As tecnologias modificam cotidianamente os fazeres e ambientes de trabalho, dos mais simples aos mais complexos. Tarefas repetitivas passam a ser realizadas por máquinas, enquanto os profissionais se diferenciam por suas habilidades humanas. Criam-se novas profissões, muitas se transformam e outras deixam de existir. Em grande medida, formamos estudantes para desempenhar funções que ainda nem existem.
Diante dessa nova realidade, cabe às escolas desenvolver a capacidade dos indivíduos de continuar aprendendo ao longo da vida, para que adquiram novos conhecimentos conforme se fizerem necessários. Para tanto, é importante motivar os alunos a valorizar e buscar o conhecimento de forma cada vez mais autônoma, acessando as mais diversas fontes, bem como selecionando, contextualizando e aplicando as informações que obtêm. Os estudantes também precisam ser estimulados a pensar sobre a sua própria aprendizagem, para serem capazes de identificar o que precisam aprender e como aprendem melhor.
O domínio das tecnologias é outro requisito indispensável para que os alunos estejam preparados para um mundo do trabalho cada vez mais automatizado. Ainda que o seu diferencial seja justamente realizar o que não pode ser delegado às máquinas, o profissional do futuro precisa saber utilizá-las com inteligência e habilidade. O não desenvolvimento dessa competência desde a idade escolar compromete significativamente as chances dos indivíduos de se inserirem e progredirem profissionalmente. Portanto, torna-se vital assegurar que todas as escolas ofereçam essa oportunidade aos seus alunos. 
A rápida obsolescência de conhecimentos técnicos demanda ainda que os currículos das instituições de ensino contemplem competências mais transversais, que os apoiem a desempenhar qualquer profissão contemporânea, mesmo as que ainda não foram inventadas. Atributos como flexibilidade, criatividade, trabalho em equipe, resolução de problemas, inovação e empreendedorismo estão entre elas. Uma vez imbuídos dessas capacidades, as novas gerações terão mais facilidade de se adaptar às mudanças e de se inserir com mais dignidade, qualidade e sustentabilidade em um mundo do trabalho em constante mutação.
 
“O domínio das tecnologias é outro requisito indispensável para que os alunos estejam preparados para um mundo do trabalho cada vez mais automatizado.”
 

Realização pessoal  

Vivemos em um contexto de permanente instabilidade, marcado por ambiguidades e imprevisibilidade. A ausência de respostas únicas e a dificuldade de prevermos o que nos acontecerá potencializa o surgimento de tensões emocionais, que afetam crianças, adolescentes e jovens de forma cada vez mais precoce e aguda. Proliferam-se os casos de hiperatividade, apatia, agressividade, depressão, automutilação e suicídio.

Algumas dessas questões requerem tratamento psicológico ou psiquiátrico. No entanto, a escola que se propõe a preparar os estudantes para a vida também tem o papel fundamental de ensiná-los a lidar melhor com suas emoções e relações. Para tanto, os currículos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, precisam desenvolver a capacidade dos alunos de conhecer, apreciar e cuidar de si mesmos, bem como de reconhecer, expressar e lidar com seus sentimentos. A proposta é oferecer aprendizagens que os ajudem a superar dificuldades e realizar toda a sua potência, respeitando e acolhendo a sua essência. 

Especialmente em relação aos adolescentes e jovens, é imprescindível que as escolas os estimulem a ter aspirações e a identificar caminhos e metas para alcançar os seus projetos de vida, seja por esforço próprio, seja lutando por seus direitos. As práticas pedagógicas e o ambiente escolar também precisam favorecer o desenvolvimento de competências como determinação – para que perseverem e vençam obstáculos; resiliência – para que saibam lidar com frustrações, insucessos e adversidades sem desistir do seu intento; e autoconfiança – para que acreditem em sua própria capacidade de aprender, progredir e realizar os seus sonhos.

Os avanços na ciência e medicina impactam na longevidade e aprofundam as discussões sobre qualidade de vida, estimulando a mudança de hábitos pessoais. O cuidado consigo mesmo, portanto, também passa pela capacidade dos estudantes de promoverem a sua própria saúde e bem-estar. Cresce a importância dos currículos incluírem aprendizagens que levem ao desenvolvimento físico, à incorporação de atitudes saudáveis e à prevenção de situações de risco. A expectativa é garantir que corpo e mente saudáveis contribuam para que as novas gerações tenham perspectiva, garra e vitalidade para superar as turbulências que encontrarão pela frente. 

 

Choque cultural  

O mundo será cada vez mais urbano e grande parte da população continuará se movendo em direção às grandes metrópoles. Paralelamente, processos migratórios em todo globo já estão mudando a face dos países. Assim como as seleções europeias que disputaram a última Copa do Mundo, nações, comunidades, empresas e até mesmo escolas serão cada vez mais multiculturais. Porém, ao contrário do que acontece no futebol, fora de campo, o aumento da diversidade tende a ampliar os níveis de estranhamento, intolerância e xenofobia. 

Conquistas civis e sociais também continuarão provocando transformações profundas na mentalidade e no comportamento de indivíduos e sociedades, muitas vezes se contrapondo a valores e tradições há muito estabelecidos. Mudanças de percepção e legislação em relação ao papel da mulher, identidade de gênero e orientação sexual, novos arranjos familiares, inclusão de minorias étnicas e raciais, legalização do aborto, descriminalização da maconha, entre tantas outras, seguirão desestabilizando o sistema de crenças e ameaçando os mais conservadores. Como consequência, prevê-se o acirramento dos preconceitos e da violência contra aqueles que, apesar de terem seus direitos garantidos por lei, ainda são percebidos como diferentes.

Vale lembrar que esses novos cenários modificam o próprio ambiente escolar, onde conflitos dessa natureza se intensificam. Diante dessa realidade, as instituições de ensino não têm como se eximir de abordar essas questões com seus alunos, muitos dos quais são vítimas cotidianas do preconceito e da exclusão. 

Faz-se necessário, portanto, educar as novas gerações para valorizar e conviver com a diversidade. Dessa forma, além de aprender a transitar por contextos culturalmente diversos com competência, respeito e apreciação, também se conscientizarão da importância de atuar como mediadores culturais, construindo pontes entre os diferentes e minimizando os impactos negativos gerados pelas mudanças em curso. 

 

Transformação social  

Ao contrário do que se imaginava, o aumento da riqueza produzida no mundo não foi capaz de acabar com a pobreza, nem reduzir as desigualdades. A bem da verdade, pesquisas demonstram que a distância entre ricos e pobres está aumentando, tanto em relação às pessoas, quanto aos países. Crescem também os níveis de violência que têm como origem as injustiças sociais. 

A reversão dessas tendências depende em grande medida da forma como educamos as nossas crianças e jovens. Currículos conectados com os principais desafios da humanidade se preocupam em desenvolver competências como empatia, diálogo e colaboração, imprescindíveis para que as novas gerações tenham uma atitude mais justa, inclusiva e solidária em relação aos demais.

Torna-se fundamental desenvolver nos estudantes a capacidade de pensar criticamente sobre as questões sociais locais e globais, perceber-se como agente de transformação e criar soluções para os desafios que se apresentam. A realização de pesquisas e projetos de intervenção sobre a realidade tem grande poder de sensibilizar, ampliar a compreensão e engajar os alunos em iniciativas voltadas a melhorar a vida de populações e comunidades vulneráveis, inclusive se fizerem parte delas. 

Importante ressaltar que se a educação não for capaz de fortalecer a coesão e a justiça social, colocaremos cada vez mais em risco a possibilidade de convivência entre os desiguais. 

 

Preservação ambiental  

O planeta também está se transformando de forma rápida e inequívoca, ainda que muitos tentem relativizar os efeitos das mudanças climáticas. O crescimento populacional e o impacto da vida humana na Terra exaurem recursos naturais, comprometem a qualidade de elementos vitais, como a água e o ar, e nos colocam o desafio de repensar a intensidade das nossas pegadas, sob pena de comprometermos a nossa própria existência.

Os prognósticos nessa área são críticos, mas não de todo irreversíveis. Ainda temos como utilizar a nossa inteligência e disposição para modificar a maneira como nos relacionamos com o meio ambiente. A mudança, no entanto, precisa começar desde cedo, para garantir a incorporação de atitudes e comportamentos mais sustentáveis.

A adoção de práticas associadas ao consumo consciente, à preservação de áreas ecológicas e à redução da emissão de poluentes, entre muitas outras, depende de uma mudança profunda de paradigma. E ainda que as legislações ambientais busquem regular esses processos, grande parte dessas decisões ainda acontecem no nível pessoal. 

Mais uma vez, as escolas têm papel preponderante na formação de crianças, adolescentes e jovens para que se conscientizem sobre o impacto de suas ações no planeta, adotem comportamentos ambientalmente responsáveis e sejam defensores e promotores da sustentabilidade. Cultivo de hortas escolares, campanhas de reciclagem de resíduos sólidos e visitas a parques e reservas continuam tendo valor. No entanto, é preciso ampliar a compreensão dos estudantes sobre grandes desafios ambientais, tanto os que fazem parte do nosso cotidiano – como o tempo debaixo do chuveiro -, quanto os dilemas de ordem global – como a escolha de nossas matrizes energéticas. 

 

Participação cidadã  

Em meio a todas essas mudanças, ampliam-se os questionamentos em relação aos sistemas vigentes, que se mostram incapazes de promover desenvolvimento econômico aliado a liberdades civis, direitos humanos, justiça social e preservação ambiental. Surgem novos arranjos, em geral acompanhados por divergências e polarizações, que se amplificam por meio de redes sociais. O cenário aprofunda o clima de instabilidade política e, ao mesmo tempo, potencializa a participação dos cidadãos na construção de novas alternativas.

Já no âmbito da ética, as ambiguidades se avolumam, colocando as normas vigentes em cheque e demandando mudanças importantes no campo da regulamentação. Novas legislações surgirão ou se modificarão para dar conta dos dilemas emergentes, muitos deles relacionados ao uso das tecnologias, especialmente as de informação e comunicação. 

Essas novas circunstâncias demandarão novos papéis e responsabilidades por parte da sociedade civil, cujas formas de participação na vida pública também vêm se modificando velozmente, levando à criação de novos formatos de organização, mobilização, controle social e envolvimento popular na solução de questões de interesse público. A demanda crescente para os próximos anos diz respeito à capacidade dos cidadãos de serem agentes do seu próprio destino e das transformações que aspiram para o seu entorno e para o mundo. 

Vale lembrar que grande parte desse empoderamento cívico e social tem seu início na escola, quando os estudantes dispõem de espaço para discutir e vivenciar a sua cidadania, aprendendo a tomar decisões éticas, a se envolver em processos democráticos e a se corresponsabilizar por desafios coletivos. 

Ainda nesse sentido, é fundamental que os currículos escolares desenvolvam a sua capacidade de compreender e refletir criticamente sobre os modelos políticos e econômicos vigentes, para que possam transitar por eles com propriedade e contribuir para a construção de propostas mais justas, inclusivas, democráticas e sustentáveis.

Em relação às tecnologias, os alunos precisam se conscientizar do impacto que geram na sociedade e aprender a utilizá-las de maneira ética e significativa, inclusive como instrumento de poder e participação. Além disso, devem se atentar para os riscos de manipulação e exposição, especialmente por parte das redes sociais.

Importante destacar que muitas das competências que passam a integrar os currículos escolares ao redor do mundo não são necessariamente novas, mas tornam-se cada vez mais indispensáveis apresentadas no século XXI. Mais relevante ainda constatar que redefinições em relação ao que os estudantes precisam aprender provocam mudanças diretas no como eles aprenderão. 

Assim sendo, as reformas curriculares devem vir acompanhadas de revisões igualmente profundas sobre práticas pedagógicas, materiais didáticos, ambientes escolares e sistemas de avaliação da aprendizagem. Foco no aluno, personalização, uso de tecnologias e metodologias ativas, aprendizagem mão na massa, mobilidade e flexibilidade de espaços dentro e fora da escola são algumas das tendências que dialogam com essa proposta. 

Uma vez que têm como foco a promoção do desenvolvimento dos estudantes em todas as suas dimensões (intelectual, social, emocional, física e cultural), os currículos contemporâneos também precisam ser compreendidos como um desafio que não se restringe às unidades escolares. Sua implementação demanda o esforço conjunto de diversos atores, incluindo-se as famílias, as comunidades do entorno, as áreas de saúde, cultura, esporte, tecnologia e desenvolvimento social, entre outras. 

Só assim conseguiremos preparar as novas gerações para se manter no rumo ao navegar por mares de imprevisibilidade e incertezas.

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A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
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A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Expedição 2030: o desafio certo de educar para um futuro incerto.

Para qual mundo estamos formando nossas crianças e adolescentes? Quais serão as habilidades e competências exigidas para uma vida bem-sucedida?

Adivinhos e futurólogos nunca tiveram tamanha dificuldade para prever ou compreender o que o destino nos reserva. Diante da velocidade e profundidade das transformações que marcam este início de século XXI, não há nada mais certo em relação ao futuro do que a sua própria incerteza.

As mudanças climáticas transformam o planeta. As novas tecnologias redefinem a vida humana. Os processos migratórios e as mudanças de comportamento provocam choques culturais. A busca de competitividade modifica as relações econômicas e gera novos contextos políticos e sociais. E todas essas movimentações juntas aprofundam os níveis de insegurança e ansiedade dos indivíduos, que têm dificuldade de caminhar por terreno tão movediço e ameaçador.

No mundo atual, poucas são as garantias e muitos os desafios que nos afetam individual, local e globalmente, demandando novas capacidades, soluções e regulações. Simultaneamente, crescem as dúvidas e expectativas em relação à educação e seu poder de não apenas preparar as novas gerações para enfrentar uma realidade futura bastante nebulosa, mas também de capacitá-las para reduzir os impactos negativos e ampliar os benefícios trazidos por todas essas mudanças.

Conhecimentos tradicionais continuam sendo importantes, mas não se mostram suficientes para assegurar que as pessoas se realizem no âmbito pessoal, social e profissional, muito menos para que interajam com as questões próprias da contemporaneidade e participem da construção de um mundo melhor para si e para os demais. Cientes desse desafio, especialistas e organizações ao redor do globo apontam para a necessidade de revermos o que se ensina e se aprende nas escolas.

Como consequência, diversos países promovem reformas curriculares com o intuito de aproximar a educação do seu projeto de nação, de maneira que crianças e jovens sejam preparados para se orientar e se realizar em um mundo em constante mudança, bem como contribuir para o alcance de objetivos nacionais e globais de médio e longo prazo.

No Brasil, essa oportunidade surge com a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com a Reforma do Ensino Médio, que reabrem a discussão sobre o que todos os estudantes brasileiros precisam aprender. O propósito, nesse caso, para além de resolver problemas recorrentes relacionados à equidade e qualidade da Educação Básica, também se constitui em oportunidade para oferecer aos alunos brasileiros as aprendizagens que eles precisam para enfrentar os desafios da vida contemporânea, muitos dos quais ainda nem conhecemos. 

 

Desafio profissional

As tecnologias modificam cotidianamente os fazeres e ambientes de trabalho, dos mais simples aos mais complexos. Tarefas repetitivas passam a ser realizadas por máquinas, enquanto os profissionais se diferenciam por suas habilidades humanas. Criam-se novas profissões, muitas se transformam e outras deixam de existir. Em grande medida, formamos estudantes para desempenhar funções que ainda nem existem.
Diante dessa nova realidade, cabe às escolas desenvolver a capacidade dos indivíduos de continuar aprendendo ao longo da vida, para que adquiram novos conhecimentos conforme se fizerem necessários. Para tanto, é importante motivar os alunos a valorizar e buscar o conhecimento de forma cada vez mais autônoma, acessando as mais diversas fontes, bem como selecionando, contextualizando e aplicando as informações que obtêm. Os estudantes também precisam ser estimulados a pensar sobre a sua própria aprendizagem, para serem capazes de identificar o que precisam aprender e como aprendem melhor.
O domínio das tecnologias é outro requisito indispensável para que os alunos estejam preparados para um mundo do trabalho cada vez mais automatizado. Ainda que o seu diferencial seja justamente realizar o que não pode ser delegado às máquinas, o profissional do futuro precisa saber utilizá-las com inteligência e habilidade. O não desenvolvimento dessa competência desde a idade escolar compromete significativamente as chances dos indivíduos de se inserirem e progredirem profissionalmente. Portanto, torna-se vital assegurar que todas as escolas ofereçam essa oportunidade aos seus alunos. 
A rápida obsolescência de conhecimentos técnicos demanda ainda que os currículos das instituições de ensino contemplem competências mais transversais, que os apoiem a desempenhar qualquer profissão contemporânea, mesmo as que ainda não foram inventadas. Atributos como flexibilidade, criatividade, trabalho em equipe, resolução de problemas, inovação e empreendedorismo estão entre elas. Uma vez imbuídos dessas capacidades, as novas gerações terão mais facilidade de se adaptar às mudanças e de se inserir com mais dignidade, qualidade e sustentabilidade em um mundo do trabalho em constante mutação.
 
“O domínio das tecnologias é outro requisito indispensável para que os alunos estejam preparados para um mundo do trabalho cada vez mais automatizado.”
 

Realização pessoal  

Vivemos em um contexto de permanente instabilidade, marcado por ambiguidades e imprevisibilidade. A ausência de respostas únicas e a dificuldade de prevermos o que nos acontecerá potencializa o surgimento de tensões emocionais, que afetam crianças, adolescentes e jovens de forma cada vez mais precoce e aguda. Proliferam-se os casos de hiperatividade, apatia, agressividade, depressão, automutilação e suicídio.

Algumas dessas questões requerem tratamento psicológico ou psiquiátrico. No entanto, a escola que se propõe a preparar os estudantes para a vida também tem o papel fundamental de ensiná-los a lidar melhor com suas emoções e relações. Para tanto, os currículos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, precisam desenvolver a capacidade dos alunos de conhecer, apreciar e cuidar de si mesmos, bem como de reconhecer, expressar e lidar com seus sentimentos. A proposta é oferecer aprendizagens que os ajudem a superar dificuldades e realizar toda a sua potência, respeitando e acolhendo a sua essência. 

Especialmente em relação aos adolescentes e jovens, é imprescindível que as escolas os estimulem a ter aspirações e a identificar caminhos e metas para alcançar os seus projetos de vida, seja por esforço próprio, seja lutando por seus direitos. As práticas pedagógicas e o ambiente escolar também precisam favorecer o desenvolvimento de competências como determinação – para que perseverem e vençam obstáculos; resiliência – para que saibam lidar com frustrações, insucessos e adversidades sem desistir do seu intento; e autoconfiança – para que acreditem em sua própria capacidade de aprender, progredir e realizar os seus sonhos.

Os avanços na ciência e medicina impactam na longevidade e aprofundam as discussões sobre qualidade de vida, estimulando a mudança de hábitos pessoais. O cuidado consigo mesmo, portanto, também passa pela capacidade dos estudantes de promoverem a sua própria saúde e bem-estar. Cresce a importância dos currículos incluírem aprendizagens que levem ao desenvolvimento físico, à incorporação de atitudes saudáveis e à prevenção de situações de risco. A expectativa é garantir que corpo e mente saudáveis contribuam para que as novas gerações tenham perspectiva, garra e vitalidade para superar as turbulências que encontrarão pela frente. 

 

Choque cultural  

O mundo será cada vez mais urbano e grande parte da população continuará se movendo em direção às grandes metrópoles. Paralelamente, processos migratórios em todo globo já estão mudando a face dos países. Assim como as seleções europeias que disputaram a última Copa do Mundo, nações, comunidades, empresas e até mesmo escolas serão cada vez mais multiculturais. Porém, ao contrário do que acontece no futebol, fora de campo, o aumento da diversidade tende a ampliar os níveis de estranhamento, intolerância e xenofobia. 

Conquistas civis e sociais também continuarão provocando transformações profundas na mentalidade e no comportamento de indivíduos e sociedades, muitas vezes se contrapondo a valores e tradições há muito estabelecidos. Mudanças de percepção e legislação em relação ao papel da mulher, identidade de gênero e orientação sexual, novos arranjos familiares, inclusão de minorias étnicas e raciais, legalização do aborto, descriminalização da maconha, entre tantas outras, seguirão desestabilizando o sistema de crenças e ameaçando os mais conservadores. Como consequência, prevê-se o acirramento dos preconceitos e da violência contra aqueles que, apesar de terem seus direitos garantidos por lei, ainda são percebidos como diferentes.

Vale lembrar que esses novos cenários modificam o próprio ambiente escolar, onde conflitos dessa natureza se intensificam. Diante dessa realidade, as instituições de ensino não têm como se eximir de abordar essas questões com seus alunos, muitos dos quais são vítimas cotidianas do preconceito e da exclusão. 

Faz-se necessário, portanto, educar as novas gerações para valorizar e conviver com a diversidade. Dessa forma, além de aprender a transitar por contextos culturalmente diversos com competência, respeito e apreciação, também se conscientizarão da importância de atuar como mediadores culturais, construindo pontes entre os diferentes e minimizando os impactos negativos gerados pelas mudanças em curso. 

 

Transformação social  

Ao contrário do que se imaginava, o aumento da riqueza produzida no mundo não foi capaz de acabar com a pobreza, nem reduzir as desigualdades. A bem da verdade, pesquisas demonstram que a distância entre ricos e pobres está aumentando, tanto em relação às pessoas, quanto aos países. Crescem também os níveis de violência que têm como origem as injustiças sociais. 

A reversão dessas tendências depende em grande medida da forma como educamos as nossas crianças e jovens. Currículos conectados com os principais desafios da humanidade se preocupam em desenvolver competências como empatia, diálogo e colaboração, imprescindíveis para que as novas gerações tenham uma atitude mais justa, inclusiva e solidária em relação aos demais.

Torna-se fundamental desenvolver nos estudantes a capacidade de pensar criticamente sobre as questões sociais locais e globais, perceber-se como agente de transformação e criar soluções para os desafios que se apresentam. A realização de pesquisas e projetos de intervenção sobre a realidade tem grande poder de sensibilizar, ampliar a compreensão e engajar os alunos em iniciativas voltadas a melhorar a vida de populações e comunidades vulneráveis, inclusive se fizerem parte delas. 

Importante ressaltar que se a educação não for capaz de fortalecer a coesão e a justiça social, colocaremos cada vez mais em risco a possibilidade de convivência entre os desiguais. 

 

Preservação ambiental  

O planeta também está se transformando de forma rápida e inequívoca, ainda que muitos tentem relativizar os efeitos das mudanças climáticas. O crescimento populacional e o impacto da vida humana na Terra exaurem recursos naturais, comprometem a qualidade de elementos vitais, como a água e o ar, e nos colocam o desafio de repensar a intensidade das nossas pegadas, sob pena de comprometermos a nossa própria existência.

Os prognósticos nessa área são críticos, mas não de todo irreversíveis. Ainda temos como utilizar a nossa inteligência e disposição para modificar a maneira como nos relacionamos com o meio ambiente. A mudança, no entanto, precisa começar desde cedo, para garantir a incorporação de atitudes e comportamentos mais sustentáveis.

A adoção de práticas associadas ao consumo consciente, à preservação de áreas ecológicas e à redução da emissão de poluentes, entre muitas outras, depende de uma mudança profunda de paradigma. E ainda que as legislações ambientais busquem regular esses processos, grande parte dessas decisões ainda acontecem no nível pessoal. 

Mais uma vez, as escolas têm papel preponderante na formação de crianças, adolescentes e jovens para que se conscientizem sobre o impacto de suas ações no planeta, adotem comportamentos ambientalmente responsáveis e sejam defensores e promotores da sustentabilidade. Cultivo de hortas escolares, campanhas de reciclagem de resíduos sólidos e visitas a parques e reservas continuam tendo valor. No entanto, é preciso ampliar a compreensão dos estudantes sobre grandes desafios ambientais, tanto os que fazem parte do nosso cotidiano – como o tempo debaixo do chuveiro -, quanto os dilemas de ordem global – como a escolha de nossas matrizes energéticas. 

 

Participação cidadã  

Em meio a todas essas mudanças, ampliam-se os questionamentos em relação aos sistemas vigentes, que se mostram incapazes de promover desenvolvimento econômico aliado a liberdades civis, direitos humanos, justiça social e preservação ambiental. Surgem novos arranjos, em geral acompanhados por divergências e polarizações, que se amplificam por meio de redes sociais. O cenário aprofunda o clima de instabilidade política e, ao mesmo tempo, potencializa a participação dos cidadãos na construção de novas alternativas.

Já no âmbito da ética, as ambiguidades se avolumam, colocando as normas vigentes em cheque e demandando mudanças importantes no campo da regulamentação. Novas legislações surgirão ou se modificarão para dar conta dos dilemas emergentes, muitos deles relacionados ao uso das tecnologias, especialmente as de informação e comunicação. 

Essas novas circunstâncias demandarão novos papéis e responsabilidades por parte da sociedade civil, cujas formas de participação na vida pública também vêm se modificando velozmente, levando à criação de novos formatos de organização, mobilização, controle social e envolvimento popular na solução de questões de interesse público. A demanda crescente para os próximos anos diz respeito à capacidade dos cidadãos de serem agentes do seu próprio destino e das transformações que aspiram para o seu entorno e para o mundo. 

Vale lembrar que grande parte desse empoderamento cívico e social tem seu início na escola, quando os estudantes dispõem de espaço para discutir e vivenciar a sua cidadania, aprendendo a tomar decisões éticas, a se envolver em processos democráticos e a se corresponsabilizar por desafios coletivos. 

Ainda nesse sentido, é fundamental que os currículos escolares desenvolvam a sua capacidade de compreender e refletir criticamente sobre os modelos políticos e econômicos vigentes, para que possam transitar por eles com propriedade e contribuir para a construção de propostas mais justas, inclusivas, democráticas e sustentáveis.

Em relação às tecnologias, os alunos precisam se conscientizar do impacto que geram na sociedade e aprender a utilizá-las de maneira ética e significativa, inclusive como instrumento de poder e participação. Além disso, devem se atentar para os riscos de manipulação e exposição, especialmente por parte das redes sociais.

Importante destacar que muitas das competências que passam a integrar os currículos escolares ao redor do mundo não são necessariamente novas, mas tornam-se cada vez mais indispensáveis apresentadas no século XXI. Mais relevante ainda constatar que redefinições em relação ao que os estudantes precisam aprender provocam mudanças diretas no como eles aprenderão. 

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Uma vez que têm como foco a promoção do desenvolvimento dos estudantes em todas as suas dimensões (intelectual, social, emocional, física e cultural), os currículos contemporâneos também precisam ser compreendidos como um desafio que não se restringe às unidades escolares. Sua implementação demanda o esforço conjunto de diversos atores, incluindo-se as famílias, as comunidades do entorno, as áreas de saúde, cultura, esporte, tecnologia e desenvolvimento social, entre outras. 

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Tecnologias Ativas

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Plataformas e tutoriais para quem está começando – ou não! 

 
 

EDUCAÇÃO NO SÉCULO 21

Como escolas e educadores no mundo todo estão repensando suas práticas, procurando inovar e aproximar suas salas de aula da sociedade contemporânea? Esta publicação discute a educação dentro do contexto brasileiro e traz iniciativas e projetos desenvolvidos no Brasil pelo Google for Education para inspirar as instituições de ensino que querem transformar suas práticas pedagógicas, a partir da formação de seus alunos e professores. SAIBA MAIS Livro digital gratuito disponível em http://mod.lk/smart

 HANGOUTS MEET 

 
A plataforma de compartilhamento do Google permite videochamadas com até 250 participantes e está com todos os recursos avançados disponíveis gratuitamente até 1o de julho de 2020. ACESSE EM http://mod.lk/faveduc
 

POPPLET 

 
 
A ideia é formar um mapa mental de determinado tema, sendo possível criar remota e coletivamente uma apresentação dinâmica sobre qualquer assunto. O aplicativo é também usado para construir “tempestade de ideias” em grupos. ACESSE EM https://popplet.com/
 

ONENOTE  

Ferramenta de produção e compartilhamento de conteúdos desenvolvida pela Microsoft, o OneNote permite criar lições interativas, com orientações em áudio e texto, e inserção de comentários do professor sobre as lições de casa. ACESSE EM http://mod.lk/favedc2

 

FLIPGRID 

Cada tema é tratado em uma “grade”, que serve como ponto de encontro da turma. Ali, o professor vai agregando reflexões, vídeos, palestras e textos, podendo interagir com os alunos, por áudio ou vídeos curtos. ACESSE EM https://flipgrid.com

 

WEBQUEST

 
Trata-se de uma metodologia de pesquisa que usa os próprios recursos da internet e que vem sendo usada por educadores há mais de uma década. Cria-se um roteiro de aprendizagem sobre determinado tema e os alunos aprendem enquanto o completam. Veja um exemplo a seguir com o tema Biodiversidade. ACESSE EM http://mod.lk/favbio

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ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

O termo Educação 4.0 invadiu as pautas educacionais. Mas como a sua escola pode adentrar as portas do futuro que já chegou?

Revolução industrial e tecnológica, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), linguagem computacional, robótica são termos ligados à Educação 4.0, que chegou para ficar! Antes de tudo, é importante entender que não existe um modelo pronto para aplicar e todos podem e devem contribuir, quebrando velhos paradigmas de uma educação descontextuali- zada, pautada em transmissão unilateral de conhecimento e ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem.

Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competência de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permeando todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos.

Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais essencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. 

O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, apenas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, 62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na educação, a formação dos professores é primordial. As políticas públicas devem dar suporte, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula.

Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se preparar para o futuro que já chegou. 

 

Por onde começar?

A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.

O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e com um processo de aprendizagem inovador. O movimento maker é a porta de entrada!

Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cultura de inovação, invenção, programação e colaboração, trabalhando com metodologias ativas, transformando ferramentas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e se tornam parte vital do processo de aprendizagem.

No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.

O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, por meio de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.

 

Aprendizagem na educação 4.0 

Estamos vivendo um período de transformações, em que se faz necessário uma mudança de concepção da escola e na forma como os alunos aprendem, que passa a seguir novas abordagens e a exigir um currículo que valorize a experimentação e a vivência.

Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar são ações do processo de cognição. Com a abertura do Ciberespaço, é uma tendência natural que o aluno tenha autonomia e busque conhecimento fora do ambiente escolar. O ensino híbrido permite trabalhar com modelos de rotações que mesclam di- versas estações de atividades, favorecendo a construção do conhecimento, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

As salas de aulas passam a ter novas configurações no aspecto físico, favo- recendo a colaboração e a interação entre os estudantes. Além disso, o de- senvolvimento de habilidades e competências que valorizam a pesquisa e a troca de experiências colaborativas será a base da cognição, tornando o processo significativo e envolvente para os alunos. 

Métodos de aprendizagem baseados em projetos “mão na massa”, como STEAM (Science, Technnology, Engi- neering, Arts e Mathematics) e Design Thinking, possibilitam reflexão, inter- disciplinaridade e motivação para pro- mover ações diferenciadas, convidando os alunos a explorar resoluções de problemas pensadas a partir de questões sociais, interesses próprios e realidade escolar, propondo novas soluções para investigar, descobrir, conectar, refletir, intervir, sensibilizar a partir dos resultados, testando possibilidades, dentro de um processo contínuo. 

Os estudantes passam a ser o centro do processo de aprendizagem, em que o erro terá um espaço fundamental na metodologia. Ao testar possibilidades, ele terá a oportunidade de analisar sua trajetória e intervir sobre ela, aprendendo de maneiras e formas diferentes, em processos que privilegiam a cognição e não o produto, desenvolvendo habilidades e competências:

 

Com a internet, cada dia mais acessível, móvel e presente no cotidiano, os estudantes têm acesso a múltiplos conhecimentos a um clique e buscam referências sobre tudo o que quiserem. Tais mudanças têm refletido na atuação das escolas, que passam a valorizar a criação de situações de pertencimento em que os alunos tenham voz e autonomia para participar ativamente da construção do aprendizado. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Habilidades do professor 

São inúmeros os benefícios de uma educação pautada no aprender fa- zendo. Esta permite a aplicação de um currículo mais interessante e in- terdisciplinar, a realização de atividades de investigação, o fazer com as mãos e o compartilhar, focando em um modelo de ensino que leve em consideração a evolução do conhecimento, com qualidade e equidade. 

O desafio é grande, devido à infraestrutura e à conectividade de muitas escolas, porém, como contraponto, vemos as narrativas digitais incorporadas à rotina escolar, em que educadores são e serão cada vez mais essenciais, sendo motivadores para o uso de novas possibilidades de atividades, projetos e interação na sala de aula, fomentando autonomia, criticidade e protagonismo.

O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno. 

A participação efetiva de todos os atores é fundamental para que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem que contribui diretamente para o desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno. O docente deve refletir sobre as diferentes práticas adotadas para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.

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ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

O termo Educação 4.0 invadiu as pautas educacionais. Mas como a sua escola pode adentrar as portas do futuro que já chegou?

Revolução industrial e tecnológica, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), linguagem computacional, robótica são termos ligados à Educação 4.0, que chegou para ficar! Antes de tudo, é importante entender que não existe um modelo pronto para aplicar e todos podem e devem contribuir, quebrando velhos paradigmas de uma educação descontextuali- zada, pautada em transmissão unilateral de conhecimento e ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem.

Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competência de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permeando todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos.

Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais essencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. 

O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, apenas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, 62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na educação, a formação dos professores é primordial. As políticas públicas devem dar suporte, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula.

Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se preparar para o futuro que já chegou. 

 

Por onde começar?

A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.

O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e com um processo de aprendizagem inovador. O movimento maker é a porta de entrada!

Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cultura de inovação, invenção, programação e colaboração, trabalhando com metodologias ativas, transformando ferramentas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e se tornam parte vital do processo de aprendizagem.

No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.

O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, por meio de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.

 

Aprendizagem na educação 4.0 

Estamos vivendo um período de transformações, em que se faz necessário uma mudança de concepção da escola e na forma como os alunos aprendem, que passa a seguir novas abordagens e a exigir um currículo que valorize a experimentação e a vivência.

Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar são ações do processo de cognição. Com a abertura do Ciberespaço, é uma tendência natural que o aluno tenha autonomia e busque conhecimento fora do ambiente escolar. O ensino híbrido permite trabalhar com modelos de rotações que mesclam di- versas estações de atividades, favorecendo a construção do conhecimento, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

As salas de aulas passam a ter novas configurações no aspecto físico, favo- recendo a colaboração e a interação entre os estudantes. Além disso, o de- senvolvimento de habilidades e competências que valorizam a pesquisa e a troca de experiências colaborativas será a base da cognição, tornando o processo significativo e envolvente para os alunos. 

Métodos de aprendizagem baseados em projetos “mão na massa”, como STEAM (Science, Technnology, Engi- neering, Arts e Mathematics) e Design Thinking, possibilitam reflexão, inter- disciplinaridade e motivação para pro- mover ações diferenciadas, convidando os alunos a explorar resoluções de problemas pensadas a partir de questões sociais, interesses próprios e realidade escolar, propondo novas soluções para investigar, descobrir, conectar, refletir, intervir, sensibilizar a partir dos resultados, testando possibilidades, dentro de um processo contínuo. 

Os estudantes passam a ser o centro do processo de aprendizagem, em que o erro terá um espaço fundamental na metodologia. Ao testar possibilidades, ele terá a oportunidade de analisar sua trajetória e intervir sobre ela, aprendendo de maneiras e formas diferentes, em processos que privilegiam a cognição e não o produto, desenvolvendo habilidades e competências:

 

Com a internet, cada dia mais acessível, móvel e presente no cotidiano, os estudantes têm acesso a múltiplos conhecimentos a um clique e buscam referências sobre tudo o que quiserem. Tais mudanças têm refletido na atuação das escolas, que passam a valorizar a criação de situações de pertencimento em que os alunos tenham voz e autonomia para participar ativamente da construção do aprendizado. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Habilidades do professor 

São inúmeros os benefícios de uma educação pautada no aprender fa- zendo. Esta permite a aplicação de um currículo mais interessante e in- terdisciplinar, a realização de atividades de investigação, o fazer com as mãos e o compartilhar, focando em um modelo de ensino que leve em consideração a evolução do conhecimento, com qualidade e equidade. 

O desafio é grande, devido à infraestrutura e à conectividade de muitas escolas, porém, como contraponto, vemos as narrativas digitais incorporadas à rotina escolar, em que educadores são e serão cada vez mais essenciais, sendo motivadores para o uso de novas possibilidades de atividades, projetos e interação na sala de aula, fomentando autonomia, criticidade e protagonismo.

O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno. 

A participação efetiva de todos os atores é fundamental para que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem que contribui diretamente para o desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno. O docente deve refletir sobre as diferentes práticas adotadas para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.

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Especial Metodologias ativas | Aplicando estratégias na prática

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Como aplicar estratégias que tornem os alunos parceiros na construção de aulas mais atrativas? 

 
 
O professor tenta exaustivamente explicar o conteúdo seguidas vezes, muda o ponto de vista, muda o esquema exposto na lousa, exemplifica de duas, três, quatro formas diferentes. A cada pausa, chama a atenção de diferentes grupos de alunos, que insistem em não prestar atenção. Alguns conversam, alguns mexem nos seus celulares, outros fazem tarefa de outra disciplina, outros ainda simplesmente permanecem com o olhar vazio de quem faz força para manter os olhos abertos no início da manhã. Já transpirando e quase rouco de tanto aumentar o tom de voz, o professor chama a atenção de um aluno que ri alto, distraído com alguma piada contada no fundo da classe.
 
“– Fica de boa, profe. Depois eu vejo isso aí no YouTube.” A cena em questão é real e aconteceu comigo, mas com certeza se repetiu muitas vezes e ainda se repete em diversas salas de aula ao redor do mundo. No meu caso, foi um divisor de águas para minha prática docente. Depois de quase espumar de raiva diante da insolência, do desrespeito, parei e pensei: ele tem razão. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.
 
O professor e palestrante indiano Sugata Mitra, em sua apresentação na Campus Party de 2012, afirmou categoricamente que um professor que possa ser substituído por uma máquina deve ser substituído. E, tirando todo o mal-estar que essa declaração pode nos causar, fica muito mais fácil entender o ponto de vista do meu aluno quanto ao que eu estava fazendo naquele momento. O que a minha aula oferece que a faz ser melhor que as videoaulas superenvolventes ao alcance das mãos dos meus alunos? Meu aluno consegue controlar o professor do vídeo ao toque do seu dedo. Ele pausa, volta, explica de novo. O professor do vídeo não fica bravo se o aluno dorme no meio da explicação, nem se ele resolve trocar a aula por um joguinho para continuar depois, nem se ele não anota ou não faz o exercício. E o professor do vídeo não impede o aluno de comentar com os colegas o último episódio de Game of Thrones. Mas então, como competir com o professor do vídeo? A resposta é muito simples: oferecendo ao aluno uma experiência com a qual o professor do vídeo não consegue competir.
 

Inversão da sala de aula com um tempero a mais 

A ideia de inversão de sala de aula não é nada nova, mas ganhou fôlego novo com a nova geração de EduTubers. Toda aquela explicação maçante e que não depende de interação, exatamente aquela parte da aula que meu aluno preferiu assistir no YouTube, pode ser passada como lição de casa. E a lição de casa tradicional – os exercícios – nós trazemos para a sala de aula. Dificilmente você nunca ouvir falar disso, mas como tornar essa experiência verdadeiramente enriquecedora para os seus alunos? 

 

01 – A escolha do vídeo de preparo prévio 

#CAPACIDADEDEPESQUISA #RACIOCÍNIOCRÍTICO #CIDADANIADIGITAL

A internet tem muita informação, mas isso não significa que essa informação toda tem qualidade. A escritora Martha Gabriel compara a nossa prática de buscar respostas na internet com a prática dos gregos de buscar respostas em oráculos. A resposta pode até estar lá, mas quase nunca será direta, objetiva e perfeitamente confiável. O seu aluno vai buscar essas respostas com ou sem a sua ajuda. Então, o melhor que podemos fazer como educadores é ajudar nesse caminho.
 
A solução mais óbvia para o professor seria assumir a pesquisa e curadoria do material. O próprio YouTube nos ajuda nesse sentido com o YouTube EDU (youtube.com/edu), que é um portal que reúne conteúdo de uma infinidade de criadores e que passam por uma curadoria refinada de acadêmicos das mais diversas áreas numa parceria do Google com a Fundação Lemann. Mas, se a ideia é justamente centrar o processo de aprendizado no nosso aluno, por que não permitir que ele se responsabilize por isso também?
 
E se, ao invés de investir meu tempo em pesquisar os melhores vídeos de um determinado conteúdo, eu dividisse os alunos em grupos e destinasse a cada um desses grupos a responsabilidade pelo material de referência para a turma? Eles podem fazer a pesquisa ou mesmo produzir os próprios vídeos. Pode aparecer algum vídeo ruim, com falhas conceituais? Pode, claro. Mas a principal característica de um professor disposto a inovar em suas práticas é a compreensão de que o erro não é algo a ser evitado, mas sim uma valiosa oportunidade de aprendizado. Discuta o erro, construa junto com seus alunos uma discussão a partir da qual todos entendam os princípios do conceito e quais as falhas identificadas no material.
 
Mas como verificar se os alunos se prepararam ou não? Podemos pedir resumos no caderno ou perguntar oralmente, mas tenha em mente que a melhor estratégia será sempre reforçar positivamente os estudantes que se prepararam. Esse é um processo contínuo, ou seja, não vai acontecer do dia para a noite. Sempre que possível destaque os alunos preparados durante a aula para que os outros entendam que eles estão perdendo mais do que nota quando não se preparam.
 

Uma possibilidade interessante é apresentada pelas perguntas abertas no Google Classroom. Podemos criar uma pergunta em que os alunos enxergam as respostas uns dos outros e podem inclusive comentar o trabalho dos colegas. Lembre-se de que não precisa estar certo. Nessa fase do processo, muito mais desejado que um trabalho perfeito é um trabalho feito.

 

02 – Trabalho em pares 

#EMPATIA #FIXAÇÃODECONTEÚDOS  

A explicação foi transferida para a lição de casa. O aluno vai assistir a um vídeo e fazer um resumo ou responder uma pergunta. Em determinados pontos do seu planejamento, ele vai inclusive ser responsável pelo preparo prévio da turma inteira. Chegou a hora de pensar em como será a experiência na sala de aula. O que a sua sala de aula tem que o professor do YouTube não tem? O celular tem touch screen, mas a sala tem touch skin.

A sala tem outros estudantes ao vivo, tem contato, colaboração. E se o que seu aluno quer é interagir com os colegas, forneça para ele uma experiência que propicie essa interação de modo a construir conhecimento.

Um diagrama muito ilustrativo sobre a forma como retemos os conteúdos acadêmicos, embora falsamente atribuído a William Glasser, é a Pirâmide de Aprendizagem. Enquanto o topo da pirâmide nos aponta uma aprendizagem pífia, quando apenas lemos, a base nos apresenta um aprendizado muito mais amplo quando ensinamos aos outros. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Algo que eu aprendi na prática, muito antes de conhecer a Pirâmide de Aprendizagem, é que quando juntamos dois alunos com níveis muito diferentes de compreensão de um determinado assunto e um explica para o outro, quem mais ganha com a experiência é quem explica. O ato de refletir sobre o que se está aprendendo, estruturar as ideias e elaborar um jeito de passar para o colega faz com que o explicador adquira inevitavelmente uma compreensão superior do conceito em questão.

Quando o aluno assiste a uma palestra dentro da sala de aula para tentar fazer os exercícios em casa, qualquer fragilidade na compreensão dos conceitos apresentados em sala se transformará numa barreira intransponível quando se encontrar sozinho diante desse desafio. Trazer para a sala esse momento e contar com a interação entre pares para o desenvolvimento da prática dos conceitos apresentados traz para perto do professor as dúvidas e humaniza o processo, algo que a princípio é uma ideia contraintuitiva quando falamos do uso de vídeos educacionais. 

03 – Avaliação compartilhada

#METACOGNIÇÃO #RESPONSABILIZAÇÃOCOLETIVAPELOPROCESSO 

Quando falamos de avaliação, pensamos quase que imediatamente em provas. Uma prova avalia de maneira questionável o conhecimento adquirido pelo aluno, normalmente ao final do um processo. E quanto à avaliação entre pares? E se os alunos pudessem também avaliar o seu trabalho ou mesmo a experiência como um todo? O consultor educacional Cadu Braga diz em suas palestras que temos todos os dias os melhores consultores educacionais disponíveis em nossas salas de aula, sentados à nossa frente. Então, não faz sentido que desperdicemos essa expertise ignorando o que ela pode nos oferecer.

No início do processo, podemos pedir para que os alunos, por exemplo, avaliem o quanto o material do preparo os ajudou a compreender o conceito apresentado. Mais tarde, nos exercícios em duplas ou grupos, podemos pedir que os alunos avaliem seus colegas. E, ao final, que autoavaliem seu envolvimento e seu domínio do conteúdo. Não faz sentido resumir essas perguntas apenas a notas e, se houver a oportunidade, cabe discutir com eles inclusive quais são as perguntas que definem melhor o que vocês querem saber. Ferramentas digitais como o Formulários Google ou o Survey Monkey podem ajudar, mas uma caixa de coleta de avaliações escritas em papel já resolve a questão. Qualquer que seja o suporte de sua avaliação, discutir os critérios e resultados são momentos cruciais, já que o motivo central de todo esse esforço está justamente em fazer com que o aluno reflita sobre a experiência de aprendizado oferecida e, ainda mais importante, o seu processo individual de aprendizado. 

 

Não planeje aulas 

Antes de começar a pensar nos conteúdos, nos vídeos ou nas tarefas, é preciso fazer uma reflexão profunda sobre nosso papel como professores. O que significa ser um bom professor? Assim como as comédias românticas, em geral, distorcem nossas expectativas sobre o que esperar de um relacionamento, as cenas de sala de aula do cinema nos fazem sonhar com alunos vidrados e admirados com nossos discursos eloquentes, sempre finalizados com salvas de palmas. Mas ser um bom professor é, acima de tudo, promover experiências de aprendizado eficazes para seus alunos. E, se é esse o objetivo, não faz sentido que nosso planejamento esteja focado nos conteúdos, nos exercícios que serão realizados ou na prova que os alunos terão de fazer no final do bimestre. Essas coisas todas são importantes, mas não são fins: são meios.
 
Precisamos fazer nosso planejamento do ponto de vista do aluno. Não dos conteúdos, mas da experiência que fornecemos. O que esse aluno fará no tempo que passará com você?
 

Esteja pronto para a resistência

Se você já iniciou suas incursões em meio à inovação no ensino, com certeza, já se deparou com resistências. Mas talvez a resistência mais doída para o professor é a dos alunos, e você tem que estar preparado para ela. O princípio mais básico das metodologias ativas é que os alunos devem estar fazendo algo, não apenas passivos diante de explicações e exemplificações. Mas trabalhar, de fato, dá trabalho. Ponha-se no lugar de seus alunos: você também reclamaria se de repente lhe fizessem trabalhar mais apenas confiando que isso é o melhor para você.
 

Compartilhe, compartilhe, compartilhe!  

Por fim, precisamos entender que acabou o tempo de trabalhar sozinho. Tente sempre que possível fazer com que o produto do seu trabalho e também o de seus alunos seja algo passível de ser compartilhado. Quando um aluno sabe que seu trabalho será compartilhado com o resto da sua turma ele quase que magicamente passa a se importar mais com o resultado. E, de forma semelhante, quando você compartilha seu trabalho com colegas, quase que magicamente sua coragem é multiplicada. 
 
Tiago Bevilaqua
É professor desde 2006 com experiências desde o Ensino Fundamental 2 até o pré-vestibular. É consultor em Tecnologia Educacional pela RedeXplica e possui certificação Google Certified Teacher e Google Innovator.
 
Para saber mais
  • Sugata Mitra na Campus Party 2012 youtu.be/BBzDOS5UrG0
  • Martha Gabriel com Marcelo Tas: A Era da Busca: oráculos digitais youtu.be/n150AZ0Jetg
  • Ted Talks – Let’s use video to reinvent education, Salman Khan youtu.be/nTFEUsudhfs
  • Formulários Google para professores goo.gl/dQwTKK
  • Compartilhamento de prática – Trabalho em grupo com moderação e avaliação compartilhada youtu.be/pv37LxRuzi4

Por – Tiago Bevilaqua

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