Ajudar as crianças a enfrentar e tolerar as frustrações

As crianças devem aprender que nem sempre conseguem o que desejam

Uma das habilidades mais importantes que se deve desenvolver logo na infância é a tolerância à frustração, de forma que a criança possa enfrentar os altos e baixos da vida de maneira saudável.

Os pais devem ser um modelo de conduta para os filhos, destacando o papel dos pensamentos e dos estilos de criação no desenvolvimento de uma alta tolerância à frustração.

As frustrações podem ser definidas como a “resposta natural, primária e afetiva diante da percepção de uma barreira”. Podemos dizer que nos frustramos quando consideramos que nossos objetivos ou metas não foram alcançados ou quando percebemos diferenças entre nossas expectativas e a realidade.

Isto é especialmente comum nas crianças, porque elas ainda não desenvolveram as capacidades neurológicas que permitem o controle dos impulsos e as aptidões cognitivas que favorecem o pensamento racional. Por isso querem “tudo agora”, e, quando não o conseguem, se frustram e se irritam.

As crianças esperam que tudo ocorra de maneira simples e como foi planejado. Assim, quando enfrentam frustrações, reagem de modo exacerbado, sem mecanismos eficazes para lidar com os problemas, por mais simples que sejam.

Na vida cotidiana, é comum enfrentarmos frustrações, e as pessoas com alta tolerância à frustração são capazes de manter a funcionalidade nas diferentes atividades que realizam, sem que esses fracassos as paralisem ou prejudiquem a longo prazo. Entretanto, quando temos pouca ou nenhuma tolerância à frustração é comum que se evidenciem reações somáticas e cognitivas negativas, que interferem na capacidade de resolver problemas e de se relacionar com os outros.

Agressividade, perfeccionismo, adiamento da tomada de decisão, ansiedade, problemas de conduta e controle de impulsos são alguns sintomas comuns da baixa tolerância à frustração. Daí a importância de desenvolver uma alta tolerância à frustração desde cedo, pois isso pode prevenir transtornos psicológicos e de conduta no futuro.

Como a tolerância à frustração é um fenômeno complexo, são muitos os fatores que intervêm em seu desenvolvimento. Entre eles:

  • • Temperamento. Predisposição para enfrentar e lidar melhor ou pior com as adversidades. Algumas pessoas são biologicamente mais vulneráveis à irritabilidade e à ansiedade, o que pode interferir na forma como enfrentam e lidam com adversidades.
  • • Condicionamento social. A tendência da sociedade atual é medir o valor das pessoas pelo desempenho e pela obtenção de conquistas, em vez de apreciar o esforço e a dignidade humana. Consequentemente, toda pequena frustração é vista como um “fracasso total” e, assim, “algo mau” e “grave” que deve ser evitado.
  • • Habilidades linguísticas para expressão emocional. A pobreza de vocabulário pode limitar a capacidade de expressar de maneira assertiva as emoções, desejos e descontentamentos, aumentando as dificuldades nas relações interpessoais e a capacidade para resolver problemas. Isto é especialmente relevante em certos ambientes socioculturais que restringem a expressão de emoções, por ser considerado algo impróprio ou sinal de fraqueza.
  • • Imitação de modelos de referência. Os estilos de criação em que os pais têm baixa tolerância à frustração favorece o aprendizado de condutas de enfrentamento pouco eficazes, por meio da imitação.

Alguns dos sinais que podem indicar que as crianças enfrentam mal a frustração são: evitar ou adiar tarefas complexas, fugir de responsabilidades, fazer birra ou ter ataques de raiva, justificar-se pelos erros cometidos, timidez, retraimento e fuga de situações de exposição social, impaciência e até agressão física, especialmente quando algo é percebido como “injusto”.

Entretanto, é alentador saber que a tolerância à frustração pode ser aprendida e treinada a partir do momento que a criança adquire vocabulário e é capaz de seguir ordens e instruções (por volta dos 3 anos é o momento ideal para iniciar o desenvolvimento da tolerância à frustração). Esse treino permitirá que, diante de situações adversas, ela conte com melhores estratégias de enfrentamento.

Um dos melhores treinos é a imitação, ou seja, os pais devem ser “um modelo de conduta” para os filhos, destacando o papel dos pensamentos e dos estilos de criação no desenvolvimento de uma alta tolerância à frustração.

Mudar a linguagem negativa e derrotista, e promover a superação. É comum que as pessoas com baixa tolerância à frustração tenham pensamentos do tipo: “não aguento que…, “é insuportável…”, “não vou conseguir” ou “é muito difícil… prefiro desistir” – mensagens que costumam fomentar condutas derrotistas e de negação.

Recomenda-se falar ou pensar de maneira mais positiva, com declarações como “posso aguentar ou suportar que… embora seja difícil e me incomode”. Pesquisas demonstram que as crianças mais propensas à frustração costumam vir de famílias que usam o mesmo esquema de pensamento. É importante modificar os próprios pensamentos em prol da saúde mental de pais e filhos porque, observando os pais, a criança aprende como lidar com as próprias frustrações e conflitos futuros.

Favorecer e elogiar as condutas de enfrentamento quando a criança tiver tentado, mesmo que não obtenha o sucesso pretendido na tarefa.

Evitar ser o “pai permissivo”. Os pais permissivos pensam que é melhor “ceder do que brigar” e que “todo tipo de castigo é ruim”. Como consequência, costumam ter problemas para estabelecer limites quando a situação requer firmeza e decisão. Esses pais têm um estilo de liderança pouco eficaz, com ausência de regras claras e consequências pouco eficazes diante de mau comportamento, deixando que as crianças decidam o que fazer. Podem ser não confrontadores por temerem perder o carinho dos filhos.

Pesquisas demonstram que as crianças que crescem em lares permissivos costumam ter problemas de comportamento no futuro, mais imaturidade, baixa responsabilidade sobre os seus atos e tendência ao descontrole emocional. De fato, para alcançar o bem-estar integral, as crianças requerem uma estrutura de limites e consequências bem estabelecida em caso de mau comportamento.

Evitar ser o “pai salvador”. Muitos pais superprotetores consideram que devem evitar todo tipo de desconfortos a seus filhos. Alguns exemplos: pais são que deixam que os filhos faltem à escola em dia de prova porque não estudaram o suficiente, ou até que mudem de colégio quando dizem que a professora “foi má” ou “tem implicância” com eles. Esses pais farão o que puderem para que seus filhos sejam bem-sucedidos, sem perceber que aprender autonomia e responsabilidade pelas próprias ações é um dos segredos do sucesso. Para o próprio bem-estar futuro da criança, é importante que, quando for apropriado e benéfico, se adie a gratificação e se promova pequenas frustrações. Além disso, convém evitar os sentimentos de culpa ou vergonha por não ser “o pai perfeito que resolve todos os problemas”. O importante é saber que não existem pais perfeitos, nem filhos perfeitos, e que a melhor forma de facilitar um bom desenvolvimento integral é aprender a controlar os próprios pensamentos e emoções, para ajudar a criança fazer o mesmo.

Ser um pai “amável, mas firme”. O estilo ideal de criação é aquele em que os educadores podem ser amáveis e carinhosos, sem perder firmeza. Isso requer saber dizer “não”, para que a criança aprenda que nem sempre terá tudo o que deseja de imediato, nem simplesmente porque o exija, feito que será de vital importância em sua vida adulta. Por exemplo, quando um pai “amável, mas firme” considera que o seu filho comeu chocolate suficiente, diz com voz firme e tranquila: “Você não vai mais comer chocolate. Pode te fazer mal e já comeu bastante.” Se o filho reagir com irritação ou mal-estar, continua: “Entendo que você tenha ficado chateado e se irrite” (validando a emoção negativa). Quando finalmente a criança se acalmar, a felicita por isso, mas sem abordá-la quando estiver e meio de sua birra. Deve-se explicar aos filhos que é obrigação dos pais cuidar deles e que isso, muitas vezes, requer dizer “não”, mesmo quando se irritam e não entendam o benefício da frustração.

Em síntese, algumas das estratégias para fomentar nas crianças o desenvolvimento de alta tolerância à frustração são:

  • Demonstrações de afeto, amabilidade e respeito.
  • Elogios pela boa conduta, especialmente quando implique enfrentamento de situações difíceis.
  • Estrutura de limites e regras claras em relação a bons e maus comportamentos.
  • Consequências bem estabelecidas (e cumpridas de forma consistente) quando as regras de bom comportamento não são respeitadas.
  • Ajuda na resolução de problemas, sem eliminar a responsabilidade e a autonomia da criança diante do desafio em questão.
  • Validação de suas emoções, mesmo quando forem negativas, indicando que é “normal” sentir um mal-estar quando as coisas não saem como foram planejadas.
  • Identificação dos pensamentos derrotistas, para trocá-los por outros de enfrentamento e tolerância à frustração (tanto nos pais como nos filhos).
  • Imitação de bons exemplos na família quanto à administração das frustrações.
  • Aceitação incondicional, apesar dos fracassos, para favorecer a autoconfiança e a responsabilidade diante dos erros e do mau comportamento. 

Clark, L.. SOS Ayuda para Padres. Bowling Green: SOS Programs and Parents Press (2003).

Knaus, W. J.. Frustration Tolerance Training for Children. In: Ellis, A., & Bernard, M.E. (editores): Rational Emotive Behavioral Approaches to Childhood Disorders. Theory, Practice and Research. New York: Springer (2006).

Vernon, A.. What Works When with Children and AdolescentsChampaign: Research Press (2002). 

Educação Financeira e Emocional: um encontro necessário

É essencial ensinar uma criança a planejar seus gastos, a ter metas financeiras, a economizar e a ficar longe de dívidas.

Associar o mundo emocional às atitudes práticas ao lidar com dinheiro previne inúmeros problemas financeiros no decorrer da vida.

Sentimentos como empolgação excessiva, ansiedade, preocupação e culpa acompanham e influenciam de maneira direta cada decisão ligada ao dinheiro.

Muitas escolas brasileiras já incluem a educação financeira em sua grade curricular e, felizmente, bons programas foram desenvolvidos para garantir que esse tema seja implementado de forma transversal e integrada às disciplinas tradicionais.

No entanto, é muito difícil encontrar uma visão sobre educação financeira que englobe os fatores psicológicos pessoais e familiares relacionados ao uso do dinheiro. Algumas iniciativas até unem o aprendizado das finanças a aspectos ligados a comportamento, impacto social e valores humanos – isso é fundamental, mas ainda é limitada a consciência de que sentimentos como empolgação excessiva, ansiedade, preocupação e culpa acompanham e influenciam cada decisão ligada ao dinheiro.

Mais restrita ainda é a noção de que padrões familiares financeiros são transmitidos de geração em geração e, muitas vezes, impedem as pessoas de ter uma vida financeira saudável, independentemente do quanto aprendam sobre juros, aplicações, descontos e orçamentos.

Em geral, a visão sobre o dinheiro é muito racional, e o impacto das emoções e dos fatores psicológicos na gestão financeira pessoal sempre foi negligenciado.

Uma educação financeira desconectada da compreensão emocional é, na maioria das vezes, pouco eficaz a longo prazo. Quantos adultos preparados tecnicamente para lidar com suas finanças se atrapalham e acabam gastando demais por excesso de empolgação? Ou ficam tão ansiosos com sua vida financeira que preferem nem pensar sobre o assunto e acabam se endividando? Ou, ainda, economizam em excesso por medo ou culpa e deixam de aproveitar a vida? Isso acontece porque as pessoas não entendem as emoções que emergem ao lidar com o próprio dinheiro. Como consequência, tomam decisões equivocadas baseadas em fatores psicológicos que desconhecem.

Ensinar uma criança a planejar seus gastos, a ter metas financeiras, a economizar e a ficar longe de dívidas é essencial. Também é importante conscientizá-la sobre o impacto de seu comportamento financeiro na sociedade e sobre a importância de assuntos como economia circular, consumo consciente e ética nas finanças. Entretanto, uma vida financeira saudável na fase adulta é, em grande parte, resultado de muitas experiências vividas na infância. Você sabe como isso se dá? Por meio da cultura familiar em relação ao dinheiro e, sobretudo, dos padrões de comportamentos da família. Perguntas do tipo “Como seus pais lidam com dinheiro?”, “Qual o significado do dinheiro em sua família?” e “Como foi a história financeira das gerações passadas?” também devem acompanhar os conteúdos técnicos de educação financeira.

O comportamento dos pais é aprendido pela criança sem que ela perceba. Pais que gastam demais, que controlam demais o dinheiro, que ficam deprimidos quando gastam ou que não se preocupam com dívidas passam para a criança mensagens éticas e psicológicas silenciosas que afetam seu desenvolvimento.

O encontro da educação financeira com a emocional permite desenvolver a capacidade de tomar decisões baseadas no autoconhecimento e na história de vida familiar de cada um. Isso facilitará a construção de uma estratégia financeira de longo prazo que inclua momentos vulneráveis, como envelhecimento e adoecimento dos pais, perda de emprego, morte de um provedor e aposentadoria.

Associar o mundo emocional às atitudes práticas ao lidar com dinheiro previne inúmeros problemas financeiros no decorrer da vida. Além disso, reconhecer os padrões de comportamento da família em relação ao assunto protege o indivíduo contra uma série de comportamentos de risco.

Os programas de educação financeira devem incluir reflexões, pesquisas pessoais e ações práticas que ajudem professores, alunos e pais a entender a importância dos aspectos emocionais na construção de uma vida financeira consistentemente saudável. Educação financeira e educação emocional devem andar de mãos dadas desde a infância. Aliar o ensino da gestão do dinheiro ao conhecimento e à gestão das emoções é urgente para desenvolver cidadãos mais generosos, com menos necessidade de ostentar e mais capazes de tomar decisões adequadas, sustentáveis e com impacto positivo para a sociedade.

Meu filho precisa comer de tudo?

Uma dieta saudável começa pelo consumo diário de verduras de cores diferentes.

Tão importante quanto consumir frutas e verduras diariamente é combiná-las por suas diferentes cores, pela variedade de nutrientes que aportam em cada refeição.

Diferentes frutas e verduras aportam diferentes nutrientes, de acordo com a sua cor.

O consumo diário de verduras de diferentes cores em quantidades suficientes reduz o risco de sofrer problemas cardiovasculares, diabetes e câncer, entre outras doenças.

Além disso, consumir alimentos frescos contribui para o desenvolvimento econômico de cada país ao potencializar a demanda por alimentos nacionais, favorecendo, inclusive, a geração de empregos.

Por isso, coloque cor na comida de sua família e ensine as crianças a valorizar essa variedade!

 As verduras fornecem minerais, vitaminas e fibra

O número de doenças crônicas como diabetes tipo 2, acidentes vasculares cerebrais, câncer e cardiopatias isquêmicas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Tais doenças foram a primeira causa de óbito no mundo – quase 16 milhões de mortes prematuras e evitáveis, pelo aporte de mineiras, vitaminas e fibras – e aumentou entre os jovens com menos de 20 anos de idade, o que representa um problema de saúde pública.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), consumir diariamente quatro porções de verduras de diferentes cores poderia salvar 1,7 milhões de vidas perdidas anualmente devido a doenças crônicas.

Desde a década de 1980, as pessoas que vivem em países desenvolvidos têm consumido cada vez mais alimentos com alto teor de calorias, açúcar, gorduras saturadas e gorduras trans, e são alvo de campanhas de marketing focadas no aumento do consumo desse tipo de alimentos.

Isso tem resultado na diminuição do consumo de verduras e no aumento do consumo de alimentos industrializados que prejudicam a saúde, em especial a das crianças, que começam a consumir alimentos pobres em nutrientes cada vez mais cedo.

O consumo de verduras beneficia também a economia dos países, pois evitam perdas de milhões de dólares relacionadas ao custo da incidência de doenças crônicas. Segundo Margaret Chan, ex-diretora geral da OMS, cada 10% do aumento da prevalência de doenças crônicas diminui o crescimento anual da economia em 0,5%.

Diferentes frutas e verduras aportam diferentes nutrientes, de acordo com a sua cor. Por essa razão, é indispensável o consumo diário de cinco cores nas refeições:

  • • Cor verde: fornece ferro, fósforo, fibras e magnésio. Este último nutriente beneficia os músculos – a deficiência de magnésio pode provocar cansaço e câimbras. O ferro fortalece o sangue e combate a anemia e desnutrição. O fósforo ajuda no fortalecimento dos ossos e dentes. E as fibras favorecem o bom funcionamento intestinal.
  • • Cor vermelha: diminui o risco de doenças cardiovasculares ou câncer graças ao licopeno e aos fitoquímicos que aumentam as defesas do organismo.
  • • Cor amarela ou laranja: evita doenças provocadas por germes, vírus e bactérias graças ao teor de vitamina C, que ajuda a reforçar o sistema imunológico. Os alimentos dessas cores também possuem antioxidantes que ajudam na resistência de ossos, dentes, melhoram a digestão e combatem a prisão de ventre. Também melhoram a saúde do coração e da pele.
  • • Cor branca: oferece cálcio e potássio, essenciais para a saúde dos ossos. Alimentos dessa cor previnem certos tipos de câncer, doenças digestivas e doenças do coração. Também equilibram as concentrações de colesterol e a pressão arterial, pelo aporte de fibras e fitoquímicos como a quercetina e a alicina.
  • • Cor roxa: apresenta ácido elágico, que retarda o envelhecimento e neutraliza substâncias cancerígenas.  

Dessa forma, tão importante quanto consumir frutas e verduras diariamente é combiná-las por suas diferentes cores, pela variedade de nutrientes que aportam em cada refeição. 

Socorro! Meu filho sofre de adolescência

É importante saber como administrar a adolescência para evitar disputas constantes

É importante entender essa fase da vida para administrar as novas emoções dos jovens e evitar disputas constantes.

Chegada a adolescência, as crianças enfrentam mudanças físicas, emocionais e sociais desconhecidas e inesperadas para elas.

Se de um mês para outro um adulto percebesse o corpo mudar, a voz se transformar e o ânimo passar de feliz a absolutamente irritado em instantes, certamente correria para pedir ajuda a um psicólogo. 

No entanto, todas essas características, aplicáveis a qualquer adolescente, se juntam com outro traço típico neles: falam pouco ou nada com seus pais ou outros adultos. Simplesmente “não tem nada a ver”. Nessa idade, seus confidentes são os amigos, que estão tão perdidos quanto eles, de modo que não podem ajudá-los muito. Muito menos recomendar, a não ser estejam muito mal, que consultem um psicólogo.

Assim, em uma fase de mudanças muito bruscas e decisivas, durante a qual é preciso demonstrar seu valor e sua recém adquirida independência e autonomia, o que os adolescentes fazem? O que for possível para conseguir mudanças rápidas que lhes permitam demonstrar, por um lado, que podem fazer tudo sozinhos, e, por outro, resolver os problemas rapidamente, sem muita análise:

  • Engordei? Paro de comer.
  • Não estou muito forte? Passo o dia fazendo musculação, andando de bicicleta e correndo.
  • Tenho espinhas? Acabo com elas no banho.

Essa maneira de agir não é considerada um problema até que, passado algum tempo, a crua realidade se revela: se paro de comer, perco as forças e passo o dia inteiro com fome; se me dedico à atividade física a ponto de não ter tempo para estudar, repito de ano; se cutuco as espinhas, fico com marcas e é pior etc.

É então que o adolescente pede ajuda, mas ela vem em forma de queixa e de irritação consigo mesmo – por não ter conseguido resolver o problema sozinho –, e com os pais – porque eles dizem justamente o que não querem ouvir.

Para completar, os pais aproveitam esse momento de poder para lembrar os filhos de que tinham razão e para criticar seu comportamento. Já é possível imaginar o capítulo seguinte da história: conflitos e brigas.

Como lidar com os filhos adolescentes?

É importante saber como administrar esses problemas para evitar disputas constantes. Vejamos como fazer isso com um exemplo concreto muito comum nessa fase:

Conflito: Minha filha não gosta muito da aparência da barriga e das pernas e reclama a respeito desde os 7 ou 8 anos. Não quer colocar biquíni e termina os dias triste, confessando que em um ou outro conflito o corpo dela era a questão. O mesmo acontece quando vai comprar roupa.

Situação habitual: Quase todas as meninas até os 11 ou 12 anos começam a mudar e precisam de tempo sozinhas. Distanciam-se das mães, lhes dão menos atenção e o critério e a opinião delas passam para segundo plano – ou até para o plano contrário.

O que quero como mãe ou pai? Quero que minha filha entenda e sinta que esse é o corpo que tem, que provavelmente será assim a vida toda, e que ficar irritada com ele não só é contraproducente para sua felicidade, mas também inútil. Como conseguir isso?

O foco deve mudar. É preciso tentar administrar essas emoções de insatisfação com a imagem pessoal (a principal, durante a adolescência) utilizando outra perspectiva:

  1. 1. Prever que, na adolescência, esse tipo de situação vai acontecer. Uma vez que a adolescente não ouvirá a mãe, esta precisa começar a agir antes.
  2. 2. Ouvir as preocupações da filha e tentar sentir empatia por ela. Não minimizar os sentimentos dela nem julgá-los – além de não ajudar, essa atitude a afastará.
  3. 3. Transmitir-lhe que se uma questão é importante para ela, também é para os pais. Juntos encontrarão as soluções.
  4. 4. Entender que é normal que a filha se irrite e se frustre. Não recriminá-la por se preocupar tanto com a autoimagem.
  5. 5. Experimentar quais opções ou soluções tranquilizam a filha ou a deixam menos insatisfeita.
  6. 6. Transmitir, aos poucos, que a ausência de insatisfação não é possível na vida. Dar exemplos de pessoas próximas de quem ela gosta e com quem tem boa relação a respeito de aceitação dos próprios “defeitos”. Por exemplo, a tia não gosta muito do próprio cabelo, mas encontrou um corte que a favorece etc.
  7. 7. Lembrar de reforçar e reconhecer com orgulho tudo que a filha fizer bem, pois essa é a melhor fonte de autoestima para os adolescentes.

Projeto de Vida para Adolescentes

Reflexões e ações rumo à vida adulta

Desenhar um projeto de vida na adolescência é importante, pois o jovem precisa vislumbrar sua vida adulta de forma independente quando está mais vulnerável a se envolver em situações de risco que podem comprometer todo seu futuro.

Projeto de Vida é um conjunto de reflexões e estratégias baseadas nos desejos, objetivos e expectativas de uma pessoa.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência é a fase entre 12 e 18 anos. Esse período marca um momento de amadurecimento cerebral, de intensidade nas relações humanas, de importantes descobertas e de novas oportunidades para a vida. Além disso, a adolescência é influenciada por valores e expectativas sociais e culturais que podem tanto pressionar negativamente o jovem quanto apoiá-lo rumo à vida adulta. Tendência à exploração, vontade de se arriscar e procura por novas relações e aventuras são características marcantes da transição entre a infância e a vida adulta.

Uma das funções mais importantes da adolescência é estabelecer a independência em relação à família para construir a própria identidade e as bases da vida futura. Por isso, oferecer ao adolescente um ambiente acolhedor de reflexão em casa e na escola é fundamental para seu desenvolvimento. Nesse contexto, construir com o jovem um projeto de vida o ajudará a definir caminhos saudáveis e alinhados com sua personalidade na jornada rumo à maturidade.

O que é um projeto de vida?

É um conjunto de reflexões e estratégias baseadas nos desejos, objetivos e expectativas de uma pessoa. O projeto de vida deve considerar não somente os aspectos individuais, mas também a cultura local onde a pessoa está inserida e o contexto mundial.

A adolescência é um período particularmente importante para a construção de um projeto de vida, pois o jovem precisa vislumbrar sua vida adulta de forma independente quando está mais vulnerável a envolver em situações de risco que podem comprometer todo seu futuro.

Objetivos de um projeto de vida

Os objetivos do projeto de vida estão ligados à reflexão sobre si mesmo, os outros e a sociedade para, a partir daí, desenhar estratégias de vida e de trabalho. O projeto de vida deve incentivar o autoconhecimento, a clareza sobre os próprios talentos, limitações e aspirações, e a melhora das relações humanas. Além disso, é fundamental, na adolescência, que o projeto de vida seja orientado tanto pelos pais quanto pela escola com o intuito de conectar o cotidiano escolar à vida e às transformações mundiais. Dessa forma, será mais fácil para o jovem fazer escolhas profissionais e pessoais adequadas e lidar com as perdas que fazer opções necessariamente impõe.

Quais habilidades devem ser desenvolvidas através do projeto de vida?

A construção de um projeto de vida é uma excelente oportunidade para o adolescente desenvolver técnicas de autoconhecimento e reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo. É uma ferramenta muito útil para a construção da identidade em um momento de separação dos modelos parentais.

Além disso, enquanto o adolescente passa pelo processo de reflexão e ação ligados ao projeto de vida, exige-se que desenvolva a capacidade de gerenciar seu tempo, planejar, pensar de forma crítica, gerir suas emoções, tomar decisões adequadas e resolver problemas e desafios.

Outro ponto importante é o estabelecimento de maior autonomia e senso de responsabilidade em relação às próprias atitudes e decisões, o que, consequentemente, promove um empoderamento importante que consolida uma autoestima saudável do jovem. O foco central de um projeto de vida deve ser tanto a vida presente quanto o futuro.

Como fazer?

O projeto de vida pode ser construído de várias formas, dependendo da cultura escolar e familiar e da personalidade do jovem. Alguns pontos devem ser considerados na elaboração de um formato de projeto de vida:

  • Criar um ambiente acolhedor e sem julgamentos. O adolescente deve se sentir à vontade para se abrir e pensar com o adulto. Por exemplo, na escola ele pode escolher um professor-mentor com o qual se identifique para ajudá-lo no processo.
  • Participar de projetos interdisciplinares com temas geradores ligados a autoconhecimento, estratégias de vida, possibilidades profissionais, impacto social e propósito de vida. De forma personalizada, o jovem pode “aprender e refletir fazendo” e se lançando em desafios que testarão suas competências.
  • Explorar ferramentas de autoconhecimento que façam sentido para ele. Meditação, psicoterapia e aplicativos focados em bem-estar podem constituir um bom tripé de desenvolvimento emocional.
  • Visitar e entrevistar pessoas que inspirem o adolescente pessoal e profissionalmente.
  • Utilizar tecnologias que favoreçam a gestão do tempo, a organização e a gestão de projetos pessoais e escolares.
  • Criar maneiras de ajudar o adolescente a mapear e identificar situações de perigo em potencial: brigas, dependências variadas, promiscuidade sexual e comportamentos de risco em geral. A capacidade de reconhecer e antecipar situações arriscadas pode proteger o jovem por toda a vida.
  • Identificar maneiras de continuar brincando. O brincar tem uma continuidade que começa na infância, passa pela adolescência e permanece na vida adulta. Estabelecer a relação do que era prazeroso na infância e o que proporciona prazer hoje é uma ferramenta de autoconhecimento e identificação de propósito de vida.

Desafios

Construir um bom projeto de vida na adolescência apresenta alguns desafios. É característica do jovem criar muitas expectativas que, em algum momento, serão confrontadas. Auxiliar nesse processo de frustração e choque de realidade é papel essencial de pais e educadores. Como a adolescência é um período delicado, é fundamental que os adultos consigam enxergar essa fase de maneira positiva e não com preconceitos já estabelecidos.

Considerar o adolescente como “aborrecente” nos impede de ver o indivíduo de forma ampla e repleta de oportunidades de desenvolvimento. Outro desafio essencial é conseguir manter a esperança na vida e no futuro. A esperança é um fator de proteção para o adolescente porque favorece a determinação e a resiliência para enfrentar os desafios da jornada rumo à maturidade.

Os perigos do consumo excessivo de açúcar

Conheça as causas e as consequências do aumento da ingestão de açúcar na infância.

O açúcar é prejudicial para a saúde, especialmente nas crianças em fase de crescimento e desenvolvimento. O consumo em excesso desse alimento na infância pode levar à obesidade e a doenças graves acarretadas por ela, como colesterol alto e diabetes.

Segundo pesquisas sobre a alimentação de crianças e adolescentes, os jovens brasileiros consomem o dobro da quantidade diária recomendada de açúcar.

Existe um consenso entre médicos e nutricionistas de que o açúcar não deva ser oferecido para crianças nos dois primeiros anos de vida. Depois disso, segundo a Organização Mundial de Saúde, o consumo diário não deve exceder 25 gramas até os 10 anos (seis colheres de chá) e 50 gramas na alimentação do adulto (12 colheres de chá).

Essa recomendação diária considera a ingestão total de açúcar independentemente da fonte: entra na conta o usado para adoçar o leite e outras bebidas, aquele encontrado na lista de ingredientes dos alimentos processados e o que usamos nas receitas caseiras de bolos e sobremesas.

É fácil ultrapassar o consumo recomendado se considerarmos todas as possibilidades de uso desse ingrediente. Um simples copo de refrigerante ou suco contém praticamente o limite total diário de açúcar recomendado para crianças.

O consumo de açúcar tem sido cada vez maior na infância

As crianças têm substituído o leite por suco e refrigerante cada vez mais cedo. Os sucos representam praticamente metade das bebidas consumidas por crianças brasileiras de 3 a 6 anos e chega a cerca de 70% das bebidas ingeridas na faixa etária entre 11 e 17 anos.

A consequência da troca do leite e derivados por sucos é o consumo excessivo de açúcar em idade precoce, além da deficiência de cálcio já constatada na alimentação das crianças.

As crianças brasileiras consomem o dobro da quantidade recomendada

No Brasil, pesquisas sobre a alimentação atual de crianças e adolescentes mostram que eles consomem o dobro da quantidade recomendada de açúcar. O que chama mais a atenção é que o limite é excedido apenas com o consumo de bebidas, sem se considerar o açúcar proveniente de alimentos sólidos.

Isto pode ajudar a explicar as taxas de sobrepeso e obesidade infantil que atingem aproximadamente 30% das crianças brasileiras, já que o corpo transforma o excesso de açúcar ingerido em gordura.

Por outro lado, a gordura excedente, além de ser depositada, circula em maior quantidade no sangue na forma de colesterol e triglicérides, podendo levar a problemas de saúde na infância que costumavam aparecer apenas em adultos, como hipertensão arterial e diabetes.

O açúcar não aporta nutrientes para a saúde

O nosso organismo não precisa de açúcar, pois os carboidratos que comemos passam por um processo de transformação até se tornarem glicose, que é utilizada como fonte de energia.

O açúcar de adição constitui, então, uma fonte extra desnecessária para a nossa saúde. Isso vale para qualquer forma de açúcar: refinado, mascavo, cristal, mel ou xarope de glicose.

Ainda que alguns tipos de açúcar possam oferecer quantidades mínimas de determinados nutrientes, seria necessário ingerir grandes quantidades para suprir a necessidade diária de qualquer um deles, por causa da baixa concentração. Assim, o açúcar, refinado ou mascavo, não deve ser considerado fonte significativa de nutrientes.

Mais açúcar e menos atividade física: uma combinação perigosa

Os perigos do consumo excessivo desse ingrediente podem ser amenizados pela prática de atividade física, já que, durante o exercício, o açúcar é o principal combustível utilizado pelos músculos.

Atualmente, temos a combinação de dois problemas: por um lado, nossas crianças aumentaram o consumo de açúcar; por outro, estão mais sedentárias, passando grande parte do tempo entretidas com atividades de baixo gasto energético como jogos eletrônicos, celulares e televisão.

Assim, entende-se mais facilmente por que a combinação de menos prática diária de exercício físico aliada ao consumo excessivo de açúcar em crianças e adolescentes ocupa papel de destaque entre as causas do aumento de sobrepeso e obesidade nessas faixas etárias.

O panorama atual de saúde das crianças mostra que estamos acionando mais precocemente o gatilho para o aparecimento de problemas de saúde que elevam o risco de doenças do coração, principal causa de morte no Brasil e no mundo. Elas são, em sua maioria, consequência de nosso estilo de vida, com destaque para maus hábitos alimentares e inatividade física ao longo de muitos anos. 

Alimentos que são um combustível para o cérebro

Nosso cérebro demanda muito quanto ao consumo de energia.

O cérebro usa quase exclusivamente a glicose como fonte de energia. Mas não vale qualquer glicose! Especialistas em nutrição descartam para os nossos filhos açúcar refinado e derivados, e aposta nas frutas, batatas, mandioca, arroz, trigo… 

A ingestão de certos alimentos tem grande influência na bioquímica do cérebro e na função dos neurônios.

A alimentação saudável contribui para uma vida mais feliz

As crianças que se alimentam de maneira saudável e equilibrada têm maior probabilidade de crescer fortes, ter mais energia e maior concentração, assim como menos risco de sofrer de infecções e doenças.

Os alimentos ajudam a desenvolver a estrutura pela qual se desenvolve a inteligência e a habilidade para aprender, se adaptar e ter uma vida feliz. Por isso, uma das tarefas mais importantes dos pais e mães é garantir uma nutrição que estimule a capacidade das crianças de aprender.

Que alimentos são bons para a mente?

Para começar, existem cinco alimentos fundamentais para o desenvolvimento cerebral: carboidratos de absorção lentaácidos graxos essenciais, fosfolipídios, aminoácidosvitaminas e minerais. Um consumo ótimo de cada um é essencial para maximizar o potencial de nossos filhos.

glicose é obtida principalmente por meio de carboidratos como pão, arroz, massas, biscoitos, leguminosas, frutas e verduras. É uma espécie de combustível que proporciona energia para o cérebro funcionar. Além disso, melhora o ânimo!

Outro grupo de nutrientes importantes é o das proteínas da carne, do peixe e do ovo. Seus aminoácidos intervêm na formação de neurotransmissores, que são mensageiros químicos entre os neurônios.

Os ácidos graxos essenciais são gorduras que o organismo não fabrica e que precisam ser obtidas por meio da alimentação. Eles ajudam a formar as células do organismo, a regular o sistema nervoso, a criar imunidade e a absorver nutrientes. São vitais para o cérebro e a visão. Os ômega-6 são encontrados em azeites vegetais, frutos secos, sementes e algumas verduras, e em pouca quantidade em alimentos de origem animal. Os ômega-3 estão presentes em sementes, frutos secos e peixes.

Igualmente importantes são as vitaminas do grupo B, que existem na carne, no ovo, no queijo, no frango e nas frutas e verduras. Elas também intervêm na formação de neurotransmissores.

Por último, destacam-se três minerais: o zinco, presente nas leguminosas, na carne e nos frutos secos, agiliza a comunicação dos neurônios entre si; o cálcio, presente no leite e seus derivados, assim como em vegetais de tom verde escuro, prepara as células do cérebro para a aprendizagem; e, por último, o fósforo, encontrado nos frutos secos e nos laticínios, aumenta a capacidade de memorização.

Quanto aos anti-nutrientes, é importante evitá-los. Estão presentes no açúcar refinado, nas gorduras saturadas, nos aditivos alimentares, nos minerais tóxicos e nos alérgenos alimentares.

Exemplo de menu saudável

Entre os 7 e os 12 anos, as crianças vivem um período de rápido crescimento, portanto precisam consumir alimentos com alta concentração de nutrientes.

É importante que consumam leite e derivados, carnes, leguminosas, ovos, frutas e verduras em quantidade suficiente para atender suas necessidades nutricionais.

Os alimentos devem ser distribuídos em cinco refeições diárias, de acordo com as porções recomendadas e em horários definidos (sem passar mais de quatro horas sem se alimentar), para atender à demanda por nutrientes e energia.

As crianças dessa idade não podem – nem devem – consumir grandes quantidades de uma só vez, porque seu estômago é pequeno em relação à quantidade diária de alimentos que precisam para crescer com saúde.

Recomenda-se a seguinte distribuição das refeições:

  • • Café da manhã: ao iniciar o dia é importante fornecer ao corpo energia suficiente para começar a jornada: ir à escola, estudar, brincar e aprender. Um bom café da manhã deve conter laticínios como queijo, iogurte ou leite, pão ou biscoitos integrais e frutas frescas.
  • • Lanche da manhã: é recomendável ingerir uma fruta e/ou iogurte, pão integral com queijo e frutos secos.
  • • Almoço: combinar verduras, carnes (de preferência sem gordura), leguminosas, cereais e tubérculos, entre outros.
  • • Lanche: à tarde, é bom comer uma fruta, um copo de leite, um iogurte ou pão integral com queijo.
  • • Jantar: deve ser mais leve que o almoço e completar o que faltou naquela refeição. Por exemplo, se no almoço a criança comeu massa, no jantar é recomendável que coma verduras.

Para evitar excessos, é indicado ensinar as crianças a não consumir outros alimentos entre essas cinco refeições. 

Por que as refeições intermediárias são tão importantes?

O hábito de fazer lanches saudáveis proporciona o bom funcionamento do organismo da infância à velhice.

Dificilmente conseguimos suprir nossas necessidades nutricionais diárias sem consumir lanches entre as refeições. As refeições intermediárias são fundamentais em qualquer faixa etária, e a ausência delas pode ter implicações futuras para a saúde. 

As refeições intermediárias são fundamentais em qualquer faixa etária, e a ausência delas pode ter implicações futuras para a saúde.

Os profissionais da área da saúde que trabalham com mudança de hábitos alimentares costumam avaliar os alimentos mais comumente consumidos pelos pacientes desde o café da manhã até a hora de dormir. Assim, eles conseguem perceber o que está sendo ingerido em excesso ou em baixas quantidades. Outro aspecto importante para a percepção da qualidade alimentar é o número de refeições realizadas durante o dia.

Com exceção dos finais de semana, dificilmente nossa rotina alimentar muda: quem normalmente toma café da manhã não consegue sair de casa sem essa refeição. Quem não está habituado a consumir o lanche da tarde não faz questão de comer nesse horário em nenhum dia da semana.

Diversos estudos afirmam que dificilmente conseguimos suprir nossas necessidades nutricionais diárias sem consumir lanches entre as refeições. As refeições intermediárias são fundamentais em qualquer faixa etária, e a ausência delas pode ter implicações futuras para a saúde.

Nos primeiros anos de vida, por exemplo, a necessidade do consumo de cálcio é alta e aumenta com o crescimento da criança até atingir a demanda máxima na adolescência, período do pico de desenvolvimento e mineralização óssea. 

Os riscos de saltar o café da manhã

Pesquisa envolvendo cerca de 75.000 adolescentes de diversos estados do Brasil (Projeto Erica – Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes) mostrou que mais de 90% não consomem a quantidade necessária de cálcio para a idade.

A deficiência desse nutriente tão importante para essa faixa etária pode ser explicada: apenas metade dos adolescentes toma o café da manhã, importante refeição para o consumo de leite e derivados. Além disso, as refeições intermediárias não recebem a mesma atenção e nem são valorizadas como o almoço e o jantar.

Geralmente, os lanches são realizados em frente à televisão, ao computador ou na rua, onde o adolescente prefere consumir sucos e refrigerantes. Os estudos têm mostrado que a substituição do leite por outras bebidas tem acontecido cada vez mais cedo – a partir dos 3 anos de idade. 

A qualidade da alimentação na infância influencia a saúde por toda a vida 

A consequência da deficiência de cálcio nas duas primeiras décadas de vida está relacionada com a saúde óssea na idade adulta e principalmente após os 50 anos de idade, fase em que a osteopenia e osteoporose começam a se manifestar. A osteopenia é a fase que antecede a osteoporose, doença esquelética caracterizada pela diminuição de massa óssea e perda de sustentabilidade do próprio corpo.

As refeições intermediárias também são importantes para o consumo de frutas, fontes de vários nutrientes como as vitaminas A e C, além de contribuírem para o aumento da ingestão de fibras que regularizam o trânsito gastrointestinal.

Além disso, fazer pequenos lanches entre as refeições contribui para o controle do apetite ao longo do dia e para a preservação da massa muscular, ambos importantes para a manutenção de peso saudável.

Vários estudos mostram que o organismo funciona melhor com pequenas refeições. Além disso, não conseguimos diminuir o volume das principais refeições se não comermos nada entre elas.

A ciência prova que a sobrecarga de calorias em uma única refeição aumenta muito as taxas de gordura no sangue; se esse padrão for mantido, as taxas de colesterol, triglicérides e açúcar – fatores de risco para as doenças cardiovasculares –podem subir a níveis acima do normal.

A hora do lanche é uma oportunidade para comer alimentos saudáveis 

É importante ressaltar que as refeições intermediárias devem ser encaradas como uma oportunidade de consumir alimentos saudáveis. Não adianta incluir alimentos ricos em açúcar como doces e bolos e não consumir frutas, leite e derivados nesses intervalos.

O consumo de um único alimento não acrescenta múltiplos nutrientes e não promove a saciedade. Dessa forma, comer bolachas e suco entre as refeições não pode ser considerada uma prática saudável como seria combinar as bolachas com fruta e leite.

Como pais e educadores, precisamos dar o exemplo e ensinar nossas crianças a valorizar as refeições intermediárias, combinando alimentos ricos em nutrientes e garantindo um ambiente adequado para a sua realização.

Erros comuns na alimentação dos adolescentes

A alimentação é o fator externo mais importante para o crescimento e o desenvolvimento.

A desnutrição e a anemia têm impacto direto no rendimento escolar e acadêmico. Na adolescência, as necessidades de energia e nutrientes são muito superiores às da infância e da vida adulta. Ajude o adolescente a manter uma alimentação adequada às necessidades específicas dessa etapa da vida. 

O tipo de alimentos que ingerimos tem impacto direto na produtividade. Combinar cereais e legumes na alimentação diária dos adolescentes pode contribuir para melhorar a concentração e rendimento escolar.

O café da manhã é essencial

A adolescência é uma fase da vida em que ocorrem grandes mudanças físicas, psicológicas e emocionais. Uma das principais é a aceleração do crescimento, que exige um aumento da quantidade de nutrientes que o corpo requer para funcionar adequadamente.

A alimentação é o fator externo mais importante no crescimento e desenvolvimento dos seres humanos, especialmente durante a infância e a adolescência. Os hábitos e o estilo de vida adquiridos durante os primeiros anos de vida influenciam as práticas alimentares na idade adulta. Portanto, é fundamental a formação de bons hábitos desde a infância, para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas relacionadas à alimentação.

Dois dos maiores problemas para o desenvolvimento cognitivo são a desnutrição e a anemia, que têm impacto direto no rendimento escolar, na capacidade de concentração, na atenção, na participação em sala de aula e, a longo prazo, na evasão escolar. Mais adiante, podem até ter efeitos no processo de inserção na vida profissional.

O café da manhã é um dos pilares da alimentação de qualidade. Diversos estudos identificam a forte influência dessa refeição no rendimento físico e intelectual dos adolescentes durante a primeira parte do dia.

Estudos sobre a alimentação na adolescência compilados pela professora espanhola Maria Carmen García-Morales demonstram que quanto melhor a qualidade do café da manhã, maior é a média das notas em disciplinas como matemática, física e química. Fazer essa refeição regularmente tem efeito demonstrado até na pontualidade: os jovens que têm o hábito são 30% mais pontuais do que os que saem de casa em jejum.

Outro aspecto determinante no rendimento escolar é o bom funcionamento do sistema nervoso. O cérebro, o órgão central, utiliza 80% da glicose que consumimos, e que podemos obter de cereais como milho, aveia ou trigo, e de leguminosas, como feijão, lentilha ou grão-de-bico. Esses últimos são também fontes de proteína de boa qualidade, necessária para o desenvolvimento e crescimento adequados na adolescência. Verduras e frutas são outros alimentos que fornecem a glicose e os carboidratos de que os jovens necessitam.

Recomendações para o bem-estar dos adolescentes

  • • Uma alternativa de café da manhã rápido antes de sair de casa é uma vitamina de leite desnatado batido com ½ xícara de aveia, ½ banana e 1 maçã ou outra fruta da estação.
  • • Se houver mais tempo, a refeição pode ser reforçada com cereais e grãos (pão integral ou multigrãos com requeijão, queijo tipo cottage ou creme de ricota), de onde obtemos proteína de qualidade parecida com a da carne. Se houver aceitação, completar com um suco verde (4 folhas de couve sem o talo batidas no liquidificador com 2 limões-taiti com casca, 1 maçã, 1 copo de água, gengibre fresco a gosto e mel para adoçar, se desejar; coar e servir com gelo).
  • • Outra alternativa é fazer 2 ovos mexidos com 2 fatias de queijo (branco ou prato) e servi-los com 2 torradas de pão integral e um suco de fruta feito na hora. Um tostex com 2 fatias de pão integral, 2 fatias de peito de peru e 1 colher (sopa) de requeijão também é uma ótima opção.
  • • Passar mais de quatro horas sem se alimentar reduz a capacidade de concentração e o estado de alerta dos adolescentes. Por isso, é necessário realizar um lanche leve na metade da manhã. Um mix de frutas secas ou uma fruta fresca são recomendados.

Transtornos alimentares: anorexia e bulimia

O estímulo à autoestima e aos hábitos saudáveis é a chave para evitar esses transtornos.

Os transtornos da conduta alimentar podem ser devastadores. E costumam aparecer muito cedo. Por isso, é importante que os pais saibam reconhecer os sintomas o quanto antes para poder abordar o problema o mais rápido possível.

Os TCA incluem um conjunto de alterações graves no consumo de alimentos. As mais observadas na adolescência são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

Essas alterações afetam principalmente as mulheres

Os transtornos da conduta alimentar são muito habituais em mulheres entre 13 e 20 anos, e seus efeitos podem ser devastadores. Por isso, é importante que os pais saibam reconhecer os sintomas o quanto antes para poder abordar o problema o mais rápido possível.

O que são?

Os transtornos da conduta alimentar (TCA) incluem um conjunto de alterações específicas e graves em relação ao consumo de alimentos. As mais observadas na adolescência são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.

Segundo dados para as populações ocidentais, esses transtornos afetam principalmente o sexo feminino, existindo uma prevalência de 1% para a anorexia nervosa e de 3,5% para a bulimia nervosa. Esses indicadores são baixos devido à falta de diagnóstico de muitos casos e à negação da existência do problema por parte das famílias.

Recentemente, foram identificados outros distúrbios, como o transtorno da compulsão alimentar periódica (ingestão descontrolada de grandes quantidades de comida, mas sem condutas compensatórias); a ortorexia nervosa (obsessão ou preocupação extrema com alimentação saudável); a vigorexia (obsessão por alcançar um corpo “perfeito”); e a alcoorexia (deixar de comer para compensar a ingesta calórica unicamente com bebidas alcoólicas).

Como identificar os TCA?

A anorexia nervosa implica uma rejeição ou temor a manter o peso acima do mínimo normal para a idade e o tamanho, emagrecimento marcante, amenorreia (ausência de pelo menos três ciclos menstruais) e distorção da imagem corporal. Afeta principalmente as meninas entre 13 e 17 anos.

Os sintomas de alerta são a hiperatividade física, a negação da fome, não comer na frente de outras pessoas, inconformidade com o próprio corpo, retração social e, em alguns casos, interesse obsessivo por atividades intelectuais. Podem existir ou não condutas purgativas, tais como indução de vômitos ou consumo de laxantes e diuréticos.

A bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão compulsiva de grandes quantidades de comida em um curto período de tempo. Isso provoca um sentimento de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio e a prática de conduta compensatória inadequada para evitar o ganho de peso, como vômitos provocados, abuso de laxantes e diuréticos, jejum e exercício excessivo.

Tanto a ingestão compulsiva como a conduta compensatória devem se repetir pelo menos duas vezes na semana durante três meses para serem diagnosticadas. O problema afeta especialmente mulheres entre 18 e 20 anos.

Quais são as causas?

As causas dos TCA são variadas, e ainda não foi possível identificar a origem exata dessas condutas. As teorias propostas incluem fatores culturais e ambientais, tais como a influência da moda, da publicidade e dos meios de comunicação; o papel social da mulher; a proliferação de produtos e serviços para emagrecer; a rejeição social à obesidade e ao sobrepeso; e a exibição do corpo – esses são alguns dos fenômenos aceitos socialmente que influenciam negativamente a percepção do corpo e dos ideais de beleza. Também pode-se incluir a pressão familiar, a dificuldade de comunicação e a pouca afetividade.

Por outro lado, estudos indicam que existem determinantes genéticos relacionados ao consumo de alimentos e à ação dos neurotransmissores nos circuitos cerebrais de gratificação. Como acontece em muitos casos, os fatores do ambiente são condicionantes na expressão ou não dos genes, o que aumenta a complexidade desses problemas.

Quais são as consequências?

As consequências podem se iniciar em pouco tempo e resultar em emagrecimento (no caso de anorexia), queda de cabelo e unhas quebradiças (por carência de nutrientes).

Alguns dos sintomas que exigem atenção médica são: desidratação, mal funcionamento do fígado ou dos rins, arritmias cardíacas, frequência cardíaca inferior a 45 pulsações por minuto, desmaios, vômitos graves com sangue, dilatação gástrica aguda, osteoporose, intolerância ao frio, prisão de ventre e diminuição de glóbulos brancos (que aumenta a probabilidade de contrair infecções).

Como é o tratamento?

Apesar desses transtornos se expressarem por meio de perturbações na alimentação, é importante ressaltar que o problema dos pacientes não é exclusivamente a comida. Assim, os tratamentos puramente nutricionais costumam fracassar.

O tratamento dos TCA deve envolver a participação de uma equipe interdisciplinar que inclua médico, psiquiatra, psicólogo e nutricionista, levando em conta as distintas dimensões da pessoa.

É de extrema importância o envolvimento familiar no processo, mediante o apoio e a contenção do paciente, assim como no reforço de sua autoestima. Tanto a família quanto os amigos próximos devem estar atentos aos sinais de alerta e consultar um especialista diante de qualquer dúvida, para poder oferecer cuidado precoce.

Devemos recordar que a comida não têm apenas função alimentar e nutricional, embora ambos aspectos sejam essenciais. Ela também cumpre um papel em torno da qual se organizam atividades sociais como reuniões, aniversários e festas. Também se relaciona a recordações de situações passadas, tanto positivas quanto negativas. Ambos aspectos devem ser lembrados no momento do tratamento e na forma de entender e ajudar o paciente, para evitar sua exclusão de atividades sociais.

Recuperar os valores e a rotina da família à mesa e compartilhar as refeições desde o planejamento e o preparo são ferramentas úteis tanto para evitar como para tratar esses transtornos.