A neurociência a favor da educação matemática

A neurociência a favor da educação matemática

Em meio aos incontáveis desafios enfrentados pelos educadores brasileiros, a educação está mudando e exige novas adequações. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta as aprendizagens que devem ser garantidas a todo estudante da Educação Básica, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. O documento tem o intuito de nortear o currículo das escolas públicas e privadas do Brasil e determina, para cada etapa escolar, conhecimentos essenciais, competências, habilidades e objetivos de aprendizagem. Em sua essência, a BNCC visa ao preparo e ao desenvolvimento dos estudantes para a vivência, a convivência e a participação plena na sociedade. Algumas competências gerais previstas pela BNCC abordam a relação dos alunos com o mundo do trabalho, a resolução de problemas e o uso de tecnologias como meio de resolvê-los. A Matemática ganha, então, espaço nas discussões e reflexões docentes, considerando-se sua relevância para o desenvolvimento dessas competências. Há um longo caminho para atingir o objetivo maior de formar cidadãos críticos, atuantes e colaborativos, capazes de enfrentar os desafios do século 21. Esse caminho requer a adequação dos currículos, a formação inicial e contínua dos professores, a adequação, elaboração e o desenvolvimento de materiais didáticos e a criação de soluções educacionais eficientes. Essas propostas já contam com estudos recentes da área da Neurociência, como os trabalhos desenvolvidos por Jo Boaler ou David Dockterman. A aplicação das ideias desenvolvidas nesses estudos pode representar o início do processo para minimizar as desigualdades na Educação Matemática, que levam a um baixo desempenho nos exames nacionais e internacionais. Alguns números da educação brasileira Há algum tempo, observamos o fraco desempenho dos estudantes brasileiros em avaliações de larga escala, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Os resultados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com base na última edição do Pisa, de 2015, mostram estagnação no desempenho em Leitura e Ciências e queda no desempenho em Matemática. Se compararmos nosso resultado com o dos países-membros da OCDE, percebemos o quanto estamos atrasados e o grande desafio que temos pela frente. Em Leitura, a média desses países foi de 493 pontos, enquanto a média do Brasil foi de 407 pontos. Em Ciências, obtivemos 401 pontos contra 493 dos outros países. Em Matemática, que teve a primeira queda desde 2003, os estudantes brasileiros obtiveram 377 pontos, um resultado bem abaixo dos 490 pontos obtidos pelos países-membros da OCDE. Dos 72 participantes avaliados, o Brasil ficou na 65ª posição. De acordo com a OCDE, o nível 2 de proficiência é considerado o mínimo adequado para a plena participação na vida social, econômica e civil. O cenário nacional é, portanto, trágico, já que 70,3% dos estudantes brasileiros estão abaixo desse indicador. Diante desses resultados, fica evidente a necessidade de investir em mudanças. Como educadores, é preciso refletir sobre o nosso papel docente e participar ativamente das discussões sobre a reforma do ensino brasileiro em todas as esferas, revendo a infraestrutura, a adequação do currículo à realidade e às necessidades dos alunos e a importância da formação profissional contínua. A matemática e a busca de novos caminhos Grande parte das escolas brasileiras ainda ensina matemática de forma segmentada e conteudista, carente de formação específica de professores e vulnerável à inconsistência do sistema educacional. Essa prática influencia diretamente os resultados abaixo da média nas avaliações de larga escala. Ao refletir sobre os resultados do Pisa, o físico e estatístico alemão Andreas Schleicher, coordenador desse sistema de avaliação, disse que “conteúdo em excesso é sinônimo de aprendizado superficial”. Ele analisou o currículo de Matemática de diferentes países e concluiu que o currículo brasileiro contém o triplo de conteúdo do currículo de Singapura, país que está no topo nos índices de desempenho. Schleicher falou sobre a importância de “ater-se aos conceitos essenciais e às ferramentas que permitem ao aluno raciocinar melhor”. Em Os sete saberes necessários à educação do futuro, o filósofo francês Edgar Morin afirma que “ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria delas contém erros e ilusões, mesmo quando pensamos há vinte anos atrás e constatamos como erramos e nos iludimos sobre o mundo e a realidade. E por que isso é tão importante? Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução”. Nesse sentido, o olhar crítico e reflexivo sobre as práticas didático-metodológicas brasileiras talvez seja uma estratégia mais adequada para nos manter abertos a outras linhas de pensamento e a abordagens capazes de enriquecer nosso repertório, ampliar nossa visão e possibilitar mudanças eficazes. Diversos caminhos podem ser trilhados para atender às necessidades da educação nos dias de hoje: Analisar sistemas educacionais de outros países ou provenientes de realidades e contextos diferentes promove reflexões e enriquece as discussões sobre nossa realidade. Conhecer instituições, pesquisas acadêmicas e educadores diversos para buscar modelos que possam ser usados ou adaptados para o nosso contexto.Investir em tecnologia (aprendizagem móvel, ensino adaptativo e big data) com o intuito de uma educação personalizada, que viabilize a coleta de informações de forma rápida e eficiente sobre o desempenho e a evolução desse aluno ao longo do aprendizado e em relação ao sistema educacional no qual está inserido. A neurociência a favor da educação matemática De Santiago Ramón y Cajal, considerado o fundador da Neurociência, até os dias de hoje, a neurociência avançou consideravelmente e adentra várias áreas; entre elas, a educação. O estudo sobre como funciona o cérebro nos momentos de aprendizagem pode contribuir para as práticas pedagógicas de maneira bastante assertiva. Mentalidades e cultura sobre o erro A Matemática habitualmente é vista como assustadora para crianças e adultos. É considerada difícil, complicada e desinteressante. É associada ao cálculo puro e simples, acreditando-se que, quanto mais exercícios forem resolvidos no menor tempo possível, mais eficiente será seu aprendizado. Esse pensamento a reduz a uma disciplina de desempenho, o que pode causar ansiedade nos estudantes e afastá-los ainda mais do interesse em conhecê-la. Carol Dweck, professora na Universidade de Stanford e autora do bestseller Mindset: a nova psicologia do sucesso, em que disserta a respeito de mindsets (“mentalidades”, em tradução literal), afirma que a maneira como as pessoas enxergam a própria relação com a aprendizagem pode influenciar diretamente a qualidade e o nível dessa aprendizagem. Dweck define como “de mentalidade fixa” as pessoas que acreditam na possibilidade de aprender, mas não são capazes de mudar o próprio nível de inteligência, limitando-se inconscientemente. Isso significa que, se uma pessoa acredita que não consegue aprender Matemática, por exemplo, ela terá dificuldades em seu processo de aprendizagem. Em contrapartida, há a “mentalidade de crescimento”, que se refere às pessoas que acreditam que, com trabalho árduo, a inteligência se transforma e elas podem atingir o mais alto grau de compreensão e domínio do conhecimento. Então, na mesma medida em que uma mentalidade pode prejudicar a aprendizagem, ela também pode potencializar. Sabemos que o erro faz parte do processo de aprendizagem. Mas a Neurociência trouxe à luz a relevância dos erros. Jason Moser, psicólogo da Universidade de Michigan, documentou em suas pesquisas o que acontece com o cérebro humano ao errar: sinapses! Quando uma pessoa erra, são disparadas sinapses, e seu cérebro reage mais intensamente do que quando ela acerta. Segundo Moser, as pessoas sequer precisam estar conscientes do erro, o que pode parecer confuso, mas faz sentido se pensarmos em como um erro genuíno acontece. Se um problema suficientemente complexo é apresentado a um aluno e ele não desiste, persiste, buscando a solução, mesmo ao errar, o cérebro está trabalhando. A sinapse é ainda mais intensa em pessoas com a mentalidade de crescimento. O efeito dessas reações é o “crescimento” do cérebro. É interessante perceber como alguns fatos e pesquisas convergem para bons resultados. Muitos países orientais apresentam bons desempenhos no Pisa. Dentre eles, podemos citar a China e o Japão. Segundo Jo Boaler, em seu livro O que a Matemática tem a ver com isso? Como professores e pais podem transformar a aprendizagem da Matemática e inspirar sucesso, nesses países, a cultura em relação aos erros é bem diferente da nossa. Enquanto no Ocidente (e no Brasil), o erro em Matemática pode ser interpretado negativamente, nas aulas que Boaler documentou, os erros são vistos como descobertas ou oportunidades. Em Xangai, os alunos ficaram animados em compartilhar as estratégias que não funcionavam, dividindo-as com toda a turma para que todos pudessem aprender. Esse fato também é documentado no artigo Matemática para todos, publicado pela revista Cálculo, em que se analisa a postura de professores em sala de aula no Japão, comparando-a com a postura de professores em salas de aula nos Estados Unidos. No Japão, o erro é visto como descoberta – uma maneira que não funciona para resolver um problema –, enquanto nos Estados Unidos, o erro é visto como um problema, algo a ser corrigido ou remediado. Ao levar em consideração essas e outras descobertas, podemos criar ferramentas e meios de intervenção no processo de ensino-aprendizagem. Um exemplo disso é a plataforma AXIOS, cujo foco é o diagnóstico dos erros mais cometidos por uma turma em determinado assunto. A plataforma trata os erros como estratégias equivocadas, justamente para que o peso de errar seja reduzido. A ideia é identificar essas estratégias, discuti-las com a turma, para então, retomar o assunto de outras maneiras, com foco no conceito no lugar dos algoritmos decorados. A “fotografia” da turma possibilita um processo de engenharia didática ao professor, por meio do qual poderá propor intervenções pedagógicas o mais rápido possível, evitando que uma estratégia equivocada ou a compreensão equivocada de um conceito perdure e siga adiante na formação escolar. As narrativas e a resolução de problemas como estratégias para engajar e motivar os alunos A falta de atenção e a desmotivação dos alunos são recorrentes nas salas de aula e afetam diretamente sua aprendizagem. É fundamental buscar estratégias e recursos para despertar o interesse pelos estudos e engajar a turma na rotina escolar. As narrativas são uma poderosa ferramenta para trabalhar a empatia e envolver os estudantes ao longo de seu aprendizado. Pesquisas recentes de David Dockterman, professor catedrático de Educação Matemática na Universidade de Harvard, mostram que as experiências e o conhecimento acumulados de cada pessoa influenciam seu compromisso com a busca de informação. Todos nós somos atraídos por descobrir, mas nem todos queremos descobrir as mesmas coisas. Segundo Dockterman, a narrativa e a busca de informação têm papel especial na maneira como nosso cérebro aprende e se relaciona com o mundo. As histórias, por exemplo, nos ajudam a recordar. Antes de criar a escrita, as pessoas usavam outras ferramentas para ajudá-las a recordar e transmitir regras sociais, hierarquias e rituais culturais. Os bons narradores aproveitam essas características cognitivas para captar nossa atenção, injetando incerteza no conhecido. Convidam-nos a conhecer mundos em que nosso cérebro opera próximo a uma zona de busca de informação. Sabemos o suficiente para tentar adivinhar o que acontecerá, como acontecerá e como uma pessoa poderá se sentir, mas sem termos certeza. “As narrativas mais poderosas também nos afetam emocionalmente. Não importam apenas nossas previsões, mas também os personagens. As histórias nos levam mais além de uma simples busca de informação: conectam e desenvolvem empatia e habilidade de ver o mundo através dos olhos de alguém. Os pesquisadores chamam esta habilidade de Teoria da Mente”, afirma David Dockterman no artigo Conectar as emoções para a aprendizagem matemática: o poder de uma boa história. A conexão emocional com os personagens pode influenciar o comportamento das pessoas. Dockterman complementa dizendo que “a mescla entre drama e personagens provoca uma mudança química em nosso cérebro. Os neurocientistas têm observado a ativação de áreas associadas com a Teoria da Mente e com a empatia durante a exposição a este tipo de narrativa”. Tradicionalmente, no ensino da Matemática, as respostas exatas são resultados importantes, principalmente no campo da Aritmética. Problemas como “qual é o resultado da operação 8 + 3?” são recorrentes, mas não captam o impulso motivador de busca da informação. Refletindo sobre isso, David Dockterman fala sobre a “incerteza de baixo risco”, que pode ser introduzida nas aulas e incentivar os alunos à reflexão. “Em vez de enfatizar o resultado, por exemplo, pode-se centrar a atenção no processo. De quantas formas distintas podemos obter 8 + 3? Duas? Três? Cinco? Pode-se contar 8 + 1 + 1 + 1. Ou podemos simplesmente recordar uma soma memorizada. Outra opção é decompor 3 em 2 + 1 e usar a estratégia de obter 10: (8 + 2) + 1”. Assim, a ação de averiguar é satisfatória e os alunos podem refletir sobre as possibilidades para a obtenção do resultado. Dockterman amplia a ideia para problemas mais complexos. “A incerteza também pode ser introduzida de maneira produtiva na definição de um problema. Há vários exemplos que apresentam tentativas de se obter as possibilidades de busca de informação dos estudantes desta maneira. Um método é apresentar uma situação sem uma pergunta. Sofia tem 50% mais seguidores em redes sociais que Hector. Hector tem 112 seguidores. Com isso se pode desafiar os estudantes com questões como: quantos problemas matemáticos podemos criar com essas informações? ou “o que será pedido para resolver com essa informação? Ambas as perguntas ativam o pensamento matemático e a curiosidade pela busca de informação”. Seguindo as linhas de pesquisa de Jo Boaler sobre o erro e as recentes publicações de David Dockterman sobre as narrativas e a resolução de problemas, a obra Compartilha Matemática, destinada aos Anos iniciais do Ensino Fundamental, foi estruturada e concebida para promover experiências de aprendizagem e para, através de histórias, conectar emocionalmente os estudantes com a Matemática. No material, destaca-se a resolução de problemas de forma que os alunos não se limitem à aplicação de conceitos e procedimentos. Propõe-se a criação de enunciados, identificação e representação de variáveis, identificação de perguntas importantes e outros elementos necessários para desenvolver o raciocínio e preparar os alunos para enfrentar situações do mundo real. Os estudantes criam argumentos, interagem com os colegas e mobilizam diferentes recursos cognitivos no processo de aprendizagem. É uma construção ambiciosa que reúne o ponto de vista da Educação Matemática e da Neurociência. O currículo foi organizado com base na estrutura em espiral de Bruner, na qual o aluno passa por um assunto em mais de um momento no processo de formação. Essas passagens têm diferentes graus de abstração, pois empregam um dos recursos do método Singapura – metodologia de Concreto-Pictórico-Abstrato (CPA). Os alunos, nos momentos adequados, devem lidar com os conceitos nesses três níveis de abstração em pontos diferentes da aprendizagem. Isso permite que o foco seja dado ao conceito, na medida em que se manipula o objeto de conhecimento. A mudança e a busca de melhores resultados Uma vez que os resultados em testes padronizados nos dão indícios de que mudanças nos processos de ensino e aprendizagem são necessárias, essas mudanças devem ser feitas de forma embasada e abranger todos os envolvidos: gestores públicos, gestores escolares, professores, pais e os próprios estudantes. Como pudemos ver nos trabalhos de Jo Boaler, Carol Dweck e David Dockterman, é preciso mais do que novos materiais didáticos ou plataformas educacionais, é imprescindível uma mudança de cultura dos envolvidos. Esperamos que a postura de reflexão contínua sobre o trabalho realizado, a busca de novos caminhos, embasados em pesquisas acadêmicas e a renovação dos materiais didáticos e de soluções educacionais possam contribuir para alcançarmos melhores resultados nas avaliações e para formar cidadãos capazes de enfrentar os desafios do século 21.

Quem é Jo Boaler?

Jo Boaler é professora de Educação Matemática na Universidade de Stanford (EUA) e cofundadora do YouCubed, site criado para oferecer a professores e pais recursos e ideias para que eles inspirem e incentivem os estudantes para conhecer a Matemática. Boaler é analista para testagem do Pisa na OCDE e autora do primeiro Curso On-line Aberto e Massivo (MOOC) de ensino e aprendizado de Matemática.

Para saber mais

YouCubed: www.youcubed.org/pt-br

Fabio Martins de Leonardo é licenciado em Matemática pela USP e editor executivo de Matemática na Moderna.

Romenig da Silva Ribeiro é mestre em Ciência da Computação pela USP e editor de Matemática na Moderna.

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Débora Garofalo - Colunista

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Resolução de problemas, sala de aula invertida e Design Thinking: como essas metodologias podem contribuir para que o processo de aprendizagem ocorra?

O que esses modelos possuem em comum é que tiram o aluno da passividade e o trazem para o centro do processo de aprendizagem para que exerça um papel ativo e protagonista na construção da sua aprendizagem.

 

As modalidades se diferem enquanto estrutura e abordagem, onde o ambiente propicia a colaboração e a participação estimulando a criatividade e a inventividade para resolver problemas reais, produzir conteúdo e/ou protótipos (no caso da Robótica), participar de um debate ou vencer as etapas de um jogo. Os alunos se envolvem com a construção das atividades, tornando-se pertencentes e aprendendo de forma significativa.

Ao trabalhar dessa forma, o professor forma habilidades de investigação, reflexão e autonomia na busca do conhecimento e na aptidão para resolução de problemas, além de exercitar as competências necessárias e descritas na Base Nacional Comum Curricular, conforme ilustração a seguir:

 
 

O que esses modelos possuem em comum é que tiram o aluno da passividade e o trazem para o centro do processo de aprendizagem para que exerça um papel ativo e protagonista na construção da sua aprendizagem.

 

A seguir faremos um breve panorama de cada metodologia, em que o professor poderá determinar a mais adequada a ser utilizada com os alunos.

aprendizagem baseada em problemas ou project based learning (PBL), tem como propósito fazer com que os estudantes aprendam através da resolução colaborativa de desafios. Ao explorar soluções dentro de um contexto específico de aprendizado, que pode utilizar a tecnologia e/ou outros recursos, essa metodologia incentiva a habilidade de investigar, refletir e criar diante de uma situação. O professor atua como mediador, provocando e instigando o aluno a buscar as resoluções por si só. Ele tem o papel de intermediar nos trabalhos e projetos e oferecer retorno para a reflexão sobre os caminhos tomados para a construção do conhecimento, estimulando a crítica e a reflexão dos jovens.

 

sala de aula invertida ou flipped classroom, tem como objetivo substituir a maioria das aulas expositivas por extensões da sala de aula em outros ambientes, como em casa ou no transporte.

Neste modelo, o estudante tem acesso ao conteúdo de forma antecipada, podendo ser online para otimização do tempo em sala de aula, fazendo com que tenha um conhecimento prévio sobre o conteúdo a ser estudado e interaja com os colegas na realização de projetos e resolução de problemas. Neste formato os estudantes participam ativamente da construção do seu aprendizado ao se beneficiarem com um melhor planejamento de aula e com a utilização de recursos variados, como vídeos, imagens, e textos em diversos formatos.

 

Design Thinking é uma abordagem usada em busca de solução de problemas. Na educação é conhecida como aprendizagem investigativa, que trabalha de forma colaborativa e desenvolve a empatia. Neste modelo, o estudante participa como formador de conhecimento e não como receptor de informação. Na prática, a abordagem é dividida em cinco etapas: descoberta, interpretação, ideação, experimentação e evolução.

 

As etapas de descoberta e interpretação devem ser construídas com desafios. A proposta é provocar e aguçar a curiosidade para enfrentar as questões levantadas. Neste processo, considerar o conhecimento prévio individual e percepções significativas no decorrer da construção em busca de múltiplas soluções é fundamental.

 

Na fase de criação deve-se dar espaço à construção de uma “chuva de ideias” (o famoso brainstorm), um espaço para sonhar e colocar para fora até mesmo as ideias visionárias. Na quarta etapa, a experimentação, ­– em que as ideias ganham vida –, é necessário criar vivências para encontrar possíveis soluções para o desafio lançado.

 

evolução é a continuidade do desenvolvimento do trabalho. Ela envolve o planejamento dos próximos passos, compartilhando ideias com outras pessoas que podem colaborar com o processo. No desenvolvimento das etapas, o professor e os estudantes podem oferecer dicas de como organizar as ideias, seja formatando listas, usando post-its, histórias inspiradoras, fotos, aplicativos para celular ou tablets, por exemplo. Cada situação requer uma nova abordagem que deverá ser construída coletivamente.

 
 

E você, professor, trabalha com as metodologias ativas em sala de aula? Conte aqui nos comentários e ajude a fomentar as práticas docentes.

Um abraço,

Débora

Formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas.

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Como incentivar o ensino de ciências através das tecnologias

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Débora Garofalo - Colunista

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É fato que precisamos incentivar o inicio de ciências na escola e é consenso que a tecnologia pode (e deve) alavancar essa aprendizagem.

Os nossos estudantes têm bastante curiosidade, em saber a origem das coisas, causas de fenômenos da natureza, explorar aquilo que parece diferente, intrigante. Sem dúvida o ensino de Ciências, ajuda a encontrar respostas para muitas questões que cercam esse mundo misterioso e ajuda compreender melhor nossa própria natureza.

É para encontrar essas respostas e dinamizar o ensino que entra em cena o uso da tecnologia, para personalizar a aprendizagem e trazer interatividade ao processo ao permitir o exercício de raciocínio logico e também do exercício do pensamento científico.

Diante disso, pontuamos aspectos importantes para o trabalho envolvendo o uso das tecnologias. Vamos lá!

 

Experiências não dependem somente de alta tecnologia

É necessário desmitificar que usar tecnologia, não é somente ter recursos de alta tecnologia, inserir atividades desplugadas também é inserir tecnologia no contexto escolar.

Com material de baixo recurso e ou alternativo é possível reproduzir experimentos que levam a construção de conceitos pelos estudantes. Um deles é o ensino de robótica educacional também presente no ensino de ciências.

Outro ponto é a observações de fenômenos que podem ser feitas no pátio da escola e ou no bairro, com apoio de sites gratuitos.

 
 

Cultura maker

 

Já imaginou uma aula sobre corpo humano, relacionando as relações entre as funções biológicas, atividades básicas do corpo, preservação da saúde. E que tal reproduzir os órgãos e até mesmo uma mão robótica para reproduzir as articulações, usando materiais de sucata como papelão, canudos, barbantes e ainda tendo a oportunidade de falar sobre sustentabilidade.

 

Sites

 

The 25 biggest turningpoints in earth’s history

Desenvolvido pela BBC, o site explica de maneira lúdica, a evolução do planeta Terra desde sua origem, dando destaque para os episódios mais marcantes, como a origem da vida. Pode ser uma ótima ferramenta para as aulas de ciências.

Joshworth

Perfeito para as aulas sobre espaço sideral, esse site toma como base a medida de 1 pixel para demonstrar a escala de planetas, satélites e estrelas. Sua grande vantagem é poder exibir para a turma a dimensão do universo, deixando o tópico mais claro e tangível para os alunos.

Gateway to Astronaut Photography of Earth

NASA criou esse site para compartilhar com os usuários as imagens obtidas na Estação Espacial Internacional. É possível observar fotos do planeta tiradas em órbita, bem como acompanhar o posicionamento da nave em tempo real. Uma ótima ideia para saciar a curiosidade dos estudantes e conseguir boas imagens o debate em sala de aula.

 

Jogos

 

Os jogos podem ser um poderoso aliado ao ensino, sendo utilizado com propósitos claros. Abaixo alguns que podem ser levados a sala de aula.

Jogos da escola –  é um plataforma de jogos educacionais e possuem jogos de ciências entre eles, quiz do coração, jogo dos esqueletos, velocidade da luz, as plantas, ciclo hidrológico, muitas oportunidades para trazer interatividade e vivências.

 

E você querido professor, como tem relacionado o ensino de ciências e tecnologia? Conte aqui nos comentários e ajude a fomentar práticas docentes.

Um abraço,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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Covid 19 – Novas maneiras de conceber a aprendizagem

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Débora Garofalo - Colunista

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Com a agilidade que a Covid-19 avança sobre o mundo, tivemos que aprender rapidamente a criar maneiras de nos relacionar e também de lidar com diversas situações que não estavam planejadas, como a quarentena.

Muitos professores em suas escolas têm discutido como criar possibilidades de atender a todos os estudantes, principalmente aqueles que não possuem condições para estar conectado, já que estudos demonstram a quantidades de dispositivos móveis, principalmente aparelhos celulares entre as famílias. Sem dúvida um grande desafio a ser superado e compreendido.

Esse é o momento oportuno para ousar, pensar e propor diferentes situações de aprendizagens. Sem dúvidas é o professor que melhor compreende a realidade do estudante e pode contribuir e criar situações que atendam melhor a este momento.

Conversando com alguns professores que lecionam em sua grande maiorias nas periferias, muitos me contaram que têm usado o facebook e o whatsapp para planejar e aplicar suas aulas. Algumas escolas, de maneira colaborativas, realizaram guias para os estudantes, e todas essas medidas são eficazes, porque dialogam com cada realidade local. 

Para auxiliá-los com este momento, reunimos algumas sugestões para que possam trabalhar juntos aos estudantes com a ferramenta mais adequada. Vamos lá!

 

Planejamento

 

Como na sala de aula convencional, o planejamento é essencial,  ter um objetivo claro de aprendizagem, por exemplo, se for usar uma ferramenta de interação como o ZoomTeamsHangouts, é importante definir combinados com os estudantes e definir o que se pretende, tecendo o olhar para a interação, cuidando  do tempo de exposição de um assunto, trazendo elementos para tornar a aula dinâmica, fazer interação com outros materiais e quebrando esse período por blocos, do tempo destinado a conversa, como, se a aula for de 45 minutos, realizar blocos de 15 minutos, cuidando da interação.

Para ferramentas como WhatsApp, grupos no Facebook e ou no Edmodo, o planejamento é também essencial, devendo ter o cuidado em planejar um em tempo menor, mais com modelos inspiradores, em formatos de pílulas e chamando a atenção dos estudantes para a intenção de aprendizagem. 

Para a equipe pedagógica essas ferramentas também funcionam, e é importante montar horários provisórios para os estudantes e intensificar comunicações com a equipe escolar e trabalhar de maneira interdisciplinar e com projetos.  

Em relação aos pais é importante preparar um guia para que possam apoiar os estudantes em algumas frentes, como por exemplo, como ajudar nas dúvidas, criação de rotina de estudos, alimentação e alongamento, auxiliar os estudantes a criarem registros os estudos finalizados, do que está em andamento, daqueles que precisam ser revistos.

Elaboração de atividades

 

É necessário fazer neste momento um replanejamento e adaptação das atividades. O material didático, livros e apostilas, podem ser utilizados, mediante a comandas e explanações claras sobre o assunto. É preciso apoiar os estudantes a construir o seu aprendizado, trabalhando mapas mentais que ajudarão a desenvolver atividades, mas também a se organizarem.

Se for realizar vídeos, é importante considerar entonação da voz, postura, som e luz e materiais complementares que ajudarão os estudantes a compreender melhor o conteúdo. Os vídeos podem ser realizados por aplicativos do celular e ou com recursos de aplicativos de gravação, como OBS.

Podcast também é uma maneira eficaz de trabalhar com os conteúdos, podendo usar softwares gratuitos como o audacity, que permite fazer recortes de outros programas, considerando os devidos créditos aos materiais.

 

Avaliações

 

Esse também é um momento para realizar avaliações e para isso pode ser trabalhado ferramentas de colaboração, como o google classroomTeams, com elaboração de rubricas que podem ser estruturadas com os estudantes a partir de objetivos de aprendizagem de onde os estudantes estão para onde pretende chegar. 

É importante, realizar momentos de escuta ativa com os estudantes, de como está sendo esse momento e quais as dificuldades enfrentadas para a administração dos estudos, e para isso, ocorrer pode ser utilizado uma diversidade de possibilidades, como quiz, jogos, narrativas digitais, entre outros.

O portfólio digital contribui para esse processo e ainda pode ser trabalhado habilidades como autocuidado, autoconhecimento, organização, criticidade, e uma ferramenta que pode contribuir é o seesaw

Apesar do momento ser de muitas preocupações, esse também é um período para consolidar novas práticas e aprender de maneiras diferenciadas, trazendo novas formas de conceber a aprendizagem e utilizar tecnologias e principalmente inovação e criatividade para criar novos caminhos a educação.

 

Um abraço,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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Como alavancar a aprendizagem com recursos audiovisuais

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Débora Garofalo - Colunista

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Vocês têm notado a maneira que os alunos têm aprendido?!

Outro dia levei para a sala um estudo de caso sobre o cyberbullying,.  Ao começar a leitura do texto, ouvi um sonoro, professora vamos colocar no Youtube e ver se encontramos um vídeo sobre esse assunto? Imediatamente, pesquisamos e encontramos alguns vídeos e nos apoiamos ao texto para realizar as discussões sobre a atividade que estávamos realizando.

Essa atividade foi o suficiente para compreender que a leitura é e sempre será fundamental, porém o audiovisual (que é também uma forma de leitura) está cada vez mais presente na vida dos nossos alunos e se torna essencial levar essa importante ferramenta para dentro da sala de aula, não somente como consumidores, mas principalmente como produtores.

Já temos muitos educadores que fizeram do vídeo a sua sala de aula, principalmente pelo potencial de alcance entre os jovens. Entre os muitos canais de educação, destaco o Professor Procópio do Rio de Janeiro, com a linguagem simples e o jeito irreverente de ensinar matemática, atrai muitos estudantes. Você professor, também pode ter o seu canal, iniciando com equipamento simples, como o celular e ou uma câmera.

E como levar recursos audiovisuais para dentro da sala de aula?

 

Com uma gama de possibilidades, existem várias maneiras de inserir o audiovisual nas aulas, uma delas, é tornar os estudantes criadores de conteúdo, exercitando a mão na massa. Lembre-se o celular pode ser um importante aliado, para produzir conteúdo com os discentes de forma audiovisual. Abaixo, destaco algumas ações

 

A primeira ação: Considero essencial a mudança de atitude em nós, professores! É necessário quebrar a barreira que ainda temos das ferramentas digitais e começar a inserir novas maneiras de abordá-las no currículo escolar.

Segunda ação: Compreender que toda mudança leva um tempo para acontecer. Pode ser que em um primeiro momento as atividades não saiam como a planejado e isso não deve ser considerado como ação para que nunca mais ocorra, mais um momento de reflexão.

Terceira ação:  O diálogo é a porta de entrada para exercer a criticidade. Hoje na Internet encontramos uma infinidade de vídeos, sobre diferentes assuntos, onde cada vez mais conversar sobre ética e segurança é um fator chave para alavancar a aprendizagem.

Quarta ação: Dê destinos a equipamentos possíveis de trabalhar em sala de aula. O celular é uma boa opção, a maioria possui câmeras, vídeos e editores, que podem auxiliar no trabalho pedagógico.

Quinta ação: Explore com os alunos o potencial de criar vídeos. Assistir vídeos torna o currículo mais dinâmico, mas, inverter os papéis e fazer os alunos se tornarem produtores de vídeos, potencializa ações como colaboração, empatia, inventividade e criatividade, competências e habilidades tão essenciais a este século, além de aproximar os estudantes do seu aprendizado.

Sexta ação: Não basta apenas liberar o uso do celular, é preciso realizar um bom planejamento e ações, com objetivos claros, propiciando trabalhar com resoluções de problemas. Proponha etapas de trabalho pesquisa, elaboração de roteiro, pré-produção, gravação e edição. Combine processos, dividir tarefas e cobrar prazos para que os projetos se concretizem. Ao final do processo, avalie as produções e possibilitando novos aprendizados para todos.

 

Materiais de baixos recursos e sugestões para realizar vídeos

 

Câmera ou celular

Microfone (se não tiver, escolha lugares bem silenciosos para fazer a gravação)

Tripé (muitos são possíveis de serem produzidos pelos alunos)

 

Programas gratuitos para edição

 

Windows Live Movie Maker

Video Toolbox

VirtualDub

VideoSpin

E você querido professor, como costuma trabalhar com o audiovisual em sala de aula? Conte aqui nos comentários! Este é um importante espaço de troca e fortalecimento de práticas docentes.

Um abraço,

Débora

Formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas. Vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil e Finalista no Global Teacher Prize, considerado o Nobel da Educação.

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Diálogos particulares com a BNCC

Diálogos particulares com a BNCC

Escolas privadas interpretam a Base à luz dos contextos em que estão inseridas e criam estratégias para implementá-la a partir de seus respectivos projetos educativos. 

Texto: Lara Silbiger

No exato momento em que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) foi aprovada, em 17 de dezembro do ano passado, foi dada também a largada para que cada rede e escola do país (públicas e privadas) se alinhe às novas diretrizes obrigatórias. O prazo para implantação termina em 2020, quando as referências que definem os direitos de aprendizagem devem enfim permear os mais diversos aspectos da vida escolar — do projeto pedagógico e currículo à formação de professores, materiais didáticos e instrumentos de avaliação. 

Nessa corrida, além de fôlego, as escolas precisam de um bom planejamento para cruzar a linha de chegada. Os primeiros passos se resumem a entender o que é a BNCC, fazer uma revisão dos respectivos currículos e PPP (Projetos Políticos Pedagógicos) e criar um sistema de governança que envolva os professores nos eventuais ajustes e transformações. 

Nas escolas públicas, esse processo é liderado pelas redes, muitas das quais têm unido esforços para (re)elaborar seus currículos. Já as privadas gozam de autonomia para dialogar com a Base e promover as mudanças que julguem necessárias para aproximá-las do norte traçado pelo documento oficial. “Embora a BNCC dite as habilidades e competências que o aluno precisa desenvolver, ela não diz como isso deve ser feito. Portanto, quem vai determinar a estratégia, a carga horária e as disciplinas é a própria instituição, a partir do seu projeto educativo”, explica Solange Petrosino, gerente de Serviços Educacionais da Editora Moderna. 

Dessa forma, o processo de implementação vai ganhando seus próprios contornos em cada uma das 71,4 mil escolas de Educação Básica espalhadas pelo Brasil. “Na prática, a BNCC será observada de acordo com a interpretação dos colégios e sua forma de fazer Educação”, conclui Ademar Batista Pereira, presidente da Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares).

Ainda assim, colocar as diretrizes nacionais em prática, em menos de dois anos, não será uma tarefa simples. “O grande desafio do gestor da escola particular é concretizar as referências da Base no dia a dia dos alunos”, afirma Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco, de São Paulo (SP). Tende a levar vantagem, porém, quem já estava de olho nas tendências mundiais da Educação. “As escolas que já se preocupavam com a inovação e com os pressupostos globais que a Base trouxe – como formação integral, cidadania global, regionalização e competências socioemocionais – certamente terão mais facilidade de se ajustar”, afirma Solange, da Moderna. 

Para acompanhar esse processo na rede privada, a Educatrix entrevistou os gestores de quatro escolas que já estão a todo vapor com a implementação da BNCC. Confira os depoimentos a seguir.  

COMPREENSÃO DA BASE NA PRÁTICA 

  • “O primeiro passo para a implementação é fazer uma interpretação correta da BNCC, que não é uma meta e muito menos um currículo. Entender sua potência e abrangência enquanto política pública é o primeiro grande desafio. Depois, é preciso compreender que não se trata de uma lista de conteúdos. O que o documento prevê é o que a criança deve aprender, sob a perspectiva dos direitos de aprendizagem.  
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  • Nesse contexto, é imperativo também entender o que é competência – capacidade de mobilizar conhecimentos escolares e intervir na realidade – e definir os conhecimentos com os quais instrumentalizar o aluno. Em suma, não são conceitos simples de ser assimilados. Muito menos quando se tem em conta que, até pouco tempo, o currículo era tido como uma mera lista de conteúdos. Hoje, porém, sabemos que ele é um instrumento que traduz o conjunto de experiências intencionalmente delineadas pela escola para concretizar as referências estabelecidas no PPP (Projeto Político Pedagógico), bem como as orientações da BNCC. 
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  • Outro aspecto fundamental é desmentir o mito de que a Base exige que todos aprendam a mesma coisa. A implementação é muito mais complexa e demandou traduzir a Base para o projeto pedagógico de cada escola. 
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  • No Colégio Rio Branco, a primeira etapa desse processo exigiu uma análise profunda da BNCC. Para começar, colocamos lado a lado os princípios que ela traz com o nosso PPP e o planejamento do Colégio. Desse pareamento, resultaram as diretrizes da nova versão do projeto pedagógico, que refinará aspectos ligados aos direitos de aprendizagem e ao trabalho baseado em competências. É possível também que haja mudanças no regimento escolar a partir de 2019, com uma nova organização didática dos períodos letivos. 
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  • Além disso, dissecamos a BNCC para entender como ela se encaixa no nosso currículo, onde se adequa e que novidades traz para o colégio. Com isso, foi possível constatar que os alvos que perseguimos há anos – desenvolvimento de competências e visão interdisciplinar – estão de fato alinhados à Base.  
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  • Não estamos falando de conceitos novos, mas sem dúvida de difícil implementação. Por mais que falemos em metodologias ativas, mudar o mindset dos professores em uma escola de 150 anos, como a nossa, é um processo longo. Para isso, investimos em formações continuadas que abordam o ensino investigativo, ampliam o repertório de ferramentas pedagógicas que favorecem as metodologias ativas e incentivam a aprendizagem colaborativa. Além disso, estruturamos um processo de apoio aos professores e acompanhamento.  
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  • Quanto aos currículos do Ensino Fundamental, que ainda estão em análise, podemos apenas adiantar que teremos ajustes de localização das expectativas de aprendizagem. Já na Educação Infantil, o que mudará no currículo serão as nomenclaturas. A concepção em si deve manter-se muito próxima à que já tínhamos – calcada no uso de múltiplas linguagens, brincadeiras e na ideia da ‘criança potente’. 
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  • Em linhas gerais, esses são os ajustes nos quais estamos trabalhando enquanto aguardamos as publicações oficiais da Diretoria de Ensino do estado, a quem respondemos.”
  • Esther Carvalho, diretora-geral. 

ESTRUTURA DE GOVERNANÇA

 

 

  • “No Colégio São Luís, entendemos a implantação da BNCC como um movimento de mão dupla. De um lado, a escola deve analisar sua proposta pedagógica e matriz curricular à luz do que a Base propõe. De outro, também precisa contextualizá-la no âmbito de sua própria proposta pedagógica. Sob essa lógica, estamos trabalhando na revisão curricular desde 2017. Esse processo é liderado pela direção-geral e levado a cabo pelo chamado GT (Grupo de Trabalho) de Currículo, formado por educadores – docentes e não docentes – de todos os segmentos. 
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  • Sob a coordenação da direção acadêmica, o GT se reúne uma vez por semana. Suas reflexões sobre a BNCC e encaminhamentos são socializados mensalmente com todo o corpo docente, que tem papel consultivo. Em paralelo, uma assessoria externa dialoga periodicamente com os professores e com o próprio GT. Já as aprovações finais ficam por conta do Conselho Diretor da Escola.  
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  • A BNCC, porém, não impõe grandes desafios para o colégio. Já tínhamos um currículo bastante abrangente em termos de conteúdo. O que vemos agora são oportunidades de enriquecer o que já fazíamos e oferecer aos estudantes mais alternativas de acesso ao conhecimento. Para isso, temos ampliado nossos horizontes e nos debruçado sobre currículos – inclusive internacionais – de filosofia humanista, cuja foco é a formação integral da pessoa. A partir desse benchmark, passamos a organizar nossos conteúdos de maneira mais integrada e a incorporar à matriz de competências gerais e habilidades em todas as dimensões, não apenas na intelectual. Nosso prazo para terminar a elaboração da nova matriz (até o 9o ano do Ensino Fundamental) é outubro de 2018. Para o Ensino Médio, é junho de 2019.  
  •  
  • Na mesma direção, caminha a formação continuada dos professores. Com foco na epistemologia e na didática, as metodologias ativas, que favorecem todas as dimensões da aprendizagem, são a tônica dos encontros, organizados a partir de reflexões individuais e coletivas sobre a prática. Quanto aos materiais didáticos que o Colégio adota, ainda vamos avaliar se há necessidade de mudanças para o próximo ano letivo. Cabe ressaltar que a análise da adequação das obras à nossa proposta pedagógica e aos documentos oficiais de Educação já faz parte da rotina anual. Neste ano, em especial, vamos atentar para o alinhamento dos conteúdos didáticos às exigências da BNCC.” 
  •  
  • Sônia Magalhães, diretora-gera

FORMAÇÃO DE PROFESSORES 

  • “Graças ao fato de termos acompanhado a construção da Base desde o princípio, com participação ativa nas reflexões junto a sindicatos e outras organizações educacionais, nosso trabalho pedagógico já estava voltado para os direitos de aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades e competências.  — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.
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  • Na Educação Infantil, por exemplo, a BNCC legitimou nosso olhar diferenciado para o binômio Cuidar e Educar, que sempre privilegiou os processos de alfabetização e letramento desde os estágios iniciais do desenvolvimento cognitivo. Além disso, o documento veio ao encontro da forma como exploramos os direitos de aprendizagem: com práticas pedagógicas que imprimem intencionalidade ao conviver, brincar, participar, explorar, conhecer e expressar-se.  
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  • Ainda assim, temos alguns desafios pela frente. O maior de todos é garantir que os professores e as equipes pedagógicas tenham pleno entendimento da BNCC e das mudanças que se fazem necessárias para implementá-la na Rede. Uma delas é a atualização do PPP, com um olhar renovado para a identidade do Sagrado frente às demandas de um ensino progressista. A nova versão da proposta pedagógica, que será finalizada até 2019, deve fortalecer a gestão democrática e envolver toda a comunidade educativa nas transformações que estão por vir.  
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  • Para um futuro próximo, vemos também oportunidades na construção de práticas mais inovadoras de ensino. Para promover a autonomia dos educandos, vamos privilegiar o conceito de Aprender a Aprender e o Ensino Híbrido. Os primeiros passos nessa direção já foram dados na Rede por meio da apresentação geral da Base, com momentos especialmente dedicados a esse propósito durante a formação continuada. Agora, a próxima etapa é discutir formas de colocar o aluno no centro da aprendizagem, bem como refletir sobre novas práticas metodológicas e tecnologias educacionais que contribuam para esse fim.  
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  • Quanto ao currículo do Ensino Fundamental, este deve sofrer ajustes para minimizar a fragmentação do conhecimento entre um ciclo e outro. Para isso, pretendemos ampliar – de forma orgânica e progressiva – a inserção de situações complexas no dia a dia do educando.  Outro aspecto que merece atenção é o aprofundamento das práticas de leitura, escrita e oralidade.  
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  • No Infantil, por sua vez, os currículos tendem a ser tornar mais consistentes tanto na organização quanto na proposição de experiências. Estas, segundo a própria Base, deverão contribuir para a criança conhecer a si mesma e ao outro e compreender suas relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica.
  •  
  • Já em relação aos materiais didáticos, o que deve mudar são os nossos critérios de seleção. Vamos visar ao alinhamento dos conteúdos com a BNCC e também às novidades metodológicas voltadas ao ensino progressista. Os ajustes, porém, só serão feitos na medida em que a Rede identificar reais necessidades.
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  • Por fim, novos indicadores de aprendizagem passarão a fazer parte do sistema avaliativo do Sagrado, que já preza pela observação das habilidades adquiridas pelos educandos.” 

Rafael Lima, gestor pedagógico 

AJUSTES NO CURRÍCULO 

  • “O primeiro passo para lidar com a BNCC é desmitificar a ideia de que ela será implementada nas escolas. É um erro que nos induz a pensar em uma suposta massificação, que sequer tem como acontecer. A Educação não se faz assim. A proposta consiste em dialogar com a Base, identificar pontos de atrito com o projeto pedagógico e com o currículo e avaliar como ela pode contribuir para a melhoria da aprendizagem.
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  • Cabe destacar que todas essas interpretações e análises sempre vão partir dos pressupostos e premissas de cada escola. Não dá para fugir da própria história, da cultura e das relações que se formam em torno da instituição. É por isso que a leitura da Base em uma escola mais tradicional pode acabar sendo completamente diferente da leitura que fazemos no Vera Cruz, cuja abordagem é construtivista.
  •  
  • Por aqui, as discussões estão a todo vapor. Desde fevereiro deste ano, equipes técnicas formadas por coordenadores, orientadores, assessores de área e professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental se debruçam sobre a Base para fazer uma leitura crítica do documento e uma autorreflexão sobre nossas práticas pedagógicas.
  •  
  • Em julho, as equipes tiveram a oportunidade de apresentar para todo o corpo pedagógico do Colégio um primeiro diagnóstico das consonâncias e dissonâncias com a Base, bem como a necessidade de incorporar certos objetivos e aprofundar competências específicas. Ainda durante o encontro, cada pessoa pôde contribuir com ideias e apresentar suas demandas de formação continuada, material didático, ajustes no currículo e revisão do projeto pedagógico. Com esse raio-x de cada área e segmento, agora temos condições de traçar os próximos passos de alinhamento com a Base.
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  • Alguns ajustes, porém, já estão previstos. Em Matemática, vamos antecipar o desenvolvimento do pensamento computacional para o currículo do Ensino Fundamental. Até então, apresentávamos a Matemática Computacional apenas no início do Ensino Médio e não necessariamente com o mesmo rigor no desenvolvimento das competências que a Base agora determina.
  •  
  • Em outros casos, porém, as diretrizes do documento já começam a ser incorporados no dia a dia. Por exemplo, se o assessor de Língua Portuguesa está falando de ortografia com os professores, ele já aproveita para abordar o tema sob o ponto de vista do desenvolvimento das competências definidas pela BNCC.
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  • Para o Infantil, não haverá grandes novidades. A Base traz apenas um outro jeito de organizar o trabalho pedagógico, com base nos campos de experiência. Dessa forma, o documento ratifica o que o Vera Cruz já segue: valorizar a experiência da criança e respeitar sua forma de aprender e pensar.
  •  
  • No Ensino Fundamental, o planejamento das aulas também não será muito impactado. Definir objetivos com base no desenvolvimento de competências tem tudo a ver com nosso jeito de ensinar. Menos cognitivistas e mais direcionados para a experiência da vida escolar, acreditamos que o aprendizado se dá na relação com o conhecimento, com os professores e colegas e com a experiência vivida no coletivo. 
  •  
  • Ainda temos muito por mapear e planejar pela frente. Mas é com serenidade que vamos tomando consciência das nossas necessidades e priorizando o que precisa ser feito até 2020.”
  •  
  • Regina Scarpa, diretora pedagógica 

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Conectar as emoções para a aprendizagem de matemática: o poder de uma boa história

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Narrativas, jogos e novas metodologias para  desmistificar o aprendizado matemático

[…] a razão de ver um vídeo de unboxing é descobrir o que há dentro do pacote. Ou seja, se revela algo, e até as crianças menores ficam curiosas pela informação (kidd e hayden, 2015).

De fato, a maioria dos animais sente o impulso de explorar seu entorno em busca de comida, refúgio e companhia. A necessidade de informação é essencial à existência. A maior parte dos pesquisadores concorda que é uma parte inata de nossa natureza (lau et al., 2018). Sentimos o impulso de descobrir. […]

Desde crianças que veem apenas mãos abrindo embalagens de brinquedos até macaquinhos que escolhem botões de recompensa e adultos que tomam pequenas decisões financeiras, o desejo de obter informação e de resolver a incerteza parece ser fonte importante de motivação. Não obstante, o que desperta a curiosidade e o desejo de buscar informação varia de acordo com o indivíduo e o contexto. Pense em uma zona de desenvolvimento próxima da curiosidade. Se a informação no entorno já é conhecida por um indivíduo, não há mistério, não há incerteza.

Se o contexto é totalmente desconhecido, é possível que o indivíduo não tenha um ponto de referência para antecipar o resultado. Uma criança pode estar encantada pensando em que brinquedo haverá na caixa, mas essa mesma criança não teria curiosidade a respeito de um câmbio monetário. As experiências e o conhecimento acumulado de cada pessoa influem em seu compromisso com a busca de informação. Por natureza, todos nos sentimos atraídos por descobrir, mas nem todos queremos descobrir as mesmas coisas.

A busca de informação e a narrativa

Apesar do exposto anteriormente, parece que todas as pessoas podem sentir fascinação por uma boa história. Jerome Bruner, entre outros, argumenta que a narrativa é um meio importante para entender o mundo (bruner, 1986; gottschall, 2013). O tradicional arco da história inicia com uma introdução ou exposição que apresenta as personagens e o contexto. Depois, há uma ação ascendente à medida que aparecem os conflitos e obstáculos. Isso nos leva a perguntar o que acontecerá. Finalmente, o clímax traz a resolução e satisfaz nosso desejo de saber. Essa estrutura temporal expõe as regras do jogo, os motivos, as causas e as consequências das ações. Explica-nos como funciona o mundo e nos prende com a incerteza do que vai acontecer depois.

A narrativa e a busca de informação têm um papel especial nas maneiras como nosso cérebro aprende e se relaciona com o mundo. As histórias, por exemplo, nos ajudam a recordar. Antes que as pessoas pudessem ler e escrever, careciam de outras ferramentas que as ajudasse a recordar e transmitir as regras sociais, as hierarquias e os rituais culturais. As histórias, os mitos e os poemas, desde a Odisseia de Homero até a Bíblia e o Popol Vuh, satisfizeram essa necessidade (foer, 2012). Os membros de um grupo se reuniam para escutar histórias com ritmos e estruturas narrativas que as tornavam fáceis de recordar. O sentido de pertencimento ao grupo agregava um elemento que afiançava as lembranças. […]

Assim como com a busca de informação, a experiência dita o que nos surpreende e o que nos interessa. As crianças pequenas, que ainda estão formulando suas definições de mundo, adoram a repetição. Querem escutar a mesma história muitas vezes (pais, recordem esses dias). Elas estão gerando confiança em sua habilidade para fazer previsões corretas e sentir segurança no que sabem. As crianças maiores, adolescentes e adultos, também podem desfrutar das histórias previsíveis, como as que são parte de uma série. Nestas, a busca de informação é sutil. Para as crianças pequenas se trata de questionar se o que aconteceu na última vez voltará a acontecer. Por outro lado, uma pessoa mais velha que assiste a uma série pode desfrutar da incerteza de como a personagem principal superará o novo obstáculo (kendeou et al., 2008).

Os bons narradores sabem como aproveitar esses traços cognitivos. Eles captam nossa atenção injetando incerteza ao já conhecido. Eles nos convidam a mundos em que nosso cérebro opera em uma região proximal de busca de informação. Sabemos o suficiente para tentar adivinhar o que acontecerá, como acontecerá ou como pode se sentir uma pessoa, mas não temos certeza. É preciso descobrir.

As narrativas mais poderosas também nos afetam emocionalmente. Não nos preocupamos somente com nossas previsões dos acontecimentos, mas também com as personagens. As histórias nos levam além da simples busca de informação: conectam e desenvolvem nossa empatia e nossa habilidade de ver o mundo pelos olhos de outra pessoa. Os investigadores chamam essa habilidade de teoria da mente (schaafsma et al., 2015).

Para que o gerador de inferências em nosso cérebro seja eficiente, é preciso que sejamos bons em interpretar os motivos de outros. Necessitamos de uma forte teoria da mente para avaliar o estado emocional de outra pessoa e prever o que ele ou ela fará em determinada situação. Precisamos ter a capacidade nos colocar no lugar do outro.

Na época de ingressar na escola, as crianças deveriam estar desenvolvendo sua teoria da mente. Envolver-se em histórias pode acelerar e expandir esse desenvolvimento (hofmann et al., 2016). E, quando se cria uma conexão emocional com as personagens, isso pode influenciar seu próprio comportamento (barraza et al., 2015). 

Na época de ingressar na escola, as crianças deveriam estar desenvolvendo sua teoria da mente. Envolver-se em histórias pode acelerar e expandir esse desenvolvimento (hofmann et al., 2016). E, quando se cria uma conexão emocional com as personagens, isso pode influenciar seu próprio comportamento (barraza et al., 2015).

[…] O mundo é um lugar rico e complexo. Muitos estímulos competem pela atenção dos estudantes. A voz do professor e o escrito na lousa podem ser dignos de atenção, mas também há uma chuva suave batendo nas janelas da sala de aula e a cadeira é um pouco incômoda. Estes são alguns dos estímulos imediatos. O estudante também pode estar pensando em eventos passados, como em uma discussão dessa manhã com seu amigo ou com seu irmão, ou pode estar sonhando com o futuro, com algo especial para comer no almoço ou em um encontro com os amigos depois da escola.

A memória de trabalho, nossa habilidade de balancear vários elementos de informação na mente, é limitada (cowan, 2016). Muitas coisas ameaçam sobrecarregá-la. Conseguir que os estudantes prestem atenção às instruções da atividade do momento é fundamental para conseguir sucesso no aprendizado. Se conseguirmos que os estudantes deem importância à aprendizagem dos conteúdos e que invistam esforço nela, melhor ainda. As histórias podem ajudar.

Incerteza de baixo risco

Quando muitos de nós pensamos em uma lição de Matemática, imaginamos algo relacionado a encontrar respostas específicas. Contudo, 8 + 3 = ? não é um problema com um nível de incerteza atrativo para despertar nosso desejo de informação. Um vídeo de unboxing nos convida a realizar uma mistura de simulações sobre qual pode ser o prêmio lá dentro. Será um adesivo? Um cachorrinho de plástico? É um jogo de adivinhação de baixo risco. E, independentemente de estarmos certos ou não, nosso cérebro nos recompensa por descobrir (kidd y hayden, 2015). A solução de problemas matemáticos como 8 + 3 = ? é de alto risco. Poderia ser 10 ou 12? O correto está bem. O incorreto está mal. Apesar de as respostas exatas serem resultados importantes na aritmética, esse tipo de problema não capta nosso impulso motivador de busca de informação.

A incerteza de baixo risco, por outro lado, pode ser introduzida facilmente nas lições de Matemática. Em vez de enfatizar o resultado, por exemplo, pode concentrar a atenção no processo. Quantas formas distintas podemos encontrar para resolver 8 + 3? Dois? Três? Cinco? Pode-se calcular 8 + 1 + 1 + 1. Ou podemos simplesmente recordar uma soma memorizada. Outra opção é decompor o 3 em 2 + 1 e usar a estratégia de somar 10: (8 + 2) + 1. Neste caso, a ação de averiguar é satisfatória por si mesma. Não é realmente importante se os estudantes encontram quatro formas de resolver o problema ou dez.

A dúvida também pode ser introduzida de maneira produtiva na definição de um problema. Há vários exemplos que apresentam tentativas de captar as redes de busca de informação dos estudantes dessa maneira. Uma estratégia pode ser apresentar uma situação sem uma pergunta. Sofia tem 50% mais seguidores em redes sociais que Héctor. Héctor tem 112 seguidores. Com isso se pode desafiar os estudantes, questionando-os: “quantos problemas matemáticos vocês acham que podemos criar usando essa informação?” ou “o que acham que o livro lhes pedirá para resolver com essa informação?”. Ambas as perguntas ativam o pensamento matemático e a curiosidade pela pesquisa.

Outra estratégia é revelar gradualmente detalhes do problema. Mostre um gráfico sem títulos nem números. O que acham que o gráfico mostra? Depois de mostrar os títulos, desafie-os a prever o problema que resolverão. Lembre-se de manter as indicações dentro do repertório de modelos mentais dos estudantes. Eles terão de saber o suficiente sobre a situação e a Matemática para poder ativar seus geradores de inferências, suas simulações preditivas do futuro. E para que não se torne algo entediante. Os estudantes têm muitos outros estímulos que prendem sua atenção (meyer, d., 2011).

O tradicional arco da história inicia com uma introdução ou exposição que apresenta as personagens e o contexto. depois, há uma ação ascendente à medida que aparecem os conflitos e obstáculos. isso nos leva a perguntar o que acontecerá.

Envolvimento emocional

Da mesma forma que as personagens de uma história trazem um elemento emocional para a busca de informação, engajar os estudantes nas atividades matemáticas pode garantir seu envolvimento. João resolveu o problema memorizando a soma. Maria o fez de outra maneira. De que maneira acreditam que ela fez? Carlos utilizou um método diferente. Ele o explicará. Vocês acham que chegará à resposta correta? Os colegas de classe de uma criança são como as personagens de uma história. Podem se identificar com eles e podem se importar com o que lhes aconteça. Realizar simulações com pessoas que conhecem ativa a parte do cérebro da teoria da mente e a empatia dos estudantes. E se um estudante inventa uma estratégia inesperada, a surpresa amplifica a atenção ainda mais. […]

O envolvimento emocional não tem de ser construído unicamente com estudantes reais da classe. As histórias fictícias funcionam também. Com certeza a ficção é comum nas aulas de Matemática, sobretudo nos problemas escritos. Esses problemas podem ser usados para situar relações matemáticas em contextos conhecidos. Paulo tinha 3 borrachas. Seu amigo lhe deu algumas e agora ele tem 11 borrachas. Quantas borrachas o amigo de Paulo lhe deu? Esse problema representa uma situação de mudança, especificamente uma situação de valor faltante. Fran ganhou vários jogos de videogame em seu aniversário. Agora tem 13 jogos de videogame. Antes de seu aniversário, tinha somente 6 jogos. Quantos jogos Fran ganhou de presente? Ainda que a informação se apresente em uma ordem diferente e com um conteúdo diferente, esse segundo problema é matematicamente igual ao primeiro: a + ? = b. Esses problemas, no entanto, não têm estrutura dramática. Não há exposição que relacione os estudantes com Paulo ou com Fran. Não há razão para que se preocupem ou para que se perguntem (ou façam previsões) o que acontecerá com eles. Os problemas escritos tendem a carecer do drama que desencadeia a busca de informação emocionalmente carregada. Isso não faz diferença para os estudantes. Não há envolvimento emocional. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Nossos cérebros são geradores de inferências. mantêm-se realizando simulações do que acontecerá com base em experiências anteriores.

As narrativas genuínas, com bom desenvolvimento de personagens, ação ascendente, com obstáculos significativos e consequências relacionadas a resolver esses bloqueios prometem ativar a motivação carregada de emoção da busca de informação entre os estudantes até mesmo em uma aula de Matemática. As boas histórias causam envolvimento. Crie uma história para Fran, a personagem do problema anterior.

Talvez ela viva em outro planeta. Pode ser que se sinta estranha e lute para se enturmar com seus pares. Ela se pergunta se ter um videogame popular a tornará popular. Saberá escolher o jogo certo? Pode pagar por ele? O jogo lhe trará amigos? Serão amizades genuínas? Como pode criar vínculos com as outras crianças? Ainda que a história de Fran aconteça em outro planeta, sua situação e preocupações são muito comuns. Navegar pela história é uma aventura episódica, recheada de situações matemáticas periféricas incorporadas, que desvenda o que motiva as pessoas e o desejo de aceitação social.

Se os estudantes se conectarem emocionalmente com Fran, vão se sentir motivados a descobrir o que acontecerá com ela. Vão querer escutar, ler ou ver o próximo capítulo ou episódio. Não posso garantir que possamos transformar as crianças no equivalente matemático de quem vê maratonas de séries, mas as pesquisas sugerem que, se for o caso, podemos expandir o uso da narrativa para ampliar o envolvimento muito além do que é comum em uma aula de Matemática hoje.

Normas para a aprendizagem constante

Recorde as pesquisas que sugerem que nossos cérebros são geradores de inferências. Mantêm-se realizando simulações do que acontecerá com base em experiências anteriores. Pense no estudante que tem um histórico de fracasso e até mesmo humilhação na aula de Matemática. O que acha que seu cérebro vai prever quando for realizada uma pergunta ou aplicada uma avaliação? Pode ser que o estudante esteja pensando: “Eu vou errar. Vou parecer tolo. Sou tolo. O que posso fazer para evitar essa situação?”. A ansiedade devora os recursos de atenção e deixa o estudante com menos recursos cognitivos para aplicar nas tarefas (foley et al. 2017). O medo de errar aumenta a probabilidade de que suceda. Uma resposta incorreta confirma a previsão, e isso aumenta a crença de ser incompetente em Matemática.

As normas culturais, especialmente em países ocidentais, reforçam a ideia de que algumas pessoas são boas para Matemática e outras não (foley et al., 2017). Se o pai de um aluno diz: “eu sempre tive dificuldade nessa disciplina”, isso pode tornar a competência em Matemática um traço genético. Não ter bom desempenho pode significar que o estudante não tem predisposição para a Matemática. Se for bem, significa que a pessoa tem um talento natural para a Matemática e não precisa se esforçar para ter sucesso. Ambos conceitos são errôneos e minam o esforço (hwang, reyes e eccles, 2019). O estudante que vai mal se desconecta. O estudante com talento natural evita os desafios, porque a Matemática deveria ser fácil. Esses ciclos psicológicos infrutíferos devem ser quebrados para que os estudantes se envolvam de maneira positiva na aprendizagem da Matemática.

As histórias corretas podem ajudar a promover um modelo preditivo diferente para o estudante. Mencionei pesquisas que endossam o que os publicitários já suspeitam há muito tempo: as histórias emotivas influenciam o comportamento. O que acontecerá se algumas das narrativas utilizadas para envolver os estudantes na aprendizagem de Matemática também modelarem comportamentos para se recuperarem de erros? Ler histórias de perseverança ante os obstáculos pode tornar os erros e fracassos em algo comum, convertê-los em características típicas do processo de aprendizagem (lin-siegler et al. 2016). Se até mesmo as personagens inteligentes da história cometem erros e ainda assim alcançam sucesso, talvez equivocar-se não signifique ser tolo. A empatia (teoria da mente) nos permite ver e sentir o mundo como se fôssemos outra pessoa. As personagens atraentes nas histórias conseguem essa conexão, e podemos aproveitá-la para alimentar os mecanismos de geração de inferências nas mentes dos estudantes com simulações diferentes que estimulam a perseverança e resiliência na aprendizagem.

No entanto, essas histórias têm de sair da sala de aula e chegar até em casa e à cultura em geral. Muitos pais também necessitam de novas narrativas para o ensino de Matemática. Todas as aplicações da história e a incerteza que descrevi podem desempenhar papéis fora da escola. Imagine atividades com baixa dificuldade que os pais podem fazer com seus filhos. Quantos números primos você acredita que veremos no caminho para a loja? Transforme situações cotidianas em jogos. Vejamos se podemos melhorar nosso recorde. E conecte com a emoção. Dê às crianças histórias que possam compartilhar com seus pais, incluindo suas próprias histórias de perseverança e crescimento. Que seja pessoal e que tenha impacto.

David Dockterman

é catedrático e professor da Escola de Pós-graduação em Educação de Harvard.

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