ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0 | 01 Por onde começar?

O termo Educação 4.0 invadiu as pautas educacionais. Mas como a sua escola pode adentrar as portas do futuro que já chegou?

Revolução industrial e tecnológica, inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), linguagem computacional, robótica são termos ligados à Educação 4.0, que chegou para ficar! Antes de tudo, é importante entender que não existe um modelo pronto para aplicar e todos podem e devem contribuir, quebrando velhos paradigmas de uma educação descontextuali- zada, pautada em transmissão unilateral de conhecimento e ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem.

Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competência de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permeando todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos.

Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais essencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. 

O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, apenas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, 62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na educação, a formação dos professores é primordial. As políticas públicas devem dar suporte, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula.

Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se preparar para o futuro que já chegou. 

 

Por onde começar?

A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.

O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e com um processo de aprendizagem inovador. O movimento maker é a porta de entrada!

Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cultura de inovação, invenção, programação e colaboração, trabalhando com metodologias ativas, transformando ferramentas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e se tornam parte vital do processo de aprendizagem.

No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.

O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, por meio de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.

 

Aprendizagem na educação 4.0 

Estamos vivendo um período de transformações, em que se faz necessário uma mudança de concepção da escola e na forma como os alunos aprendem, que passa a seguir novas abordagens e a exigir um currículo que valorize a experimentação e a vivência.

Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar são ações do processo de cognição. Com a abertura do Ciberespaço, é uma tendência natural que o aluno tenha autonomia e busque conhecimento fora do ambiente escolar. O ensino híbrido permite trabalhar com modelos de rotações que mesclam di- versas estações de atividades, favorecendo a construção do conhecimento, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

As salas de aulas passam a ter novas configurações no aspecto físico, favo- recendo a colaboração e a interação entre os estudantes. Além disso, o de- senvolvimento de habilidades e competências que valorizam a pesquisa e a troca de experiências colaborativas será a base da cognição, tornando o processo significativo e envolvente para os alunos. 

Métodos de aprendizagem baseados em projetos “mão na massa”, como STEAM (Science, Technnology, Engi- neering, Arts e Mathematics) e Design Thinking, possibilitam reflexão, inter- disciplinaridade e motivação para pro- mover ações diferenciadas, convidando os alunos a explorar resoluções de problemas pensadas a partir de questões sociais, interesses próprios e realidade escolar, propondo novas soluções para investigar, descobrir, conectar, refletir, intervir, sensibilizar a partir dos resultados, testando possibilidades, dentro de um processo contínuo. 

Os estudantes passam a ser o centro do processo de aprendizagem, em que o erro terá um espaço fundamental na metodologia. Ao testar possibilidades, ele terá a oportunidade de analisar sua trajetória e intervir sobre ela, aprendendo de maneiras e formas diferentes, em processos que privilegiam a cognição e não o produto, desenvolvendo habilidades e competências:

 

Com a internet, cada dia mais acessível, móvel e presente no cotidiano, os estudantes têm acesso a múltiplos conhecimentos a um clique e buscam referências sobre tudo o que quiserem. Tais mudanças têm refletido na atuação das escolas, que passam a valorizar a criação de situações de pertencimento em que os alunos tenham voz e autonomia para participar ativamente da construção do aprendizado. — De acordo com a Lei 9.610/98 é proibida a reprodução total ou parcial desta website, em qualquer meio de comunicação, sem prévia autorização.

Habilidades do professor 

São inúmeros os benefícios de uma educação pautada no aprender fa- zendo. Esta permite a aplicação de um currículo mais interessante e in- terdisciplinar, a realização de atividades de investigação, o fazer com as mãos e o compartilhar, focando em um modelo de ensino que leve em consideração a evolução do conhecimento, com qualidade e equidade. 

O desafio é grande, devido à infraestrutura e à conectividade de muitas escolas, porém, como contraponto, vemos as narrativas digitais incorporadas à rotina escolar, em que educadores são e serão cada vez mais essenciais, sendo motivadores para o uso de novas possibilidades de atividades, projetos e interação na sala de aula, fomentando autonomia, criticidade e protagonismo.

O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno. 

A participação efetiva de todos os atores é fundamental para que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem que contribui diretamente para o desenvolvimento intelectual e pessoal do aluno. O docente deve refletir sobre as diferentes práticas adotadas para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem.

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Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
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A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
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Diálogo: escola-família
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A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

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Com a recente aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a tecnologia se tornou, de fato, uma competência de ensino, e deverá atravessar todo o currículo, permeando todas as áreas do conhecimento. Para muitos educadores e especialistas ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker — do faça você mesmo — é um dos caminhos.

Introduzir a escola nesse contexto torna-se cada dia mais essencial, principalmente porque o uso das tecnologias possibilita interação, colaboração e personalização do ensino. O seu uso, como estratégia, vem crescendo nas escolas, trazendo soluções inovadoras como o learning by doing, o aprender fazendo. 

O último Censo Escolar, realizado em 2017 pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (INESP), disponível no site do QEdu, afirma que das 144.726 escolas da Educação Básica, apenas 40% (57.946 escolas) possuem laboratório de informática, 62% (90.027 escolas) possuem internet e 49% (71.145 escolas) possuem banda larga. Para acompanhar essa transformação na educação, a formação dos professores é primordial. As políticas públicas devem dar suporte, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula.

Diante desse cenário, reunimos aqui algumas informações e conceitos que vêm sendo discutidos, para ajudar você a se preparar para o futuro que já chegou. 

 

Por onde começar?

A discussão sobre o tema está apenas começando e devemos enxergar aqui uma oportunidade de modificações no ensino, não somente com o uso de ferramentas virtuais, mas de ações inovadoras, por meio de novas abordagens educacionais que atendam ao perfil dos alunos que são nativos digitais.

O ponto de partida é a criação de ambientes propícios para o desenvolvimento de projetos que permitam aos estudantes vivenciar essa nova realidade. Espaços onde possam aprender fazendo e testando possibilidades, com metodologias ativas e com um processo de aprendizagem inovador. O movimento maker é a porta de entrada!

Por meio do pensamento maker, é possível criar uma cultura de inovação, invenção, programação e colaboração, trabalhando com metodologias ativas, transformando ferramentas em agentes de modificação, em que os alunos são ouvidos e se tornam parte vital do processo de aprendizagem.

No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar, a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.

O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defendeu no evento Hackathon Desafio 4.0, que ocorreu em Manaus, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia, uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo a interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, por meio de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.

 

Aprendizagem na educação 4.0 

Estamos vivendo um período de transformações, em que se faz necessário uma mudança de concepção da escola e na forma como os alunos aprendem, que passa a seguir novas abordagens e a exigir um currículo que valorize a experimentação e a vivência.

Colaborar, criar, pesquisar, compartilhar são ações do processo de cognição. Com a abertura do Ciberespaço, é uma tendência natural que o aluno tenha autonomia e busque conhecimento fora do ambiente escolar. O ensino híbrido permite trabalhar com modelos de rotações que mesclam di- versas estações de atividades, favorecendo a construção do conhecimento, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar.

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Educação inovadora 2018 #9 Cultura maker

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Débora Garofalo fala sobre Cultura Maker, na 1ª temporada do Educação Inovadora, que aconteceu em 19 de novembro de 2019. O novo ciclo de webinars EDUCAÇÃO INOVADORA traz formações dinâmicas e interativas que vão ajudar a sua escola a implantar novas metodologias e ferramentas didáticas para transformar a sua escola em um espaço inovador. Para ver agenda e participar, acesse: https://redes.moderna.com.br/educacao…

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Como a Gamificação pode transformar a Educação

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Hoje temos muitas maneiras de tornar o aprendizado significativo e envolvente. Um desses caminhos é a gamificação! Ela tornou-se uma das apostas da educação deste século por utilizar elementos dos jogos como forma de engajar as pessoas a atingir um objetivo. Na educação, contribui para despertar o interesse, aumentar a participação, desenvolver criatividade, autonomia, promover o dialogo e resolver situações problemas.

 

Ao participar de uma ação gamificada que faz uso do QR Codes, os estudantes têm a oportunidade de decifrar pistas e missões que estão contidos nesses códigos, podendo ser apresentando em qualquer currículo e conteúdo.

QR Codes

É um código de barras bidimensional que pode ser facilmente escaneado, a partir de programas gratuitos adquiridos nas lojas de aplicativos para celulares e/ou tablets. Esse código é convertido em texto (interativo). Você pode esconder pistas e propor aos alunos que usem seus celulares para descobrir o significado oculto em cada QRCode. Imagine, por exemplo, que você esteja trabalhando algum ponto da história do Brasil. Mostre aos alunos uma imagem desse período e aponte em qual ponto da imagem estará o QRCode para desvendar uma pista que compreenda o entendimento do tema.

 

Gamificação na prática

 

Existem várias maneiras de criar uma gamificação, o importante é apresentar uma atividade em que os alunos possam explorar os espaços e recursos da escola, em busca de pistas a serem decifradas, essas pistas podem ser colocadas em cartas, caixas de papelão ou até mesmo objetos. O formato pode ser de um caça ao tesouro ou de pequenas missões, que exigem primeiro uma pesquisa na internet ou livros da escola, onde o tempo todo, são instigados a trocar ideias com os colegas, rever o objetivo a ser alcançado.

 

O professor Jayse Antonio trouxe o MINECRAFT, Harry Potter e LOL que ainda não fazem parte do debate literário na escola, na mesma escala de importância com que ocupam o imaginário dos jovens fora dela. Sabendo que eles adoravam esse mundo GEEK (fãs de tecnologia, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, HQs, livros, filmes, animes e séries), criou um projeto Vamos enCURTAr essa história? que estimula os alunos a escreverem e produzirem histórias que virariam curtas-metragens baseados em assuntos de seu interesse. A proposta vinculava-se ao conteúdo que estava sendo ministrado naquele bimestre, “Cinema”.  Os vídeos produzidos foram postados nas redes sociais para serem apreciados e curtidos por toda a comunidade escolar. Para o professor, “não se tratava apenas de fazer “filminhos” produzidos pelos alunos nas aulas de Artes, a proposta foi bem ampla, envolvendo artes gráficas, cinema, vídeo, fotografia, edição e novas tecnologias, resultando num ensino mais colaborativo, interativo e prazeroso e que estivesse antenado com os anseios desses jovens aprendizes”.

 

Para Jayse Antonio trazer os jogos para a sala de aula foi uma oportunidade para os alunos reinventá-los e elaborar novas regras e/ou novos roteiros para esses jogos é algo desafiante e estimula a criatividade dos alunos. O vídeo foi um sucesso de curtidas. As pessoas gostaram tanto que eles receberão diversas mensagens perguntando como havia sido feito. Elas se encantavam com a quantidade de efeitos especiais e algumas duvidavam que tivesse sido realizado na escola pública.

 

Conheça os vídeos produzidos pelos alunos do Professor Jayse Antonio:

Harry Potter:

Minecraft Apocalipse:

Making Off:

[1]  Jayse Antonio é formado em Educação Artística, possui pós-graduação em Psicopedagogia. Atua há mais de 10 anos como professor e tem experiência em Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA. Dedica-se a aplicação mais dinâmica das diversas linguagens artísticas, em especial a Fotografia e o Cinema e desenvolveu um projeto chamado EU SOU UMA OBRA DE ARTE que visa resgatar a autoestima e a valorização étnico-racial dos educandos. Em 2014 foi vencedor do 8º Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC e seus parceiros, na categoria Ensino Médio e em 2017 na categoria Inovação Pedagógica. Atualmente, dá aulas na cidade Itambé em Pernambuco na rede Estadual e em Pedras de Fogo na Paraíba pela rede Municipal. – Reconhecimentos que recebeu em 2017: Prêmio Professores do Brasil, prêmio de Arte da Revista Select, Prêmio do Detran PE, reportagem para site da nova escola, reportagem para site da Porvir, TV Escola e entrevista para a Contando Saberes.

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Hoje temos muitas maneiras de tornar o aprendizado significativo e envolvente. Um desses caminhos é a gamificação! Ela tornou-se uma das apostas da educação deste século por utilizar elementos dos jogos como forma de engajar as pessoas a atingir um objetivo. Na educação, contribui para despertar o interesse, aumentar a participação, desenvolver criatividade, autonomia, promover o dialogo e resolver situações problemas.

 

Ao participar de uma ação gamificada que faz uso do QR Codes, os estudantes têm a oportunidade de decifrar pistas e missões que estão contidos nesses códigos, podendo ser apresentando em qualquer currículo e conteúdo.

QR Codes

É um código de barras bidimensional que pode ser facilmente escaneado, a partir de programas gratuitos adquiridos nas lojas de aplicativos para celulares e/ou tablets. Esse código é convertido em texto (interativo). Você pode esconder pistas e propor aos alunos que usem seus celulares para descobrir o significado oculto em cada QRCode. Imagine, por exemplo, que você esteja trabalhando algum ponto da história do Brasil. Mostre aos alunos uma imagem desse período e aponte em qual ponto da imagem estará o QRCode para desvendar uma pista que compreenda o entendimento do tema.

 

Gamificação na prática

 

Existem várias maneiras de criar uma gamificação, o importante é apresentar uma atividade em que os alunos possam explorar os espaços e recursos da escola, em busca de pistas a serem decifradas, essas pistas podem ser colocadas em cartas, caixas de papelão ou até mesmo objetos. O formato pode ser de um caça ao tesouro ou de pequenas missões, que exigem primeiro uma pesquisa na internet ou livros da escola, onde o tempo todo, são instigados a trocar ideias com os colegas, rever o objetivo a ser alcançado.

 

O professor Jayse Antonio trouxe o MINECRAFT, Harry Potter e LOL que ainda não fazem parte do debate literário na escola, na mesma escala de importância com que ocupam o imaginário dos jovens fora dela. Sabendo que eles adoravam esse mundo GEEK (fãs de tecnologia, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, HQs, livros, filmes, animes e séries), criou um projeto Vamos enCURTAr essa história? que estimula os alunos a escreverem e produzirem histórias que virariam curtas-metragens baseados em assuntos de seu interesse. A proposta vinculava-se ao conteúdo que estava sendo ministrado naquele bimestre, “Cinema”.  Os vídeos produzidos foram postados nas redes sociais para serem apreciados e curtidos por toda a comunidade escolar. Para o professor, “não se tratava apenas de fazer “filminhos” produzidos pelos alunos nas aulas de Artes, a proposta foi bem ampla, envolvendo artes gráficas, cinema, vídeo, fotografia, edição e novas tecnologias, resultando num ensino mais colaborativo, interativo e prazeroso e que estivesse antenado com os anseios desses jovens aprendizes”.

 

Para Jayse Antonio trazer os jogos para a sala de aula foi uma oportunidade para os alunos reinventá-los e elaborar novas regras e/ou novos roteiros para esses jogos é algo desafiante e estimula a criatividade dos alunos. O vídeo foi um sucesso de curtidas. As pessoas gostaram tanto que eles receberão diversas mensagens perguntando como havia sido feito. Elas se encantavam com a quantidade de efeitos especiais e algumas duvidavam que tivesse sido realizado na escola pública.

 

Conheça os vídeos produzidos pelos alunos do Professor Jayse Antonio:

Harry Potter:

Minecraft Apocalipse:

Making Off:

[1]  Jayse Antonio é formado em Educação Artística, possui pós-graduação em Psicopedagogia. Atua há mais de 10 anos como professor e tem experiência em Ensino Fundamental II, Ensino Médio e EJA. Dedica-se a aplicação mais dinâmica das diversas linguagens artísticas, em especial a Fotografia e o Cinema e desenvolveu um projeto chamado EU SOU UMA OBRA DE ARTE que visa resgatar a autoestima e a valorização étnico-racial dos educandos. Em 2014 foi vencedor do 8º Prêmio Professores do Brasil, realizado pelo MEC e seus parceiros, na categoria Ensino Médio e em 2017 na categoria Inovação Pedagógica. Atualmente, dá aulas na cidade Itambé em Pernambuco na rede Estadual e em Pedras de Fogo na Paraíba pela rede Municipal. – Reconhecimentos que recebeu em 2017: Prêmio Professores do Brasil, prêmio de Arte da Revista Select, Prêmio do Detran PE, reportagem para site da nova escola, reportagem para site da Porvir, TV Escola e entrevista para a Contando Saberes.

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A importância da criatividade e o pensamento crítico no processo de aprendizagem

A importância da criatividade e o pensamento crítico no processo de aprendizagem

A criatividade e o pensamento crítico são habilidades socioemocionais e precisam ser exercitada a todo o momento na educação para o desenvolvimento integral  do estudante. Conhecer um pouco mais sobre elas é fundamental para colocá-las em práticas no dia a dia escolar.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em suas 10 competências, descreve o objetivo de desenvolvimento e ao longo das competências enfatiza o trabalho com a criatividade e o pensamento crítico.

O ser humano, em sua essência traz o trabalho com a criatividade e com o pensamento crítico. Os avanços com a revolução industrial, a inteligência artificial e as mudanças ocorridas pela tecnologia colocaram essas habilidades no centro do processo de aprendizagem e a escola é um espaço propício para que essas habilidades sejam desenvolvidas e trabalhadas  ao longo do processo de aprendizagem. 

 
 

Habilidades socioemocionais híbridas

 

A criatividade e o pensamento críticos são competências socioemocionais híbridas, porque misturam aspectos socioemocionais, como por exemplo, aspectos da criticidade, mas também do processo de criação que passa por si e pelo outro que trabalham a colaboração, a empatia, a abertura ao novo, ao autocuidado, autogestão, alternando com competências cognitivas que  faz esse hibridismo. 

O fato destas competências serem híbridas permitem uma série de possibilidades na sala de aula, como estar aberto a vivenciar novas aprendizagens,  ter curiosidade de aprender, ser resiliente para expor o pensamento crítico e também criar em busca de novas aprendizagens e experimentações, permitindo sair da zona de conforto, mas resolvendo problemas ao exercitar o pensamento lógico, sendo assertivo. 

Além disso, essas habilidades trabalham aspectos essenciais para formação do estudante integral que busca por informações, pesquisa, que projeta lidar com situações conflituosas e que toma decisões através do exercício do pensamento crítico. Ao mesmo tempo que a criatividade busca por soluções de problemas, através da mobilização da capacidade criativa individual e ou em grupo, sendo essencial para a vida em sociedade e futuramente para a vivência no grupo de trabalho.

 

Para levar a sala de aula

 

Nas 10 competências da Base Nacional Comum Curricular, vemos um retrato do estudante que queremos formar e as habilidades que são necessárias para almejar essa formação. Inclusive neste momento de ensino emergencial é possível desenvolver uma proposta pedagógica em que o estudante possa trabalhar com essas habilidades.

A cultura maker, a todo o momento está trabalhando com o pensamento crítico e também com a criatividade que os estudantes têm que mobilizar diversos conhecimentos para construir os seus projetos que o processo tem uma importância muito maior do que o produto final.

O mesmo podemos dizer para o ensino de programação que pode ocorrer de maneira desplugada, através de vivências concretas e no plugado com o auxílio de programas específicos e que envolve o desenvolvimento das habilidades de criatividade ao criar narrativas digitais, jogos e ou programações para os protótipos e ainda o exercício do pensamento crítico ao exercitar o raciocínio lógico e pensar e refletir na resolução de problemas, colaborando para uma educação integral em que os estudantes participem ativamente do processo de construção da aprendizagem e que futuramente possa contribuir  para a vida em sociedade.

Citamos dois exemplos, mas é possível inovar e trabalhar com a criatividade e pensamento crítico a partir de diversos materiais, entre eles, o material didático, recursos digitais, tudo depende da maneira que será apresentado e abordado em sala de aula, trabalhando com uma aprendizagem ativa. 

Nossos jovens e crianças  aprendem de uma maneira diferenciada e temos que dar a oportunidade de aprender com o outro, ouvindo, lendo, aguçando sua vontade de aprender, experimentando para que possa dialogar com as diferenças e aprender a partir delas, respeitando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagens em uma educação que considera o aluno de maneira integral.  

 

Um abraço carinhoso, 

Débora

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A importância da criatividade e o pensamento crítico no processo de aprendizagem

A criatividade e o pensamento crítico são habilidades socioemocionais e precisam ser exercitada a todo o momento na educação para o desenvolvimento integral  do estudante. Conhecer um pouco mais sobre elas é fundamental para colocá-las em práticas no dia a dia escolar.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em suas 10 competências, descreve o objetivo de desenvolvimento e ao longo das competências enfatiza o trabalho com a criatividade e o pensamento crítico.

O ser humano, em sua essência traz o trabalho com a criatividade e com o pensamento crítico. Os avanços com a revolução industrial, a inteligência artificial e as mudanças ocorridas pela tecnologia colocaram essas habilidades no centro do processo de aprendizagem e a escola é um espaço propício para que essas habilidades sejam desenvolvidas e trabalhadas  ao longo do processo de aprendizagem. 

 
 

Habilidades socioemocionais híbridas

 

A criatividade e o pensamento críticos são competências socioemocionais híbridas, porque misturam aspectos socioemocionais, como por exemplo, aspectos da criticidade, mas também do processo de criação que passa por si e pelo outro que trabalham a colaboração, a empatia, a abertura ao novo, ao autocuidado, autogestão, alternando com competências cognitivas que  faz esse hibridismo. 

O fato destas competências serem híbridas permitem uma série de possibilidades na sala de aula, como estar aberto a vivenciar novas aprendizagens,  ter curiosidade de aprender, ser resiliente para expor o pensamento crítico e também criar em busca de novas aprendizagens e experimentações, permitindo sair da zona de conforto, mas resolvendo problemas ao exercitar o pensamento lógico, sendo assertivo. 

Além disso, essas habilidades trabalham aspectos essenciais para formação do estudante integral que busca por informações, pesquisa, que projeta lidar com situações conflituosas e que toma decisões através do exercício do pensamento crítico. Ao mesmo tempo que a criatividade busca por soluções de problemas, através da mobilização da capacidade criativa individual e ou em grupo, sendo essencial para a vida em sociedade e futuramente para a vivência no grupo de trabalho.

 

Para levar a sala de aula

 

Nas 10 competências da Base Nacional Comum Curricular, vemos um retrato do estudante que queremos formar e as habilidades que são necessárias para almejar essa formação. Inclusive neste momento de ensino emergencial é possível desenvolver uma proposta pedagógica em que o estudante possa trabalhar com essas habilidades.

A cultura maker, a todo o momento está trabalhando com o pensamento crítico e também com a criatividade que os estudantes têm que mobilizar diversos conhecimentos para construir os seus projetos que o processo tem uma importância muito maior do que o produto final.

O mesmo podemos dizer para o ensino de programação que pode ocorrer de maneira desplugada, através de vivências concretas e no plugado com o auxílio de programas específicos e que envolve o desenvolvimento das habilidades de criatividade ao criar narrativas digitais, jogos e ou programações para os protótipos e ainda o exercício do pensamento crítico ao exercitar o raciocínio lógico e pensar e refletir na resolução de problemas, colaborando para uma educação integral em que os estudantes participem ativamente do processo de construção da aprendizagem e que futuramente possa contribuir  para a vida em sociedade.

Citamos dois exemplos, mas é possível inovar e trabalhar com a criatividade e pensamento crítico a partir de diversos materiais, entre eles, o material didático, recursos digitais, tudo depende da maneira que será apresentado e abordado em sala de aula, trabalhando com uma aprendizagem ativa. 

Nossos jovens e crianças  aprendem de uma maneira diferenciada e temos que dar a oportunidade de aprender com o outro, ouvindo, lendo, aguçando sua vontade de aprender, experimentando para que possa dialogar com as diferenças e aprender a partir delas, respeitando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagens em uma educação que considera o aluno de maneira integral.  

 

Um abraço carinhoso, 

Débora

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A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
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A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
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A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

Território educativo: Como se tornar uma escola transformadora?

Território educativo: Como se tornar uma escola transformadora?

Planejamento coletivo e gestão democrática são caminhos de ampliação da escola para a transformação da comunidade.

Já se tornou corriqueiro nos debates sobre educação lembrar que o mundo vem mudando velozmente nas últimas décadas e que este campo social, especialmente no que se refere à sua principal instituição — a escola e o sistema escolar —, precisa se reinventar para a nova realidade. Vamos avançar um pouco mais nessa reflexão.

A revolução tecnológica possibilitou a coordenação eficiente de grande número de fornecedores independentes, demolindo o gigantismo burocrático que dominava a organização interna das empresas, marcadas por fortes hierarquias e departamentalização dos conhecimentos. Na mesma direção, possibilitou a multiplicação de micro, pequenas e médias empresas na indústria, na agricultura e nos serviços, que passaram a se organizar em rede, não mais nas estruturas hierárquicas anteriores. Nos ambientes de trabalho, valoriza-se cada vez menos a alta especialização e cada vez mais a participação e criação.

A produção de conhecimento científico e de bens culturais passou a se organizar também de modo descentralizado, com base em novas e sofisticadas formas de trabalho em equipe e em rede, e a catalisação de oportunidades e recursos.

Estão dadas as condições tecnológicas para que pessoas e coletivos sejam agentes econômicos e sociais produtivos e, mais importante, agentes de mudanças sociais positivas. Para que isso se torne realidade, é urgente um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, que valorize a diversidade ambiental e cultural do país para a superação da sua inaceitável desigualdade econômica. Um projeto dessa natureza permite reconhecer o papel estratégico que as escolas podem desempenhar. Como a principal instituição formadora das novas gerações e produtora de conhecimento, a escola pode catalisar processos e projetos que favoreçam o desenvolvimento local.

Hoje no Brasil, assim como em muitos outros países, a escola é o equipamento público mais bem distribuído pelo território nacional. Tal equipamento possui um corpo multidisciplinar de profissionais, proximidade cotidiana com as famílias e a maior de todas as potências nacionais: as crianças e os jovens. Essas pessoas que, não tendo sido formadas no mundo da repetição, das hierarquias e especializações, não têm nada a desaprender e possuem todas as condições para se desenvolverem como agentes de transformação positiva.

Escola transformadora

A transformação da escola em um centro local de produção de conhecimento e cultura começa pela construção coletiva do seu projeto político pedagógico (PPP). Gestores, professores, colaboradores, estudantes, famílias e agentes da comunidade são convidados a refletir juntos sobre o contexto em que se encontram. Considerando o contexto social, a origem e a cultura das pessoas do lugar, os desafios econômicos, sociais e ambientais e as potências locais, qual o papel que a escola deve desempenhar para que as crianças e jovens daqui tenham condições de se realizar pessoal e profissionalmente?

Ao responder a tal pergunta coletivamente, o projeto pedagógico da escola definirá sua visão, seus valores e sua forma de organização. A partir disso, a cada ano o currículo será desenhado de modo a engajar estudantes e professores em processos de pesquisa e projetos de intervenção que possibilitem a realização do objetivo maior da escola. Partindo do levantamento da história, da paisagem, das expressões e tradições culturais e dos desafios socioambientais, cada instituição define seu plano anual, considerando as potências locais, os objetivos comunitários e os interesses dos estudantes, para o desenvolvimento de projetos coletivos que, ao mesmo tempo e tomam o lugar um território educativo, possibilitam que os estudantes aprendam a manejar e interpretar as informações, criando novas soluções e oportunidades.

A base metodológica da escola transformadora busca garantir o desenvolvimento de quatro habilidades fundamentais para o mundo em constante transformação. A primeira é a empatia: já não é possível realizar o bem comum seguindo estritamente as regras, por isso dependemos cada vez mais da capacidade de compreender as diferentes formas de conexão entre pessoas, seres vivos, coletivos e instituições, e como as mudanças constantes afetam tais conexões para, assim, encontrar as soluções que priorizam o todo. A empatia só pode se desenvolver no coletivo. O primeiro coletivo é a própria escola, na qual os estudantes devem ser convocados a participar da elaboração e da implementação das regras de convivência, da mediação de conflitos e dos cuidados com o outro e com o que é de todos. O segundo coletivo a que o estudante deve se engajar é o da comunidade em que está inserida a escola. É no contexto comunitário que o estudante deve ser participante ativo nos processos de investigação, reflexão e intervenção sempre pautados pelo bem comum.

Neste mundo em constante transformação, as institucionalidades, os departamentos e as hierarquias têm cada vez menos relevância. As pessoas estão frequentemente atuando em grupos diversos, novas equipes se formam em torno de objetivos comuns e depois se dissolvem. Ser capaz de assumir papéis diferentes e complementares em equipes diferentes, ora liderando processos, ora sendo liderado, é condição básica para a realização profissional e social. Chegamos aqui à segunda habilidade a ser desenvolvida na escola transformadora: trabalhar em equipes fluidas, com pessoas de competências, culturas e interesses diversos, construindo projetos conjuntos.

Cada vez mais, há uma urgência pela atitude. É um momento histórico em que não há tempo para soluções que colocam em risco a própria existência de futuro. O imediatismo e as emergências exigem indivíduos com uma atitude ao mesmo tempo prudente e criativa, que sejam capazes de formular novas soluções para problemas socioambientais urgentes. Soluções que criadas com base no domínio das diferentes linguagens, ciências e saberes, mas que sejam capazes de reinventá-las. A criatividade é, portanto, outra habilidade a ser desenvolvida.

A síntese de tudo isso pode ser o tão falado protagonismo do estudante. Esse pode ser um termo que expresse o movimento de o estudante se sensibilizar em relação a alguma questão, engajar outras pessoas no processo de criar ideias para enfrentá-la e colocar tais ideias em prática. O estudante transforma seu meio ao mesmo tempo que se transforma.

Território educativo

A escola que forma indivíduos capazes de se reconhecer como agentes de mudança e que conhecem sua potência para melhorar o mundo, catalisa processos que transformam seus contextos em territórios orientados para o pleno desenvolvimento de todos.

quando a escola se reconhece como agente da comunidade, transforma seu currículo para atender aos problemas locais.

Quando a escola mobiliza sua equipe e seus estudantes para investigar o lugar o em que está e os convida a pensar como o ambiente pode ser melhorado, invariavelmente induz a conhecer outros agentes do território que também têm potencial para transformá-lo e estão disponíveis para isso. Normalmente há em um mesmo território, outros estabelecimentos do sistema educacional, creches ou escolas, voltadas para outros níveis de ensino ou pertencentes a outras redes de ensino. Em alguns casos, há também instituições de nível superior. É comum que a maior parte de crianças de uma determinada creche siga para a mesma escola da Educação Infantil, dessa para a de Ensino Fundamental e, às vezes, até para a escola de Ensino Médio. Acontece com frequência de a mesma família ter filhos em diferentes estabelecimentos de ensino do mesmo bairro. No entanto, apesar de todas essas conexões, é raro que esses estabelecimentos se encontrem. A escola que se identifica como um agente da comunidade vai, muitas vezes, buscar conhecer, trocar experiências e unir forças com as outras escolas, criando, em alguns casos, até mesmo um plano educativo local. Esse plano parte do compartilhamento de experiências, visões e desafios das instituições do lugar, da definição de objetivos comuns e da eleição de prioridades.

No compartilhamento dos desafios enfrentados pelas escolas do mesmo território, certamente elas se deparam com questões que não são capazes de solucionar sem o engajamento de agentes de outros setores: alunos que faltam muito porque as famílias estão passando por situação de vulnerabilidade, estudantes que sofrem violência doméstica, jovens que precisam sair mais cedo porque não há transporte público no horário necessário, episódios recorrentes de assalto no entorno da escola. Para enfrentar problemas desse tipo, as escolas precisam buscar outros agentes do território: assistência social, saúde, transporte, segurança, entre outros. Juntos, criam estratégias que fazem funcionar o sistema de garantia de direitos e são capazes de mobilizar a comunidade local para reivindicar seus direitos. Por isso, as associações de moradores e outras organizações comunitárias são agentes estratégicos do território educativo.

O diagnóstico feito pelas escolas pode apontar desafios ambientais, ausências de espaços de lazer e oportunidades culturais. Nesse caso, os parceiros a serem procurados são os da cultura, esporte, comunicação, meio ambiente, entre outros. Tanto os equipamentos públicos quanto os agentes comunitários e mesmo os equipamentos privados.

Um bom exemplo é o Bairro Educador de Heliópolis, na cidade de São Paulo, em que a catalisação de todo o processo foi feita pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles, em aliança com a União de Núcleos e Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS). Concentrando-se inicialmente na transformação de uma área degradada no entorno da escola em uma área de lazer que comportasse mais escolas para atender à alta demanda local, a aliança iniciada no final dos anos 90 segue até hoje, incluindo cada vez mais agentes para atender aos 125 mil moradores da região.

Com mais de mil estudantes, na Campos Salles, não há aulas. Nem salas de aula. Em um ambiente que valoriza a convivência democrática, a estrutura é de amplos salões, com mesas em que grupos de estudantes trabalham juntos, com base em roteiros de pesquisas escolhidos por eles. Quando precisam de ajuda, recorrem aos três professores que estão no espaço no momento. Os professores trabalham em parceria, rompendo com a estrutura do isolamento da sala de aula. A gestão da convivência escolar é feita pela República de Alunos, em que há um prefeito e vereadores eleitos pelo conjunto de estudantes, secretários nomeados pelo prefeito e comissões mediadoras.

Da aliança entre a Campos Salles e a UNAS, nasceu a Caminhada da Paz, que há 20 anos leva milhares de pessoas às ruas do bairro, com bandeiras e cartazes, resultantes de pesquisas que envolvem estudantes e educadores ao longo do ano. A organização anual da Caminhada é feita pelo Movimento Sol da Paz, que une escolas, associações de moradores, organizações da assistência social, da cultura e do esporte.

Há uma dimensão quantitativa dos resultados alcançados. Além da Campos Salles, a comunidade conquistou uma escola de Educação Infantil, uma escola técnica e uma universidade aberta. Na escola técnica, são oferecidos cursos de escolha da comunidade – nutrição, edificações e webdesign. O Bairro Educador de Heliópolis conquistou também onze Centros de Educação Infantil (CEI), oito Centros da Criança e do Adolescente (CCAs), dois núcleos do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, o Serviço de Atendimento Social a Família (SASF) e sete núcleos do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), todos geridos pela UNAS. Além dos equipamentos educativos, o Bairro Educador conta com uma biblioteca, um teatro/cinema, uma escola de música que sedia a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, um centro poliesportivo, um Ponto de Cultura, uma rádio comunitária e um laboratório de fabricação digital. Todos esses equipamentos conquistados pela comunidade foram integrados pela gestão municipal constituindo um Centro Educacional Unificado (CEU). Na moradia, a conquista se revela em um condomínio com prédios redondos projetados em parceria entre a comunidade e o arquiteto, com área de lazer e comunitária.

Jovens agentes de transformação

Quando a escola se reconhece como agente da comunidade, possibilita que seu currículo seja construído na interface entre os desafios locais e os interesses dos estudantes. Os estudantes, motivados pela leitura compartilhada dos desafios locais, muitas vezes, são os catalisadores dos processos que podem transformar o lugar em um território educativo.

Em Araguatins, região do Bico do Papagaio, no Tocantins, Rhenan Cauê, de 13 anos, foi motivado pelo Colégio Estadual Osvaldo Franco a desenvolver uma iniciativa para enfrentar os desafios ambientais que o sensibilizavam. Na escola, Rhenan compreendeu que a sujeira do Rio Brejinho, o afluente do Araguaia em sua cidade, era a responsável pelas doenças tropicais como a dengue e a lepra, que vitimavam os moradores lugar. Para enfrentar a questão, Rhenan e os colegas vão às escolas para falar da prevenção das doenças tropicais, além de liderarem ações de conscientização em relação à mudança climática. Mas, foi com o projeto para limpar o rio, que Rhenan foi indicado como representante de sua escola na Conferência Estadual Escolar de Meio Ambiente e, depois, na Nacional. A partir disso, adquiriu as ferramentas para colocar o projeto em pé. Junto com os colegas, primeiro engajaram as outras escolas e organizações da sociedade civil para o mutirão de limpeza do rio. No processo, mobilizaram Prefeitura, Polícia Militar, Ambiental, Corpo de Bombeiros, Órgãos ambientais, universidades, Promotoria de Justiça. Rio limpo, partiram para a construção de alianças com Governo do estado e demais agentes do território, em busca das sementes para o plantio de árvores que dará origem à construção de um parque ecológico.

São muitos os exemplos de escolas que estimulam jovens a desenvolverem projetos para a transformação positiva de seus contextos. Escolas de Ensino Médio e técnico em áreas rurais que integram os saberes comunitários com os saberes científicos de manejo agroecológico, possibilitando aos jovens as condições para permanecer no campo, realizando-se pessoal, profissional e socialmente. Escolas em territórios indígenas que sediam os planos de manejo anuais da comunidade, tendo os estudantes como seus protagonistas. Escolas que se tornam polos culturais da comunidade, sediando eventos, mostras, festivais e outras iniciativas que valorizam as expressões locais, inclusive criando novas oportunidades econômicas. Todas essas experiências revelam é que o território educativo se constitui exatamente como resultado da ação articulada e catalisadora de escolas e estudantes que integram e potencializam as oportunidades locais.

texto Helena Singer

 

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A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
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Território educativo: Como se tornar uma escola transformadora?

Planejamento coletivo e gestão democrática são caminhos de ampliação da escola para a transformação da comunidade.

Já se tornou corriqueiro nos debates sobre educação lembrar que o mundo vem mudando velozmente nas últimas décadas e que este campo social, especialmente no que se refere à sua principal instituição — a escola e o sistema escolar —, precisa se reinventar para a nova realidade. Vamos avançar um pouco mais nessa reflexão.

A revolução tecnológica possibilitou a coordenação eficiente de grande número de fornecedores independentes, demolindo o gigantismo burocrático que dominava a organização interna das empresas, marcadas por fortes hierarquias e departamentalização dos conhecimentos. Na mesma direção, possibilitou a multiplicação de micro, pequenas e médias empresas na indústria, na agricultura e nos serviços, que passaram a se organizar em rede, não mais nas estruturas hierárquicas anteriores. Nos ambientes de trabalho, valoriza-se cada vez menos a alta especialização e cada vez mais a participação e criação.

A produção de conhecimento científico e de bens culturais passou a se organizar também de modo descentralizado, com base em novas e sofisticadas formas de trabalho em equipe e em rede, e a catalisação de oportunidades e recursos.

Estão dadas as condições tecnológicas para que pessoas e coletivos sejam agentes econômicos e sociais produtivos e, mais importante, agentes de mudanças sociais positivas. Para que isso se torne realidade, é urgente um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, que valorize a diversidade ambiental e cultural do país para a superação da sua inaceitável desigualdade econômica. Um projeto dessa natureza permite reconhecer o papel estratégico que as escolas podem desempenhar. Como a principal instituição formadora das novas gerações e produtora de conhecimento, a escola pode catalisar processos e projetos que favoreçam o desenvolvimento local.

Hoje no Brasil, assim como em muitos outros países, a escola é o equipamento público mais bem distribuído pelo território nacional. Tal equipamento possui um corpo multidisciplinar de profissionais, proximidade cotidiana com as famílias e a maior de todas as potências nacionais: as crianças e os jovens. Essas pessoas que, não tendo sido formadas no mundo da repetição, das hierarquias e especializações, não têm nada a desaprender e possuem todas as condições para se desenvolverem como agentes de transformação positiva.

Escola transformadora

A transformação da escola em um centro local de produção de conhecimento e cultura começa pela construção coletiva do seu projeto político pedagógico (PPP). Gestores, professores, colaboradores, estudantes, famílias e agentes da comunidade são convidados a refletir juntos sobre o contexto em que se encontram. Considerando o contexto social, a origem e a cultura das pessoas do lugar, os desafios econômicos, sociais e ambientais e as potências locais, qual o papel que a escola deve desempenhar para que as crianças e jovens daqui tenham condições de se realizar pessoal e profissionalmente?

Ao responder a tal pergunta coletivamente, o projeto pedagógico da escola definirá sua visão, seus valores e sua forma de organização. A partir disso, a cada ano o currículo será desenhado de modo a engajar estudantes e professores em processos de pesquisa e projetos de intervenção que possibilitem a realização do objetivo maior da escola. Partindo do levantamento da história, da paisagem, das expressões e tradições culturais e dos desafios socioambientais, cada instituição define seu plano anual, considerando as potências locais, os objetivos comunitários e os interesses dos estudantes, para o desenvolvimento de projetos coletivos que, ao mesmo tempo e tomam o lugar um território educativo, possibilitam que os estudantes aprendam a manejar e interpretar as informações, criando novas soluções e oportunidades.

A base metodológica da escola transformadora busca garantir o desenvolvimento de quatro habilidades fundamentais para o mundo em constante transformação. A primeira é a empatia: já não é possível realizar o bem comum seguindo estritamente as regras, por isso dependemos cada vez mais da capacidade de compreender as diferentes formas de conexão entre pessoas, seres vivos, coletivos e instituições, e como as mudanças constantes afetam tais conexões para, assim, encontrar as soluções que priorizam o todo. A empatia só pode se desenvolver no coletivo. O primeiro coletivo é a própria escola, na qual os estudantes devem ser convocados a participar da elaboração e da implementação das regras de convivência, da mediação de conflitos e dos cuidados com o outro e com o que é de todos. O segundo coletivo a que o estudante deve se engajar é o da comunidade em que está inserida a escola. É no contexto comunitário que o estudante deve ser participante ativo nos processos de investigação, reflexão e intervenção sempre pautados pelo bem comum.

Neste mundo em constante transformação, as institucionalidades, os departamentos e as hierarquias têm cada vez menos relevância. As pessoas estão frequentemente atuando em grupos diversos, novas equipes se formam em torno de objetivos comuns e depois se dissolvem. Ser capaz de assumir papéis diferentes e complementares em equipes diferentes, ora liderando processos, ora sendo liderado, é condição básica para a realização profissional e social. Chegamos aqui à segunda habilidade a ser desenvolvida na escola transformadora: trabalhar em equipes fluidas, com pessoas de competências, culturas e interesses diversos, construindo projetos conjuntos.

Cada vez mais, há uma urgência pela atitude. É um momento histórico em que não há tempo para soluções que colocam em risco a própria existência de futuro. O imediatismo e as emergências exigem indivíduos com uma atitude ao mesmo tempo prudente e criativa, que sejam capazes de formular novas soluções para problemas socioambientais urgentes. Soluções que criadas com base no domínio das diferentes linguagens, ciências e saberes, mas que sejam capazes de reinventá-las. A criatividade é, portanto, outra habilidade a ser desenvolvida.

A síntese de tudo isso pode ser o tão falado protagonismo do estudante. Esse pode ser um termo que expresse o movimento de o estudante se sensibilizar em relação a alguma questão, engajar outras pessoas no processo de criar ideias para enfrentá-la e colocar tais ideias em prática. O estudante transforma seu meio ao mesmo tempo que se transforma.

Território educativo

A escola que forma indivíduos capazes de se reconhecer como agentes de mudança e que conhecem sua potência para melhorar o mundo, catalisa processos que transformam seus contextos em territórios orientados para o pleno desenvolvimento de todos.

quando a escola se reconhece como agente da comunidade, transforma seu currículo para atender aos problemas locais.

Quando a escola mobiliza sua equipe e seus estudantes para investigar o lugar o em que está e os convida a pensar como o ambiente pode ser melhorado, invariavelmente induz a conhecer outros agentes do território que também têm potencial para transformá-lo e estão disponíveis para isso. Normalmente há em um mesmo território, outros estabelecimentos do sistema educacional, creches ou escolas, voltadas para outros níveis de ensino ou pertencentes a outras redes de ensino. Em alguns casos, há também instituições de nível superior. É comum que a maior parte de crianças de uma determinada creche siga para a mesma escola da Educação Infantil, dessa para a de Ensino Fundamental e, às vezes, até para a escola de Ensino Médio. Acontece com frequência de a mesma família ter filhos em diferentes estabelecimentos de ensino do mesmo bairro. No entanto, apesar de todas essas conexões, é raro que esses estabelecimentos se encontrem. A escola que se identifica como um agente da comunidade vai, muitas vezes, buscar conhecer, trocar experiências e unir forças com as outras escolas, criando, em alguns casos, até mesmo um plano educativo local. Esse plano parte do compartilhamento de experiências, visões e desafios das instituições do lugar, da definição de objetivos comuns e da eleição de prioridades.

No compartilhamento dos desafios enfrentados pelas escolas do mesmo território, certamente elas se deparam com questões que não são capazes de solucionar sem o engajamento de agentes de outros setores: alunos que faltam muito porque as famílias estão passando por situação de vulnerabilidade, estudantes que sofrem violência doméstica, jovens que precisam sair mais cedo porque não há transporte público no horário necessário, episódios recorrentes de assalto no entorno da escola. Para enfrentar problemas desse tipo, as escolas precisam buscar outros agentes do território: assistência social, saúde, transporte, segurança, entre outros. Juntos, criam estratégias que fazem funcionar o sistema de garantia de direitos e são capazes de mobilizar a comunidade local para reivindicar seus direitos. Por isso, as associações de moradores e outras organizações comunitárias são agentes estratégicos do território educativo.

O diagnóstico feito pelas escolas pode apontar desafios ambientais, ausências de espaços de lazer e oportunidades culturais. Nesse caso, os parceiros a serem procurados são os da cultura, esporte, comunicação, meio ambiente, entre outros. Tanto os equipamentos públicos quanto os agentes comunitários e mesmo os equipamentos privados.

Um bom exemplo é o Bairro Educador de Heliópolis, na cidade de São Paulo, em que a catalisação de todo o processo foi feita pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles, em aliança com a União de Núcleos e Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS). Concentrando-se inicialmente na transformação de uma área degradada no entorno da escola em uma área de lazer que comportasse mais escolas para atender à alta demanda local, a aliança iniciada no final dos anos 90 segue até hoje, incluindo cada vez mais agentes para atender aos 125 mil moradores da região.

Com mais de mil estudantes, na Campos Salles, não há aulas. Nem salas de aula. Em um ambiente que valoriza a convivência democrática, a estrutura é de amplos salões, com mesas em que grupos de estudantes trabalham juntos, com base em roteiros de pesquisas escolhidos por eles. Quando precisam de ajuda, recorrem aos três professores que estão no espaço no momento. Os professores trabalham em parceria, rompendo com a estrutura do isolamento da sala de aula. A gestão da convivência escolar é feita pela República de Alunos, em que há um prefeito e vereadores eleitos pelo conjunto de estudantes, secretários nomeados pelo prefeito e comissões mediadoras.

Da aliança entre a Campos Salles e a UNAS, nasceu a Caminhada da Paz, que há 20 anos leva milhares de pessoas às ruas do bairro, com bandeiras e cartazes, resultantes de pesquisas que envolvem estudantes e educadores ao longo do ano. A organização anual da Caminhada é feita pelo Movimento Sol da Paz, que une escolas, associações de moradores, organizações da assistência social, da cultura e do esporte.

Há uma dimensão quantitativa dos resultados alcançados. Além da Campos Salles, a comunidade conquistou uma escola de Educação Infantil, uma escola técnica e uma universidade aberta. Na escola técnica, são oferecidos cursos de escolha da comunidade – nutrição, edificações e webdesign. O Bairro Educador de Heliópolis conquistou também onze Centros de Educação Infantil (CEI), oito Centros da Criança e do Adolescente (CCAs), dois núcleos do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto, o Serviço de Atendimento Social a Família (SASF) e sete núcleos do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), todos geridos pela UNAS. Além dos equipamentos educativos, o Bairro Educador conta com uma biblioteca, um teatro/cinema, uma escola de música que sedia a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, um centro poliesportivo, um Ponto de Cultura, uma rádio comunitária e um laboratório de fabricação digital. Todos esses equipamentos conquistados pela comunidade foram integrados pela gestão municipal constituindo um Centro Educacional Unificado (CEU). Na moradia, a conquista se revela em um condomínio com prédios redondos projetados em parceria entre a comunidade e o arquiteto, com área de lazer e comunitária.

Jovens agentes de transformação

Quando a escola se reconhece como agente da comunidade, possibilita que seu currículo seja construído na interface entre os desafios locais e os interesses dos estudantes. Os estudantes, motivados pela leitura compartilhada dos desafios locais, muitas vezes, são os catalisadores dos processos que podem transformar o lugar em um território educativo.

Em Araguatins, região do Bico do Papagaio, no Tocantins, Rhenan Cauê, de 13 anos, foi motivado pelo Colégio Estadual Osvaldo Franco a desenvolver uma iniciativa para enfrentar os desafios ambientais que o sensibilizavam. Na escola, Rhenan compreendeu que a sujeira do Rio Brejinho, o afluente do Araguaia em sua cidade, era a responsável pelas doenças tropicais como a dengue e a lepra, que vitimavam os moradores lugar. Para enfrentar a questão, Rhenan e os colegas vão às escolas para falar da prevenção das doenças tropicais, além de liderarem ações de conscientização em relação à mudança climática. Mas, foi com o projeto para limpar o rio, que Rhenan foi indicado como representante de sua escola na Conferência Estadual Escolar de Meio Ambiente e, depois, na Nacional. A partir disso, adquiriu as ferramentas para colocar o projeto em pé. Junto com os colegas, primeiro engajaram as outras escolas e organizações da sociedade civil para o mutirão de limpeza do rio. No processo, mobilizaram Prefeitura, Polícia Militar, Ambiental, Corpo de Bombeiros, Órgãos ambientais, universidades, Promotoria de Justiça. Rio limpo, partiram para a construção de alianças com Governo do estado e demais agentes do território, em busca das sementes para o plantio de árvores que dará origem à construção de um parque ecológico.

São muitos os exemplos de escolas que estimulam jovens a desenvolverem projetos para a transformação positiva de seus contextos. Escolas de Ensino Médio e técnico em áreas rurais que integram os saberes comunitários com os saberes científicos de manejo agroecológico, possibilitando aos jovens as condições para permanecer no campo, realizando-se pessoal, profissional e socialmente. Escolas em territórios indígenas que sediam os planos de manejo anuais da comunidade, tendo os estudantes como seus protagonistas. Escolas que se tornam polos culturais da comunidade, sediando eventos, mostras, festivais e outras iniciativas que valorizam as expressões locais, inclusive criando novas oportunidades econômicas. Todas essas experiências revelam é que o território educativo se constitui exatamente como resultado da ação articulada e catalisadora de escolas e estudantes que integram e potencializam as oportunidades locais.

texto Helena Singer

 

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Como inovar nas aulas em tempo de pandemia

Como inovar nas aulas em tempo de pandemia

Com as aulas sendo ministrada por tecnologia, muitos professores estão com dúvidas de como inovar em suas aulas, já que o planejamento das aulas presenciais e  das aulas mediadas por tecnologia são muitos diferentes entre si. Além de alguns materiais que estávamos acostumado a usar em sala de aula, sofrerem alterações para que possam se apresentando em aulas e suportes digitais. 

Precisamos olhar para esse período, como um período emergencial das aulas, considerando que é normal enfrentar dificuldades em preparar as mesmas, por isso planejá-la, trocar com o colega e compreender as diferenças podem te auxiliar a inovar no aprendizado. E para te auxiliar neste momento, reunimos algumas sugestões para que possa refletir e replicar. Vamos lá?!

 
 

Menos é mais

 

Sabe aquela frase menos é mais, é propícia para esse momento! Para que os estudantes possam se engajar com as aulas, é preciso que as mesmas sejam atrativas, interativas e que se sintam pertencente a ela, criando uma conexão com os alunos,  já que o meio ministrado é o suporte digital.

Os passos da aula devem ser apresentados aos estudantes e as mesmas devem ser compostas pela apresentação inicial e um acolhimento, apresentando a habilidade a ser trabalhada para que o estudante possa compreender a proposta e uma problematização e ou um tema gerador. Na sequência o desenvolvimento da aula com atividades e por fim uma retomada dos principais assuntos e também uma avaliação para compor o portfólio e ou uma rubrica que servirá de base para um replanejamento e compreensão se os estudantes estão conseguindo acompanhar as aulas. 

É importante promover a interação, mas permitindo que os estudantes escolham a maneira de participar. Muitos sentem receios de se expor e dizer algo que possa está errado e os amigos ficarem com brincadeiras, por isso é importante estabelecer combinados e sempre conversar com a turma sobre internet segura e cyberbullying.

Para levar para as aulas

 

Metodologias ativas

 

As metodologias ativas podem ser trabalhadas de diversas maneiras e um dos objetivos principais é tirar o aluno da passividade e trazê-lo ao centro do processo de aprendizagem, para que participe de maneira ativa da sua aprendizagem.

Vale trazer problemas reais e conversar com os estudantes sobre o momento atual em que estamos vivenciando e ofertar que os alunos reflitam sobre alguns aspectos, encontrando possíveis soluções.

A sala de aula invertida, também pode trazer engajamento e personalização ao aprendizado ao antecipar conteúdos que pode ser uma música, uma leitura e ou filme para que o estudante possa trazer pontos para a discussão nas aulas. O cuidado é somente propor coisas que são acessíveis aos discentes nesse momento.

 

Cultura Maker

 

Outro desafio possível neste momento é trabalhar com a cultura maker que propõe um aprendizado mão na massa. É possível aliar o seu aprendizado as metodologias ativas e incentivarem os estudantes criarem, utilizando a criatividade com materiais de fácil acesso e também apresentando propostas de substituição.

 

Habilidades Socioemocionais

 

Trabalhar com as habilidades socioemocionais é essencial, principalmente porque estamos administrando muitos sentimentos neste momento de pandemia. Prevê um acolhimento, uma atividade que pode até ser em formato de rubrica, ajuda a compreender um pouco mais como estão nossos estudantes e a replanejar as ações.

 

Os desafios são muitos, trazer os pilares da inovação, é importante  para mantermos a tranquilidade  e repassá-la aos estudantes, construindo caminhos juntos. As pessoas sempre serão o centro do processo de aprendizagem.

Um abraço carinhoso,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
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É hora de rever seu mindset!

É hora de rever seu mindset!

Como mudar atitudes e pensamentos reflete em melhores resultados.

Quando começou a lecionar em um tradicional colégio da comunidade japonesa de São Paulo, há alguns anos, o geógrafo Guilherme Sandler tinha dois caminhos a escolher: ou seguir livros didáticos e apostilas, lição após lição, transformando paisagens, fenômenos naturais e as relações entre ser humano e ambiente em uma narrativa oral muitas vezes monótona, ou poderia… inovar. Desse modo, Sandler trouxe tecnologias então recentes, como o Google Earth, criou jogos geográficos e conciliou o high-tech com papelão, fita crepe e palito de sorvete. Hoje, Guile, como é conhecido, é articulador de uma rede colaborativa de inovação com mais de 4 mil membros, a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa.

Não, esta reportagem não trata de inovação ou de movimentos como a da aprendizagem criativa, que ganham tração e começam a impactar a educação em todo o Brasil. O objetivo é abordar um processo que ganha cada vez mais dimensão estratégica em todas as organizações: a mudança cultural, ou simplesmente a capacidade de pensar diferente, adotar novos pontos de vista, sair da caixa, reinventar-se.

A trajetória profissional vivida por esse educador exemplifica o desafio de milhões de professores brasileiros, que todos os dias iniciam seu dia atuando em um dos espaços mais tensionados pela transformação da tecnologia, do trabalho, da sociedade e do conhecimento: a escola.

Para quem logo pensa em aprender a usar computador, aplicativos, plataformas, redes sociais, calma lá. Embora a dimensão tecnológica seja parte inerente do mundo do século XXI, isso é apenas parte do desafio. A mudança cultural é bem mais ampla e pode simplesmente se referir ao modo como educamos nossos filhos e alunos, como lhes damos feedbacks sobre seu desenvolvimento, como os preparamos para superar seus desafios. Relaciona-se com a maneira como nos vemos no mundo em todas as dimensões, incluindo a profissional. Relaciona-se com a forma como interpretamos o que nos ocorre e como projetamos a ação futura. A questão é que, em um oceano de transformações, precisamos também rever a forma pela qual conduzimos nosso barco, às vezes deixando-nos levar pela onda, às vezes remando contra a maré.

Mindset fixo e de crescimento

A pesquisadora Carol S. Dweck, PhD pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, dedicou sua vida acadêmica a estudar como o comportamento das pessoas é afetado pelas suas crenças pessoais e como influencia na maneira como cada um se relaciona com o mundo, seja nos desafios, nos fracassos ou nos sucessos. Tornou-se célebre pelo livro Mindset – a nova psicologia do sucesso, que acaba de ser reeditado pela Editora Objetiva, no Brasil, com quase 2 milhões de exemplares vendidos em diversos países. Mindset significa, em sua perspectiva, a atitude mental e a forma pela qual é influenciada por crenças individuais.

A abordagem é espantosamente simples. Segundo a pesquisadora, há basicamente dois tipos de mindset: o que denomina mindset fixo e o que define como mindset de crescimento. Não se trata de separar o mundo entre otimistas e pessimistas, ou entre os que veem o copo meio cheio ou meio vazio, na expressão popular.

Na base do conceito proposto por Dweck está a divisão entre as pessoas que orientam suas condutas pela crença íntima em qualidades inatas (as de mindset fixo) ou pelas competências aprendidas e construídas pelo esforço – as de mindset de crescimento. 

Como a pesquisadora explica, acreditar que nascemos com qualidades inerentes pode levar os indivíduos a encarar todos os desafios como provas ou ameaças aos sucessos já obtidos, e assim resistir a tudo o que envolve se expor ao novo, com os previsíveis ciclos de erros e aprendizados. Segundo a pesquisadora de Stanford, pessoas de mindset fixo veem a crítica e o erro como questões de caráter e sentem-se fragilizadas em sua própria identidade quando chamadas a mudar de atitude ou a enfrentar o novo. Qualquer fracasso pode ser pesado demais.

Ao contrário, diz Carol Dweck, aqueles que entendem que o fracasso (por exemplo, nas atividades de aprendizagem ou profissionais) é simplesmente uma oportunidade para aprender e que talento não é um amuleto distintivo que trazemos do berço podem se abrir mais facilmente a possibilidades de crescimento.

Uma dimensão óbvia dessa dualidade pode ser vista na questão do esforço pessoal. Para aqueles que acreditam em desenvolvimento de virtudes, capacidades, competências, o investimento de tempo e trabalho em projetos é parte integrante do cotidiano. Para os que preferem acreditar em seus atributos inatos, todo esforço pode parecer algo desnecessário e incoerente com suas convicções.

Evidentemente, o estudo possui nuances. Todos possuímos esses dois mindsets em diferentes proporções. Além disso, podemos nos enganar achando que somos flexíveis, quando só encontramos álibis para dobrar a resistência. Mas a reflexão continua válida ao indagar sobre o que orienta nossas atitudes diante do novo. 

Desses princípios decorreram pesquisas, exemplos e análises citadas pela pesquisadora em diversos campos da atividade humana, descritas nos estudos reunidos no livro. Em alguns casos, são particularmente relevantes para a educação e são coerentes com pesquisas no campo da pedagogia e da psicologia educacional. Um exemplo interessante é como encaramos o erro e o insucesso de crianças e adolescentes e, principalmente, como manifestamos isso nas palavras que utilizamos em sala de aula.

Nesse aspecto em específico, é muito fácil perceber a diferença entre elogiar um aluno atribuindo a nota à sua inteligência (e reforçar o mindset fixo), como é frequente, ou procurar reconhecer seu esforço, sua atenção ao processo, a distância entre o ponto de partida e até onde chegou.

Na cultura da avaliação escolar brasileira, historicamente focada em métricas e notas, e com grandes índices de repetência, prevalece a primeira abordagem. “A sala de aula muitas vezes se divide, no olhar do professor, entre os mais inteligentes e menos inteligentes, entre os que terão sucesso e os que provavelmente fracassarão. Assim, prevalece o resultado final sobre o percurso individual, o esforço de superação, o processo de aprendizagem. Assim como prevalece a baixa expectativa sobre a chance de transformação do aluno”, diz a psicóloga e pedagoga Claudia Tricate, diretora do Colégio Magno, em São Paulo. 

Acreditar que nascemos com qualidades inerentes pode nos levar a encarar todos os desafios como provas ou ameaças aos sucessos já obtidos, e assim resistir ao novo.

Mas, cuidado, o risco é ir ao outro extremo e simplesmente reconhecer o esforço, mesmo que não tenha levado a lugar algum. Nesse caso, o feedback positivo equivaleria a um tapinha nas costas. “Nosso trabalho mostra que você pode elogiar o resultado, desde que também fale sobre o processo que levou a esse resultado”, explica Carol Dweck, em uma entrevista à revista pedagógica Educational Leadership. Por isso, é importante ter estratégicas mais ricas de avaliação, que permitam ter um filme do processo de aprendizagem, e não apenas um retrato final. Entre outras virtudes, isso permitirá que o aluno não se sinta sempre voltando à estaca zero e perceba que houve avanços. “O esforço é essencial, mas está a serviço do progresso e do aprendizado. Há outras coisas igualmente importantes — como encontrar estratégias bem-sucedidas e buscar sugestões”, afirma a autora norte-americana na mesma entrevista.

Dentro da mesma ótica, a maneira de ver o erro é essencial para promover o que chama de mindset de crescimento. E, nesse caso, vale ter cuidado com a hipocrisia. “De nada adianta ter um discurso sobre valorizar o erro como parte do processo e não mudar nada na conduta, rebaixando a autoestima do aluno”, diz Claudia Tricate. “Valorizar o erro significa estar ao lado do aluno, buscar as causas, mostrar que há diferentes caminhos para chegar a um mesmo resultado, encontrar as hipóteses mais sólidas”, afirma.

E agora, professor?

A reflexão sobre nossas disposições de pensamento, crenças e a mudança cultural necessária não tem a ver apenas com o fazer diário do educador, mas também com a própria forma de encarar o dever da profissão. Afinal, o futuro tem um nome: educação. Um estudo divulgado no último Fórum Econômico Mundial mostra que nos próximos 2 anos até 54% dos profissionais precisarão passar por um processo denominado “reskilling”, que pode ser traduzido por uma requalificação de competências. 

“Um mundo em constante mudança exige pessoas com novas capacidades”, explica Luciana Camargo, diretora de RH da IBM para a América Latina. Por isso, transformar a cultura das pessoas e das empresas está entre os desafios que mais preocupam líderes globalmente. “Este é um desafio para as pessoas, mas também para empresas, uma vez que a era digital introduz novos modelos de negócios, novas formas de trabalho e a necessidade de uma cultura flexível que promova o desenvolvimento de todas as potencialidades das pessoas”, esclarece a executiva.

Acreditar que ser professor é fruto de um talento inato pode ser desanimador. Não há professor que não tenha algo a aprender ou a mudar

Flexibilidade, adaptabilidade a mudanças, gerenciamento do tempo, habilidade de priorizar e trabalhar em ambientes colaborativos são as competências essenciais para quem está no mercado de trabalho. Não há receita para mudar, mas, sem dúvida, a chave é a educação. É preciso pensar sobre como se aprende na fase adulta e, para isso, existe o termo andragogia ou pedagogia para adultos.

Um estudo da consultoria global Delloitte ouviu mais de 10 mil líderes em 169 países no ano passado e descobriu que a maior preocupação para 86% deles é justamente encontrar novas formas pelas quais as pessoas possam aprender e mudar, em seus próprios ambientes de trabalho. Mudar passa por aprender e reaprender sempre, por toda a vida, sem que isso signifique um demérito profissional, por mais talentoso que seja o funcionário da empresa.

A pesquisa de Carol Dweck tem algo a dizer sobre isso também. Para ela, acreditar que ser professor é fruto de um talento especial e inato pode também ser desanimador, especialmente em contextos desafiadores, como as salas de aulas das escolas de hoje. Não há professor que não tenha algo a aprender ou a mudar atualmente, seja nas escolas de elite, seja nas escolas públicas de áreas vulneráveis.

“Os novos professores geralmente têm uma percepção frágil de si mesmos em uma profissão tão exigente. Com uma mentalidade fixa, eles sentem que suas habilidades estão sendo julgadas, e podem esconder suas lutas. Mas em uma mentalidade de crescimento, você deseja que as pessoas possam lhe dar o feedback mais honesto possível”, diz.

Essa é uma barreira que precisa ser definitivamente superada. Mundo afora, as políticas de formação de professores em sistemas educacionais bem-sucedidos, como Japão, Coreia do Sul, Finlândia, frequentemente envolvem mentoria com professores mais experientes, estudo de aulas gravadas, feedbacks constantes. Parte essencial do trabalho das lideranças escolares é justamente acompanhar, encorajar e aprimorar o trabalho dos professores, e isso também é um aprendizado para os gestores brasileiros, porque dar bons feedbacks também requer um aprendizado.

“Muitas vezes, feedback é entendido como crítica construtiva. No entanto, é uma ferramenta poderosa para apreciar o que as pessoas estão fazendo bem e ajudar na reflexão sobre onde poderiam melhorar. Encorajar a mentalidade de crescimento e reflexão sobre o que se aprendeu com a experiência é uma forma positiva de incentivar as pessoas a crescerem”, diz Luciana Camargo.

Mas, claro, é preciso ter sempre em mente que mudar não é um processo simples para ninguém. Para o psicólogo José Ernesto Bologna, consultor de grandes empresas e de escolas brasileiras, trata-se de um desafio complexo que deve partir da compreensão do que precisa ser mudado. “Mudar envolve opiniões, visões de mundo, falas, atos, formas, estilos pessoais, sentimentos, abandonar antigas mágoas, antigas resistências, ser mais flexível em valores e juízos, ou se tornar mais rígido. Enfim, mudar a própria dificuldade de mudar”, lembra.

Segundo Bologna, memórias, princípios, conceitos, ideias, afetos, falas e atos, juntos, integram um sistema complexo que podemos denominar estilo, o popular jeito de cada um. “Cada um desses elementos constitutivos alimenta, realimenta, retroalimenta, e, assim, mantém todos os outros. Portanto, a personalidade, o estilo pessoal, com o tempo vai cristalizando, sulcando, os mesmos mecanismos e caminhos. É esse fenômeno psicodinâmico (a maneira de a mente manter o funcionamento da própria mente) que torna mudar progressivamente difícil com o tempo. Os adultos não mudam por falta de consciência da vantagem de viver experimentalmente, e da coragem de enxergar de novas formas”, define o especialista.  O que também é um desafio (e tanto) para a escola e para os educadores, não é mesmo?

Problemas brasileiros

A complexidade do cenário apontado por Bologna tem ingredientes próprios: a realidade da educação e da sociedade brasileira. Esse é um ponto essencial, que está na base de críticas possíveis a propostas como a defendida por Carol Dweck. Concentrar as soluções na postura de indivíduos pode levar a um grande erro: isentar o Estado ou as empresas de oferecer condições dignas de trabalho para seus profissionais.

No caso da realidade educacional brasileira, os desafios estão postos e são conhecidos. Há problemas por toda parte: salas lotadas, baixos salários, pouco tempo para a formação em serviço e para o planejamento. Nesse ecossistema tão multifacetado, não se pode esperar que a qualidade das escolas e o grau de engajamento profissional mude por esforço dos indivíduos – na medida em que é fruto de um contexto social mais amplo, em um país com quase 50 milhões de alunos e 2,1 milhões de professores.

Segundo a pesquisa Talis, que envolveu 48 países e foi divulgada no final de 2018 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (ocde), quase 40% dos professores de Ensino Médio das escolas públicas brasileiras veem mais desvantagens do que vantagens em ser professor. Isso coloca o Brasil abaixo de países como Vietnã e Emirados Árabes. Apenas 11% dos professores de Ensino Fundamental – anos fundamentais acham que sua profissão é valorizada pela sociedade, um dos índices mais baixos do estudo.

A questão da infraestrutura é particularmente questionada. Cerca de 71% dos diretores das escolas públicas acreditam que seu trabalho fica mais difícil pela falta de internet. No plano dos salários, os docentes da rede pública ainda recebem, em média, 70% menos do que os demais profissionais com ensino superior.

É um cenário complexo que não se muda apenas com disposições individuais. Depende de prioridade política, pressão e controle social, mas que também não se transforma sem mudança de mentalidade dos profissionais da educação. A pesquisa Talis ainda mostra, por exemplo, que, apesar de meio século passado desde que os estudos do pesquisador brasileiro Sérgio Costa Ribeiro trouxeram à tona a chamada Pedagogia da Repetência, o país ainda continua sendo um dos que mais reprovam no mundo. Em 2018, 71% dos docentes continuam acreditando que é bom para a formação do aluno que ele repita o ano, caso tenha recebido notas baixas. Além disso, o contexto global aponta para grandes transformações na organização da educação, que se torna um processo cada vez mais disseminado fora da escola.

No século XXI, como previu o pesquisador português Rui Canário, a educação deixa de ser refém da escola e passa a acontecer em muitos outros ambientes sociais, presenciais e virtuais. Os educadores são profissionais de importância indiscutível, sobre o qual se assentam todas as esperanças de um mundo melhor. Assim, também se ampliam as possibilidades de atuação do educador, que precisa rever as bases de suas convicções para que possa participar sem temores do processo de reskilling vivido por todas as categorias profissionais. Nesse caso, sim, é hora de cada professor aceitar o conselho de Dweck e refletir sobre seu próprio mindset. E por que não?

Para saber mais

Pesquisa Talis. Disponível em:mod.lk/ed18pens. Acesso em: 9 fev. 2020. 

Veja outros conteúdos

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Atualização prática para o professor
A formação do aluno começa sempre com o desenvolvimento do professor. Pensando nisso, criamos as Formações Educatrix,…
Artigo
A necessidade de resgatarmos na Educação a comunidade aprendente
Lidar com o cenário da pandemia principalmente na Educação tem sido desafiador ao mesmo tempo que nos apresenta maneiras diferentes de possibilitar novos caminhos a Educação.
E-book
Diálogo: escola-família
Clique em Saiba mais para ler este E-Book na íntegra.
Artigo
A importância dos jogos na educação emergencial
Os jogos sempre tiveram um lugar especial na educação

É hora de rever seu mindset!

Como mudar atitudes e pensamentos reflete em melhores resultados.

Quando começou a lecionar em um tradicional colégio da comunidade japonesa de São Paulo, há alguns anos, o geógrafo Guilherme Sandler tinha dois caminhos a escolher: ou seguir livros didáticos e apostilas, lição após lição, transformando paisagens, fenômenos naturais e as relações entre ser humano e ambiente em uma narrativa oral muitas vezes monótona, ou poderia… inovar. Desse modo, Sandler trouxe tecnologias então recentes, como o Google Earth, criou jogos geográficos e conciliou o high-tech com papelão, fita crepe e palito de sorvete. Hoje, Guile, como é conhecido, é articulador de uma rede colaborativa de inovação com mais de 4 mil membros, a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa.

Não, esta reportagem não trata de inovação ou de movimentos como a da aprendizagem criativa, que ganham tração e começam a impactar a educação em todo o Brasil. O objetivo é abordar um processo que ganha cada vez mais dimensão estratégica em todas as organizações: a mudança cultural, ou simplesmente a capacidade de pensar diferente, adotar novos pontos de vista, sair da caixa, reinventar-se.

A trajetória profissional vivida por esse educador exemplifica o desafio de milhões de professores brasileiros, que todos os dias iniciam seu dia atuando em um dos espaços mais tensionados pela transformação da tecnologia, do trabalho, da sociedade e do conhecimento: a escola.

Para quem logo pensa em aprender a usar computador, aplicativos, plataformas, redes sociais, calma lá. Embora a dimensão tecnológica seja parte inerente do mundo do século XXI, isso é apenas parte do desafio. A mudança cultural é bem mais ampla e pode simplesmente se referir ao modo como educamos nossos filhos e alunos, como lhes damos feedbacks sobre seu desenvolvimento, como os preparamos para superar seus desafios. Relaciona-se com a maneira como nos vemos no mundo em todas as dimensões, incluindo a profissional. Relaciona-se com a forma como interpretamos o que nos ocorre e como projetamos a ação futura. A questão é que, em um oceano de transformações, precisamos também rever a forma pela qual conduzimos nosso barco, às vezes deixando-nos levar pela onda, às vezes remando contra a maré.

Mindset fixo e de crescimento

A pesquisadora Carol S. Dweck, PhD pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, dedicou sua vida acadêmica a estudar como o comportamento das pessoas é afetado pelas suas crenças pessoais e como influencia na maneira como cada um se relaciona com o mundo, seja nos desafios, nos fracassos ou nos sucessos. Tornou-se célebre pelo livro Mindset – a nova psicologia do sucesso, que acaba de ser reeditado pela Editora Objetiva, no Brasil, com quase 2 milhões de exemplares vendidos em diversos países. Mindset significa, em sua perspectiva, a atitude mental e a forma pela qual é influenciada por crenças individuais.

A abordagem é espantosamente simples. Segundo a pesquisadora, há basicamente dois tipos de mindset: o que denomina mindset fixo e o que define como mindset de crescimento. Não se trata de separar o mundo entre otimistas e pessimistas, ou entre os que veem o copo meio cheio ou meio vazio, na expressão popular.

Na base do conceito proposto por Dweck está a divisão entre as pessoas que orientam suas condutas pela crença íntima em qualidades inatas (as de mindset fixo) ou pelas competências aprendidas e construídas pelo esforço – as de mindset de crescimento. 

Como a pesquisadora explica, acreditar que nascemos com qualidades inerentes pode levar os indivíduos a encarar todos os desafios como provas ou ameaças aos sucessos já obtidos, e assim resistir a tudo o que envolve se expor ao novo, com os previsíveis ciclos de erros e aprendizados. Segundo a pesquisadora de Stanford, pessoas de mindset fixo veem a crítica e o erro como questões de caráter e sentem-se fragilizadas em sua própria identidade quando chamadas a mudar de atitude ou a enfrentar o novo. Qualquer fracasso pode ser pesado demais.

Ao contrário, diz Carol Dweck, aqueles que entendem que o fracasso (por exemplo, nas atividades de aprendizagem ou profissionais) é simplesmente uma oportunidade para aprender e que talento não é um amuleto distintivo que trazemos do berço podem se abrir mais facilmente a possibilidades de crescimento.

Uma dimensão óbvia dessa dualidade pode ser vista na questão do esforço pessoal. Para aqueles que acreditam em desenvolvimento de virtudes, capacidades, competências, o investimento de tempo e trabalho em projetos é parte integrante do cotidiano. Para os que preferem acreditar em seus atributos inatos, todo esforço pode parecer algo desnecessário e incoerente com suas convicções.

Evidentemente, o estudo possui nuances. Todos possuímos esses dois mindsets em diferentes proporções. Além disso, podemos nos enganar achando que somos flexíveis, quando só encontramos álibis para dobrar a resistência. Mas a reflexão continua válida ao indagar sobre o que orienta nossas atitudes diante do novo. 

Desses princípios decorreram pesquisas, exemplos e análises citadas pela pesquisadora em diversos campos da atividade humana, descritas nos estudos reunidos no livro. Em alguns casos, são particularmente relevantes para a educação e são coerentes com pesquisas no campo da pedagogia e da psicologia educacional. Um exemplo interessante é como encaramos o erro e o insucesso de crianças e adolescentes e, principalmente, como manifestamos isso nas palavras que utilizamos em sala de aula.

Nesse aspecto em específico, é muito fácil perceber a diferença entre elogiar um aluno atribuindo a nota à sua inteligência (e reforçar o mindset fixo), como é frequente, ou procurar reconhecer seu esforço, sua atenção ao processo, a distância entre o ponto de partida e até onde chegou.

Na cultura da avaliação escolar brasileira, historicamente focada em métricas e notas, e com grandes índices de repetência, prevalece a primeira abordagem. “A sala de aula muitas vezes se divide, no olhar do professor, entre os mais inteligentes e menos inteligentes, entre os que terão sucesso e os que provavelmente fracassarão. Assim, prevalece o resultado final sobre o percurso individual, o esforço de superação, o processo de aprendizagem. Assim como prevalece a baixa expectativa sobre a chance de transformação do aluno”, diz a psicóloga e pedagoga Claudia Tricate, diretora do Colégio Magno, em São Paulo. 

Acreditar que nascemos com qualidades inerentes pode nos levar a encarar todos os desafios como provas ou ameaças aos sucessos já obtidos, e assim resistir ao novo.

Mas, cuidado, o risco é ir ao outro extremo e simplesmente reconhecer o esforço, mesmo que não tenha levado a lugar algum. Nesse caso, o feedback positivo equivaleria a um tapinha nas costas. “Nosso trabalho mostra que você pode elogiar o resultado, desde que também fale sobre o processo que levou a esse resultado”, explica Carol Dweck, em uma entrevista à revista pedagógica Educational Leadership. Por isso, é importante ter estratégicas mais ricas de avaliação, que permitam ter um filme do processo de aprendizagem, e não apenas um retrato final. Entre outras virtudes, isso permitirá que o aluno não se sinta sempre voltando à estaca zero e perceba que houve avanços. “O esforço é essencial, mas está a serviço do progresso e do aprendizado. Há outras coisas igualmente importantes — como encontrar estratégias bem-sucedidas e buscar sugestões”, afirma a autora norte-americana na mesma entrevista.

Dentro da mesma ótica, a maneira de ver o erro é essencial para promover o que chama de mindset de crescimento. E, nesse caso, vale ter cuidado com a hipocrisia. “De nada adianta ter um discurso sobre valorizar o erro como parte do processo e não mudar nada na conduta, rebaixando a autoestima do aluno”, diz Claudia Tricate. “Valorizar o erro significa estar ao lado do aluno, buscar as causas, mostrar que há diferentes caminhos para chegar a um mesmo resultado, encontrar as hipóteses mais sólidas”, afirma.

E agora, professor?

A reflexão sobre nossas disposições de pensamento, crenças e a mudança cultural necessária não tem a ver apenas com o fazer diário do educador, mas também com a própria forma de encarar o dever da profissão. Afinal, o futuro tem um nome: educação. Um estudo divulgado no último Fórum Econômico Mundial mostra que nos próximos 2 anos até 54% dos profissionais precisarão passar por um processo denominado “reskilling”, que pode ser traduzido por uma requalificação de competências. 

“Um mundo em constante mudança exige pessoas com novas capacidades”, explica Luciana Camargo, diretora de RH da IBM para a América Latina. Por isso, transformar a cultura das pessoas e das empresas está entre os desafios que mais preocupam líderes globalmente. “Este é um desafio para as pessoas, mas também para empresas, uma vez que a era digital introduz novos modelos de negócios, novas formas de trabalho e a necessidade de uma cultura flexível que promova o desenvolvimento de todas as potencialidades das pessoas”, esclarece a executiva.

Acreditar que ser professor é fruto de um talento inato pode ser desanimador. Não há professor que não tenha algo a aprender ou a mudar

Flexibilidade, adaptabilidade a mudanças, gerenciamento do tempo, habilidade de priorizar e trabalhar em ambientes colaborativos são as competências essenciais para quem está no mercado de trabalho. Não há receita para mudar, mas, sem dúvida, a chave é a educação. É preciso pensar sobre como se aprende na fase adulta e, para isso, existe o termo andragogia ou pedagogia para adultos.

Um estudo da consultoria global Delloitte ouviu mais de 10 mil líderes em 169 países no ano passado e descobriu que a maior preocupação para 86% deles é justamente encontrar novas formas pelas quais as pessoas possam aprender e mudar, em seus próprios ambientes de trabalho. Mudar passa por aprender e reaprender sempre, por toda a vida, sem que isso signifique um demérito profissional, por mais talentoso que seja o funcionário da empresa.

A pesquisa de Carol Dweck tem algo a dizer sobre isso também. Para ela, acreditar que ser professor é fruto de um talento especial e inato pode também ser desanimador, especialmente em contextos desafiadores, como as salas de aulas das escolas de hoje. Não há professor que não tenha algo a aprender ou a mudar atualmente, seja nas escolas de elite, seja nas escolas públicas de áreas vulneráveis.

“Os novos professores geralmente têm uma percepção frágil de si mesmos em uma profissão tão exigente. Com uma mentalidade fixa, eles sentem que suas habilidades estão sendo julgadas, e podem esconder suas lutas. Mas em uma mentalidade de crescimento, você deseja que as pessoas possam lhe dar o feedback mais honesto possível”, diz.

Essa é uma barreira que precisa ser definitivamente superada. Mundo afora, as políticas de formação de professores em sistemas educacionais bem-sucedidos, como Japão, Coreia do Sul, Finlândia, frequentemente envolvem mentoria com professores mais experientes, estudo de aulas gravadas, feedbacks constantes. Parte essencial do trabalho das lideranças escolares é justamente acompanhar, encorajar e aprimorar o trabalho dos professores, e isso também é um aprendizado para os gestores brasileiros, porque dar bons feedbacks também requer um aprendizado.

“Muitas vezes, feedback é entendido como crítica construtiva. No entanto, é uma ferramenta poderosa para apreciar o que as pessoas estão fazendo bem e ajudar na reflexão sobre onde poderiam melhorar. Encorajar a mentalidade de crescimento e reflexão sobre o que se aprendeu com a experiência é uma forma positiva de incentivar as pessoas a crescerem”, diz Luciana Camargo.

Mas, claro, é preciso ter sempre em mente que mudar não é um processo simples para ninguém. Para o psicólogo José Ernesto Bologna, consultor de grandes empresas e de escolas brasileiras, trata-se de um desafio complexo que deve partir da compreensão do que precisa ser mudado. “Mudar envolve opiniões, visões de mundo, falas, atos, formas, estilos pessoais, sentimentos, abandonar antigas mágoas, antigas resistências, ser mais flexível em valores e juízos, ou se tornar mais rígido. Enfim, mudar a própria dificuldade de mudar”, lembra.

Segundo Bologna, memórias, princípios, conceitos, ideias, afetos, falas e atos, juntos, integram um sistema complexo que podemos denominar estilo, o popular jeito de cada um. “Cada um desses elementos constitutivos alimenta, realimenta, retroalimenta, e, assim, mantém todos os outros. Portanto, a personalidade, o estilo pessoal, com o tempo vai cristalizando, sulcando, os mesmos mecanismos e caminhos. É esse fenômeno psicodinâmico (a maneira de a mente manter o funcionamento da própria mente) que torna mudar progressivamente difícil com o tempo. Os adultos não mudam por falta de consciência da vantagem de viver experimentalmente, e da coragem de enxergar de novas formas”, define o especialista.  O que também é um desafio (e tanto) para a escola e para os educadores, não é mesmo?

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A complexidade do cenário apontado por Bologna tem ingredientes próprios: a realidade da educação e da sociedade brasileira. Esse é um ponto essencial, que está na base de críticas possíveis a propostas como a defendida por Carol Dweck. Concentrar as soluções na postura de indivíduos pode levar a um grande erro: isentar o Estado ou as empresas de oferecer condições dignas de trabalho para seus profissionais.

No caso da realidade educacional brasileira, os desafios estão postos e são conhecidos. Há problemas por toda parte: salas lotadas, baixos salários, pouco tempo para a formação em serviço e para o planejamento. Nesse ecossistema tão multifacetado, não se pode esperar que a qualidade das escolas e o grau de engajamento profissional mude por esforço dos indivíduos – na medida em que é fruto de um contexto social mais amplo, em um país com quase 50 milhões de alunos e 2,1 milhões de professores.

Segundo a pesquisa Talis, que envolveu 48 países e foi divulgada no final de 2018 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (ocde), quase 40% dos professores de Ensino Médio das escolas públicas brasileiras veem mais desvantagens do que vantagens em ser professor. Isso coloca o Brasil abaixo de países como Vietnã e Emirados Árabes. Apenas 11% dos professores de Ensino Fundamental – anos fundamentais acham que sua profissão é valorizada pela sociedade, um dos índices mais baixos do estudo.

A questão da infraestrutura é particularmente questionada. Cerca de 71% dos diretores das escolas públicas acreditam que seu trabalho fica mais difícil pela falta de internet. No plano dos salários, os docentes da rede pública ainda recebem, em média, 70% menos do que os demais profissionais com ensino superior.

É um cenário complexo que não se muda apenas com disposições individuais. Depende de prioridade política, pressão e controle social, mas que também não se transforma sem mudança de mentalidade dos profissionais da educação. A pesquisa Talis ainda mostra, por exemplo, que, apesar de meio século passado desde que os estudos do pesquisador brasileiro Sérgio Costa Ribeiro trouxeram à tona a chamada Pedagogia da Repetência, o país ainda continua sendo um dos que mais reprovam no mundo. Em 2018, 71% dos docentes continuam acreditando que é bom para a formação do aluno que ele repita o ano, caso tenha recebido notas baixas. Além disso, o contexto global aponta para grandes transformações na organização da educação, que se torna um processo cada vez mais disseminado fora da escola.

No século XXI, como previu o pesquisador português Rui Canário, a educação deixa de ser refém da escola e passa a acontecer em muitos outros ambientes sociais, presenciais e virtuais. Os educadores são profissionais de importância indiscutível, sobre o qual se assentam todas as esperanças de um mundo melhor. Assim, também se ampliam as possibilidades de atuação do educador, que precisa rever as bases de suas convicções para que possa participar sem temores do processo de reskilling vivido por todas as categorias profissionais. Nesse caso, sim, é hora de cada professor aceitar o conselho de Dweck e refletir sobre seu próprio mindset. E por que não?

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Escola: lugar de travessias

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Como guiar os jovens para um caminho de bem e de alegria.

A escola é um lugar privilegiado de travessias. Os educadores são testemunhas desse processo que se inicia toda vez que um pequeno ser humano ultrapassa as grandes portas de nossas escolas para começar sua jornada acadêmica, afetiva, social, esportiva etc. Por isso, os docentes são como pontífices: construtores de pontes para incontáveis travessias. 

As crianças chegam às nossas escolas, algumas vezes, ainda sem saber andar direito; há que ensiná-las a correr, ir ao banheiro, dividir os brinquedos, escovar os dentes, esperar a vez e várias outras coisas que fazemos com muita eficiência. O problema parece começar quando as crianças se tornam adolescentes. Em vez de encontrarmos novos seres inquietos e perguntadores, parece que encontramos garotos chatos e desobedientes. Isso nos provoca a pergunta: são eles que perderam a graça e a educação adquirida, ou somos nós que não sabemos o que fazer com suas inquietações e nos tornamos insuficientes para essa desafiante travessia?

A mochila existencial a ser refeita: descobrindo o sentido da vida 

O educador italiano Luigi Giussani, que viveu no século XX, em um interessante livro intitulado Educar é um risco, descreve que a criança até, aproximadamente, os 10 anos aceita como verdadeiro aquilo que os adultos lhe apresentam e guarda esses aprendizados em sua mochila existencial. Mas se o ser humano fosse uma cópia do que lhes é oferecido pelos adultos, não amadureceria. Por isso, em certo momento, que denominamos adolescência, “a natureza dá à criança o instinto de pegar a mochila e de colocá-la diante dos olhos (em grego se diz pro-bállo, origem da palavra ‘problema’). Deve, portanto, tornar-se problema aquilo que nos disseram! Se não se tornar problema, nunca amadurecerá. Uma vez trazida para diante dos olhos, remexe-se dentro da mochila”.

Esse processo é o fundamento do relacionamento educativo. Cada ser que chega ao mundo vai recebendo um conjunto de valores e conhecimentos que irá avaliar e decidir o que lhe parece verdadeiro, correspondente ao que deseja ser e fazer. O papel de seus educadores – e uso essa palavra, aqui, para definir todo adulto com que ele se relaciona – é, em primeiro lugar, reconhecer a importância desse processo sem o qual uma criança não se torna um jovem, nem um adulto. É daqui que nasce o “eu”, a autoria, a originalidade, a peculiaridade irrepetível de cada um como defende Viktor Frankl, genial psiquiatra e neurologista austríaco, que afirmava que o ser humano é “único e irrepetível”. 

Em tempos pós-modernos, em que as margens e os rumos da vida estão cada vez mais fluidos e esmaecidos, esse trabalho essencial exige um método para que os jovens e adolescentes tracem esse percurso obrigatório a fim de que não sejam ainda adolescentes depois dos 30!

Para todas as vantagens e desvantagens que se colocam contemporaneamente, todas as portas parecem estar abertas, e nossos jovens as abrem utilizando mais o instinto do que a razão. Ora, então qual o grande trabalho a ser feito com eles por meio de cada disciplina? Trata-se de ajudá-los a verificar cada item que está contido na tal “mochila existencial”! Cada disciplina é oferecida para que amadureçam não somente do ponto de vista intelectual, mas também adquiram habilidades e competências que seus conteúdos portam em sua estrutura. Há muitas oportunidades em cada disciplina para ensinar aos jovens sobre como observar, respeitar, dialogar e transformar a realidade. 

Um método para ajudar a entrar na vida: a experiência elementar

Há 24 séculos, Aristóteles afirmava que o ser humano nasce com uma espécie de bússola capaz de indicar aquilo que é bom, belo e verdadeiro. Hoje, chamamos isso de experiência elementar e, sem ela, seria muito arriscado e até mesmo impossível o processo de formação dos jovens. De acordo com o filósofo, tudo que o ser humano faz deriva das suas experiências elementares e pode ser comparado com elas. Assim, a experiência elementar funciona como um direcionador (ou uma bússola) para que a pessoa reconheça aquilo que lhe corresponde ou não. É ela que faz com que nos entristeçamos com a injustiça, o mal, a mentira, o desumano — até mesmo quando somos nós que geramos o mal.

Com base nisso podemos observar que o primeiro papel dos educadores é chamar, insistentemente, os alunos a comparar tudo o que lhe acontece com aquele conjunto de exigências elementares com o qual a natureza o dotou, a fim de que tome decisões mais consistentes e menos instintivas, que se percam menos e, principalmente, vivam menos experiências de depressão. 

Essa estrutura humana consiste em uma espécie de mapa interior com o qual a natureza dotou o ser humano para que não perca tanto tempo patinando em um nada infinito, mas para que suas buscas se deem a partir de um conjunto de premissas orientadas para o bem, isto é, para a felicidade. O filósofo espanhol Julián Marías lembra-nos em sua saborosa obra A felicidade humana, de que sentido e felicidade são duas experiências inseparáveis. Portanto, ter um mapa, uma estrutura humana prévia, não cerceia o viajante; antes, amplia e favorece suas possibilidades de êxito.

Para nós, educadores, ajudar os alunos a comparar o que fazem com a sua “bússola” nos auxilia muitíssimo porque, sem ela, eles nos pediriam indicações de saídas que não devemos dar, ou que não temos para dar, além do que acabaríamos por impor uma visão de mundo. Enfim, sabemos quanto tudo isso é complicado! Mas, ao provocá-los a comparar como se sentem diante do que fazem, a resposta está dentro deles e não em nós. Isso nos torna livres diante das incontáveis questões que surgem e possibilita a eles um método que independe de um guru para que encontrem a melhor resposta.

A importância de uma companhia contra a tristeza

Meus alunos da universidade contam histórias muito dolorosas de seus tempos de Fundamental 2 e Ensino Médio. Descrevem a depressão profunda, o medo e a dor agravados pelo número reduzido de adultos que os ajudassem a, confrontando a realidade com seus desejos mais profundos, descobrir o que é bom, belo e verdadeiro. A quem eles poderiam pedir ajuda? O educador é um adulto que costuma ter várias possibilidades de estar no lugar certo e na hora certa para fazer essa ponte. Mesmo assim, o fato misterioso que nos consola é que, a despeito dessa carência de “construtores de pontes”, os jovens acabam por encontrar pequenas companhias, amigos, palavras, gestos, frases que fazem com que saiam dos lugares difíceis que habitam e a vida volta a começar.

Se não fizermos isso, naquele espaço que cada disciplina oferece, nos diversos encontros que a escola proporciona, os caminhos da depressão, da violência, da indisciplina expressarão a ausência desse trabalho. As doenças surgem como gritos disfarçados de nossos jovens que fazem um discurso do “qualquer coisa pode e vale”, mas que, ao viverem dessa forma, se sentem esmagados e sem saída.

“Aristóteles afirmava que o ser humano nasce com uma espécie de bússola capaz de indicar aquilo que é bom, belo e verdadeiro.”

Caros mestres, o que mais tenho aprendido com meus alunos é que a vida, quase compulsivamente, volta a começar, se refaz, se reconstrói de onde e como não esperamos. Mas se os ajudarmos nesse trabalho, isso ocorre mais depressa e sem tanto sofrimento.

Certa vez, à noitinha, estávamos estendidos no chão de terra do barracão, mortos de cansaço, o prato de sopa na mão, quando entrou um companheiro correndo e mandou-nos depressa para a área de chamada da turma, apesar de toda a nossa fadiga e do frio lá fora, só para não perdermos uma visão magnífica do pôr do sol. Vimos, então, o ocaso incandescente e tenebroso, com todo o horizonte tomado de nuvens multiformes e em constante transfiguração, de fantásticos perfis e cores sobrenaturais, desde o azul cobalto até o escarlate sangue, contrastando pouco mais abaixo com os desolados barracos cinzentos do campo de concentração e a lamacenta área onde é feita a chamada dos prisioneiros, em cujas poças ainda se refletia o céu incandescente. (frankl, Viktor. Em busca de sentido. São Paulo: Vozes, 2017).

A vida vale a pena sob quaisquer circunstâncias

A epígrafe acima, extraída do imperdível livro Em busca de sentido, descreve como mesmo mergulhados no mal e destruídos pelo cansaço e pela fome os prisioneiros não deixaram de sair do barracão para ver um pôr do sol. Ora, o que isso indica? Que mesmo nas situações mais trágicas, violentas, difíceis, a pessoa ainda deseja a beleza e o bem porque lhe são inextirpáveis. O adulto é aquele que não esquece isso. Daí que repropõe, infinitamente, a todos os seus alunos e aos particularmente mais difíceis essa “volta para casa”. Essa é a tarefa essencial da educação: ajudar os jovens a compararem aquilo que fazem com o seu desejo de bom, belo e verdadeiro. Porque, assim, paulatinamente, vão encontrando o sentido para a vida. Se ele não o encontra, nada, nem estudo, nem família, nem namoros, nem conforto ou lazer, nada faz valer a pena a vida. Ao ser humano não foi dada a possibilidade de viver sem um sentido. A nós, educadores, cabe a companhia do percurso.

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Escola: lugar de travessias

Como guiar os jovens para um caminho de bem e de alegria.

A escola é um lugar privilegiado de travessias. Os educadores são testemunhas desse processo que se inicia toda vez que um pequeno ser humano ultrapassa as grandes portas de nossas escolas para começar sua jornada acadêmica, afetiva, social, esportiva etc. Por isso, os docentes são como pontífices: construtores de pontes para incontáveis travessias. 

As crianças chegam às nossas escolas, algumas vezes, ainda sem saber andar direito; há que ensiná-las a correr, ir ao banheiro, dividir os brinquedos, escovar os dentes, esperar a vez e várias outras coisas que fazemos com muita eficiência. O problema parece começar quando as crianças se tornam adolescentes. Em vez de encontrarmos novos seres inquietos e perguntadores, parece que encontramos garotos chatos e desobedientes. Isso nos provoca a pergunta: são eles que perderam a graça e a educação adquirida, ou somos nós que não sabemos o que fazer com suas inquietações e nos tornamos insuficientes para essa desafiante travessia?

A mochila existencial a ser refeita: descobrindo o sentido da vida 

O educador italiano Luigi Giussani, que viveu no século XX, em um interessante livro intitulado Educar é um risco, descreve que a criança até, aproximadamente, os 10 anos aceita como verdadeiro aquilo que os adultos lhe apresentam e guarda esses aprendizados em sua mochila existencial. Mas se o ser humano fosse uma cópia do que lhes é oferecido pelos adultos, não amadureceria. Por isso, em certo momento, que denominamos adolescência, “a natureza dá à criança o instinto de pegar a mochila e de colocá-la diante dos olhos (em grego se diz pro-bállo, origem da palavra ‘problema’). Deve, portanto, tornar-se problema aquilo que nos disseram! Se não se tornar problema, nunca amadurecerá. Uma vez trazida para diante dos olhos, remexe-se dentro da mochila”.

Esse processo é o fundamento do relacionamento educativo. Cada ser que chega ao mundo vai recebendo um conjunto de valores e conhecimentos que irá avaliar e decidir o que lhe parece verdadeiro, correspondente ao que deseja ser e fazer. O papel de seus educadores – e uso essa palavra, aqui, para definir todo adulto com que ele se relaciona – é, em primeiro lugar, reconhecer a importância desse processo sem o qual uma criança não se torna um jovem, nem um adulto. É daqui que nasce o “eu”, a autoria, a originalidade, a peculiaridade irrepetível de cada um como defende Viktor Frankl, genial psiquiatra e neurologista austríaco, que afirmava que o ser humano é “único e irrepetível”. 

Em tempos pós-modernos, em que as margens e os rumos da vida estão cada vez mais fluidos e esmaecidos, esse trabalho essencial exige um método para que os jovens e adolescentes tracem esse percurso obrigatório a fim de que não sejam ainda adolescentes depois dos 30!

Para todas as vantagens e desvantagens que se colocam contemporaneamente, todas as portas parecem estar abertas, e nossos jovens as abrem utilizando mais o instinto do que a razão. Ora, então qual o grande trabalho a ser feito com eles por meio de cada disciplina? Trata-se de ajudá-los a verificar cada item que está contido na tal “mochila existencial”! Cada disciplina é oferecida para que amadureçam não somente do ponto de vista intelectual, mas também adquiram habilidades e competências que seus conteúdos portam em sua estrutura. Há muitas oportunidades em cada disciplina para ensinar aos jovens sobre como observar, respeitar, dialogar e transformar a realidade. 

Um método para ajudar a entrar na vida: a experiência elementar

Há 24 séculos, Aristóteles afirmava que o ser humano nasce com uma espécie de bússola capaz de indicar aquilo que é bom, belo e verdadeiro. Hoje, chamamos isso de experiência elementar e, sem ela, seria muito arriscado e até mesmo impossível o processo de formação dos jovens. De acordo com o filósofo, tudo que o ser humano faz deriva das suas experiências elementares e pode ser comparado com elas. Assim, a experiência elementar funciona como um direcionador (ou uma bússola) para que a pessoa reconheça aquilo que lhe corresponde ou não. É ela que faz com que nos entristeçamos com a injustiça, o mal, a mentira, o desumano — até mesmo quando somos nós que geramos o mal.

Com base nisso podemos observar que o primeiro papel dos educadores é chamar, insistentemente, os alunos a comparar tudo o que lhe acontece com aquele conjunto de exigências elementares com o qual a natureza o dotou, a fim de que tome decisões mais consistentes e menos instintivas, que se percam menos e, principalmente, vivam menos experiências de depressão. 

Essa estrutura humana consiste em uma espécie de mapa interior com o qual a natureza dotou o ser humano para que não perca tanto tempo patinando em um nada infinito, mas para que suas buscas se deem a partir de um conjunto de premissas orientadas para o bem, isto é, para a felicidade. O filósofo espanhol Julián Marías lembra-nos em sua saborosa obra A felicidade humana, de que sentido e felicidade são duas experiências inseparáveis. Portanto, ter um mapa, uma estrutura humana prévia, não cerceia o viajante; antes, amplia e favorece suas possibilidades de êxito.

Para nós, educadores, ajudar os alunos a comparar o que fazem com a sua “bússola” nos auxilia muitíssimo porque, sem ela, eles nos pediriam indicações de saídas que não devemos dar, ou que não temos para dar, além do que acabaríamos por impor uma visão de mundo. Enfim, sabemos quanto tudo isso é complicado! Mas, ao provocá-los a comparar como se sentem diante do que fazem, a resposta está dentro deles e não em nós. Isso nos torna livres diante das incontáveis questões que surgem e possibilita a eles um método que independe de um guru para que encontrem a melhor resposta.

A importância de uma companhia contra a tristeza

Meus alunos da universidade contam histórias muito dolorosas de seus tempos de Fundamental 2 e Ensino Médio. Descrevem a depressão profunda, o medo e a dor agravados pelo número reduzido de adultos que os ajudassem a, confrontando a realidade com seus desejos mais profundos, descobrir o que é bom, belo e verdadeiro. A quem eles poderiam pedir ajuda? O educador é um adulto que costuma ter várias possibilidades de estar no lugar certo e na hora certa para fazer essa ponte. Mesmo assim, o fato misterioso que nos consola é que, a despeito dessa carência de “construtores de pontes”, os jovens acabam por encontrar pequenas companhias, amigos, palavras, gestos, frases que fazem com que saiam dos lugares difíceis que habitam e a vida volta a começar.

Se não fizermos isso, naquele espaço que cada disciplina oferece, nos diversos encontros que a escola proporciona, os caminhos da depressão, da violência, da indisciplina expressarão a ausência desse trabalho. As doenças surgem como gritos disfarçados de nossos jovens que fazem um discurso do “qualquer coisa pode e vale”, mas que, ao viverem dessa forma, se sentem esmagados e sem saída.

“Aristóteles afirmava que o ser humano nasce com uma espécie de bússola capaz de indicar aquilo que é bom, belo e verdadeiro.”

Caros mestres, o que mais tenho aprendido com meus alunos é que a vida, quase compulsivamente, volta a começar, se refaz, se reconstrói de onde e como não esperamos. Mas se os ajudarmos nesse trabalho, isso ocorre mais depressa e sem tanto sofrimento.

Certa vez, à noitinha, estávamos estendidos no chão de terra do barracão, mortos de cansaço, o prato de sopa na mão, quando entrou um companheiro correndo e mandou-nos depressa para a área de chamada da turma, apesar de toda a nossa fadiga e do frio lá fora, só para não perdermos uma visão magnífica do pôr do sol. Vimos, então, o ocaso incandescente e tenebroso, com todo o horizonte tomado de nuvens multiformes e em constante transfiguração, de fantásticos perfis e cores sobrenaturais, desde o azul cobalto até o escarlate sangue, contrastando pouco mais abaixo com os desolados barracos cinzentos do campo de concentração e a lamacenta área onde é feita a chamada dos prisioneiros, em cujas poças ainda se refletia o céu incandescente. (frankl, Viktor. Em busca de sentido. São Paulo: Vozes, 2017).

A vida vale a pena sob quaisquer circunstâncias

A epígrafe acima, extraída do imperdível livro Em busca de sentido, descreve como mesmo mergulhados no mal e destruídos pelo cansaço e pela fome os prisioneiros não deixaram de sair do barracão para ver um pôr do sol. Ora, o que isso indica? Que mesmo nas situações mais trágicas, violentas, difíceis, a pessoa ainda deseja a beleza e o bem porque lhe são inextirpáveis. O adulto é aquele que não esquece isso. Daí que repropõe, infinitamente, a todos os seus alunos e aos particularmente mais difíceis essa “volta para casa”. Essa é a tarefa essencial da educação: ajudar os jovens a compararem aquilo que fazem com o seu desejo de bom, belo e verdadeiro. Porque, assim, paulatinamente, vão encontrando o sentido para a vida. Se ele não o encontra, nada, nem estudo, nem família, nem namoros, nem conforto ou lazer, nada faz valer a pena a vida. Ao ser humano não foi dada a possibilidade de viver sem um sentido. A nós, educadores, cabe a companhia do percurso.

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