Inteligência emocional digital: o que é e como desenvolvê-la

Inteligência emocional digital: o que é e como desenvolvê-la

Em tempos de profundas transformações nas quais os mundos físico, digital e biológico se misturam e os seres humanos e as máquinas se relacionam de forma cada vez mais próxima, precisamos desenvolver uma inteligência emocional digital para enfrentar novos desafios e aproveitar oportunidades inéditas de aprendizado e de crescimento.

Nas últimas décadas a nossa vida vem rapidamente se tornando digital. Estamos a todo momento não somente utilizando diversas tecnologias como também sendo, sem perceber, profundamente influenciados por elas. Vivemos rodeados de tecnologias digitais acessíveis, intuitivas, disruptivas e extremamente atraentes, o que nos coloca em uma posição ao mesmo tempo de poder e de vulnerabilidade. Munidos de ferramentas tão eficazes, somos capazes de desenvolver produtos e serviços que podem resolver problemas graves nos cantos mais remotos do mundo. Por outro lado, essas tecnologias têm o potencial de nos trazer riscos perigosos e difíceis de prever e manejar.

A iminência da Quarta Revolução Industrial está nos impondo reflexões e atitudes que permeiam todo o cenário digital, pois já começamos a observar transformações profundas em vários níveis da sociedade. Dentro dessa revolução, novas formas de produzir, de consumir e de se relacionar com as pessoas e com as coisas devem fazer com que a sociedade passe a ser mediada pela mobilidade, pela alta conectividade e por tecnologias digitais muito complexas que dissolverão as diferenças entre os seres humanos e as máquinas. Robôs companheiros, brinquedos inteligentes e tecnologias assistivas já são uma realidade e tendem a invadir o mercado nos próximos anos com a promessa de nos entender e nos ajudar em inúmeros aspectos do nosso cotidiano.

O fenômeno chamado “Figital” mostra que, pouco a pouco, a fronteira entre o mundo físico e o digital se confunde e dá lugar a novas formas de relacionamento entre as pessoas, a jeitos inéditos de aprender e de ensinar, a novos desafios éticos e a diferentes maneiras de se posicionar no mundo.

Há alguns anos construímos uma presença digital que começa a fazer parte da nossa identidade pessoal. Nossas experiências digitais estão moldando a nossa personalidade e abrindo caminhos para novas formas de trabalho e de desenvolvimento pessoal.

Como eu devo me comportar nas redes sociais? Como navegar na internet de forma segura e responsável? Quais ferramentas tecnológicas darão suporte ao meu trabalho? Como posso usar a tecnologia para o meu bem-estar? De que forma as tecnologias avançadas afetarão a humanidade?

Cada vez mais, tais questionamentos fazem parte do nosso modelo mental e são absolutamente necessários para a evolução das sociedades. Dentro deste contexto ultratecnológico, como podemos aproveitar as oportunidades e nos proteger de possíveis riscos?

É urgente entendermos melhor o papel das tecnologias no nosso bem-estar e na evolução do mundo. Para isso, o conceito de “sabedoria digital”, proposto por Marc Prensky em 2012, pode ser útil. Para ele, sabedoria significa a habilidade de encontrar soluções práticas, criativas, adequadas aos diferentes contextos e emocionalmente satisfatórias para problemas complexos. Segundo o autor, a “sabedoria baseada em tecnologia” é um conceito duplo, pois se refere tanto à sabedoria adquirida a partir do uso da tecnologia digital quanto àquela que usa a tecnologia para melhorar as nossas capacidades inatas como seres humanos.

Com o avanço nas pesquisas e no desenvolvimento de máquinas inteligentes, a combinação entre as tecnologias avançadas e a mente humana pode resultar em um cérebro capaz de pensar melhor, de tomar decisões mais assertivas e de fazer escolhas mais adequadas. Porém, devemos nos perguntar se esta fusão mente-máquina poderá nos distanciar da nossa essência humana, da nossa capacidade de amar, de cuidar, de sentir a dor do outro e de ajudar as pessoas sem pedir nada em troca. Para atingirmos uma sabedoria digital e mantermos o lado bom do ser humano, precisamos ser emocionalmente inteligentes com relação às tecnologias e ao ambiente virtual.

Desenvolvendo a inteligência emocional digital

Muito se fala da necessidade de desenvolver uma inteligência emocional para lidar com as complexidades do mundo atual. Entender as próprias emoções, trabalhar em grupo, resolver problemas, ser criativo e tomar decisões adequadas são alguns exemplos de competências mais do que urgentes atualmente. No entanto, é necessário ampliar os horizontes e transpor estas habilidades também para o âmbito digital. Em 2016, o Fórum Econômico Mundial propôs o termo “Inteligência Emocional Digital” como um dos pilares de uma habilidade mais ampla e essencial no século XXI: a inteligência digital. Todavia, a definição do termo ficou restrita à noção de ser empático e capaz de construir bons relacionamentos on-line. Desta forma, iremos abordar o conceito de “Inteligência Emocional Digital” como um conjunto de habilidades que abrange alguns pontos:

  • 1. Conhecimento da linguagem das tecnologias que usamos.
  • 2. Abertura para aprender e incluir novas tecnologias no cotidiano.
  • 3. Entendimento sobre os próprios hábitos tecnológicos e comportamentos nas redes sociais.
  • 4. Gestão das emoções quando estamos on-line.
  • 5. Reflexão sobre o impacto das tecnologias no desenvolvimento pessoal.
  • 6. Comunicação eficaz e respeitosa nos canais digitais.
  • 7. Empatia com o comportamento e as emoções dos outros em ambientes virtuais.
  • 8. Habilidade de se relacionar on-line e com as tecnologias de forma sensata, cuidadosa e ética.
  • 9. Desenvolvimento de uma visão crítica sobre os conteúdos produzidos e compartilhados na internet.
  • 10. Criação de uma estratégia sobre o próprio posicionamento nas redes sociais, considerando os objetivos de vida e profissional.
  • 11. Criatividade para gerar tecnologias que atendam às necessidades humanas.
  • 12. Compreensão do impacto social e global das novas tecnologias na evolução da humanidade.

A partir deste conjunto de habilidades, devemos criar uma atitude constante de reflexão e ação para aperfeiçoar e ampliar a nossa inteligência emocional digital e a nossa sabedoria digital. A seguir, vamos conhecer quatro esferas interdependentes em que diferentes habilidades para a vida digital devem ser desenvolvidas para lidarmos com as oportunidades e com os desafios impostos pela Quarta Revolução Industrial: Eu Digital, Família Digital, Escola Digital e Mundo Digital.

EU DIGITAL

O Eu Digital se refere ao indivíduo e à sua relação pessoal com o ambiente digital e com o uso das tecnologias. Nesta esfera, podemos exercitar o autoconhecimento e a gestão das próprias emoções no ambiente digital. Reflexões do tipo “Como eu me sinto ao lidar com esta ferramenta tecnológica? Que tipo de emoções a internet e as redes sociais evocam em mim? De quais redes sociais eu devo participar e por quê?” são essenciais para o desenvolvimento de uma inteligência emocional digital. Outros elementos importantes para o Eu Digital são a manutenção de hábitos pessoais digitais seguros e sem excessos; e a construção de uma identidade digital coerente com as atitudes e os valores que exercemos no cotidiano. Além disso, é importante termos a consciência do rastro digital que deixamos ao usar a internet e pesquisar sobre quais tecnologias podem auxiliar na organização do nosso cotidiano e bem-estar geral. Desta forma, vamos construindo uma saúde mental digital.

FAMÍLIA DIGITAL

Família Digital é a esfera que abrange a cultura familiar e os hábitos tecnológicos da família como um todo. Os pais têm um papel fundamental na educação digital dos filhos, tanto para orientá-los com relação aos benefícios e riscos das tecnologias, como também para criar uma rotina on-line saudável. Além disso, os adultos da família devem servir como modelo e inspiração para as crianças a partir das suas atitudes. Abertura para o uso de novas tecnologias, reflexão sobre os hábitos tecnológicos, compreensão das próprias emoções on-line, diálogo sobre os assuntos ligados ao âmbito digital, proteção no ambiente virtual e pesquisa sobre novas tecnologias que podem ser úteis são diretrizes importantes para criarmos crianças e adolescentes capazes de serem responsáveis e independentes no mundo digital. Afinal de contas, as novas gerações tendem a conhecer melhor do que os adultos as inovações tecnológicas e as suas formas de uso. Independência com responsabilidade continuará sendo um alicerce indispensável na formação dos jovens.

ESCOLA DIGITAL

A esfera da Escola Digital abrange aspectos relacionados às políticas públicas em educação e tecnologia, à cultura digital da escola e às estratégias de ensino e aprendizagem digitais. Questões sobre a infraestrutura de internet da escola, as tecnologias usadas, o ensino de programação, a implementação de programas de cidadania digital, a gestão de conflitos on-line envolvendo alunos e a integração do brincar com tecnologias que tornem o aprendizado mais eficaz são alguns dos pilares desta esfera. A escola tem um papel importante em trazer discussões mais amplas sobre as tecnologias e as necessidades do mundo, incentivando projetos que envolvam não somente a criação de conteúdo digital como o desenvolvimento de iniciativas práticas que resolvam problemas reais. Estas atividades têm o potencial de formar alunos capazes de serem agentes de transformação social, de pensar de forma global e crítica e de manter uma atitude de constante aprendizado.

MUNDO DIGITAL

Na esfera do Mundo Digital, podemos desenvolver a inteligência emocional digital por meio da capacidade de refletir e agir sobre os impactos globais das novas tecnologias. Questões como o monitoramento constante das pessoas, o desemprego em massa, a exclusão digital, a ética na criação e na aplicação de novas tecnologias e o uso tecnológico para solução de problemas globais precisam fazer parte da consciência e da preocupação das pessoas. Os dilemas éticos e filosóficos ligados a tais questões precisam ser cuidadosamente analisados para que possamos entender quais caminhos queremos para a humanidade a partir da evolução tecnológica. Portanto, precisamos urgentemente levar essas discussões para as escolas e para dentro de casa a fim de ajudar as novas gerações a mapear diferentes cenários futuros, a antecipar problemas complexos, a evitar perigos irreversíveis e a vislumbrar novas oportunidades de vida que estejam alinhadas com as suas aspirações individuais, com as necessidades dos seres humanos e com as carências do mundo.

Para saber mais

  • Prensky, M. (2012) Brain Gain: Technology and the Quest for Digital Wisdom. Editora Palgrave MacMillan Trade
  • The Fourth Industrial Revolution: what it means, how to respond goo.gl/3RkVMr
  • What is Your Digital Emotional Intelligence? goo.gl/26fnGX
  • 8 digital skills we must teach our children goo.gl/HvCTZR
  • The Emotional Intelligence Revolution (Search Inside Yourself Institute – Google) goo.gl/JUy4gh
  • #DQEveryChild™: Any child to be able to measure their digital intelligence goo.gl/Dhbd2v

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Quando entrar no chat significa aprender

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Chatbots e a inteligência artificial entraram de vez nas rodas de conversa da educação. Quais perguntas você deve se fazer para inseri-los no cotidiano da sua escola?

Nas últimas férias, nosso colega Fernando Herranz, da Espanha, presenciou a seguinte situação enquanto seu filho Rodrigo, de dois anos e meio, tomava mamadeira pela manhã. Por descuido do pai, Rodrigo pegou o celular e, sob seu olhar atento, manteve a seguinte conversa espontânea com o dispositivo:

Rodrigo: E aí, Siri, você está aí?

Siri: Estou aqui.

Rodrigo: Você quer mamadeira?

Siri: Tudo o que eu preciso está na nuvem.

Para aqueles que não conhecem a Siri, ela é o chatbot (ou “robô conversacional”) embutido no sistema operacional dos dispositivos da Apple. Outras grandes empresas de tecnologia, como Google, Microsoft e Amazon já possuem tecnologias semelhantes, todas baseadas em inteligência artificial (IA).

A história pode soar inofensiva, mas já é possível imaginar um futuro não muito distante em que assistentes virtuais, baseados em voz ou não, ocupam um papel de destaque na vida de crianças e jovens. Afinal, a relação com a máquina é natural para essas gerações e está no centro de seus processos de aprendizado e de seu dia a dia.

Pensando nisso, o que podemos fazer, como educadores, para nos prepararmos para o impacto que a IA deve causar no mundo educativo? A análise a seguir é uma reflexão coletiva da qual participaram várias pessoas da área de tecnologia e aprendizagem, com diferentes pontos de vista, no Brasil e na Espanha.

Primeira parada: um chat… o quê?

Antes de mais nada, é preciso se familiarizar com a tecnologia. É possível que você até já seja usuário, e esteja acostumado a acionar seu celular ou computador por voz. Esse é o primeiro passo para não ser pego de surpresa pela explosão que, nos próximos anos, essa nova modalidade de relação entre humanos e máquinas deve experimentar.

A segunda etapa é entender o que são robôs conversacionais, ou chatbots. Em resumo, eles são programas treinados para manter uma conversa e, às vezes, para aprender mais sobre nós. Essas conversas podem ser realizadas em texto, áudio, vídeo etc. Atualmente, elas são utilizadas, sobretudo, em contextos comerciais e de atendimento a clientes.

Para Marta Bonet, doutora em Filosofia e Ciências da Educação, essas inovações decorrem do fato de que hoje as máquinas podem, finalmente, utilizar a linguagem humana. “Agora podemos interagir com elas em nossa própria linguagem, o que elimina barreiras entre pessoas e máquinas e abre novas portas”.

Segunda parada: mais dúvidas do que certezas (ou não)

Segundo algumas análises, tais portas se abrirão em breve para o mundo da educação. Em 2017, o Fórum Econômico Mundial divulgou uma análise que aponta que a maior empresa da internet em 2030 será educativa, e que a base de seu negócio será a aplicação da inteligência artificial e o desenvolvimento de chatbots.

Hoje, porém, ainda temos muitas dúvidas: será que os chatbots solucionarão problemas de aprendizagem? Ampliarão a personalização? Farão da aprendizagem algo mais natural? Realmente falarão a língua dos alunos? Trabalharão habilidades?

Antonio Rodríguez de las Heras, professor da Universidade Carlos III de Madri, considera que essas ferramentas serão um elemento que vai intervir e servir de mediador entre o professor e o aluno. “É preciso abrir espaço para elas entre nós. A educação personalizada será o resultado de uma tríade formada pelo aluno, o professor e o bot – com os três aprendendo ao mesmo tempo”, comenta. 

Entretanto, elas terão de achar seu espaço e isso não será fácil, diz Alfredo Hernando, especialista em inovação educacional. Para ele, “os chatbots podem ocupar um espaço na correção rápida de respostas ou onde não há necessidade de compreensão semântica avançada”. A psicóloga Natalia Calvo, que pesquisa aprendizagem e neurodidática, concorda. “O desafio será encontrar um espaço adequado. Não acho que consigam dar resposta a todos os conteúdos de todas as disciplinas”.

Natalia tem sensações contraditórias ao analisar o fenômeno. “É normal uma criança ficar amiga de um robô? Que habilidades socioemocionais estará trabalhando? E quais estará realmente desenvolvendo?”. Mas suas incertezas contrastam com as surpresas positivas que, segundo ela mesma, esses recursos podem trazer para o aprendizado. “O chatbot pode contribuir para canalizar e potencializar a curiosidade de forma que as respostas provoquem novas perguntas, conduzindo a criança atráves de diferentes dimensões do conhecimento”, explica. 

A mesma linha é compartilhada por Marta Bonet. Ela ressalta os efeitos que a chamada “computação cognitiva” pode ter na hora de desenvolver processos de aprendizagem baseados mais na vontade de saber do aluno do que no armazenamento de informações. “Como a máquina decifra a linguagem natural, ela pode digerir conteúdos já existentes de forma rápida – e o aluno, em vez de passar as páginas ou deslizar a tela, pode falar com ela e obter a resposta que procura em sua própria linguagem. A relação com o conhecimento é muito mais natural e próxima”. 

Víctor Sánchez, fundador e CEO da startup Mashme, também considera imprescindível desenvolver essa relação natural entre o aluno e a máquina para que os chatbots tenham sucesso. “À medida que os processadores de reconhecimento da linguagem natural forem melhorando, o nível das perguntas que serão capazes de responder de forma completa e satisfatória aumentará exponencialmente”. 

Terceira parada: qual espaço os chatbots ocuparão no mundo educativo?

Se parece inevitável que robôs conversacionais sejam usados em contextos de aprendizagem, que espaço eles ocuparão? Será que substituirão alguém? Oferecerão formas alternativas de aprender? Os especialistas divergem quanto aos caminhos.

Alfredo Hernando ressalta que, apesar do potencial dos chatbots “nos cursos on-line ou semipresenciais, nos quais sua incorporação tenderia a ser maior, até o momento optou-se mais pelo crowdsourced. Isto é, antes de automatizar as respostas e correções, os alunos se ajudam uns aos outros ou o grupo, em conjunto, resolve e soluciona as dúvidas de maneira participativa, mas organizada”.

A professora da Unifesp Paula Carolei acredita que a inteligência artificial não deve ser usada para produzir respostas, e sim para embasar perguntas e gerar provocações. “É uma questão metodológica. Esses programas podem ser de grande ajuda para organizar dados, encontrar padrões, contradições etc. Mas infelizmente há sistemas de tutoria sendo criados para dar respostas muitas vezes redutoras, o que é uma pena diante do potencial da tecnologia”, afirma.

Já para Antonio Rodríguez, da Universidade Carlos III de Madri, é clara a transformação que eles trarão ao sistema. Para o aluno, “um edubot é um assistente educativo pessoal, que estará sempre ao lado do aprendiz. Sua presença será intensa, mesmo que invisível. De acordo com o nível educativo e o propósito, ele pode até ter um corpo, dirigido especialmente à afetividade que todo relacionamento necessita”. Do ponto de vista do professor, será como um “discípulo do mestre, assimilando sua sabedoria e a interpretando para depois responder às demandas do aluno. Assim, o trabalho do professor não fica nem reduzido nem encoberto pela incansável entrega do bot”.

Os robôs estão entre nós

Rastrear chatbots educacionais hoje é tarefa relativamente fácil, pois a área ainda está evoluindo, especialmente na educação básica. Segundo a designer conversacional Camila Canonici, uma das “experiências pioneiras e revolucionárias” foi o Robô Ed, da Petrobras, que até 2016 trocou 250 milhões de frases com internautas. “A partir de 2004, quando entrou no ar, ele foi aprendendo com as conversas e evoluiu até conseguir dar cerca de 40 mil respostas, indo de petróleo a Machado de Assis”.

Camila cita um projeto do governo do Ceará e outro de Moçambique como exemplos recentes da aplicação dessa tecnologia para fins educacionais. No caso do Ceará, o governo vai testar robôs da empresa Somai em salas de aula a partir de 2019. “A presença física dos robôs gera uma experiência relevante, o que contribui para a memória de longo prazo”. Já em Moçambique, a ambição do robô Dr. Wilson é ajudar a “salvar 20 mil crianças de até 5 anos nos próximos 36 meses”, por meio de conversas com “cidadãos comuns” sobre higiene, uso racional da água e esgoto.

Em São Paulo, a inteligência artificial está presente também como disciplina. No colégio Dante Alighieri, desde o início de 2018, há uma eletiva dedicada ao tema. O professor Rodrigo Assirati Dias, responsável pela cadeira, conta que a iniciativa faz parte da carga horária do novo Ensino Médio e foi um sucesso. “Foram 37 inscritos e 25 selecionados no primeiro semestre. Eles aplicaram conhecimentos de matemática e linguística, refletiram sobre questões éticas e tiveram de produzir um chatbot com um personagem histórico, além de escrever um artigo”, conta.

“Mas por que incorporar esse assunto ao currículo tão cedo?”, você talvez se pergunte. Rodrigo, que também dá aula no ensino superior, tem a resposta na ponta da língua. “A coordenação do colégio escolheu IA porque ela vai ser parte da vida de todo mundo no futuro. Mas a gente também ouviu os alunos, e eles se interessaram muito pelo tema”, explica.

STRYX, um chatbot que ajuda a estudar

Na noderna, o tema dos bots tem sido objeto de estudo há alguns anos. Em 2019, o trabalho vai dar seu primeiro fruto: o chatbot Stryx chega nas escolas com a missão de ajudar os alunos a estudar. “Detectamos em pesquisa que os alunos não querem mais estudar só com o livro, e que os professores acreditam que o principal desafio da profissão hoje é tornar a matéria mais atrativa e gerar interesse”, diz a coordenadora executiva de conteúdo digital, Ivonete Lucírio. 

Em resposta a esses problemas, o núcleo de inovação criou um estudo guiado em forma de diálogos, que incentiva a retomada dos conteúdos e atende o aluno no momento em que ele mais precisa: quando está sozinho, sem o apoio do professor nem dos colegas. “A pesquisa mostrou que, nessa hora, muitos recorrem ao celular, mas têm dificuldade para fazer uso produtivo do dispositivo”, conta Ivonete. “Acreditamos que, com a ajuda da Stryx – uma coruja bem-humorada e amigável, sem ser sabichona –, esse tempo de tela vai ser mais eficaz, e o aluno vai ganhar autonomia”, acrescenta ela.

A proposta não é substituir o professor nem o livro, muito menos esgotar os temas. Stryx é, em essência, um colega virtual. “Ela recupera o principal de cada assunto por meio de uma conversa, em uma linguagem próxima do aluno. Usamos inclusive elementos típicos das trocas de mensagem, como gifs, emoticons e abreviações, mas sem perder em nenhum momento o rigor da informação”, garante a coordenadora.

Para o aluno que tiver dúvida ou quiser se aprofundar, o chatbot sugere links de recursos confiáveis, como videoaulas e aplicativos relacionados a cada matéria. Alinhada com a BNCC, a novidade acompanha a reformulação do projeto Araribá Plus, coleção destinada para o Ensino Fundamental 2, e está disponível nas disciplinas de Português, Matemática, História, Geografia e Ciências.

Natalia Calvo propõe uma perspectiva fascinante em que os bots podem contribuir de forma decisiva para uma nova relação entre aprendizagem e erro. “O fato de uma máquina trabalhar com o erro de forma diferente diminui a pressão sobre o aprendizado, o que contribui para que ele aconteça de forma mais natural, como ocorre em contextos não formais”. Segundo Calvo, “os últimos avanços da neurociência demonstram que o cérebro necessita do erro para progredir. Um chatbot deve guiar e oferecer desafios que abram a mente das crianças e as ajudem a mergulhar em sua própria curiosidade”.

Despertar a curiosidade, o espírito crítico, emocionar-se. Todas essas questões podem se tornar mais fáceis se “o acesso à informação não passar obrigatoriamente pelo professor”, diz Marta Bonet. “Isso fará com que ele possa dedicar mais tempo a uma interação de maior qualidade com os alunos. Só que a melhora na qualidade da interação não acontecerá somente entre aluno e professor, mas também entre aluno e máquina. A interação será mais complexa, mais rica e mais natural”, completa.

Segundo Víctor Sánchez, as coisas poderiam ir muito além. Para ele, essas ferramentas vão desenvolver várias capacidades paulatinamente e acabarão resolvendo desde perguntas frequentes e triviais até dúvidas complexas e transcendentais. “Um chatbot poderá talvez se converter em uma espécie de psicólogo, detectando e tratando problemas como depressão, déficit de atenção ou até o bullying real e digital”. 

Esse potencial ressoa com a designer conversacional Camila Canonici, que desde 2001 acompanha os efeitos que os robôs têm, inclusive no público em idade escolar. “Depois que a Petrobras lançou o Robô Ed, em 2004, ele teve de passar a falar de problemas familiares com as crianças, pois esse tópico surgia direto nas conversas”.

Quarta parada: quando os chatbots serão realidade na educação? 

Essa pergunta talvez seja a mais fácil de responder, pois a verdade é que já há chatbots disponíveis para uso educacional, tanto no Brasil quanto no exterior. Víctor Sánchez lembra que “hoje já temos o IBM Watson atuando como um professor assistente em fóruns de universidades americanas”. Na próxima década, segundo ele, poderemos ver “versões avançadas, difíceis de serem diferenciadas de professores reais, especialmente ao conversar sobre materiais e disciplinas específicas”.

Para Agustín Cuenca, fundador e CEO da empresa ASPGems, o fenômeno “acontecerá mais tarde do que acredito (5 ou 10 anos), mas antes do que calculam aqueles que pensam que ele não vai acontecer”.

Além do quando, Antonio Rodríguez acha que será muito relevante o como. “Desorientação e resistências serão inevitáveis no caminho. Deverá ser superado o preconceito de que isso significa automatizar a educação, de que a inteligência artificial coloca a função do professor em segundo plano, ou de que ela vai trazer um controle excessivo ao acompanhar e avaliar tão de perto a aprendizagem do aluno”.

Na mesma linha, Marta Bonet acredita que essas ferramentas terão espaço desde que o ser humano entenda que máquinas têm a função de melhorar a qualidade de vida e não a de substituir outras coisas. “O ser humano é resistente a mudanças, mas a tecnologia tem colocado muitos paradigmas de pernas para o ar. Por isso, em relação à chegada da inteligência artificial, torna-se cada vez mais urgente trabalhar o espírito crítico dos alunos para que possam entender e gerenciar essa importante mudança”, explica.

O cenário é mesmo inquietante e, por ora, a única certeza talvez seja a de que, com a inteligência artificial, a transformação das formas e das relações será significativa. Por enquanto, vale continuarmos atentos às conversas das crianças com a Siri…

Texto Fernando Herranz, com colaboração de Gabriela Dias | Ilustração Leandro Lassmar

 

Fernando Herranz  é responsável pelo Departamento de Inovação da Santillana na Espanha.

Para saber mais

  • Blog Toyoutome, Cuando chatear signifique aprender… y enseñar: mod.lk/1wpfj 
  • Robô Ed Petrobrás: www.ed.conpet.gov.br/br
  • Projeto Araribá Plus / Stryx: mod.lk/V44F2
  • Relatório IBM – Possibilidades da inteligência artificial na educação: mod.lk/pesqibm

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ESPECIAL EDUCAÇÃO 4.0|02 Construir, desconstruir e reconstruir a aprendizagem

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A interação com o outro é o ponto de partida para que os alunos possam construir, desconstruir e reconstruir a aprendizagem, em uma espiral de conhecimento, seja com o objeto de estudo ou com o exercício da docência. A mediação pedagógica assume novo enfoque, no qual o professor exerce o papel de orientador e incentivador, tornando-se parceiro do aluno e instigando-o a refletir e compartilhar. É importante ter em mente que aprenderemos juntos em uma aprendizagem colaborativa. Os professores são mediadores que constroem comunidades em torno do aprendizado, promovendo o talento e as habilidades de seus alunos.

As relações socioemocionais e interpessoais possibilitam elaboração e reelaboração por parte de professores e alunos. Ao redefinir o papel do professor, os processos educacionais têm como pilar o trabalho colaborativo. Para Marta Relvas, bióloga, Dra. e Ms. em Psicanálise, neuroanatomista, neurofisiologista, psicopedagoga e especialista em Bioética, ao utilizar ferramentas tecnológicas, o professor consegue ativar o cérebro do estudante por meio de “rotas alternativas” para produção de novas conexões neuronais e aquisição do aprendizado. O ato de fazer estabelece e fortalece as interligações neurais, formando o que a neurobiologia denomina de “teia neuronal”.

O professor, na Educação 4.0, deve ter percepção e flexibilidade do trabalho docente, assumindo diferentes papéis na aprendizagem: aprendiz, mediador, orientador e pesquisador na busca de novas práticas. O docente precisa criar circunstâncias propícias às exigências desse novo ambiente de aprendizagem, assim como propor e mediar ações que levem à cognição do aluno. Para isso, é preciso ter metas e objetivos bem definidos, compreendendo o contexto histórico sociocultural e as dificuldades do aluno. Como contraponto, o poder público precisa entender a prática docente como uma atividade transformadora, cujo papel é mediar o conhecimento.

O que esperar da educação 4.0?

O primeiro passo é integrar a escola com o uso das tecnologias e com o currículo, fomentar conversas com as diferentes áreas do conhecimento, explorar as metodologias ativas para trabalhar e desenvolver projetos que trabalhem a investigação, a resolução de problemas, a produção de narrativas digitais e o desenvolvimento do aprender a fazer, transformando ferramentas digitais em linguagem. O processo da Educação 4.0 não é algo pronto e não existe uma receita; está em criação constante. A seguir, vamos conhecer mais sobre algumas estratégias que têm funcionado.

Metodologias ativas

As mudanças propostas pelas metodologias ativas propõem transmutação de papéis: o aluno é protagonista, tendo participação ativa no processo; e o professor é o mediador do processo, em que o fazer é estratégia principal para alcançar os objetivos pedagógicos. Um muito comum, que ganha destaque, é a aprendizagem baseada em projetos, o Problem Basead Learning (PBL).

Cultura maker

Os movimentos realizados nas escolas e os chamados makerspaces estão fortalecendo uma educação pautada em criatividade, usando diversos recursos e contando com um ambiente propício à experimentação. Estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA) demostram que estudantes que vivenciaram a aprendizagem mão na massa tiveram um desempenho 30% mais alto do que aqueles que seguiram o aprendizado de maneira convencional.

Equipamentos são importantes, mas é necessário deixar claro que disponibilizar altos recursos tecnológicos e ambientes virtuais de aprendizagem não garante aprendizagem efetiva; é essencial que eles venham acompanhados de práticas pedagógicas que possibilitam experienciar vivências significativas, pautadas em uma educação humanizadora e integral. A abordagem ainda é um desafio para a educação, principalmente para as escolas públicas, mas não é impossível.

Espaços de aprendizagem

Não é preciso ter um makerspace para tornar a sala de aula um ambiente mão na massa. Reorganizar o mobiliário e incluir, a baixos custos, bancadas, reaproveitando portas e prateleiras, e acrescentar cavaletes e ferramentas, já proporciona um lugar de trabalho participativo e colaborativo entre os estudantes. No Especial Mão na Massa do portal Porvir, você pode consultar um simulador maker, com uma lista de equipamentos, custos e sugestões de atividades pedagógicas para realizar com alunos do Ensino Fundamental e Médio. Para construir esse espaço, é possível envolver o entorno e pedir doações de materiais não utilizados em casa, integrando a escola e a comunidade.

Situações de aprendizagem

Favoreça estratégias que contribuam para o desenvolvimento de projetos. Uma das propostas é trabalhar com questões norteadoras, que agucem a criatividade e despertem para explorar coisas novas, permitindo testar, errar, refazer, reavaliar, aprendendo a fazer, através de um roteiro de trabalho.

Comece com projetos simples que fortaleçam a empatia, o espírito lúdico, a criatividade, a vivência e a autonomia. Leve para a sala de aula materiais não estruturados e recicláveis como papelão, plásticos, potes, tampinhas, garrafas PETs, materiais eletrônicos como Leds, resistores, baterias, motores de 3V, 9V, garras de jacarés, conectores, fios, suportes de baterias, produzindo projetos mão na massa.

Programação

Nas aulas, os alunos podem codificar e desvendar o Scratch, um software on-line e off-line, livre e gratuito, que funciona de maneira fácil e intuitiva, através de blocos de arrastar, montar circuitos elétricos, incorporando o pensamento maker. Como professor, você pode montar fichas de observação e investigação para os estudantes registrarem o conhecimento. A partir destas fichas, você pode realizar intervenções e apontar caminhos necessários ao processo.

Todas essas habilidades são importantes para resgatar o encantamento das aulas e desenvolver o espírito criativo e inovador, e funcionam para as todas as áreas do conhecimento. É preciso explorar novos recursos e ferramentas, mediando o espaço entre o aluno e a informação, de forma participativa e interativa, próxima da realidade no processo de construção e reconstrução do seu conhecimento ao trabalhar com as diversas facetas do processo de aprendizagem. Porque o futuro já chegou.

Débora Garofalo é professora da rede pública de Ensino de São Paulo, Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação, colunista de Tecnologias para o site da Nova Escola.

Para saber mais: Portal QEdu | Porvir, Especial Mão na Massa

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Especial Metodologias ativas | Formação professores

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O desafio de formar o educador do século XXI, conectado às demandas de uma geração cada vez mais digital.

Se você é usuário das redes sociais, em especial do Twitter em que uma ideia é expressa em somente 140 caracteres, certamente já ouviu a expressão Trending Topics. Traduzindo, são os “tópicos em tendência“, os temas mais comentados. Já deve ter ouvido falar também sobre a ferramenta Google Trends, que mapeia os temas mais pesquisados no Google.

Se tivéssemos ferramentas como estas para descobrir os assuntos mais falados da área de educação, o termo “metodologias ativas” estaria entre os trending topics de hoje. Parece, de repente, que ele está no foco de educadores, pensadores, especialistas e, também, dos vendedores de novidades da área.

A educação não está imune aos conceitos que entram e saem da moda. Vimos conceitos fundamentais, como interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, construtivismo, sustentabilidade, estilos de aprendizagem, inteligências múltiplas, currículos e avaliação por competência, pedagogia de projetos, pilares (ufa!), serem iluminados e relegados com a rapidez de um verão. Não por serem descartáveis, muito pelo contrário, mas por serem citados para tudo e por todos como solução simples para as complexas questões impostas aos que pensam e que atuam na área.

Outro movimento comum na educação envolve os conceitos que aparecem como grande novidade e que, na verdade, foram propostos e construídos ao longo do tempo. Ao sermos apresentados às pretensas novidades, pensamos: “mas eu já ouvi isso” ou “eu já faço isso”. Por isso, para abordar o conceito das metodologias ativas, convido você a um olhar em perspectiva. O exercício nos ajuda a compreender a importância de abordar a educação como um ato contínuo, como um processo gradual que se constrói pouco a pouco com as contribuições e experiências de muitos, fruto de uma práxis, do pensar unido ao fazer, do avaliar e rever. Muito mais do que achar que trabalhamos num grande mercado de novidades, vale colocar as nossas experiências e reflexões em contexto e entender que contribuímos coletivamente para a construção educativa.

As metodologias ativas compreendem a experiência e a ação dos alunos como elementos decisivos para a aprendizagem. Elas se opõem ao modelo baseado na transmissão, pelo professor, dos conteúdos a serem memorizados pelos alunos.

A valorização da experiência como elemento de aprendizagem emerge no contexto do século XVIII, na Europa e nos Estados Unidos, cenários das revoluções liberais e das ideias de independência, respectivamente. O estudante é reconhecido como indivíduo, cidadão portador de direitos. Um dos precursores na construção teórica e na prática dessas ideias foi o suíço Johann Pestalozzi (1746-1827), que fundou, em 1805, uma escola com um currículo voltado para as atividades dos alunos. Ele influenciou outros educadores como Herbart (1776-1841) e Froebel (1782-1852), este último foi quem cunhou o termo “Jardim da Infância”. Froebel propôs que a escola fosse um espaço de desenvolvimento para as crianças, comparando-as às plantas que crescem e se desenvolvem com vigor em espaços apropriados. Para isso, jogos e brinquedos selecionados garantiriam o desenvolvimento dos pequenos por meio da ação do brincar.

A ideia de que a ação, em contextos previamente organizados e com objetos adequados, promove a aprendizagem também está presente nas propostas de Maria Montessori (1870-1952), psiquiatra italiana que colocou a atividade das crianças no centro da aprendizagem. Um ambiente desafiador proporciona, na visão montessoriana, a autoeducação e autonomia das crianças. Neste ambiente, os professores atuam como orientadores e facilitadores, mas a aprendizagem é um processo individual e autorregulado. As classes reúnem alunos de diversas idades e em nada se parecem com as salas de alunos enfileirados, em silêncio, ouvindo o professor e realizando atividades idênticas.

Contemporâneo de Maria Montessori, Celestin Freinet (1896-1966) teve uma contribuição fundamental para fortalecer a importância do fazer para aprender. Para ele, no entanto, a ênfase estava no trabalho e na cooperação em atividades conectadas com o mundo a volta da escola, muito mais do que em materiais específicos, como propuseram Montessori e Froebel. Foi Freinet que mostrou a importância de os alunos estarem em contato com o ambiente e com as comunidades que os cercam, conhecendo realidades e histórias, que se transformavam nos jornais produzidos pelos próprios alunos e partilhados com outras escolas. Usando as tecnologias de seu tempo, como tipografia e o correio, o educador francês propôs metodologias ainda atuais. Para ele, o ambiente da escola deveria se assemelhar a um espaço de trabalho, em que professores e alunos atuassem para produzir e realizar, com criatividade e cooperação, um produto que teria sentido e finalidade para todos.

O americano John Dewey (1859-1952), outro contemporâneo de Montessori e Freinet, em sua vasta produção, durante quase um século de vida, explicitou a importância da ação, do fazer, como elemento fundamental da aprendizagem. Ao propor que a escola não era o lugar de preparar jovens para a vida, senão a própria vida, mostrou a relevância dos desafios da vida real, das questões complexas, cuja solução teria sentido tanto para o aluno como para a sociedade em que vivia. Dewey defende que somente a participação do estudante em uma atividade de interesse comum, dele e da sociedade, pode proporcionar a aquisição do saber intelectual articulado ao sentido social. Portanto, toda a aprendizagem deve ser integrada à vida, adquirida em uma experiência real, em que o aprendido na escola tenha o mesmo lugar e função que tem na vida. Para ele, só se aprende o que se pratica. Por isso, o currículo precisa ser organizado por experiências construídas e reconstruídas. 

O valor dado a experiência também está presente no pensamento de outro americano, o psicólogo Carl Rogers (1902-1987). Por meio de atos, o aluno adquire aprendizagem mais significativa. Assim, é preciso que a escola coloque o estudante em confronto experiencial direto com problemas práticos, de natureza social, ética ou pessoal. O estudante aprende quando participa do seu processo, faz escolhas em função de desejos e interesses pessoais, em que estão presentes cognição e afeto. Para Rogers, aprendizagem fundamental é o próprio processo de aprendizagem. Ele defendeu a ideia do professor como facilitador dos caminhos individuais e coletivos de aprender, aquele que proporciona um ambiente adequado à emergência dos interesses individuais e dos grupos, que contribui para que seus alunos encontrem indagações e interesses significativos e que se empenha para que tenham os meios e os recursos necessários para percorrer suas trajetórias. O professor torna-se, ao lado de seus alunos, um aprendiz.

Vale lembrar que esse conjunto, extenso ainda que incompleto, de contribuições de que somos herdeiros, influenciou, na década de 1930, os intelectuais brasileiros que publicaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação, com a proposta para mudanças significativas no país. Ali, há quase 90 anos, já encontramos menções à importância da ação e da experiência para a aprendizagem. Vemos, portanto, que as metodologias ativas já estão presentes há muito na formação do pensamento pedagógico. Então, afinal de contas, o que as traz de volta aos trending topics?

As metodologias ativas em um mundo conectado

Numa sociedade totalmente conectada em que a informação vem em fluxo e em que os saberes necessários à vida e ao trabalho se modificam rapidamente, as capacidades de autorregulação, de aprender e organizar a própria aprendizagem e atuar sobre questões novas e problemas complexos só pode ser desenvolvida numa escola que garanta a aprendizagem ativa, o fazer, o experimentar. Arrisco a dizer que as metodologias ativas são o caminho possível para garantir a aprendizagem significativa, sobretudo num tempo em que a maior competência a ser aprendida não é mais a absorção de muitos conteúdos, mas a capacidade de ler e aprender ao longo de toda a vida. É no século XXI que metodologias ativas, propostas há mais de um século, encontram um ambiente propício para serem desenvolvidas, diante da crise que a escola tradicional e conteudista enfrenta e que busca novos desenhos.

Arrisco, ainda, a propor que as tecnologias digitais e a vida em rede, marcos da contemporaneidade, trazem para as metodologias ativas uma série de novas possibilidades de interação e, ao mesmo tempo, proporcionam aos estudantes construir caminhos individuais a partir de seus interesses e competências. Espaços de fazer, próprios da cultura maker, programas de imersão, simulações e experimentações, prototipagem e realização de projetos com tecnologia, acesso à informação são alguns exemplos de articulações possíveis das metodologias ativas com as tecnologias digitais. O desenho de um professor que fala para uma classe dá lugar a diferentes alunos, articulados, presencialmente ou a distância em espaços de interação, em que têm acesso a informações, programas e ferramentas com os quais criam percursos e respostas significativas. Interagem com conteúdos em ritmos e processos próprios, podendo coordenar sua aprendizagem. Isso vale tanto para conteúdos específicos e limitados, com os quais cada aluno se relaciona, como para projetos complexos que integram áreas de Arte e Ciências, grupos de trabalho e tempos mais longos.

E como formar professores para atuarem em ambientes e processos tão diversificados? Vejo que o caminho é a formação dos educadores nas mesmas condições em que irão atuar. Não é possível formar professores facilitadores desses processos em aulas expositivas ou transmissivas. Não é possível ensinar professores a contribuírem para que seus alunos sejam curiosos, lidem com questões complexas, desafios cujas respostas não foram ainda dadas sem que os próprios professores tenham que lidar com elas. É preciso que enfrentem o ‘não saber’, o desafio da dúvida, da investigação, de ser aprendiz e compreender o erro e o ensaio como partes decisivas para a aprendizagem. É necessário colocar em jogo vários conhecimentos e saberes, para além das suas disciplinas. Precisam saber fazer escolhas de conteúdos, tanto quanto de fontes e de processos e metodologias. E precisam desenvolver, assim como os seus alunos, as competências para aprender ao longo de toda a vida, já que as certezas e os saberes estáveis duram cada vez menos e o que permanece é a nossa capacidade de compreender e reconstruir as nossas experiências todos os dias.

Costumo dizer aos educadores da escola em que atuo como coordenadora de Tecnologia Educacional, que, diariamente, ao me levantar, sei que novos aplicativos, programas e metodologias foram lançados enquanto eu dormia. E para me apropriar de alguns deles, o que está em jogo é conseguir lidar com a ideia (e também com a angústia) de que ainda não os conheço, mas posso experimentá-los e aprender a usá-los. Que posso encontrar parcerias para partilhar comigo as indagações e as experiências. Que o que aprendi em experiências anteriores, assim como a aprendizagem de pesquisa e reflexão que acumulei ao longo dos anos, me permitem articular esses novos dispositivos aos objetivos que temos como educadores.

O novo é matéria-prima no diálogo com as nossas experiências. E que não nos limitemos a transmitir conteúdos, mas construir as competências que levaremos para aprender a vida inteira. E elas dependem da experiência e do fazer. Mãos à obra: ao erro, ao acerto provisório, ao fazer e refazer, como aprendizes educadores. Esses são os trending topics do nosso tempo.

Zilda Kessel é educadora, mestre em Ciência da Informação e Comunicação (ECA/USP) e doutora em Currículo-Novas Tecnologias em Educação (PUC/SP). Atuou como professora em cursos de Pedagogia e Licenciatura, na Faculdade Singularidades e no Senac/SP e nos projetos educativos do Museu da Pessoa, Instituto Itaú Cultural e Portal NET Educação. É coordenadora de Tecnologia Educacional da Beacon School.

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A neurociência a favor da educação matemática

A neurociência a favor da educação matemática

Em meio aos incontáveis desafios enfrentados pelos educadores brasileiros, a educação está mudando e exige novas adequações. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta as aprendizagens que devem ser garantidas a todo estudante da Educação Básica, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. O documento tem o intuito de nortear o currículo das escolas públicas e privadas do Brasil e determina, para cada etapa escolar, conhecimentos essenciais, competências, habilidades e objetivos de aprendizagem. Em sua essência, a BNCC visa ao preparo e ao desenvolvimento dos estudantes para a vivência, a convivência e a participação plena na sociedade. Algumas competências gerais previstas pela BNCC abordam a relação dos alunos com o mundo do trabalho, a resolução de problemas e o uso de tecnologias como meio de resolvê-los. A Matemática ganha, então, espaço nas discussões e reflexões docentes, considerando-se sua relevância para o desenvolvimento dessas competências. Há um longo caminho para atingir o objetivo maior de formar cidadãos críticos, atuantes e colaborativos, capazes de enfrentar os desafios do século 21. Esse caminho requer a adequação dos currículos, a formação inicial e contínua dos professores, a adequação, elaboração e o desenvolvimento de materiais didáticos e a criação de soluções educacionais eficientes. Essas propostas já contam com estudos recentes da área da Neurociência, como os trabalhos desenvolvidos por Jo Boaler ou David Dockterman. A aplicação das ideias desenvolvidas nesses estudos pode representar o início do processo para minimizar as desigualdades na Educação Matemática, que levam a um baixo desempenho nos exames nacionais e internacionais. Alguns números da educação brasileira Há algum tempo, observamos o fraco desempenho dos estudantes brasileiros em avaliações de larga escala, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Os resultados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com base na última edição do Pisa, de 2015, mostram estagnação no desempenho em Leitura e Ciências e queda no desempenho em Matemática. Se compararmos nosso resultado com o dos países-membros da OCDE, percebemos o quanto estamos atrasados e o grande desafio que temos pela frente. Em Leitura, a média desses países foi de 493 pontos, enquanto a média do Brasil foi de 407 pontos. Em Ciências, obtivemos 401 pontos contra 493 dos outros países. Em Matemática, que teve a primeira queda desde 2003, os estudantes brasileiros obtiveram 377 pontos, um resultado bem abaixo dos 490 pontos obtidos pelos países-membros da OCDE. Dos 72 participantes avaliados, o Brasil ficou na 65ª posição. De acordo com a OCDE, o nível 2 de proficiência é considerado o mínimo adequado para a plena participação na vida social, econômica e civil. O cenário nacional é, portanto, trágico, já que 70,3% dos estudantes brasileiros estão abaixo desse indicador. Diante desses resultados, fica evidente a necessidade de investir em mudanças. Como educadores, é preciso refletir sobre o nosso papel docente e participar ativamente das discussões sobre a reforma do ensino brasileiro em todas as esferas, revendo a infraestrutura, a adequação do currículo à realidade e às necessidades dos alunos e a importância da formação profissional contínua. A matemática e a busca de novos caminhos Grande parte das escolas brasileiras ainda ensina matemática de forma segmentada e conteudista, carente de formação específica de professores e vulnerável à inconsistência do sistema educacional. Essa prática influencia diretamente os resultados abaixo da média nas avaliações de larga escala. Ao refletir sobre os resultados do Pisa, o físico e estatístico alemão Andreas Schleicher, coordenador desse sistema de avaliação, disse que “conteúdo em excesso é sinônimo de aprendizado superficial”. Ele analisou o currículo de Matemática de diferentes países e concluiu que o currículo brasileiro contém o triplo de conteúdo do currículo de Singapura, país que está no topo nos índices de desempenho. Schleicher falou sobre a importância de “ater-se aos conceitos essenciais e às ferramentas que permitem ao aluno raciocinar melhor”. Em Os sete saberes necessários à educação do futuro, o filósofo francês Edgar Morin afirma que “ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria delas contém erros e ilusões, mesmo quando pensamos há vinte anos atrás e constatamos como erramos e nos iludimos sobre o mundo e a realidade. E por que isso é tão importante? Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução”. Nesse sentido, o olhar crítico e reflexivo sobre as práticas didático-metodológicas brasileiras talvez seja uma estratégia mais adequada para nos manter abertos a outras linhas de pensamento e a abordagens capazes de enriquecer nosso repertório, ampliar nossa visão e possibilitar mudanças eficazes. Diversos caminhos podem ser trilhados para atender às necessidades da educação nos dias de hoje: Analisar sistemas educacionais de outros países ou provenientes de realidades e contextos diferentes promove reflexões e enriquece as discussões sobre nossa realidade. Conhecer instituições, pesquisas acadêmicas e educadores diversos para buscar modelos que possam ser usados ou adaptados para o nosso contexto.Investir em tecnologia (aprendizagem móvel, ensino adaptativo e big data) com o intuito de uma educação personalizada, que viabilize a coleta de informações de forma rápida e eficiente sobre o desempenho e a evolução desse aluno ao longo do aprendizado e em relação ao sistema educacional no qual está inserido. A neurociência a favor da educação matemática De Santiago Ramón y Cajal, considerado o fundador da Neurociência, até os dias de hoje, a neurociência avançou consideravelmente e adentra várias áreas; entre elas, a educação. O estudo sobre como funciona o cérebro nos momentos de aprendizagem pode contribuir para as práticas pedagógicas de maneira bastante assertiva. Mentalidades e cultura sobre o erro A Matemática habitualmente é vista como assustadora para crianças e adultos. É considerada difícil, complicada e desinteressante. É associada ao cálculo puro e simples, acreditando-se que, quanto mais exercícios forem resolvidos no menor tempo possível, mais eficiente será seu aprendizado. Esse pensamento a reduz a uma disciplina de desempenho, o que pode causar ansiedade nos estudantes e afastá-los ainda mais do interesse em conhecê-la. Carol Dweck, professora na Universidade de Stanford e autora do bestseller Mindset: a nova psicologia do sucesso, em que disserta a respeito de mindsets (“mentalidades”, em tradução literal), afirma que a maneira como as pessoas enxergam a própria relação com a aprendizagem pode influenciar diretamente a qualidade e o nível dessa aprendizagem. Dweck define como “de mentalidade fixa” as pessoas que acreditam na possibilidade de aprender, mas não são capazes de mudar o próprio nível de inteligência, limitando-se inconscientemente. Isso significa que, se uma pessoa acredita que não consegue aprender Matemática, por exemplo, ela terá dificuldades em seu processo de aprendizagem. Em contrapartida, há a “mentalidade de crescimento”, que se refere às pessoas que acreditam que, com trabalho árduo, a inteligência se transforma e elas podem atingir o mais alto grau de compreensão e domínio do conhecimento. Então, na mesma medida em que uma mentalidade pode prejudicar a aprendizagem, ela também pode potencializar. Sabemos que o erro faz parte do processo de aprendizagem. Mas a Neurociência trouxe à luz a relevância dos erros. Jason Moser, psicólogo da Universidade de Michigan, documentou em suas pesquisas o que acontece com o cérebro humano ao errar: sinapses! Quando uma pessoa erra, são disparadas sinapses, e seu cérebro reage mais intensamente do que quando ela acerta. Segundo Moser, as pessoas sequer precisam estar conscientes do erro, o que pode parecer confuso, mas faz sentido se pensarmos em como um erro genuíno acontece. Se um problema suficientemente complexo é apresentado a um aluno e ele não desiste, persiste, buscando a solução, mesmo ao errar, o cérebro está trabalhando. A sinapse é ainda mais intensa em pessoas com a mentalidade de crescimento. O efeito dessas reações é o “crescimento” do cérebro. É interessante perceber como alguns fatos e pesquisas convergem para bons resultados. Muitos países orientais apresentam bons desempenhos no Pisa. Dentre eles, podemos citar a China e o Japão. Segundo Jo Boaler, em seu livro O que a Matemática tem a ver com isso? Como professores e pais podem transformar a aprendizagem da Matemática e inspirar sucesso, nesses países, a cultura em relação aos erros é bem diferente da nossa. Enquanto no Ocidente (e no Brasil), o erro em Matemática pode ser interpretado negativamente, nas aulas que Boaler documentou, os erros são vistos como descobertas ou oportunidades. Em Xangai, os alunos ficaram animados em compartilhar as estratégias que não funcionavam, dividindo-as com toda a turma para que todos pudessem aprender. Esse fato também é documentado no artigo Matemática para todos, publicado pela revista Cálculo, em que se analisa a postura de professores em sala de aula no Japão, comparando-a com a postura de professores em salas de aula nos Estados Unidos. No Japão, o erro é visto como descoberta – uma maneira que não funciona para resolver um problema –, enquanto nos Estados Unidos, o erro é visto como um problema, algo a ser corrigido ou remediado. Ao levar em consideração essas e outras descobertas, podemos criar ferramentas e meios de intervenção no processo de ensino-aprendizagem. Um exemplo disso é a plataforma AXIOS, cujo foco é o diagnóstico dos erros mais cometidos por uma turma em determinado assunto. A plataforma trata os erros como estratégias equivocadas, justamente para que o peso de errar seja reduzido. A ideia é identificar essas estratégias, discuti-las com a turma, para então, retomar o assunto de outras maneiras, com foco no conceito no lugar dos algoritmos decorados. A “fotografia” da turma possibilita um processo de engenharia didática ao professor, por meio do qual poderá propor intervenções pedagógicas o mais rápido possível, evitando que uma estratégia equivocada ou a compreensão equivocada de um conceito perdure e siga adiante na formação escolar. As narrativas e a resolução de problemas como estratégias para engajar e motivar os alunos A falta de atenção e a desmotivação dos alunos são recorrentes nas salas de aula e afetam diretamente sua aprendizagem. É fundamental buscar estratégias e recursos para despertar o interesse pelos estudos e engajar a turma na rotina escolar. As narrativas são uma poderosa ferramenta para trabalhar a empatia e envolver os estudantes ao longo de seu aprendizado. Pesquisas recentes de David Dockterman, professor catedrático de Educação Matemática na Universidade de Harvard, mostram que as experiências e o conhecimento acumulados de cada pessoa influenciam seu compromisso com a busca de informação. Todos nós somos atraídos por descobrir, mas nem todos queremos descobrir as mesmas coisas. Segundo Dockterman, a narrativa e a busca de informação têm papel especial na maneira como nosso cérebro aprende e se relaciona com o mundo. As histórias, por exemplo, nos ajudam a recordar. Antes de criar a escrita, as pessoas usavam outras ferramentas para ajudá-las a recordar e transmitir regras sociais, hierarquias e rituais culturais. Os bons narradores aproveitam essas características cognitivas para captar nossa atenção, injetando incerteza no conhecido. Convidam-nos a conhecer mundos em que nosso cérebro opera próximo a uma zona de busca de informação. Sabemos o suficiente para tentar adivinhar o que acontecerá, como acontecerá e como uma pessoa poderá se sentir, mas sem termos certeza. “As narrativas mais poderosas também nos afetam emocionalmente. Não importam apenas nossas previsões, mas também os personagens. As histórias nos levam mais além de uma simples busca de informação: conectam e desenvolvem empatia e habilidade de ver o mundo através dos olhos de alguém. Os pesquisadores chamam esta habilidade de Teoria da Mente”, afirma David Dockterman no artigo Conectar as emoções para a aprendizagem matemática: o poder de uma boa história. A conexão emocional com os personagens pode influenciar o comportamento das pessoas. Dockterman complementa dizendo que “a mescla entre drama e personagens provoca uma mudança química em nosso cérebro. Os neurocientistas têm observado a ativação de áreas associadas com a Teoria da Mente e com a empatia durante a exposição a este tipo de narrativa”. Tradicionalmente, no ensino da Matemática, as respostas exatas são resultados importantes, principalmente no campo da Aritmética. Problemas como “qual é o resultado da operação 8 + 3?” são recorrentes, mas não captam o impulso motivador de busca da informação. Refletindo sobre isso, David Dockterman fala sobre a “incerteza de baixo risco”, que pode ser introduzida nas aulas e incentivar os alunos à reflexão. “Em vez de enfatizar o resultado, por exemplo, pode-se centrar a atenção no processo. De quantas formas distintas podemos obter 8 + 3? Duas? Três? Cinco? Pode-se contar 8 + 1 + 1 + 1. Ou podemos simplesmente recordar uma soma memorizada. Outra opção é decompor 3 em 2 + 1 e usar a estratégia de obter 10: (8 + 2) + 1”. Assim, a ação de averiguar é satisfatória e os alunos podem refletir sobre as possibilidades para a obtenção do resultado. Dockterman amplia a ideia para problemas mais complexos. “A incerteza também pode ser introduzida de maneira produtiva na definição de um problema. Há vários exemplos que apresentam tentativas de se obter as possibilidades de busca de informação dos estudantes desta maneira. Um método é apresentar uma situação sem uma pergunta. Sofia tem 50% mais seguidores em redes sociais que Hector. Hector tem 112 seguidores. Com isso se pode desafiar os estudantes com questões como: quantos problemas matemáticos podemos criar com essas informações? ou “o que será pedido para resolver com essa informação? Ambas as perguntas ativam o pensamento matemático e a curiosidade pela busca de informação”. Seguindo as linhas de pesquisa de Jo Boaler sobre o erro e as recentes publicações de David Dockterman sobre as narrativas e a resolução de problemas, a obra Compartilha Matemática, destinada aos Anos iniciais do Ensino Fundamental, foi estruturada e concebida para promover experiências de aprendizagem e para, através de histórias, conectar emocionalmente os estudantes com a Matemática. No material, destaca-se a resolução de problemas de forma que os alunos não se limitem à aplicação de conceitos e procedimentos. Propõe-se a criação de enunciados, identificação e representação de variáveis, identificação de perguntas importantes e outros elementos necessários para desenvolver o raciocínio e preparar os alunos para enfrentar situações do mundo real. Os estudantes criam argumentos, interagem com os colegas e mobilizam diferentes recursos cognitivos no processo de aprendizagem. É uma construção ambiciosa que reúne o ponto de vista da Educação Matemática e da Neurociência. O currículo foi organizado com base na estrutura em espiral de Bruner, na qual o aluno passa por um assunto em mais de um momento no processo de formação. Essas passagens têm diferentes graus de abstração, pois empregam um dos recursos do método Singapura – metodologia de Concreto-Pictórico-Abstrato (CPA). Os alunos, nos momentos adequados, devem lidar com os conceitos nesses três níveis de abstração em pontos diferentes da aprendizagem. Isso permite que o foco seja dado ao conceito, na medida em que se manipula o objeto de conhecimento. A mudança e a busca de melhores resultados Uma vez que os resultados em testes padronizados nos dão indícios de que mudanças nos processos de ensino e aprendizagem são necessárias, essas mudanças devem ser feitas de forma embasada e abranger todos os envolvidos: gestores públicos, gestores escolares, professores, pais e os próprios estudantes. Como pudemos ver nos trabalhos de Jo Boaler, Carol Dweck e David Dockterman, é preciso mais do que novos materiais didáticos ou plataformas educacionais, é imprescindível uma mudança de cultura dos envolvidos. Esperamos que a postura de reflexão contínua sobre o trabalho realizado, a busca de novos caminhos, embasados em pesquisas acadêmicas e a renovação dos materiais didáticos e de soluções educacionais possam contribuir para alcançarmos melhores resultados nas avaliações e para formar cidadãos capazes de enfrentar os desafios do século 21.

Quem é Jo Boaler?

Jo Boaler é professora de Educação Matemática na Universidade de Stanford (EUA) e cofundadora do YouCubed, site criado para oferecer a professores e pais recursos e ideias para que eles inspirem e incentivem os estudantes para conhecer a Matemática. Boaler é analista para testagem do Pisa na OCDE e autora do primeiro Curso On-line Aberto e Massivo (MOOC) de ensino e aprendizado de Matemática.

Para saber mais

YouCubed: www.youcubed.org/pt-br

Fabio Martins de Leonardo é licenciado em Matemática pela USP e editor executivo de Matemática na Moderna.

Romenig da Silva Ribeiro é mestre em Ciência da Computação pela USP e editor de Matemática na Moderna.

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Como as metodologias ativas contribuem para o processo de aprendizagem

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Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

Resolução de problemas, sala de aula invertida e Design Thinking: como essas metodologias podem contribuir para que o processo de aprendizagem ocorra?

O que esses modelos possuem em comum é que tiram o aluno da passividade e o trazem para o centro do processo de aprendizagem para que exerça um papel ativo e protagonista na construção da sua aprendizagem.

 

As modalidades se diferem enquanto estrutura e abordagem, onde o ambiente propicia a colaboração e a participação estimulando a criatividade e a inventividade para resolver problemas reais, produzir conteúdo e/ou protótipos (no caso da Robótica), participar de um debate ou vencer as etapas de um jogo. Os alunos se envolvem com a construção das atividades, tornando-se pertencentes e aprendendo de forma significativa.

Ao trabalhar dessa forma, o professor forma habilidades de investigação, reflexão e autonomia na busca do conhecimento e na aptidão para resolução de problemas, além de exercitar as competências necessárias e descritas na Base Nacional Comum Curricular, conforme ilustração a seguir:

 
 

O que esses modelos possuem em comum é que tiram o aluno da passividade e o trazem para o centro do processo de aprendizagem para que exerça um papel ativo e protagonista na construção da sua aprendizagem.

 

A seguir faremos um breve panorama de cada metodologia, em que o professor poderá determinar a mais adequada a ser utilizada com os alunos.

aprendizagem baseada em problemas ou project based learning (PBL), tem como propósito fazer com que os estudantes aprendam através da resolução colaborativa de desafios. Ao explorar soluções dentro de um contexto específico de aprendizado, que pode utilizar a tecnologia e/ou outros recursos, essa metodologia incentiva a habilidade de investigar, refletir e criar diante de uma situação. O professor atua como mediador, provocando e instigando o aluno a buscar as resoluções por si só. Ele tem o papel de intermediar nos trabalhos e projetos e oferecer retorno para a reflexão sobre os caminhos tomados para a construção do conhecimento, estimulando a crítica e a reflexão dos jovens.

 

sala de aula invertida ou flipped classroom, tem como objetivo substituir a maioria das aulas expositivas por extensões da sala de aula em outros ambientes, como em casa ou no transporte.

Neste modelo, o estudante tem acesso ao conteúdo de forma antecipada, podendo ser online para otimização do tempo em sala de aula, fazendo com que tenha um conhecimento prévio sobre o conteúdo a ser estudado e interaja com os colegas na realização de projetos e resolução de problemas. Neste formato os estudantes participam ativamente da construção do seu aprendizado ao se beneficiarem com um melhor planejamento de aula e com a utilização de recursos variados, como vídeos, imagens, e textos em diversos formatos.

 

Design Thinking é uma abordagem usada em busca de solução de problemas. Na educação é conhecida como aprendizagem investigativa, que trabalha de forma colaborativa e desenvolve a empatia. Neste modelo, o estudante participa como formador de conhecimento e não como receptor de informação. Na prática, a abordagem é dividida em cinco etapas: descoberta, interpretação, ideação, experimentação e evolução.

 

As etapas de descoberta e interpretação devem ser construídas com desafios. A proposta é provocar e aguçar a curiosidade para enfrentar as questões levantadas. Neste processo, considerar o conhecimento prévio individual e percepções significativas no decorrer da construção em busca de múltiplas soluções é fundamental.

 

Na fase de criação deve-se dar espaço à construção de uma “chuva de ideias” (o famoso brainstorm), um espaço para sonhar e colocar para fora até mesmo as ideias visionárias. Na quarta etapa, a experimentação, ­– em que as ideias ganham vida –, é necessário criar vivências para encontrar possíveis soluções para o desafio lançado.

 

evolução é a continuidade do desenvolvimento do trabalho. Ela envolve o planejamento dos próximos passos, compartilhando ideias com outras pessoas que podem colaborar com o processo. No desenvolvimento das etapas, o professor e os estudantes podem oferecer dicas de como organizar as ideias, seja formatando listas, usando post-its, histórias inspiradoras, fotos, aplicativos para celular ou tablets, por exemplo. Cada situação requer uma nova abordagem que deverá ser construída coletivamente.

 
 

E você, professor, trabalha com as metodologias ativas em sala de aula? Conte aqui nos comentários e ajude a fomentar as práticas docentes.

Um abraço,

Débora

Formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas.

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Design Thinking como aliado à educação

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Você já ouviu o termo design thinking? Ele é muito forte nas empresas e vem conquistando, também, as salas de aulas.

 

Saiba mais

Design Thinking é uma metodologia usada para busca de solução de problemas, também conhecida como aprendizagem investigativa. Ela trabalha de forma colaborativa, desenvolvendo a empatia, onde o estudante participa como formador de conhecimento e não apenas como receptor de informação. O trabalho, tendo como premissa o design centrado em Humanos, Human Centered Design, integra as necessidades individuais.

 
 

Sua abordagem contribui com a educação por permitir trabalhar a resolução de problemas e dar voz aos alunos ao trabalhar com colaboração e empatia. Não existe uma forma correta de aplicar o Design Thinking, o que existe são etapas que devem ser trabalhadas, aplicadas à resoluções de problemas reais. Tais resoluções possibilitam dinamismo, envolvimento e ações de pertencimento, trazendo um redesenho das salas de aula ao propor novos processos de ensino-aprendizagem.

Na prática, a metodologia é dividida em cinco etapas que devem ser construídas com desafios, aguçando a curiosidade para enfrentar questões levantadas e considerando o conhecimento prévio e as percepções significativas em busca de múltiplas perspectivas de soluções.

Descoberta: A etapa da descoberta é a fase de conhecimento e necessidade, vale usar a empatia para ouvir, ver e sentir. Aqui é permitido sonhar e falar abertamente sobre vários pontos.

Interpretação: Exige desafios que envolve a interpretação na fase da descoberta. Vale articular os diferentes pontos de vistas e ponderá-los para viabilizar a próxima etapa.

Ideação: É a etapa de criação, onde a solução deve ser encontrada. Permite um espaço a chuva de ideias e internalizar ideias visionárias.

Experimentação: A quarta etapa, corresponde à experimentação, em que as ideias ganham vida, experimentando possíveis soluções para o desafio lançado.

Evolução: É o desenvolvimento do trabalho que envolve o planejamento dos próximos passos, compartilhando ideias com outras pessoas que podem colaborar com o processo.

 
 

Nas etapas, tanto o professor quanto os estudantes, podem oferecer dicas de organização das ideias. A abordagem pode ocorrer de forma on-line através de softwares que trabalham com mapas mentais, e/ou off-line, através de post-its (papeis autocolantes coloridos), listas, histórias inspiradoras, fotos, aplicativos para celular, tablets etc. São inúmeras possibilidades, onde cada problema requer uma abordagem que deverá ser construída coletivamente, sem uma receita pronta, e que pode ser criada conforme a ilustração abaixo:

 
 

As etapas também podem ser construídas com alguns softwares gratuitos, como:

Mind Node: Programa muito simples e prático para ser utilizado no dia a dia.

Free mind: É um software livre para criação de mapa mental. É simples e objetivo, disponível para usuários Windows e Linux.

Ree Plane: Outro programa simples, compatível com Windows e Linux.

Cogglesoftware online, permite que mais de uma pessoa trabalhe com o mesmo mapa mental.

E você, querido professor, já usou dessa metodologia em sala de aula? Conte aqui nos comentários!

Um abraço,

Débora

Formada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Unicamp e mestranda em Educação pela PUC de SP. É professora de Tecnologias, trabalha com Cultura Digital, Robótica com sucata/livre, programação e animações; e implementação em tecnologias em Escolas Públicas. Vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil e Finalista no Global Teacher Prize, considerado o Nobel da Educação.

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Projeto de vida: qual é o seu e o dos seus alunos?

Projeto de vida: qual é o seu e o dos seus alunos?

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O que é projeto de vida? Como elaborar? Qual é o papel do aluno, da escola e da família na construção e na implementação de projetos de vida?

Desde que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trouxe o projeto de vida como o eixo sobre o qual a escola deve organizar suas práticas, muito se discute sobre protagonismo, autoria e educação integral, mas nem sempre fica claro como ele pode ser desenvolvido.

Antes de propô-lo aos alunos, pense em você: qual é o seu projeto de vida? O que você deseja para o seu presente e para o seu futuro? O que tem feito para atingir seus objetivos?

Difícil responder, não?

Então vamos mudar as perguntas: o que o move? O que dá sentido à sua vida? Essa motivação está relacionada com a sua atuação profissional?

O que move você é o seu propósito, ou seja, aquilo que o inspira, que o faz sair da cama todos os dias, a sua causa, a sua bandeira. O propósito deve guiar as suas escolhas e ser a base dos seus objetivos. Como educador, por exemplo, talvez o seu propósito profissional seja fazer a diferença na vida dos seus alunos por meio da educação e transformar o mundo com conhecimentos e vivências. A partir dessa motivação, você se preparou, traçou e trilhou o seu caminho e a sua carreira.

Propósito é a sua motivação, aquilo que o inspira

E hoje: quais são os seus objetivos? O que você quer alcançar em curto, médio e longo prazo na esfera pessoal, na social e na profissional?

É preciso tempo e informações para organizar os pensamentos, estabelecer metas e pensar em modos de atingir esses objetivos. É preciso, também, fazer uma análise do presente para definir formas de chegar ao futuro desejado.

Como você deve ter percebido, mais do que respostas, a proposta do projeto de vida é oferecer as perguntas certas. As respostas são individuais e podem mudar em função do período de vida. O papel da escola e da família é estimular a reflexão sobre o campo de possibilidades dos alunos: a identificação de diferentes estilos de vida baseados em escolhas livres e responsáveis em função do contexto socioeconômico deles.

Campo de possibilidades são os diferentes caminhos rumo ao futuro com base na análise do presente

O projeto de vida visa ampliar esse campo de possibilidades, levando os jovens a considerar as vantagens e desvantagens dos diferentes estilos de vida profissional, seja por meio do empreendedorismo, seja pelo meio acadêmico ou empresarial.

Enquanto os alunos conhecem e analisam as trajetórias possíveis, é possível conduzir de forma segura a elaboração de um plano de ação para levá-los a identificar interesses, transformá-los em objetivos realistas e desenvolver as competências e as habilidades necessárias para atingi-los e, se for o caso, revê-los de acordo com as mudanças no entorno.

As três dimensões do projeto de vida

Com base em reflexões, vivências individuais e coletivas e conhecimentos, é possível desenvolver as três dimensões da vida e definir um projeto para cada uma delas. As três dimensões a serem desenvolvidas no projeto de vida são: pessoal (autoconhecimento), social (vida em sociedade) e profissional (mundo do trabalho).

Na dimensão pessoal, os jovens se (re)conhecem como sujeitos e refletem sobre os aspectos que impactam na sua identidade, como seus valores, o modo como lidam com os seus sentimentos e emoções, a sua origem (a família biológica e a de convivência) e a sua atitude de abertura ao novo e à diversidade. Além disso, descobrem interesses e aspirações e detectam competências e habilidades que podem se relacionar com as profissões que irão exercer.

As atividades e as vivências nessa dimensão devem contribuir para promover a autoaceitação e a autovalorização, favorecendo, assim, o fortalecimento da autoestima dos jovens, o seu crescimento emocional e o seu empoderamento.

Na dimensão social, os alunos refletem sobre as relações interpessoais com o seu entorno imediato e com o mundo e sobre o impacto que essas relações causam neles como cidadãos.

As atividades dessa dimensão, maioritariamente em grupos, visam ao desenvolvimento do senso de responsabilidade para com o bem comum, por meio do convívio baseado em valores, como ética e empatia, e no respeito a direitos e deveres sociais. Promove-se a atuação na sociedade por meio da força de ações e intervenções coletivas para a solução de problemas reais que afetam da escola à comunidade, da cidade ao planeta.

Na dimensão profissional, abordam-se os fatores que contribuem para a mobilidade social dos jovens por meio da sua atuação produtiva. A inserção e a permanência no mundo do trabalho dependem da identificação e do desenvolvimento de habilidades, competências e conhecimentos alinhados às demandas do século XXI, como uso da tecnologia, empreendedorismo, criatividade e resiliência.

Nesse contexto, já não se fala mais em “vocação”, como se as pessoas nascessem predestinadas a descobrir e exercer determinada profissão. No mundo dinâmico da sociedade 4.0, as demandas e os trabalhos estão em constante transformação e, para além de preparar os jovens para uma profissão específica, o objetivo da educação contemporânea é oferecer subsídios para que eles se tornem cidadãos e “profissionais” no sentido amplo do termo, que possam se adaptar e crescer tanto em situações favoráveis quanto nas adversas, com base em valores e saberes pessoais, relacionais e cognitivos.

O desenvolvimento dessas três dimensões contribui para a formação de jovens cidadãos críticos, autônomos e éticos, capazes de identificar e realizar objetivos alinhados ao presente e ao futuro que desejam para si e para o mundo.

O passo a passo para o projeto de vida

Alunos diversos estão debruçados em uma mesa escrevendo juntos em um caderno.

Promover a reflexão e a construção de projetos de vida na escola significa oferecer ferramentas e recursos para que os jovens transformem as aspirações em objetivos concretos alinhados aos seus propósitos. Um desses recursos é a elaboração de um plano de ação que, baseando-se nesses objetivos, estabelece metas com prazos claros e viáveis, assim como estratégias para realizá-los.

Plano de ação é o planejamento dos passos em direção a um projeto

Para evitar que os jovens sejam levados pelo acaso das oportunidades ou por necessidades, a proposta de construção de um projeto de vida desnaturaliza e combate o determinismo social partindo da análise da realidade e da elaboração de um planejamento estratégico para superar desafios. Assim, o plano de ação para o desenvolvimento de um projeto de vida deve estabelecer objetivos, metas, prazos e estratégias realistas, que não contem com a sorte ou com o acaso, como ganhar na loteria.

Por meio da construção e da atualização sistematizada e constante do plano de ação para a realização dos seus projetos de vida, os jovens podem refletir, trocar ideias com pessoas próximas, pesquisar sobre as perspectivas locais e globais, fazer escolhas e tomar decisões sobre suas vidas, tendo em vista que elas impactam no entorno e – por que não? – no mundo.

Aluno + escola + família + sociedade = projeto de vida

As noções de protagonismo e autoria abordadas no Ensino Fundamental desenvolvem-se no Ensino Médio por meio do projeto de vida. A educação nessa etapa escolar visa desenvolver os alunos não apenas na dimensão cognitiva, mas de forma integral, com base nos seus interesses e potencialidades. Nesse contexto, o desenvolvimento das juventudes é responsabilidade não apenas do professor e da escola, mas de toda a comunidade.

A família e a sociedade são fundamentais para o acolhimento, o respeito e a valorização dos projetos de vida dos seus jovens e exercem importante influência sobre eles, principalmente por meio de seus modelos — referências locais ou globais que se tornam exemplos por seus valores e atitudes.

A participação da comunidade nas atividades escolares contribui para o desenvolvimento estudantil, social e profissional dos jovens e ela pode ser realizada por meio de interações e vivências coletivas nas quais se promova a apresentação dos projetos de vida, assim como das habilidades e capacidades dos jovens.

A inclusão dos familiares e dos amigos na agenda da escola aumenta o engajamento e o fortalecimento da identidade, essenciais na fase de tomada de decisões que vivem.

Essas escolhas da juventude começam no Ensino Médio, com a opção por determinadas áreas do conhecimento e itinerários formativos. Essa construção autoral dos seus currículos é o primeiro passo rumo ao projeto de vida e a escola é a propulsora dessa importante trajetória. Enquanto se prepara para o futuro profissional e cidadão, o jovem constrói o presente alinhado aos seus percursos e às suas histórias e toma decisões éticas fundamentadas ante os desafios da sociedade contemporânea.

Não é um destino, é um caminho

Traçar um projeto de vida e definir um plano de ação para atingir os objetivos não é uma tarefa com data para acabar. A vida está sujeita a mudanças e influências do contexto afetivo, social, cultural, econômico e político, nacional e internacional, e o projeto precisa se adaptar a elas. Mas como prever o futuro se ele é incerto?

O conhecimento e a preparação para as adversidades são as melhores estratégias para não ser surpreendido. Estar atualizado com os saberes de interesse, desenvolver as competências e habilidades necessárias ao mercado de trabalho e ter “planos B” pode contribuir para que não seja preciso mudar de rota no caminho rumo aos sonhos, apenas recalculá-la para chegar ao destino desejado.

O projeto de vida não começa no futuro, ele é o presente. Preparar-se para ele já é vivenciá-lo, é ser protagonista da própria história hoje e amanhã.

E você? Qual é o seu projeto de vida para a dimensão pessoal, social e profissional?

Identifique seus objetivos e trace você também seu projeto de vida. Ser protagonista não é uma aprendizagem exclusiva para alunos.

Roberta Amendola

é Mestra em Educação pela USP, bacharel e licenciada em Letras pela USP, especialista em Ensino de Espanhol para Brasileiros pela PUC-SP, em Mercado Editorial pela FIA-USP/CBL e em Edição pela Universidad Complutense de Madrid. Editora e autora de materiais didáticos de espanhol e projeto de vida.

Para saber mais

  • BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: mod.lk/ed18mec. Acesso em: 27 jan. 2020.
  • DAMON, W. O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes. São Paulo: Summus, 2009.
  • MORAN, J. Desafios na implementação do Projeto de Vida na Educação Básica e Superior. Disponível em: mod.lk/ed18pord. Acesso em: 13 fev. 2020.

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Cultura Digital: o que é e como trabalhar em sala de aula

Cultura Digital: o que é e como trabalhar em sala de aula

A cultura digital busca integrar a realidade com o mundo virtual. Ganhou grande importância na educação com a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), devido às mudanças sociais significativas, ao avanço tecnológico da informação e ao crescente acesso a dispositivos como computadores, telefones celulares e tablets.

Todo esse contexto impõe à educação novos desafios em relação ao papel e à formação dessas novas gerações, contribuindo para que os estudantes tenham atitudes críticas em relação ao conteúdo. Quando essas novas linguagens são incorporadas ao currículo, é possível reinventar modelos de promover a aprendizagem, a interação e o compartilhamento de significados entre professores e alunos.

 

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Como a BNCC contempla a cultura digital?

“Contempla a cultura digital, diferentes linguagens e diferentes letramentos, desde aqueles basicamente lineares, com baixo nível de hipertextualidade, até aqueles que envolvem a hipermídia”.

 

Ferramentas e atividades que podem ser utilizadas em sala de aula

As novas práticas de linguagens próprias da cultura digital, passaram por reelaboração dos gêneros impressos em função das transformações tecnológicas.

 
 

Fique por dentro

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Fizemos um apanhando de ferramentas que podem potencializar o aprendizado da cultura digital para dentro da sala de aula. Vamos lá?

 

Blog: É um gênero textual digital, veiculado na internet e serve como meio de comunicação virtual. É possível criar um blog específico que possibilite a integração de foto, texto e vídeo, possibilitando atividades em sala de aula, como a criação de um diário, um jornal interativo ou a realização de um documentário. Entre os programas destacamos o  WordPressTumblrBlogger, todos gratuitos.

 

Meme ou charge digital: O termo é bastante conhecido e utilizado no “mundo da internet”, devido ao fenômeno da “viralização” de uma informação, ou seja, qualquer ideia que se espalhe rapidamente e alcance muita popularidade. Pode ser criado a partir de ferramentas gratuitas e intuitivas como o Canvas e o Meme Mania. O professor pode trabalhar com esses gêneros como com a criação de tirinhas educativas ou histórias em quadrinhos.

 

Vídeo-minuto: Os alunos se identificam muito com este gênero, pela possibilidade de internalizar e oralizar acontecimentos. Além dos disponíveis pelo aplicativo do celular, também é possível trabalhar com o Windows Movie Maker, que é bem intuitivo e possui ferramentas de edição. O professor pode trabalhar com animações, curtas-metragens e até documentários.

 

Fanfic: É um gênero voltado para leitura e escrita de histórias. Pode ser realizado através do Playfic, um site com uma programação simples. Lá, o usuário pode criar sua narrativa e dar a chance aos leitores de escolherem o final da história.

 

Mobilizar práticas de cultura digital em diferentes linguagens, gêneros, mídias e ferramentas é importante para expandir e produzir sentidos, tornando os alunos protagonistas da construção do conhecimento.

E você, querido professor, como está trabalhando com a cultura digital em sala de aula? Quais atividades você já desenvolveu com os alunos e quais ferramentas já utilizou? Conte aqui nos comentários!

Um abraço,

Débora

Todo esse contexto impõe à educação novos desafios em relação ao papel e à formação dessas novas gerações, contribuindo para que os estudantes tenham atitudes críticas em relação ao conteúdo. Quando essas novas linguagens são incorporadas ao currículo, é possível reinventar modelos de promover a aprendizagem, a interação e o compartilhamento de significados entre professores e alunos.

 

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Fanfic: É um gênero voltado para leitura e escrita de histórias. Pode ser realizado através do Playfic, um site com uma programação simples. Lá, o usuário pode criar sua narrativa e dar a chance aos leitores de escolherem o final da história.

 

Mobilizar práticas de cultura digital em diferentes linguagens, gêneros, mídias e ferramentas é importante para expandir e produzir sentidos, tornando os alunos protagonistas da construção do conhecimento.

E você, querido professor, como está trabalhando com a cultura digital em sala de aula? Quais atividades você já desenvolveu com os alunos e quais ferramentas já utilizou? Conte aqui nos comentários!

Um abraço, 

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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Como incentivar o ensino de ciências através das tecnologias

Como incentivar o ensino de ciências através das tecnologias

Débora Garofalo - Colunista

Débora Garofalo - Colunista

É fato que precisamos incentivar o inicio de ciências na escola e é consenso que a tecnologia pode (e deve) alavancar essa aprendizagem.

Os nossos estudantes têm bastante curiosidade, em saber a origem das coisas, causas de fenômenos da natureza, explorar aquilo que parece diferente, intrigante. Sem dúvida o ensino de Ciências, ajuda a encontrar respostas para muitas questões que cercam esse mundo misterioso e ajuda compreender melhor nossa própria natureza.

É para encontrar essas respostas e dinamizar o ensino que entra em cena o uso da tecnologia, para personalizar a aprendizagem e trazer interatividade ao processo ao permitir o exercício de raciocínio logico e também do exercício do pensamento científico.

Diante disso, pontuamos aspectos importantes para o trabalho envolvendo o uso das tecnologias. Vamos lá!

 

Experiências não dependem somente de alta tecnologia

É necessário desmitificar que usar tecnologia, não é somente ter recursos de alta tecnologia, inserir atividades desplugadas também é inserir tecnologia no contexto escolar.

Com material de baixo recurso e ou alternativo é possível reproduzir experimentos que levam a construção de conceitos pelos estudantes. Um deles é o ensino de robótica educacional também presente no ensino de ciências.

Outro ponto é a observações de fenômenos que podem ser feitas no pátio da escola e ou no bairro, com apoio de sites gratuitos.

 
 

Cultura maker

 

Já imaginou uma aula sobre corpo humano, relacionando as relações entre as funções biológicas, atividades básicas do corpo, preservação da saúde. E que tal reproduzir os órgãos e até mesmo uma mão robótica para reproduzir as articulações, usando materiais de sucata como papelão, canudos, barbantes e ainda tendo a oportunidade de falar sobre sustentabilidade.

 

Sites

 

The 25 biggest turningpoints in earth’s history

Desenvolvido pela BBC, o site explica de maneira lúdica, a evolução do planeta Terra desde sua origem, dando destaque para os episódios mais marcantes, como a origem da vida. Pode ser uma ótima ferramenta para as aulas de ciências.

Joshworth

Perfeito para as aulas sobre espaço sideral, esse site toma como base a medida de 1 pixel para demonstrar a escala de planetas, satélites e estrelas. Sua grande vantagem é poder exibir para a turma a dimensão do universo, deixando o tópico mais claro e tangível para os alunos.

Gateway to Astronaut Photography of Earth

NASA criou esse site para compartilhar com os usuários as imagens obtidas na Estação Espacial Internacional. É possível observar fotos do planeta tiradas em órbita, bem como acompanhar o posicionamento da nave em tempo real. Uma ótima ideia para saciar a curiosidade dos estudantes e conseguir boas imagens o debate em sala de aula.

 

Jogos

 

Os jogos podem ser um poderoso aliado ao ensino, sendo utilizado com propósitos claros. Abaixo alguns que podem ser levados a sala de aula.

Jogos da escola –  é um plataforma de jogos educacionais e possuem jogos de ciências entre eles, quiz do coração, jogo dos esqueletos, velocidade da luz, as plantas, ciclo hidrológico, muitas oportunidades para trazer interatividade e vivências.

 

E você querido professor, como tem relacionado o ensino de ciências e tecnologia? Conte aqui nos comentários e ajude a fomentar práticas docentes.

Um abraço,

Débora

Débora Garofalo é Assessora Especial de Tecnologias da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE SP) e professora da rede pública de ensino de São Paulo. Formada em Letras e Pedagogia, mestranda em Educação pela PUC-SP, vencedora na temática Especial Inovação na Educação no Prêmio Professores do Brasil, Vencedora no Desafio de Aprendizagem Criativa do MIT e considerada uma das dez melhoras professoras do mundo pelo Global Teacher Prize, o Nobel da Educação.

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